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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Pesquisa da Fundação Perseu Abramo revela que os estados mais ricos elevaram as desigualdades de renda em 2012


Hoje, ao invés de escrever mais um post, resolvi transcrever na íntegra os comentários da Fundação Perseu Abramo sobre a pesquisa que revelou que estados mais ricos, como São Paulo, Minas Gerais e Paraná, elevaram desigualdade de renda em 2012, a pesquisa e os comentários do Presidente da FPA Marcio Pochmann.

"Segundo estudo divulgado nesta terça-feira, 1, pela Fundação Perseu Abramo (FPA), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os estados mais ricos como São Paulo, Minas Gerais e Paraná elevaram a desigualdade de renda em 2012.

O estudo da FPA analisa a trajetória recente da evolução da desigualdade na repartição pessoal do rendimento nacional dos brasileiros, observando a evolução do índice da desigualdade na distribuição da renda mensal de todos os trabalhos das pessoas com rendimento da ocupação, e a desigualdade na distribuição de renda nos estados da federação em 2012, considerando a variação no índice na distribuição da renda mensal de todos os trabalhos das pessoas com rendimento na ocupação com 15 anos e mais de idade.”

Veja a Pesquisa clicando no link:

O levantamento mostra ainda que, com a queda de 0,4% do indicador em 2012, o país apresentou Índice Gini de desigualdade abaixo de 0,5, o menor de toda a série registrada no Brasil pelo IBGE desde o ano de 1960.

O FPA Comunica 5 antecipa estudos e investigações que se encontram atualmente em andamento. A base primária das informações utilizadas pertence ao IBGE e a medida de desigualdade de renda é Índice Gini, que varia entre 0 (igualdade perfeita na distribuição pessoal da renda) e 1 (extrema desigualdade possível na repartição da renda).

O presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, comentou os dados em entrevista à tevê FPA, nesta manhã.

Veja os comentários do Presidente Marcio Pochmann, clicando no link:


Durante a entrevista para a TV FPA, o Professor Eduardo Fagnani falou sobre a Pnad e as implicações futuras.

Assista a fala do Professor Fagnani, clicando no link a seguir:




sábado, 5 de outubro de 2013

As artimanhas da direita em nome da democracia e o sonho de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas

Figura: waltercharges.blogspot.com

A aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva, que envolverão também outros partidos de direita e até de extrema direita, nas próximas eleições, expõe o ódio ao PT e aos setores progressistas da sociedade. Em nome do fim da era PT, como também afirmou Serra, todos estarão juntos tentando esconder que serão aliados daquele modelo de país que defendia a ALCA, que vendeu todo patrimônio nacional e buscava constantemente junto ao FMI.

O que querem Marina, que se considera a pureza em termos políticos e a única defensora das questões ambientais e Eduardo Campos, que simplesmente traiu suas origens e levou o PSB, antigo aliado do PT e do governo federal, aos porões da disputa “baixa”, onde só o poder interessa? Tenho claro uma coisa: lutar por um país soberano, livre do FMI e das amarras americanas não é, pois se fosse apoiariam o governo federal e a virtual reeleição da Presidenta Dilma Rouself.

Querem um mercado forte e um Estado fraco, principalmente para que seus parceiros financeiros e de futura campanha ganhem muito dinheiro, além da volta de inúmeras mazelas, disfarçadas em desenvolvimento que o Brasil se libertou.

Essa parceria neoliberal, verde-floresta, mas amarela-tucana se completará quando também fizer adesão um dos maiores traidores da esquerda brasileira: Roberto Freire, que infelizmente é meu conterrâneo, mas estamos a anos luz um do outro em termos do que queremos para o Brasil e nossos compromissos frente às mudanças inclusivas necessárias, que mudarão a cara da país.

Sabe quem serão os maiores aliados dessa aliança? O PIG – Partido da Imprensa Golpista, representado por Folha de São Paulo, Estadão, Globo, CBN, Revista Veja, Revista Época e tantas outras, pois afinal essa turma que quer derrotar o PT, não defende o controle dessa mídia que se constituiu o quarto poder, através de conselhos participativos e deliberativos em todas as esferas. Querem a hegemonia absoluta, para disseminarem as ideias dos seus proprietários, que gostam do “mercado livre” e não de um Estado forte cuidando do social.

Qual a ação que deve ser desenvolvida para neutralizar essa armadilha? Apenas e tão somente o Brasil continuar gerando empregos com carteira assinada, continuando com as oportunidades de casa própria para a população pobre e ensino de qualidade para a população menos favorecida, além de trazer médicos de várias partes do mundo para fazer o que uma grande parte dos médicos brasileiros não quer fazer, em fim, continuar colocando o Brasil em termos mundiais onde nunca esteve.

Também nessa direção está na pauta nacional a aprovação de uma ampla Reforma Política, que aprove o financiamento público de campanha, além de diretrizes que possibilitem a moralização da política e a ampliação da intervenção da sociedade, através das instâncias participativas e deliberativas.

