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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Os gestores públicos estão preparados para governar com o povo? E o povo?


O Curso Plano de Governo e Ações para Governar permite diversas discussões entre os gestores presentes e uma delas se refere em saber se os gestores estão preparados para governar com o povo. De forma tranquila, a maioria deles tem afirmado que não.
Apesar de ser uma resposta impactante, não deixa de ser interessante, pois ao assumir que não estão preparados, além de detectar um problema de gestão, ou melhor, um formato de gestão desassociado da população, chama para si a responsabilidade de refazer caminhos, de construir novos referenciais e mudar o que for necessário para que terminem suas gestões com projetos e políticas públicas, ao menos próximos da população.

Outra pergunta apresentada, completa a anterior, a partir de questionamentos levantados no próprio curso: e o povo está preparado para uma gestão participativa? Alguns afirmam que sim, porém a maior parte dos gestores chega à conclusão que não. Segundo a avaliação, a população está acostumada a cobrar e delegar a quem nem mesmo conhecem, em muitos casos em troca de pequenos favores, sendo que uma grande parte se recusa em participar.

Poderíamos aceitar isso como verdade, principalmente pela comodidade contida na resposta, porém como gestores de um partido de “esquerda” e que tem como eixo principal a implantação do Socialismo Democrático, essa resposta, além de comprometedora, deixaria a certeza de que não há solução para o combate de todas as desigualdades existentes na sociedade e assim o ato de governar ficaria restrito ao processo burocrático e a ocupação dessa importante parcela de poder.

Temos chegado à conclusão de que se trata de um conflito cultural, antes de ser político, pois expõe velhos conceitos e formatos, aonde o servilismo vem sempre à frente, o mercantilismo no processo eleitoral nem é notado, pois a sociedade exige resultados a qualquer custo.

Fazendo uma analogia com o mundo empresarial, regido religiosamente pelo “deus mercado”, em seu processo de modernização houve tentativas de mudanças, a partir da concepção das Teorias “X”, “Y” e “Z”, embora não seja tão fácil a mudança e a maioria não mudou, pois a noção capitalista de posse e lucro impedem mudanças mais significativas em termos de abertura, participação e gestão compartilhada. As mudanças ocorridas se deram mais pela necessidade do que por um processo de crescimento.

Ao olharmos para o universo da Gestão Pública, numa breve análise, muito mais emocional do que racional, a impressão que se tem é que a maioria dos espaços públicos ainda está na Teoria “X”. Segundo essa teoria desenvolvida por Douglas McGregor nos EUA depois da Segunda Guerra Mundial, os trabalhadores seriam preguiçosos e necessitariam ser dirigidos, assumindo-se a mediocridade das massas trabalhadoras, a partir das seguintes premissas:
a) o cidadão médio tem uma inerente ojeriza pelo trabalho e, se lhe for permitido, não trabalhará;
b) as pessoas devem ser coagidas, controladas, dirigidas e ameaçadas com punições para que realizem o esforço necessário para que uma organização alcance seus objetivos; e
c) o cidadão comum prefere ser dirigido (a dirigir), prefere evitar responsabilidades, é pouco ambicioso e, acima de tudo, gosta de segurança.

Nota-se claramente que essa teoria enxerga o ser humano como máquina e assim, a única coisa que interessava era a produção em alta escala, com a simples troca em caso de doença ou diminuição na produção individual.
Por incrível que pareça, ao fazer um comparativo “ao pé da letra”, notamos claramente que a Gestão Pública para alguns, nem mesmo estaria na Teoria “X”, pois a noção é de completo abandono, da máquina pública, dos funcionários públicos e principalmente dos serviços oferecidos pela população, que mesmo essa população se constituindo como patroa de todo processo, pois é quem paga, o resultado é o mais precário possível.

Em resumo, pois se torna impossível aprofundar questões tão amplas, em tão pouco espaço, a resposta para ambas as perguntas, contrariando todo processo conservador, é que cabe sim aos gestores a preparação de ambientes que facilitem a compreensão do cidadão, por mais leigo que seja e principalmente os gestores busquem capacitação para  cumprir o papel de mediadores, no sentido de empoderar o cidadão e respeitar seu direito de participação e controle social.

Portanto, é necessária uma ação planejada para se conquistar o direito de continuar no caminho.

Como dizia Rousseau: “Para conhecer os homens, torna-se indispensável vê-los agir”.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

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