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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A construção do poder local como enfrentamento ao poder central


Imagem: www.ordemlivre.org

                                                                                                                                                
Se o poder está à margem da loucura, como se chega à conclusão após ler Michel Foucault, como lidar com ele? Como criar alternativas políticas que seduzam a população?

Ontem ele era apenas um ser mortal. Transitava entre seus pares como um ser normal, sem ser notado, executando seu trabalho e cumprindo tarefas triviais e necessárias. Podia não ter compromissos com o que fazia, mas o resultado do seu trabalho agradava seu comandante.

No dia seguinte, se perfumou, vestiu sua melhor roupa e caminhou para o trabalho. Nem ele mesmo se aguentava. Era outra pessoa, como se repente uma entidade tivesse se apoderado de seu corpo, alma e espírito. Convocou uma reunião extraordinária. Falava alto com voz impositiva e comunicou que a partir daquele momento, era ele quem mandava e que iria modificar a seu critério toda rotina. Quem não aceitasse podia pedir para sair. A partir daquela data aquele ambiente descontraído, tornava-se um verdadeiro inferno. Ninguém sabia, mas ele tinha acabado de ser promovido.

A pequena história ilustra o dia a dia de muita gente que chega o poder e transforma algo que era para ser compartilhado num poder vertical centralizado, onde manda quem pode e obedece quem tem juízo.

Quando criei a frase em Hortolândia/SP: “O poder é como um saquinho de algodão doce”, quase ninguém entendeu, mas aquela pessoa que se tornara “monstro”, um dia reconheceu que essa frase era a mais absoluta verdade. Ele tinha acabado de perder todo poder que imagina ter.

Sergio Cortela, numa de suas belas palestras afirmou: “O poder foi feito para servir, assim, todo poder que ao invés de servir, se seve, é um poder que não serve”.

Milton de Oliveira, Consultor da Corp – Centro de Educação Corporativa, ao analisar o clima organizacional, cita a contradição contida na maioria das organizações:

"Ao chefe, é permitido ter raiva, ser autoritário, vaidoso, manipulador, competitivo. Quem está no poder pode descarregar toda sua carga emocional em cima dos subordinados, pode bater na mesa e bater a porta. Mas os subordinados devem ser racionais, leais, obedientes, adaptados, eficazes, organizados e altamente equilibrados. Ao externar qualquer tipo de emoção, podem ser considerados fracos, desequilibrados e serem dispensados por quem está no poder”

A necessidade de legitimação do poder nasce na busca de autoafirmação, onde sonho e fantasia se confundem, onde criador e criatura se encontram, apenas para provar quem é o mais forte e a quem pertence o poder. O resultado imediato desse processo é a solidão.

Segundo Vinicius de Moraes: “A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha e que se recusa a participar da vida humana”.

A concepção do poder central, mesmo nos espaços públicos, antes de ser uma questão clínica é uma questão cultural, onde na cabeça de alguns gestores, eles foram eleitos para pensar pela sociedade e assim, sem a menor necessidade de prestação de contas ou ainda de criar formas participativas na formulação das Políticas Públicas.

Um das formas de desconstruir a lógica perversa do poder centralizado é potencializando a inversão de valores, trabalhando o Poder Local e esse ocupando os espaços para se contrapor ao Poder Central. Mesmo que isso não garanta o respeito necessário na busca de soluções definitivas dos problemas existentes, só assim serão ouvidos e é a ação necessária para que os sonhos não morram.

O Poder Local pode ser entendido como o conjunto das forças sociais, políticas, econômicas e culturais e a relação política entre os diferentes sujeitos sociais, a partir da organização local.

Que tal começar por transformar todos os Conselhos Gestores em deliberativos, realizar todas as conferências, promover os fóruns, encontros, chamar os funcionários públicos para a gestão e ampliar os canais participativos. O mais importante é a reunião de pessoas, debatendo, elegendo suas prioridades e alimentando pouco a pouco o direito dessas pessoas continuarem a sonhar.

Como dizia Paulo Freire: : “Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanha pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina”.

Para quem se considera um militante de uma causa, em qualquer situação, o sonho da transformação da sociedade, numa sociedade justa, fraterna e igual dando voz ao povo jamais pode morrer.

Bem vindo à utopia! Bem vindos ao direito de sonhar!



Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

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