Quero um Brasil moderno e inclusivo, com homens e mulheres, negros e brancos, deficientes e não deficientes tendo as mesmas oportunidades e, sobretudo um país que crie condições da população menos favorecida melhorar sua condição de vida.

Nada mais belo do que poder me apropriar da fala de Paulo Freire, expressa no Livro “Essa Escola Chamada Vida”, que fez junto com Frei Beto, onde essa fala representa a luta e o sonho de milhares de pessoas por uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas:

“Eu sonho com uma sociedade reinventando-se de baixo para cima, em que as massas populares tenham, na verdade, o direito de ter voz e não o dever apenas de escutar. Esse é um sonho que acho possível, mas que demanda o esforço fantástico de criá-lo. Quer dizer, para isso, é preciso que a gente anteontem já tivesse descruzado os braços para reinventar essa sociedade. Uma sociedade onde a exigência de justiça não signifique nenhuma limitação da liberdade e a plenitude da liberdade não signifique nenhuma restrição do dever de justiça”.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Política é coisa séria não é para político cacheiro viajante

Imagem: denisbraga1000.blogspot.com

Quero iniciar essa conversa, fazendo uma clara diferenciação entre política e politicalha, entre a boa política e a política de interesses, entre a política de inclusão e a política de resultados.

Quem nunca ouviu essa frase: “Política, religião e futebol não se discutem”. Quem concorda com isso? Na verdade, ensinaram isso ao povo para que ficasse claro que os três assuntos são apenas para os “entendidos” e os demais terão apenas que os seguirem.

Essas afirmações, junto com outras, do tipo: “Comer manga e tomar leite faz mal”, são termos que serviram de pretexto, ao longo da história, para que a população não tivesse nenhum interesse em se aproximar de algo que não entendia, transferindo a responsabilidade da discussão, ou para o poder dominante ou para alguém que em tese lhe representava.

E nos dias de hoje o que mudou? Podemos enxergar que algumas dessas afirmações são reforçadas e enfatizadas pela mídia, com muito mais eficiência, de forma mais rápida e eficaz, tanto pela mídia escrita, falada, televisiva e nas redes sociais, onde a maior parte tem dono, lado e posição, tanto se constituindo no PIG – Partido da Imprensa Golpista, como se constituindo no quarto poder. O PIG faz mal a todas as pessoas que pensam, porque pretende substituir o pensamento crítico pela aceitação de que tudo é igual, ainda mais se for algo relativo aos direitos dos trabalhadores e das pessoas menos favorecidas.

Sou do tempo em que saíamos às ruas na luta por liberdade, por justiça e por eleições diretas, mesmo sabendo que corríamos o risco de elegermos indivíduos que no discurso seria um e na prática outro completamente diferente.

Diante desse contesto, há um grande equívoco que precisa ser desmistificado: se a mídia prega, a mando de seus proprietários, que todo político é ladrão e assim tanto faz votar num como no outro, o que de fato pregam nas entrelinhas? Qual é a mensagem subliminar? Um golpe? A alienação coletiva? A desconstrução do processo democrático, que deu liberdade, inclusive à própria mídia de falar o que quer?

Na verdade, o que está por trás de tudo isso é uma enorme vontade de volta ao passado, seja através de uma nova ditadura, ou mesmo de volta de seus representantes, aqueles mesmo que venderam o Brasil, com apoio dos organismos de extrema direita mundial e comeram o dinheiro. Quem não se lembra da Petrobrax? A Petrobrás era um lixo e por isso tinha que ser vendida. Hoje ouvi uma reportagem que uma Agência, ligada ao pensamento dominante mundial, tinha baixado as notas da Petrobrás, numa clara alusão de que usarão esses caminhos nas próximas eleições, com a desculpa de que ela foi e é  mal administrada.

Ajudaria muito a compreensão do que falo com a leitura de dois livros:  “A Privataria Tucana” e o “Príncipe da Privataria”, para saber o que foi feito, como foi feito e onde está parte do dinheiro desviado.

Política é coisa séria e uma alternativa mais eficaz para mudar os efeitos da velha política, aquela do escambo, a da troca e a do mercantilismo, é dar voz ao povo, criando espaços deliberativos e construindo Políticas Públicas a partir das necessidades apresentada pela população e discutindo uma nova linguagem nos espaços que governamos, legislamos ou nos relacionamos com a sociedade.

Política é para ser discutida e entendida e não pode e não deve ser confundida apenas com as eleições, que apesar de serem ferramentas importantes, pois podemos mudar os governantes, não se traduz na  única alternativa de mudança. Temos inúmeras alternativas, porém todas elas começam e terminam com o povo.

Fico estarrecido ao ver, no atual momento, a naturalidade de diversos políticos de carreira, trocando de partido como se troca de camisa e dando a impressão de que no próximo partido tudo será diferente. Além do partido, que representa as forças progressistas ou reacionárias da sociedade, existe o indivíduo, onde grande parte, em nome de uma causa própria vai em busca de seus interesses pessoais. 

