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terça-feira, 11 de março de 2014

A quem interessa um golpe na democracia?

Tortura Nunca Mais!

Quero iniciar essa conversa afirmando que um golpe não necessariamente é o que já foi. Ou seja, militares nas ruas, direitos políticos cassados, beatas marchando e entregando freiras e padres progressistas à tortura e à morte, milhares assassinados e torturados, a imprensa golpista em êxtase e as empresas bancando financeiramente as armas, a tortura e toda sacanagem. Um golpe pode ser uma ação de traição, por exemplo, uma série de notícias para confundir a cabeça do povo, um partido ou um político que se vende ao sistema econômico global, alguém que vira um corrupto e tantas outras pequenas coisas que vão minando a resistência democrática e que diariamente assistimos. Que tal pegarmos como por exemplo a Ação Penal 470, que foi tratada até o momento como vingança e não como justiça?

Tenho sérias divergências com quem acredita que mais vale fazer pequenas ou grandes sacanagens para manter ou chegar ao poder alguém que consideramos que vai fazer um bom governo ou um bom mandato, do que deixar que alguém que já é sacana de papel passado chegar lá. Por exemplo, a justificativa do chamado “caixa dois” para o financiamento das campanhas milionárias. Que diferença tem? Por acaso os recursos não sairão das mesmas fontes? Não afetarão as mesmas pessoas na sociedade? Que diferença há se vai para o bolso de alguém ou se para os cofres de uma empresa de marketing político?

Isso não quer dizer que se as empresas quiserem financiar uma campanha não seja possível. Não vejo qual é a lógica de uma empresa financiar um partido ou uma pessoa de esquerda, mas até dá para entender. Porém criar esquemas durante uma gestão justamente para isso, além de ser imoral é crime contra a humanidade.

Nos cursos que tenho ministrado de Gestão Pública por várias partes do país, pela Fundação Perseu Abramo, tenho provocado uma ampla discussão com os participantes, a se iniciar pelo papel de cada um na sociedade e também qual é o projeto de vida de cada participante. Creio que tudo começa por um projeto de vida pessoal.

Fico horas pensando o que faz uma pessoa pedir novamente os militares de volta, ou ainda apoiar uma reedição da tal marcha das beatas e direitosas pela liberdade. Que liberdade? Ou ainda pedir um Fora Dilma, mesmo sabendo que as ditaduras militares assassinaram e torturaram milhares de pessoas na América Latina somente por prazer e por poder. Das duas uma: ou se trata de uma pessoa completamente alienada e analfabeta política ou se trata de uma enorme sacana, inimiga de democracia e inimiga do povo brasileiro.

Já afirmei anteriormente que um processo eleitoral, pelo seu teor democrático, tem também como finalidade, fazer com que as pessoas se exponham livremente, mesmo que sejam nazistas. É muito bom que todos os monstros saiam das tocas para sabermos quem é quem. Acabo de excluir algumas delas do meu relacionamento político, social e principalmente das minhas possíveis amizades. Até porque daqui para frente estaremos em lados opostos e projetos completamente diferentes.

Depoimentos de D. Paulo Evaristo Arns em seu livro, transcritos abaixo, expõem a crueldade dos militares envolvidos no processo de tortura, assim como seus informantes, que no seio da sociedade, vendiam a ideia de que estavam junto com a população e com as lideranças políticas, chamados na época pelos militares de “terroristas”. D. Paulo relata ainda como um militar norte-americano ensinava a torturar, em detalhes, usando mendigos, as vezes até a morte.

A tortura foi indiscriminadamente aplicada no Brasil, indiferente a idade, sexo ou situação moral, física e psicológica em que se encontravam as pessoas suspeitas de atividades subversivas. Não se tratava apenas de produzir, no corpo da vítima, uma dor que a fizesse entrar em conflito com o próprio espírito e pronunciar o discurso que, ao favorecer o desempenho do sistema repressivo, significasse sua sentença condenatória. Justificada pela urgência de se obter informações, a tortura visava imprimir à vítima a destruição moral pela ruptura dos limites emocionais que se assentavam sobre relações efetivas de parentesco. Assim crianças foram sacrificadas diante dos pais, mulheres grávidas tiveram seus filhos abortados, esposas sofreram para incriminar seus maridos.

Sob o lema de ‘Segurança e Desenvolvimento’, Médici dá início, em 30 de outubro de 1969, ao governo que representará o período mais absoluto de repressão, violência e supressão das liberdades civis de nossa história republicana. Desenvolve-se um aparato de ‘órgãos de segurança’, com características de poder autônomo, que levará aos cárceres políticos milhares de cidadãos, transformando a tortura e o assassinato numa rotina.

De abuso cometido pelos interrogadores sobre o preso, a tortura no Brasil passou, com o Regime Militar, à condição de “método científico”, incluído em currículos de formação de militares. O ensino deste método de arrancar confissões e informações não era meramente teórico. Era prático, com pessoas realmente torturadas, servindo de cobaias neste macabro aprendizado. Sabe-se que um dos primeiros a introduzir tal pragmatismo no Brasil, foi o policial norte-americano Dan Mitrione, posteriormente transferido para Montevidéu, onde acabou sequestrado e morto. Quando instrutor em Belo Horizonte, nos primeiros anos do Regime Militar, ele utilizou mendigos recolhidos nas ruas para adestrar a política local. Seviciados em sala de aula, aqueles pobres homens permitiam que os alunos aprendessem as várias modalidades de criar no preso a suprema contradição entre o corpo e o espírito, atingindo-lhes os pontos vulneráveis.

Que não venham em nome da moralidade humana, onde toda promiscuidade serve apenas para mantê-los no poder econômico global, rifar a democracia que já custou tantas vidas. Afinal se o povo pobre da América Latina come melhor, mora melhora e trabalha melhor, é graças aos governos populares que estão em vigência e é justamente contra isso que a direita, a extrema direita e o PIG lutam. Ou seja, o fim dessas mordomias para os pobres. Estão inclusive incomodados com o pleno emprego, afirmando que num país como o Brasil, um terço dos empregados tem que serem mandados embora, para novamente se criar o exército industrial de reserva, que servia para intimidar quem estar trabalhando e pedia aumento.

Um golpe na democracia só interessa aos inimigos do povo, aos amigos da pobreza, como é o caso da metade da população mundial, que ainda passa fome, aos inimigos da igualdade de condições e a quem interessa confundir a cabeça daqueles que não participaram do momento de terror no Brasil e tampouco sabem juntar o passado com o presente golpista.

Tenho plena convicção que o povo brasileiro não se intimidará a voltar às ruas, se necessário, contra a corrupção por certo e com toda razão, porém também contra toda bandalheira, como por exemplo, o Propinoduto Tucano dos trens e metrôs de São Paulo, algo que já soma 12 bilhões em propinas, mas jamais em favor de um golpe e sim pela manutenção a qualquer custo da Democracia Brasileira.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

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