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quinta-feira, 5 de julho de 2018

Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe...

Minha mãe, sempre se referindo a uma situação de tristeza vivida, mas também de olho nas alegrias aparentemente duradouras, repete um Provérbio Português que diz: “Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe”. Frases gêmeas que compõem uma dualidade mantida pela mente humana e que carrega várias verdades, se alternando ao longo do tempo nos dois universos contidos em cada ser humano.

Algo que abriga, ora tristezas e ora alegrias, que podem voltar a serem tristezas, para em seguida voltar a serem alegrias. Isso vale para várias situações da vida cotidiana de quem trata com as relações humanas e de quem as vivem com intensidade.

Certa vez conversando com uma terapeuta ela me disse: “Engana-se quem acha que uma determinada situação está totalmente consumada, apenas por uma decisão unilateral, quando envolvida por duas ou mais pessoas, porque no meio de tantas certezas há sempre o imponderável”. Algo muito profundo.

Segundo ela, uma coisa é quando estamos em pleno delírio por uma situação qualquer achando que o mundo gira apenas em torno de nossas órbitas, mesmo se sabendo que existem outros atores no enredo, tentando passar a ideia de que vivemos em outra dimensão e ignorando por completo o mundo real. A outra é perceber que ao passar do tempo chegará o dia do encontro noturno com o travesseiro, onde nossos pensamentos em viagem permanente acabarão nos cobrando passo a passo os detalhes inacabados, as mágoas que provocamos em outras pessoas, os desamores e todos os resquícios de fraquezas humanas que nos acometem diariamente. O que entendi da nossa conversa foi que um dia a fatura chega e que de alguma forma iremos pagar.

Traduzindo, ela se referia ao preço que a vida cobra pelas situações mal resolvidas, pelos sofrimentos que por ignorância plena, provoca-se a alguém, pelo uso que se faz de determinadas pessoas em troca de várias formas de prazer, pelas mentiras ditas durante a convivência e tantas outras. Em resumo, só outra expressão popular para explicar: “Aqui se faz, aqui se paga”. Esse pensamento pode estar ligado a um processo de vingança pessoal que nasce dos desabafos, a um conselho de boas práticas humanas, mas também à Lei do Retorno, que em regras gerais nos remete novamente ao Provérbio do título do post.

Ao longo de minha existência, já vi muita gente rir de situações onde eram senhores ou senhoras da razão e terminarem em choro porque o mundo deu várias voltas, enquanto elas continuavam presas aos seus mundos imaginários. Por outro lado também vi pessoas chorarem por achar que não havia mais solução ao que as faziam sofrer e de repente numa dessas viradas que a vida dá saírem sorrindo, pois descobriram que não passara de mais uma peça passageira pregada por suas próprias vidas e por suas escolhas.

Aprofundando essa dualidade, há evidências de que quando o ser humano está em êxtase, seja por qual motivo for, nem que seja por pouco tempo, nega o mundo real e cria um mundo particular, voltado exclusivamente para o prazer daquele momento, em várias situações puramente ilusório. Por outro lado, quando se está em tristeza profunda o mundo parece cair aos ombros de quem triste está, como se fosse acabar em instantes e a impressão que dá é que não haverá solução para o que provocou esse estado de espírito.

No caso das tristezas, dos desencontros e da falta de crença pela busca de soluções definitivas aos problemas vividos, a mente cria um mundo imaginário para que se suportem as diversas circunstâncias vividas no mundo real. Quais os cuidados? Daí vem às drogas, as bebidas, as paixões momentâneas sem lastro, os vícios de toda ordem e todas as buscas que visam maquiar os problemas reais. Nesses momentos, ainda há até quem desdenhem das fraquezas humanas, nem sabem que a vida dá e a vida leva.

Com base nessa viagem ao centro de nossas existências, pergunta-se: O bem é passível de sofrimento, além de ter duração limitada como o próprio mal?

Segundo Walter Barbosa, membro da Sociedade Teosófica, limitada e imediatista é nossa visão do bem, pois não vai além da perspectiva do prazer. Ainda segundo ele, por isso limitada é também nossa visão nos diversos setores da vida, seja como amantes, educadores, religiosos ou profissionais.

Completando sua linha de pensamento, Walter diz: “Só o que é humano se sujeita ao vai-e-vem da polaridade, tendo por isso começo e fim. Assim o oposto ao ódio é o amor limitado pela perspectiva do prazer, do apego, cuja inclinação é instintiva, dando base à continuidade do ego. Avessa à razão, tal perspectiva alimenta comportamentos obsessivos, cegos e autodestrutivos como a paixão e o vício". Segundo ele só o amor dura para sempre.

Talvez o tempo, que é senhor da razão, possa nos explicar porque mesmo o bem, que deveria ser um sentimento de entendimento e importância universais, varia tanto, mesmo para aquelas pessoas consideradas acima de qualquer suspeita e no mesmo campo do bem e do mal, como evitar que o mal que sempre nos persegue perdure por tempo suficiente em cada um de nós, a ponto de destruir parte importante de nossas vidas?

Como a vida é bela e sabemos que nada é definitivo, nem mesmo nossa própria existência, bom é saber que sempre haverá um novo dia, uma nova noite e um novo amanhã, enquanto vida tiver, onde podemos encurtar a distância entre o que somos e o que de fato queremos ser e mesmo que o amanhã seja o fim, terão as nossas histórias de vida, que por certo alguém dará continuidade e tomara que tenham orgulho delas.

Termino essa reflexão com uma frase de Friedrich Nietzsche: “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”.

Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social

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