Se é verdade que os políticos representam os interesses de quem lhe colocou lá, seria bastante compreensível que para mudar de partido, primeiro deveria consultar o coletivo que o elegeu. Isso seria uma das ações da boa política.

Carlito Maia dizia que tem algumas pessoas que vieram ao mundo a trabalho e tantas outras a passeio. Quem veio a passeio, morrerão passeando, mas aquelas que vieram a trabalho estão aguardando apenas um convite.

Bem vindos ao mundo da militância. A doce arte de discutir e praticar política, a partir de uma causa.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Ainda existem "esquerda" e "direita" no Brasil?


Há quem afirme que não existe mais nem “esquerda”, nem “direita”. Que o mundo caminha par uma terceira via: nem um capitalismo tão selvagem e nem também uma esquerda tão estatizante. A luta de classes foi superada? A fome foi exterminada?

Às vezes me pego pensando que está fora de moda ser de esquerda no país, mesmo nos fóruns apropriados, ou ainda defender o socialismo, visto que a mídia, senhora da razão da direita e da extrema direita, já determinou que não existe mais essa dualidade de ideias e nem mesmo luta de classes.

Para os que ainda não dominam essa linguagem, vale registrar a origem dos termos “esquerda” e “direita”, nascidas na Revolução Francesa (1789-1799):

Num primeiro momento eram apenas cadeiras diferenciadas na Assembleia Legislativa Francesa, onde os “jacobinos”, os representantes da pequena e média burguesia e do proletariado sentavam-se à esquerda e os “girondinos”, os representantes das elites à direita, onde os primeiros representavam a mudança, combatiam os privilégios aristocráticos ou eclesiásticos da época enquanto os “girondinos”, seus opositores surgiam como os defensores da ordem e do conservadorismo.

Em regras gerais, essa concepção, principalmente no que se refere ao campo de origem e defesa, permanece o mesmo, pelo menos em tese, pelo menos em termos de concepção.

A chegada ao governo, que representa parcela importante de poder, mudou e continua mudando o comportamento dos que se denominam de ex-esquerdistas e até de alguns que ainda se denominam ainda de esquerda. Uma contradição alimentada pelo fato de ao mesmo tempo terem que lutar contra o sistema, no sentido de manter a coerência e por outro trabalhar na manutenção do que chamam de poder.

Vale ressaltar que vários partidos considerados de esquerda, porém muito deles distantes de construírem alternativas ao poder constituído, fazem um jogo perigoso, pois trabalham com um discurso afinado de mudanças, encontrando sintonia com a população educada para não gostar de política e por outro se enveredam nos caminhos tortuosos da manutenção do sistema econômico, em nome do desenvolvimento econômico e social.

Assim, é possível afirmar a existência de um grande dilema: se por um lado conquistou-se uma parcela importante de poder, capaz de intervir pela população menos favorecida, promovendo-a a mudar de faixa econômica, por outro se recuou no tempo às formas de combate ao sistema capitalista, não só sucumbindo com algumas instancias representativas dos trabalhadores, como em alguns casos, negando direitos e até da existência da própria luta de classes.

Sou remanescente do tempo em que aprendemos que a esquerda se rege por princípios e a direita por interesse e concordo com o Frei Beto, que terminou seu texto escrito em março deste ano para a o “Brasil de Fato”, com a seguinte frase: “Quem é de esquerda não vende a alma ao mercado”. Podemos conviver, pois imaginamos que é o que move um país capitalista, mas temos que ter um Estado forte no capitalismo, para que o mercado não dê as regras. Nem um Estado intervencionista, tampouco um Estado subserviente.

Uma dessas armadilhas é o tal “terceiro setor”, que em tese supriria as falhas do Estado abandonado e falido, mas por outro lado, dentro da Tese do Estado Mínimo, nasceu para substituir o Estado em suas funções sociais.

O que devemos fazer para, pelo menos, manter a coerência? Trabalhar num primeiro momento para o fortalecimento do Estado enquanto provedor de suas causas, em benefício da população pobre e em segundo construir alternativas seguras para que essa população seja protagonista da sua própria história.

Soa bem aos meus ouvidos o Socialismo Democrático, que não pode ser entendido como socialdemocracia, até porque sempre fui crítico a tal ditadura de proletariado. Assim sendo, é algo que necessita ser discutido, ampliado seu entendimento e principalmente implantado.

Toda vez que damos voz ao povo, organizamos as instituições, criamos organismos deliberativos e principalmente capacitamos a população quanto aos seus direitos, estamos dando mais um passo rumo à possibilidade do Socialismo Democrático.

