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quinta-feira, 24 de abril de 2014

O que isso tem a ver comigo?

Ao olhar pela janela da vida, às vezes fico a me perguntar o que move as pessoas? Qual a razão de suas existências? Como fazer para que não sejam usadas como massa de manobra, seja por quem for? Ou ainda, porque as pessoas mudam tão rápido de opinião sem a menor convicção ou sem elementos que lhes deem sustentação? Simplesmente embarcam na teoria da conspiração sem o menor constrangimento. O que fazer para conter a violência generalizada que aos poucos vai tomando conta da sociedade e nos fazendo refém da indústria do crime?

Vivemos numa sociedade de interesses e de pleno consumo comandada pelo mercado. Para que sua manutenção esteja sempre ativa, os que caminham na mesma direção vão sendo selecionados, bastando para isso jogar o jogo sem reclamar e os que se colocam contra ou não se enquadram por não terem tido as mesmas oportunidades vão sendo excluídos ou separados para servir. Isso se transforma no dia a dia numa das maiores violência contra a humanidade.

Ao falar em violência, o que falar dos números? Em 2012 ocorreram 50 mil assassinatos no Brasil e só no Rio de Janeiro, quase 10 mil foram assassinatos nos últimos 10 anos. Trata-se de um número maior do que os assassinados em todos os países que adotam a pena de morte. Esses assassinatos foram cometidos, parte deles pelas próprias vítimas em disputa pelo tráfico, outras por várias razões e tantas outras pela polícia, que se tornou uma máquina de matar. Errados ou inocentes, o fato é que já adotamos nossa pena de morte legitimada pelo Estado e pela sociedade.

Dados do Blog Viomundo, mostra que a polícia brasileira é extremamente mal vista por organismos internacionais. “Violenta. Truculenta. Máquina de matar. É assim que a polícia brasileira, e em especial a Polícia Militar, tem sido classificada por organismos e entidades de defesa dos direitos humanos. Ano passado, no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), foi recomendado sua extinção, como forma de combate à violação aos direitos humanos e à prática de execuções extrajudiciais cometidas por uma parcela dos membros da corporação”. 

Uma sociedade enlouquecida, que vai matando mesmo sem motivos ou os que incomodam o sistema. Fazendo na verdade uma grande limpeza, onde a maioria é composta por negros e pobres. Trata-se da visão do sistema, que de uma forma segura encontrou uma solução para os conflitos humanos, onde não se resolve os problemas centrais, pois esses incomodariam os agentes do mercado e em troca eliminam-se todos aqueles que caíram em desgraça ou de alguma forma incomodam quem controla ou quer controlar a sociedade.

O cientista político Luis Eduardo Soares, que já foi Secretário Nacional de Segurança Pública, revela algo preocupante: o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (Bope) ofereceu aulas de tortura até 2006. A Polícia Civil do Rio também ensinava como bater até 1996. Ou seja, práticas herdadas dos agentes do golpe militar e que ainda hoje estão infiltradas na sociedade, onde o pior é saber que essas práticas são homologadas pela justiça, seja por ação ou por omissão.

Se for fato que a violência está instalada nos municípios brasileiros, também é fato que um dos maiores problemas está na falta de políticas públicas de segurança e prevenção à violência, principalmente nos estados e municípios e isso faz com que cada governante trate à sua maneira e interesse o problema.

Porém, se a proposta for de recuperar o cidadão que caiu em desgraça, de criar mecanismos que evite que as pessoas escolham o caminho do mal por falta de opção, de lutar contra o mercado das drogas e incluir novamente os recuperados no seio da sociedade, se faz necessária a criação de políticas de segurança cidadã, que fortaleça os laços de humanidade, que coloque a educação de qualidade como fonte de saber, que não tolere a impunidade e muito menos a discriminação e que assegure as mesmas oportunidades para homens e mulheres, brancos e negros e deficientes e não deficientes. Caso isso não ocorra, todas as tentativas serão em vão, apenas iludirão ainda mais a população, além de fazer com que cada vez mais o estado de violência se fortaleça e se generalize.

O Poder Público precisa urgentemente criar mecanismos que possibilite a recuperação das pessoas e não eliminá-las para ser ver livre da situação. Policial que mata primeiro para depois perguntar quem era, ou está completamente louco e necessita de internação ou é tão bandido como outro qualquer. 

A grande pergunta que muita gente se faz é: o que eu tenho a ver com isso? “Pago meus impostos, sou bem informado através dos veículos do PIG, não gosto de política, defendo  pena de morte, meto a boca no mundo quando vejo coisas erradas, principalmente com meus vizinhos e odeio todos os políticos”.

Talvez para responder com mais precisão essa pergunta, seja necessário recorrer a Bertold Brecht e ler e reler “O analfabeto Político”. Por ação ou por omissão, a sociedade tem sua parcela de culpa.

Você parou para pensar o que você tem a ver com isso? 

Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem. (Bertold Brecht)
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

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