Mensagem

Faça seu comentário no link abaixo da matéria publicada.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Quem são os militantes políticos e sociais dos dias de hoje?


Podemos começar essa conversa dizendo que em outras épocas, como por exemplo, na época da ditadura militar era muito fácil caracterizar uma pessoa como militante, pois tinham aquelas que assistiam a tudo sem entender nada, as que achavam que a ditadura podia ser ruim, porém necessária, os colaboradores do regime e os que discordavam da situação e lutavam por liberdade. Esses últimos eram os militantes políticos contra a ditadura.

Como é ser um militante nos dias de hoje? Que causa ou problemas pode unir a humanidade? Como fazer com que as pessoas excluídas do processo transformem suas insatisfações e sonhos num ato de militância? Ainda existem movimentos populares autênticos?

Segundo alguns estudiosos, ser militante é estar engajado numa causa e comprometido com todas as consequências que por ela advir. Indo mais além, diria que ser militante é amar a vida e a liberdade, é construir alternativas que caibam aquelas pessoas que nunca chegariam lá pelas suas próprias pernas, é jamais colocar preço em suas atitudes, nem mesmo repetindo os erros que condenamos, com o pressuposto de que depende do resultado final. Diria ainda que ser militante é fazer uma opção clara de que lado está e para onde devia caminhar a humanidade.

A militância requer uma causa humanitária, que por não ser pessoal, envolve outras pessoas e em muitos casos desprovidas de posses, conhecimentos e, sobretudo de oportunidades. É exatamente nesse ponto que emoção e razão se encontram. O que move a militância por uma causa é antes de tudo a solidariedade, movida exclusivamente pelo coração. Um nobre sentimento, que sai do corpo e invade a alma e o que era apenas um, vai absorvendo novas energias e acumulando forças e antes que a dor invada seu ser por completo, tornam-se vários e o campo de luta se estabelece.

A partir desse momento, ganhar ou perder nem é o mais importante e sim a possibilidade do renascimento, da recriação, da possibilidade de se tornar um ser humano melhor e quem sabe cumprir sua missão de vida.

Vale o registro de que quando se tem uma causa e se opta a lutar por ela, o ser humano às vezes vai à radicalidade se necessário, o que não pode e nem deve é ter uma visão cega, negando as vezes até uma sua própria autocrítica. Não é atoa que Paulo Freire dizia que todo militante é um radical quando descobre sua razão, porém jamais poderá ser um sectário, principalmente porque o sectarismo leva à intolerância.

Principalmente nos municípios brasileiros, o que não falta são motivos para que as pessoas se juntem e defendam seus direitos suprimidos. Uma grande parte dos governantes governam para si e seu grupo de apoio e não para e com a população. A falta de atuação dos movimentos populares leva a população necessitada a desacreditar da própria existência. A participação e a militância nos diversos movimentos se transformam na esperança de uma vida melhor.

É importante apenas não esquecer que enquanto as conquistas não se concretizarem, a luta continua. Essa continuidade exige das lideranças um verdadeiro exemplo de vida, onde a ética e o respeito sejam os principais valores, capazes de transformar essa atitude na adesão de novos militantes para que a chama da liberdade nunca morra. O que não é possível é o uso por parte desses militantes dos movimentos e dos espaços políticos para se beneficiarem. Enquanto houver uso, desigualdades, discriminação e injustiças haverá militantes lutando para que um dia todos sejam iguais.

Para quem sonha com uma sociedade se reinventando de baixo para cima, como era o sonho de Paulo Freire, a militância será vista como uma poesia que vai contando a história a partir de cada conquista. Quem sabe para esses militantes autênticos, a militância não seja o refúgio dos sonhadores e o momento em que se descobre que nunca a pessoa que luta estará só.

Como dizia Paulo Freire: "A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão."


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça seu comentário sobre o Post