Quando o grito se encarna no poder então a educação revolucionária toma outra dimensão, pois o que foi educação contestadora passa a ser agora educação sistematizada: trata-se então de recriar, de ajudar na reinvenção da sociedade. Na fase anterior ela ajudava o grito para a derrubada de um poder hostil às massas, com elas no poder a educação passa a ser um instrumento extraordinário de ajuda para a construção da sociedade nova, para a criação do homem novo. (Paulo Freire)




Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Audio Book "A Arte da Guerra" em homenagem a um padre peregrino

Postado por: minorujr

Após um domingo especial, onde comemoramos os 25 anos de sacerdócio do Padre Sergio Alvarez de Americana/SP, o único padre peregrino na nossa região, resolvi, em seu nome, brindar os leitores do blog com o áudio-book sobre a Arte da Guerra, algo tão novo que impressiona.

O Padre Sergio é uma figura humana extraordinária, que dedica sua vida ao combate a toda forma de injustiça e luta junto com as pessoas menos favorecidas por uma sociedade igual para todos. É um militante de uma causa, que não hesita denunciar quem quer que seja nem tampouco de elogiar quem de fato merece.

Punido pela igreja conservadora, segue feliz, sem uma igreja templo, mas ao lado do povo. Por incrível que possa parecer, até o momento não faltou celebração, principalmente da vida.

Boa leitura a todos.

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A Gestão Pública vista como um campo tecnopolítico e a máquina pública como um campo profissional


Figura: www.fcap.adm.br

Qual a dimensão de um governo? Que tipo de governo está na cabeça dos gestores? É possível trabalhar como profissional mesmo num campo político?

Há pouco mais de dez anos, ninguém podia imaginar que o país passasse por tamanha transformação. Primeiro pelo fato do Brasil, até aquele momento estar refém do FMI, Clube de Paris e principalmente dos Estados Unidos, onde qualquer mudança na economia ou mesmo na política salarial tinha que ter o aval de seus credores e muitas vezes recuar da proposta em nome da governabilidade. Um verdadeiro vexame governamental, sem contar nas heranças malditas das ditaduras, onde muita gente morreu em nome da liberdade.

Em segundo, quem podia imaginar que um operário fosse eleito duas vezes, elegesse a primeira mulher na história como sua sucessora e ambos criassem Políticas Públicas capazes de gerar uma grande revolução silenciosa: política, econômica e social. Não é atoa que uma Rádio como a CBN, que considero uma peça chave da Teoria da Conspiração, dedicou os dez últimos anos de suas programações, na tentativa de desconstruir todas as políticas federais, a tal modo que quando ouço algo que consideram uma boa política federal, fico pensando onde foi que o governo errou.

A dimensão de um governo tem que ser proporcional à necessidade da população, tem que ser construída nas ruas e não em gabinetes, porém isso só é possível se o grupo que governa for de fato representante da população e em especial da população menos favorecida. Não tem segredo. Cada governo representa um segmento da sociedade e fundamentada nos interesses de quem economicamente financiou a campanha eleitoral. Quanto mais dinheiro para as campanhas, mais comprometidos os governos ficarão com seus credores. O pensamento politico da gestão tem que ser advindo da interação com a sociedade.

Como afirma Yehezkel Dror: “O pensamento político deve lidar com opções estratégicas voltadas a ter impacto significativo no futuro, às vezes estabelecendo e alterando trajetórias de longo prazo”.

Governar é uma ação política e não meramente administrativa, assim sendo, o resultado de um governo não pode ser avaliado apenas pela quantidade de obras executadas e sim por quanto avançou em termos de soluções para a população e é nesse momento que sabemos a quem esse governo serve. Não se governa olhando apenas para o presente e tampouco da mesma forma para o futuro, se governa ouvindo a população e junto com ela preparando as ações futuras. Uma junção de representatividade com participação, ou ainda de representantes eleitos nos fóruns participativos. É com essa concepção que se pode enxergar e avaliar se um governo é conservador ou progressista.

Outra afirmação que faço é que num país capitalista e voltado ao mercado, o Estado tem que ser forte e junto a isso, se faz necessário à criação de instrumentos participativos que interaja com a população e construa Politicas Públicas a partir de seus referenciais. É dever do Estado suprir as necessidades da população carente e criar condições dessa população voltar novamente a ser incluída no seio da sociedade, lhe garantido o direito de cidadania.

Assim, não é somente um governo criar, por exemplo, coordenadorias da mulher, da juventude ou da igualdade racial e de outros setores, quando criam, mas se responsabilizar para que cada setor criado trabalhe a partir da interação  integração com o setor específico e com os demais setores de governo, pois não existe nenhuma Política Pública que seja independente, necessitando assim uma ampla integração de governo. Outra questão importante é saber se os gestores nomeados envolvidos têm a ver com os instrumentos criados, tenham entendimento da necessidade de envolvimento dos atores e principalmente compromissos com o contexto de cada área governamental.

Outra questão relevante se refere a que tipo de capacitações e treinamentos está sendo oferecido, tanto para os gestores, para os funcionários públicos de carreira e também para a população. Podemos aqui fazer uma breve referência a pelo menos três tipos de focos distintos:

1) Para os gestores e técnicos, se torna fundamental uma capacitação tecnopolítica, motivadora e que facilite a compreensão quanto aos compromissos assumidos técnicos e políticos pelo governo, fundamentado principalmente no Plano de Governo e de suas atualizações nos fóruns participativos realizados;

2) Para os servidores de carreira, uma formação técnica continuada, no sentido de passar a visão que a máquina pública pode ser transformada num campo profissional, com perspectivas claras a partir da construção de um plano de carreira participativo e o envolvimento dos servidores, quanto aos seus compromissos perante à população; 

3) Para a população, uma capacitação técnica voltada à preparação de novas lideranças, que ocupem os cargos nos instrumentos existentes e a serem criados, com a visão de representantes de fato da população e não de oportunistas que apenas ocupam as funções em benefício próprio. Além disso, ampliar a oferta de cursos técnicos, no sentido de melhorar a qualidade técnica da mão de obra, ampliando assim para novas possibilidades.

Governar sob o ponto de vista político de mudança da sociedade e de melhoria na qualidade dos serviços oferecidos, vai muito além de um gerenciamento de governo como se fosse uma empresa, que é compreensão dos gestores ligados aos partidos de direita com uma visão neoliberal, na verdade se constitui na prática de um exercício de mudanças contínuas e de reeducação, tanto interno como externo.

Como afirma Zenaide Sachet: “A constatação mais triste é que muitos dos nossos governantes assumem os espaços de governo sem ter consciência de que o processo de condução é muito distinto de um processo de gerência rotineira e que a rotina é apenas parte do sistema de gestão. Parte bastante pequena, já que, dos problemas que um dirigente enfrenta em um sistema de governo, apenas alguns poucos são bem-estruturados”.

Com essa visão, a criação e a implantação de uma Escola de Governo, tratada de forma séria, poderá contribuir e muito para a manutenção de um Programa de Capacitação Continuada, onde todos possam beber na fonte do conhecimento e esse conhecimento possa ser transformado no veículo necessário para as mudanças definitivas que a sociedade necessita.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Efeitos do Estado Neoliberal no Brasil

Imagem: democraciapolitica.blogspot.com


O governo neoliberal que é a política econômica que visa à redução das funções do Estado Nacional em prol das empresas privadas, começou de fato no Brasil com o governo de Fernando Collor de Melo (1990-1992). Com o impeachment de Collor, assumiu o governo o vice-presidente Itamar Franco (1992-1994) que efetivou algumas ações, tímidas, para reduzir o impacto do neoliberalismo no país.

Quem continuou a política neoliberal de Collor, foi Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que em 8 anos de mandato efetivou um desmonte do Estado brasileiro. Tal como, o eixo da política neoliberal pauta-se por privatizações e pelo não investimento nas áreas sociais e por um Estado Mínimo, foi dessa forma que Cardoso conduziu o seu governo.

Uma das características neoliberais do governo Cardoso foi a chamada reforma da previdência social, segundo o professor Otaviano Helene, ao analisar as mudanças na área da seguridade social afirmou que “as alterações propostas têm como objetivo satisfazer interesses econômicos, em vez de resolver os reais problemas do sistema previdenciário brasileiro”, ou seja, os aposentados estavam em segundo plano neste modelo previdenciário. 

Além de alterar a estrutura da previdência, o governo de Cardoso privatizou várias empresas, entre elas: a Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do mundo, a educação superior, as Telecomunicações e a área de energia elétrica.  Naquele governo também ocorreu uma modificação do recrutamento de funcionários públicos, Cardoso, optou por terceirizar os serviços que eram de responsabilidade da União e pela redução de concursos públicos o que acabou sucateando a administração pública e comprometendo as funções do Estado.

No final do seu governo o país tinha uma dívida de 245 bilhões de dólares o que emperrou o avanço econômico do Brasil. Salienta-se que por falta de investimento na rede de energia, o país vivenciou vários períodos de apagões, ocasionando numerosos transtornos para os cidadãos brasileiros. Na área da educação não foi construída nenhuma universidade federal, optando-se pelo modelo de educação privada e assim excluindo milhões de pessoas ao acesso a uma educação de qualidade. Caro leitor, todas essas ações tinham como objetivo a redução do Estado brasileiro, isto é, ficaria a cargo do Estado apenas alguns setores, por exemplo, as Forças Armadas e as questões epidemiológicas. Fica evidente que o governo de Cardoso é o modelo mais próximo que temos de um governo neoliberal e que tal política não proporcionou o fim das desigualdades sociais e do desenvolvimento do país, pelo contrário, foi um retrocesso social e econômico.  

Israel Aparecido Gonçalves
Cientista político e professor universitário.


terça-feira, 24 de setembro de 2013

A busca da Igualdade Racial: uma luta permanente contra a exclusão política, econômica e social


Foto: quebala.blogspot.com

A questão racial no Brasil vem de um contexto histórico, dos tempos do Brasil colônia, que em grosso modo poderia ser traduzido como sendo o uso e dominação de homens e mulheres, trazidos à força de suas origens, formando senzalas para servir senhores e senhoras da Casa Grande e que a resistência significava tortura e morte.


Meu primeiro contato histórico-científico com esse apaixonante tema aconteceu em 1989, quando ganhei da minha companheira o Livro: “Retrato em Branco em Negro”, da antropóloga Lilia Schwarcz. Um livro que trazia a visão da imprensa paulista sobre a questão da escravidão, sobre os escravos e como foram abandonados pela sociedade, após a abolição da escravatura. Foi uma leitura impactante, pois defendia que na prática, a verdadeira escravidão ocorrera após a abolição.


Como militante político e coordenador na época de um projeto de mutirão habitacional, com pessoas vindas de várias partes do país, vivia na pele a discriminação e as portas fechadas para todas as nossas necessidades. O caminho mais natural foi à resistência, a indignação e a solidariedade a todas as lutas pela igualdade.


A identificação com a causa dos negros e negras no Brasil se deu automaticamente pela identidade da causa: a luta histórica, a resistência e a luta constante contra a toda forma de discriminação econômica, política e social.


Numa entrevista, Lilia faz uma revelação: “Aqui no Brasil, “ninguém é racista”, como determinou, em 1988, no centenário da Abolição, uma pesquisa cujos resultados eram sintomáticos: 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito. Mas, ao serem perguntados se conheciam pessoas e situações que revelavam a discriminação racial no país, 98% responderam com um sonoro “sim””.


No mundo católico, um fato ocorrido em 1981, idealizado por D. Helder Câmara, Bispo de Olinda e escrita por D. Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, por um lado escandalizava o universo conservador da igreja, mas opor outro enchia de orgulho todos os militantes da Teologia da Libertação. A Missa dos Quilombos, que era a continuidade da Missa da Terra Sem Males, sobre a exploração do índio, pedia perdão pela conivência e pela aceitação a todos às atrocidades cometidas contra os negros e negras. Milton Nascimento foi convidado a musicar a missa. D. Pedro escreveu sobre o evento:


Em nome de um deus supostamente branco e colonizador, que nações cristãs têm adorado como se fosse o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, milhões de Negros vêm sendo submetidos, durante séculos, à escravidão, ao desespero e à morte. No Brasil, na América, na África mãe, no Mundo. 


Deportados, como "peças", da ancestral Aruanda, encheram de mão de obra barata os canaviais e as minas e encheram as senzalas de indivíduos desaculturados, clandestinos, inviáveis. (Enchem ainda de sub-gente -para os brancos senhores e as brancas madames e a lei dos brancos- as cozinhas, os cais, os bordéis, as favelas, as baixadas, os xadrezes). 


Mas um dia, uma noite, surgiram os Quilombos, e entre todos eles, o Sinaí Negro de Palmares, e nasceu, de Palmares, o Moisés Negro, Zumbi. E a liberdade impossível e a identidade proibida floresceram, "em nome do Deus de todos os nomes", "que fez toda carne, a preta e a branca, vermelhas no sangue".  Vindos "do fundo da terra", "da carne do açoite", "do exílio da vida", os Negros resolveram forçar "os novos Albores" e reconquistar Palmares e voltar a Aruanda. 

D. Helder Câmara invoca Mariama na Missa dos Quilombos em 1981
Postado por Daniel Tomazoni

A luta dos negros e negras, apesar de serem equivalentes a outras lutas contra a discriminação e a exclusão, por seu contexto histórico e sua origem, possui uma dimensão maior, sentida na pele, principalmente pelas mulheres negras, que são duplamente discriminadas.

Na véspera de iniciar um trabalho maior, no sentido de colocar na pauta nacional a questão da Igualdade Racial como texto e contexto na Gestão Pública, onde o Partido dos Trabalhadores governa, é vice ou faz parte da gestão, só tenho a agradecer pela grande oportunidade que a vida me deu e agradecer especialmente aos companheiros que identificaram no meu trabalho uma contribuição num assunto tão grandioso.

O importante é que possamos nesse novo trabalho, envolver pessoas na causa, incentivar a criação de Políticas Públicas inclusivas e participativas e essas cheguem possam chegar, com clareza, na fonte para quem de fato necessita.

Negritude não é cor é vida e alma. Negritude é invocar a igualdade, é resistência pela conquista de direitos e principalmente é grito de liberdade.



Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

sábado, 21 de setembro de 2013

Reviver a luta pelas Diretas Já para entender o momento político e a manutenção da liberdade

Comício das Diretas no Vale do Anhagabaú
Foto: www.a2fotografia.com.br 

As manifestações de junho passado, praticamente conduzidas pelo PIG - Partido da Imprensa Golpista, que tem dono, lado e que sonha em dar um golpe no modelo de governo que o Brasil tem  e por outro o medo de volta à ditadura ou a volta de seus representantes legais pela via do via eleitoral, pois ao expulsar os partidos políticos e as entidades representativas das manifestações, também esta se expulsando toda as lutas históricas do passado, por abertura, democracia e liberdade.

Como milhões de brasileiros, defendo uma Reforma Política ampla, geral e irrestrita, sou contra a toda forma de corrupção e luto pela moralização da política, porém como aprendi que não ter partidos e organizações de luta é a volta à ditadura, jamais estarei ao lado de quem quer dar um golpe na democracia.

Os três vídeos abaixo, primeiro representa a saudade em meus momentos inesquecíveis de militância presentes nos Comícios das Diretas da Praça da Sé e do Anhangabaú e também visa contribuir com a história, ao lembrar que toda liberdade que vivemos hoje, inclusive da imprensa golpista teve um preço: repressão, pessoas que doaram a própria vida e muita luta para que a sociedade pudesse se organizar em partidos, sindicatos, organizações e tantas outras formas.

Para os que odeiam a política só tem dois caminhos: continuarem sendo conduzidos pelos instrumentos da Imprensa Golpista ou entrar para dentro da política e darem a suas melhores contribuições.

 
A famosa reportagem sobre o Comício das Diretas
Luis Carlos Azenha

25 anos de Diretas Já
laricfraga

Direas Já - Fala Lula
Paulino Tarraf


"A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão."
Paulo Freire.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A magia de governar com o povo

Foto: www.hariovaldo.com.br

Ouvi recentemente de uma pessoa influente do meu partido, que já foi prefeito por dois mandatos, que a sua segunda eleição rumo à reeleição foi feita exclusivamente pela população, com baixíssimo custo. O resultado de seu trabalho no primeiro mandato, organizando os fóruns representativos, reorganizando os conselhos municipais e promovendo debate através do Orçamento Participativo, resultaram na apropriação de seu mandato pela população e essa lhe deu como presente o segundo mandato. Foi algo que soou como uma sinfonia, que jamais esperava naquele momento ouvir.

Por outro lado, ouvi não faz muito tempo de um prefeito de primeiro mandato, já inebriado pelo poder, que não queria muitos conselhos municipais organizados e nem deliberativos, pois travaria a máquina, assim como queria também poucas conferências municipais, porque o povo não estava preparado para uma gestão participativa. Por alguns instantes me perguntei o que estava fazendo ali para ouvir tamanha insensatez.

As situações descritas são tão antagônicas, que a vontade que me dá é colocar um em frente ao outro e torcer para que a magia da participação descrita pelo primeiro contaminasse o personagem do segundo caso.

Esses episódios, que marcam bem dois modelos de gestão, na verdade, em alguns casos, estão além de partidos, pois faz parte de uma questão cultural, ideologicamente moldada. Um que enxerga a população organizada como protagonista de seu futuro e outra que se molda ao sistema, realçando ainda mais o processo de exclusão.

Vários instrumentos de participação poderão ser criados, como: fóruns, seminários, conferências, conselhos, coordenarias, orçamento participativo e tantos outros. Porém, de nada vale um instrumento, mesmo que criado a partir de uma lei municipal, se o coração do gestor e as mentes centrais do governo, não pulsarem forte ao verem o povo reunido, nem se indignarem ao ver todos os dias: a miséria, a fome e a exclusão.

Para governar com o povo, é necessário ser povo, ter vindo das bases e ter passado por provações. É saber que cada momento como “senhor”, se não for compartilhado, o distancia cada vez mais da ideia de ser humano e o faz, nem que seja por segundos, num ser imortal. Como dizia Paulo Freire é preciso gostar de ser gente:

"Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele."

Para sentir essa magia é necessário um processo interior de transição, que ao mesmo tempo valorize a conquista da vitória, mas por outro lado leve ao entendimento que esse poder foi emprestado pelo povo. 

Valendo-me mais uma vez de Paulo Freire, ouso comparar o encontro da população organizada, em busca de seus ideais, a partir da abertura provocada por um gestor consciente, com o final de sua “Canção Obvia”, em busca da tão sonhada liberdade:

"Estarei preparando a tua chegada, como o jardineiro prepara o jardim para a rosa que se abrirá na primavera."

O Presidente Lula, sentiu essa magia. Não só governou com o povo, como também fez milhares de pessoas voltarem a sonhar.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Método Paulo Freire: 50 anos de uma educação libertadora


Postagem: TV Brasil

Postagem: Rallyson Lacet

No ano que completa 51 anos, o Método Paulo Freire, considerado revolucionário por educadores de várias partes do mundo e subversivo pelo detentores do golpe militar, que se apropriou do país, principalmente porque levava ao entendimento que os métodos tradicionais, além de não seduzirem a população analfabeta, principalmente a   adulta, não educavam sob o ponto de vista de uma educação libertadora, onde o conhecimento e a experiência de vida possibilitava um caminho para a sabedoria. Segundo ele, as cartilhas tradicionais apenas ensinava, mas não educava, com um grupo de professores sem perspectiva de vida e não educadores.

Para as pessoas mais vividas, quem não se lembra do Mobral, criado em 1967 pelos militares para fazer frente ao Método Paulo Freire. Um método arcaico, com professores monitorados pelos SNI e alunos desanimados. Algo sem vida.

Ao contrário, o Método Paulo Freire, era a própria vida, traduzida de forma compartilhada em pequenos sonhos, onde o saber era a própria luz. Partia da realidade de cada comunidade e a partir da apropriação de palavras comuns aos participantes. O resultado era surpreendente: em tempo recorde, em média 45 horas, homens e mulheres saiam lendo e escrevendo, como num passe de mágica. Era um verdadeiro ato de amor.

Como ele mesmo afirmava é necessário amar as pessoas e a vida para que se possa sonhar com um novo mundo.

“Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade”.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Os gestores públicos estão preparados para governar com o povo? E o povo?


O Curso Plano de Governo e Ações para Governar permite diversas discussões entre os gestores presentes e uma delas se refere em saber se os gestores estão preparados para governar com o povo. De forma tranquila, a maioria deles tem afirmado que não.
Apesar de ser uma resposta impactante, não deixa de ser interessante, pois ao assumir que não estão preparados, além de detectar um problema de gestão, ou melhor, um formato de gestão desassociado da população, chama para si a responsabilidade de refazer caminhos, de construir novos referenciais e mudar o que for necessário para que terminem suas gestões com projetos e políticas públicas, ao menos próximos da população.

Outra pergunta apresentada, completa a anterior, a partir de questionamentos levantados no próprio curso: e o povo está preparado para uma gestão participativa? Alguns afirmam que sim, porém a maior parte dos gestores chega à conclusão que não. Segundo a avaliação, a população está acostumada a cobrar e delegar a quem nem mesmo conhecem, em muitos casos em troca de pequenos favores, sendo que uma grande parte se recusa em participar.

Poderíamos aceitar isso como verdade, principalmente pela comodidade contida na resposta, porém como gestores de um partido de “esquerda” e que tem como eixo principal a implantação do Socialismo Democrático, essa resposta, além de comprometedora, deixaria a certeza de que não há solução para o combate de todas as desigualdades existentes na sociedade e assim o ato de governar ficaria restrito ao processo burocrático e a ocupação dessa importante parcela de poder.

Temos chegado à conclusão de que se trata de um conflito cultural, antes de ser político, pois expõe velhos conceitos e formatos, aonde o servilismo vem sempre à frente, o mercantilismo no processo eleitoral nem é notado, pois a sociedade exige resultados a qualquer custo.

Fazendo uma analogia com o mundo empresarial, regido religiosamente pelo “deus mercado”, em seu processo de modernização houve tentativas de mudanças, a partir da concepção das Teorias “X”, “Y” e “Z”, embora não seja tão fácil a mudança e a maioria não mudou, pois a noção capitalista de posse e lucro impedem mudanças mais significativas em termos de abertura, participação e gestão compartilhada. As mudanças ocorridas se deram mais pela necessidade do que por um processo de crescimento.

Ao olharmos para o universo da Gestão Pública, numa breve análise, muito mais emocional do que racional, a impressão que se tem é que a maioria dos espaços públicos ainda está na Teoria “X”. Segundo essa teoria desenvolvida por Douglas McGregor nos EUA depois da Segunda Guerra Mundial, os trabalhadores seriam preguiçosos e necessitariam ser dirigidos, assumindo-se a mediocridade das massas trabalhadoras, a partir das seguintes premissas:
a) o cidadão médio tem uma inerente ojeriza pelo trabalho e, se lhe for permitido, não trabalhará;
b) as pessoas devem ser coagidas, controladas, dirigidas e ameaçadas com punições para que realizem o esforço necessário para que uma organização alcance seus objetivos; e
c) o cidadão comum prefere ser dirigido (a dirigir), prefere evitar responsabilidades, é pouco ambicioso e, acima de tudo, gosta de segurança.

Nota-se claramente que essa teoria enxerga o ser humano como máquina e assim, a única coisa que interessava era a produção em alta escala, com a simples troca em caso de doença ou diminuição na produção individual.
Por incrível que pareça, ao fazer um comparativo “ao pé da letra”, notamos claramente que a Gestão Pública para alguns, nem mesmo estaria na Teoria “X”, pois a noção é de completo abandono, da máquina pública, dos funcionários públicos e principalmente dos serviços oferecidos pela população, que mesmo essa população se constituindo como patroa de todo processo, pois é quem paga, o resultado é o mais precário possível.

Em resumo, pois se torna impossível aprofundar questões tão amplas, em tão pouco espaço, a resposta para ambas as perguntas, contrariando todo processo conservador, é que cabe sim aos gestores a preparação de ambientes que facilitem a compreensão do cidadão, por mais leigo que seja e principalmente os gestores busquem capacitação para  cumprir o papel de mediadores, no sentido de empoderar o cidadão e respeitar seu direito de participação e controle social.

Portanto, é necessária uma ação planejada para se conquistar o direito de continuar no caminho.

Como dizia Rousseau: “Para conhecer os homens, torna-se indispensável vê-los agir”.


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo