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terça-feira, 11 de março de 2014

A quem interessa um golpe na democracia?

Tortura Nunca Mais!

Quero iniciar essa conversa afirmando que um golpe não necessariamente é o que já foi. Ou seja, militares nas ruas, direitos políticos cassados, beatas marchando e entregando freiras e padres progressistas à tortura e à morte, milhares assassinados e torturados, a imprensa golpista em êxtase e as empresas bancando financeiramente as armas, a tortura e toda sacanagem. Um golpe pode ser uma ação de traição, por exemplo, uma série de notícias para confundir a cabeça do povo, um partido ou um político que se vende ao sistema econômico global, alguém que vira um corrupto e tantas outras pequenas coisas que vão minando a resistência democrática e que diariamente assistimos. Que tal pegarmos como por exemplo a Ação Penal 470, que foi tratada até o momento como vingança e não como justiça?

Tenho sérias divergências com quem acredita que mais vale fazer pequenas ou grandes sacanagens para manter ou chegar ao poder alguém que consideramos que vai fazer um bom governo ou um bom mandato, do que deixar que alguém que já é sacana de papel passado chegar lá. Por exemplo, a justificativa do chamado “caixa dois” para o financiamento das campanhas milionárias. Que diferença tem? Por acaso os recursos não sairão das mesmas fontes? Não afetarão as mesmas pessoas na sociedade? Que diferença há se vai para o bolso de alguém ou se para os cofres de uma empresa de marketing político?

Isso não quer dizer que se as empresas quiserem financiar uma campanha não seja possível. Não vejo qual é a lógica de uma empresa financiar um partido ou uma pessoa de esquerda, mas até dá para entender. Porém criar esquemas durante uma gestão justamente para isso, além de ser imoral é crime contra a humanidade.

Nos cursos que tenho ministrado de Gestão Pública por várias partes do país, pela Fundação Perseu Abramo, tenho provocado uma ampla discussão com os participantes, a se iniciar pelo papel de cada um na sociedade e também qual é o projeto de vida de cada participante. Creio que tudo começa por um projeto de vida pessoal.

Fico horas pensando o que faz uma pessoa pedir novamente os militares de volta, ou ainda apoiar uma reedição da tal marcha das beatas e direitosas pela liberdade. Que liberdade? Ou ainda pedir um Fora Dilma, mesmo sabendo que as ditaduras militares assassinaram e torturaram milhares de pessoas na América Latina somente por prazer e por poder. Das duas uma: ou se trata de uma pessoa completamente alienada e analfabeta política ou se trata de uma enorme sacana, inimiga de democracia e inimiga do povo brasileiro.

Já afirmei anteriormente que um processo eleitoral, pelo seu teor democrático, tem também como finalidade, fazer com que as pessoas se exponham livremente, mesmo que sejam nazistas. É muito bom que todos os monstros saiam das tocas para sabermos quem é quem. Acabo de excluir algumas delas do meu relacionamento político, social e principalmente das minhas possíveis amizades. Até porque daqui para frente estaremos em lados opostos e projetos completamente diferentes.

Depoimentos de D. Paulo Evaristo Arns em seu livro, transcritos abaixo, expõem a crueldade dos militares envolvidos no processo de tortura, assim como seus informantes, que no seio da sociedade, vendiam a ideia de que estavam junto com a população e com as lideranças políticas, chamados na época pelos militares de “terroristas”. D. Paulo relata ainda como um militar norte-americano ensinava a torturar, em detalhes, usando mendigos, as vezes até a morte.

A tortura foi indiscriminadamente aplicada no Brasil, indiferente a idade, sexo ou situação moral, física e psicológica em que se encontravam as pessoas suspeitas de atividades subversivas. Não se tratava apenas de produzir, no corpo da vítima, uma dor que a fizesse entrar em conflito com o próprio espírito e pronunciar o discurso que, ao favorecer o desempenho do sistema repressivo, significasse sua sentença condenatória. Justificada pela urgência de se obter informações, a tortura visava imprimir à vítima a destruição moral pela ruptura dos limites emocionais que se assentavam sobre relações efetivas de parentesco. Assim crianças foram sacrificadas diante dos pais, mulheres grávidas tiveram seus filhos abortados, esposas sofreram para incriminar seus maridos.

Sob o lema de ‘Segurança e Desenvolvimento’, Médici dá início, em 30 de outubro de 1969, ao governo que representará o período mais absoluto de repressão, violência e supressão das liberdades civis de nossa história republicana. Desenvolve-se um aparato de ‘órgãos de segurança’, com características de poder autônomo, que levará aos cárceres políticos milhares de cidadãos, transformando a tortura e o assassinato numa rotina.

De abuso cometido pelos interrogadores sobre o preso, a tortura no Brasil passou, com o Regime Militar, à condição de “método científico”, incluído em currículos de formação de militares. O ensino deste método de arrancar confissões e informações não era meramente teórico. Era prático, com pessoas realmente torturadas, servindo de cobaias neste macabro aprendizado. Sabe-se que um dos primeiros a introduzir tal pragmatismo no Brasil, foi o policial norte-americano Dan Mitrione, posteriormente transferido para Montevidéu, onde acabou sequestrado e morto. Quando instrutor em Belo Horizonte, nos primeiros anos do Regime Militar, ele utilizou mendigos recolhidos nas ruas para adestrar a política local. Seviciados em sala de aula, aqueles pobres homens permitiam que os alunos aprendessem as várias modalidades de criar no preso a suprema contradição entre o corpo e o espírito, atingindo-lhes os pontos vulneráveis.

Que não venham em nome da moralidade humana, onde toda promiscuidade serve apenas para mantê-los no poder econômico global, rifar a democracia que já custou tantas vidas. Afinal se o povo pobre da América Latina come melhor, mora melhora e trabalha melhor, é graças aos governos populares que estão em vigência e é justamente contra isso que a direita, a extrema direita e o PIG lutam. Ou seja, o fim dessas mordomias para os pobres. Estão inclusive incomodados com o pleno emprego, afirmando que num país como o Brasil, um terço dos empregados tem que serem mandados embora, para novamente se criar o exército industrial de reserva, que servia para intimidar quem estar trabalhando e pedia aumento.

Um golpe na democracia só interessa aos inimigos do povo, aos amigos da pobreza, como é o caso da metade da população mundial, que ainda passa fome, aos inimigos da igualdade de condições e a quem interessa confundir a cabeça daqueles que não participaram do momento de terror no Brasil e tampouco sabem juntar o passado com o presente golpista.

Tenho plena convicção que o povo brasileiro não se intimidará a voltar às ruas, se necessário, contra a corrupção por certo e com toda razão, porém também contra toda bandalheira, como por exemplo, o Propinoduto Tucano dos trens e metrôs de São Paulo, algo que já soma 12 bilhões em propinas, mas jamais em favor de um golpe e sim pela manutenção a qualquer custo da Democracia Brasileira.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

sexta-feira, 7 de março de 2014

Vai ter Copa na bola. E na bala?


Os olhos do mundo já estão voltados ao Brasil. Porque somos uma vigorosa economia que concilia crescimento, geração de emprego, distribuição de renda, soberania e democracia institucional.  E porque vai ter Copa. É fato que sediarmos o cobiçado evento da FIFA não aparecia negativamente – embora já houvesse a luta dos Comitês Populares da Copa – até as chamadas Jornadas de Junho de 2013.

As novas palavras de ordem que invadem as redes, “Não Vai Ter Copa”, carregam diferentes sentidos para diferentes grupos. Ali estão pessimistas incorrigíveis, oposição oportunista, movimentos de moradia (legitimamente indignados com remoções arbitrárias), entre tantos. Contudo, a discussão central nesse momento me parece ser a violenta repressão aos protestos e tentativas de recrudescimento da legislação.

Não é demais recordar que as multidões tomaram as ruas em junho passado exatamente após assistirmos cenas de violência contra os jovens (e transeuntes, fotógrafos, jornalistas) por parte da Polícia Militar do Estado de São Paulo. A imagem da jornalista de um grande jornal atingida por bala de borracha chocou o país. É verdade que as noites na periferia de São Paulo são ainda mais sangrentas, mas a exposição pública do uso desproporcional da força catalisou aquela onda de protestos.

Passará a Copa, junho, surgirão novas demandas e a dúvida que fica é qual será o legado disso tudo no campo das liberdades democráticas. A proposta de legislação antiterrorista é erro grave. Erro grave porque não se deve tratar questão social – concordemos ou não com ela -como questão de polícia e, ao mesmo tempo, o arcabouço legal já existente dá conta de coibir grupos minoritários que usam (lamentavelmente) de violência e depredação do patrimônio. E erro grave porque não traz à baila questões mais profundas como a proibição do uso de balas de borracha contra manifestantes e a desmilitarização das PM´s.

Em 2014, o Brasil ganhará com a Copa e o povo brasileiro não admitirá retrocessos. Mas a falta de habilidade dos governos para solucionar conflitos mostra que ainda temos muito a aprender com as ruas.

Vinícius Ghizini
Historiador e membro da Executiva do PT na Macrorregião de Campinas

vinighizini@yahoo.com.br

terça-feira, 4 de março de 2014

O Cavaleiro das Trevas rasga a fantasia

Os super-heróis de criação norte-americana costumam ocultar sua verdadeira identidade, por óbvias razões de segurança. Super-Homem, nas horas comuns, é Clark Kent; o Homem Aranha nasceu Peter Parker; e sob a máscara de Batman oculta-se o milionário Bruce Wayne, que se fantasia de morcego para defender os fracos e os oprimidos.

No filme “O Cavaleiro das Trevas”, a dupla personalidade leva o Homem Morcego a uma séria crise de identidade, a ponto de, ele mesmo, no final, pedir ao comissário Gordon que a polícia passe a tratá-lo como bandido, auto acusando-se pela morte do promotor Hardey Dent. Gordon aceita, dizendo que Batman é o “herói que Gotham City merece, mas não o que ela precisa agora”.
Nosso ainda presidente do Supremo Tribunal Federal tem sido reiteradamente associado à figura de Batman. Cantam-no como herói desta imensa Gotham tupiniquim. Mas ele, como seu congênere americano, sofre também de dupla personalidade.

Joaquim Barbosa chegou ao Supremo pelas mãos de Lula. O ex-presidente da República precisava indicar um novo ministro para a mais elevada Corte do país e queria dar um exemplo e um passo histórico: nomear o primeiro negro. Para Lula, era preciso dar vigor ao seu trabalho de expandir a representatividade popular nos postos de mando do país, em sua obstinação de empoderar as classes populares, os pobres, os fracos e oprimidos.

Nomeou Barbosa sem atentar para seu passado de agente de confiança durante governo da ditadura militar, subordinado a ninguém menos que o polêmico Golbery do Couto e Silva, de melancólica lembrança. Mas trazia no currículo uma obra, uma única obra jurídica de sua autoria em português (tem outra, acadêmica, em francês), que tem por título “Ação Afirmativa & Princípio Constitucional da Igualdade - O Direito como Instrumento de Transformação Social - A Experiência dos EUA”, lançado pela editora Renovar em 2001, em que defende a aplicação das cotas raciais. Foi a senha para que Lula o escolhesse.

Fico imaginando o conflito de nosso super-herói, antigo servidor dos regimes militares, tendo que dirigir-se ao presidente petista para pleitear a nomeação. Deve ter sido doloroso. 

Quis o destino, como diria Sarney, que o menino pobre de Paracatu viesse a ser o relator do mais polêmico processo penal de que se tem notícia, julgado pelo Supremo. 

Imediatamente, os agentes midiáticos, que outrora houveram condenado sua nomeação ao STF, destacando a truculência contra a própria esposa e questionando seu saber jurídico, transformaram-no em herói nacional, em super-herói, no Batman que mudaria o país, salvando-o da quadrilha que tomara de assalto o governo de Gotham City. Pelo voto popular, é verdade, mas isto é apenas um detalhe.

Na mesma velocidade, o negro outrora pobre alçado ao Supremo no bojo de um projeto político de empoderamento das classes populares, esqueceu-se disso. Deu de ombros à própria origem, aos irmãos de classe e de cor. Ignorou que o partido içado ao governo federal pela legitimidade do voto popular precisava implementar medidas que de fato sedimentassem o caminho de libertação dos miseráveis. E embarcou no discurso fácil do falso-moralismo, indo ao cúmulo de transformar um corriqueiro (mas não menos grave) crime de caixa-dois eleitoral em atos de corrupção. Ativa, é verdade, mas corrupção.

Lula saiu da senzala. Dirceu, Genoino, Delúbio, João Paulo, idem. Apostando na luta institucional, disputando o voto do eleitorado brasileiro, chegaram ao topo da pirâmide governamental sem jamais abrir mão dos valores da própria origem, sem jamais ceder às tentações do poder econômico. Barbosa, ao contrário, assimilou rapidamente os valores da Casa Grande. Deslumbrou-se debaixo dos holofotes, ao ver-se nas capas de jornais e revista e nas telinhas de TV. 

A máscara caiu, porém. Pés de barro, não resistiu à verdade lançada à sua cara lavada pelo ministro Luís Roberto Barroso. Deixou escapar, ao vivo e em rede nacional, um esclarecedor “foi pra isso mesmo”, confessando o artificialismo que usou para condenar os réus, ato falho que na mesma hora percebeu, mas era tarde. A confissão estava feita.

Restou, em seu voto, aliás, em seu discurso “baixa-caixão”, lamentar a “triste tarde” em que parte da farsa da AP470 foi desvendada e sepultada pela maioria do Supremo. O milionário Bruce Wayne foi, enfim, revelado à Nação. Nesse discurso, Barbosa cunhou seu próprio epitáfio, cedendo uma vez mais à vaidade e à soberba, falando de si e de sua obra: “aqui jaz um trabalho primoroso”. Primoroso para a classe que ele optou por representar, dos que detêm o poder econômico no país. À luz da justiça e do Direito, uma merda. 

O Brasil não precisa nem merece um falso herói como Joaquim Barbosa.

Luís Antônio Albiero
Advogado na cidade de Americana/SP
laalbiero@yahoo.com.br

Respondendo ao querido amigo N. F. sobre o que chama de Propaganda Ideológica

Meu querido amigo N. F. de ontem, de hoje e de sempre. Fico feliz que tenha dedicado alguns minutos a este pobre diabo que o incomoda tanto com sua, minha, propaganda ideológica... Não me imaginava digno de tal deferência.

É, meu amigo, você tem toda razão. Difícil é livrar as pessoas da apreensão simplista da realidade, do senso comum ou da fé positivista nos fenômenos. Eu que o diga. Há anos luto contra o simplismo, o senso comum rotulado “mensalão”.
Eis aí o grande exemplo da sua proposição. Basta mencionar a palavra, o rótulo meticulosamente engendrado e repetido ao longo dos anos – nove anos! - para as pessoas assimilarem do que se trata. E toda uma “verdade indiscutível” se constrói no imaginário das pessoas. É - você tem razão, é a força avassaladora da propaganda ideológica.

E não adianta invocar a razão. Não adianta mencionar fatos, ou ausência deles. Não adianta citar provas em contrário, tampouco a ausência de provas de sua existência. As pessoas introjetaram essa “verdade subjacente” – repetindo uma vez mais seu Léfort. Coisa de fazer inveja a Goebbels.

Desculpe-me, não sabia que o incomodava tanto a minha militância – que ontem foi acusada de ser “remunerada”, mas decerto também neste caso pugnar por provas, fontes ou lógica racional não vai adiantar, talvez nem invocar minha história nesse campo. Devo confessar que a massiva propaganda ideológica em contrário, que recebo minuto a minuto no Face, de incontáveis fontes, também me perturba, porque conspurca meu espaço virtual com disseminação de ódio e preconceito e eu não tenho forças, nem disposição para rebater a todas as postagens com conteúdo racista, raivoso, que as pessoas não se pejam de expor.
Perturba-me ver comparações, por exemplo, entre Lula e os presidentes militares, extraindo-se daí a inacreditável conclusão de que os militares seriam “mais éticos” (sic!) ou mais eficazes que nosso estadista maior... Ops! Desculpe-me, chamar Lula de “estadista”, e ainda mais de "maior", a você certamente soará como mais um capítulo de propaganda ideológica. Mas é o que penso e não vou estender este texto ao ponto de repetir tudo o que venho dizendo há tempos. Vou poupar-lhe tempo.

Minha militância, você sabe, começou na adolescência. Desde então, estou acostumado a enfrentar os narizes torcidos, as incompreensões, os rancores, o ódio mesmo dos reacionários da nossa amada Capivari. Por aquela época, um simples distribuir panfletos, nas feiras, de madrugada, ou de porta em porta, sob sol e sob chuva – às vezes produzidos por mim mesmo, com meus próprios recursos, sem patrocínio sequer do partido; uma vez produzidos por você, lembra-se? – já incomodava os que, hoje percebo, advogam a ideia do pensamento único. No grupo “Amigos Capivari”, aqui do Face, do qual me retirei por absoluta incompatibilidade ideológica, porque formado fundamentalmente por gente com esse perfil, com esse tipo de pensamento sufocador do outro, tudo ficou muito mais claro – mas esse é outro assunto.

Ora, se eu militava na juventude com toda aquela dificuldade de meios, não seria agora, cinquentenário e tendo meios muito mais fáceis, eficazes e abrangentes de produção, exposição e alcance que eu iria coibir minha liberdade de pensamento e expressão, não é mesmo?

É você tem razão. É fácil chamar Zé Dirceu de “canalha”, de “mensaleiro” ou qualquer outro rótulo. É fácil dizer que Genoíno é “ladrão”, “corrupto”, embora isso atente até mesmo contra os fatos aos quais se refere quem assim o chama, por absoluta ignorância. É fácil nos chamar, a todos nós petistas, de “quadrilheiros”, “corja” e outras desonras afins. É fácil rotular a partir de impressões pessoais, como as que você diz que nutre por Dirceu desde tempos imemoriais. Lamento informar Vossa Excelência, mas para mal de seus pecados, sua opinião vale tanto quanto a minha. Como prova judicial, não valem nada, nem a sua, nem a minha.
A minha ideologia, meu caro, é só e exatamente o contrário da ideologia que você prega. Nem mais, nem menos.

E nesse jogo de espelhos, que não me arrisco a jogar porque você faz melhor do que eu, é igualmente válido afirmar que toda afirmação de “fatos ou razões explicadas por ‘verdades a priori’ torna-se má-fé ou, na melhor das hipóteses, ignorância”. Assino embaixo.

Palocci nunca foi objeto de minha “propaganda política”, decerto por razões coincidentes com as suas. E espero que, tendo você a inteligência que tem, não imagine que pecados – ou quiçá ilícitos – porventura cometidos por ele (a justiça, a justiça comum, o absolveu de todas as acusações) contaminem todo o partido, ou o governo, ou o projeto que temos para o país. 

O que me preocupa, sempre, é a injustiça. Injustiça com Genoíno, hoje preso apenas porque, como presidente do partido, assinou – porque era sua obrigação assinar – um contrato de empréstimo, legítimo, pago pelo partido e aprovado pela Justiça Eleitoral. Injustiça contra Dirceu, que, apenas por ser Ministro de Estado de um governo malquisto pelos detentores do verdadeiro poder, o econômico – aqueles a quem rotulamos “direita”, “elites” etc., nesse nosso afã incontrolável de rotular a tudo e a todos – foi acusado de chefiar uma “quadrilha”. Uma “quadrilha”, leia-se, que seria o partido ao qual aderi desde a adolescência. Que chegou ao poder e, efetivamente – reconhece-o o mundo todo! – provocou uma revolução social neste país. Bom, mas isto, certamente, é também parte da minha propaganda ideológica, e que ONU, OMS e outros organismos internacionais, instituições de ensino estrangeiras, governos de outros países vão às favas, não é mesmo?

Não, a verdade não me pertence. Mais uma vez, sou obrigado a dar a mão à palmatória e reconhecer que você tem razão. Não pertence nem a mim, nem a você, nem aos que detratam os chamados “mensaleiros”, meu caro, os que os condenaram a priori e agora não aceitam a decisão judicial definitiva, como nunca aceitaram a hipótese de inocência deles.

Nessa área, o que vale é a prova dos autos. Sim, pois falamos de supostos crimes, de processo penal, de condenações que exigem provas. A verdade do juiz é a verdade revelada pelos autos. Se não há provas, não há verdade juridicamente válida.

O julgamento do "mensalão" passará para a história por várias razões. Uma delas, pelo aspecto político. Você deve ter visto Celso de Mello – que serviu a Saulo Ramos, no governo Sarney, pelas mãos de quem chegou ao Supremo - votando, aliás, discursando, vociferando contra o PT, acusando-nos de “tomar de assalto (palavra escolhida a dedo) as estruturas governamentais” e de pretendermo-nos “perpetuar no poder”. Isso lá é discurso jurídico? É voto, juridicamente aceitável? Não, meu caro. Razões políticas não sustentam decisões judiciais. Não podem. Não poderiam... 

Interessante foi ver o esforço dele em repetir expressões como “as provas dos autos...”, os “crimes praticados...”, a “quadrilha ou bando...”, mas sem dedicar uma única palavra a expor quais seriam as “provas” e quais seriam os “crimes” – tecnicamente falando. Um evidente esforço retórico, decerto para tentar convencer-se a si mesmo da presença do que não existe, das “provas” e dos “crimes”, já que, como técnico do direito, Celso costuma ser impecável e digno da minha admiração.

Nem vou falar do Gilmar Mendes, o coronel de Diamantino, ou de Marco Aurélio, da oligarquia alagoana. Nem mesmo de Joaquim Barbosa, que serviu a Golbery nos governos militares, cuja truculência e arbitrariedade ele mesmo não faz a mínima questão de disfarçar.
Mas a ausência absoluta de provas foi detectada por vários outros ministros, tendo a ministra Rosa Weber – e isso eu testemunhei, porque assistia à transmissão ao vivo, da mesma maneira como testemunhei os demais votos a que me referi – ter dito que “não há prova cabal contra Dirceu, mas voto pela condenação porque a literatura me permite”. Ela devia estar-se referindo à literatura policial, de Agatha Christie e Conan Doyle, em cujas obras as soluções são dadas por dedução, por meras ilações...

Outra razão. Esse julgamento será histórico pela atipicidade técnica. Começou com uma denúncia rançosa, de caráter evidentemente político, sem sustentação fática, uma verdadeira “obra de ficção”, como alguém destacou. Não, não estou repetindo o que ouvi, não. Eu a li, digo-o como técnico do direito. Denúncia, você sabe, é a peça jurídica construída pelo Procurador Geral da República, o anterior ao Gurgel, aquela que inicia o processo, propriamente dito. Tão deficiente que foi assim qualificada pelo próprio relator, ele mesmo, Joaquim Barbosa, à época em que este iniciava seus trabalhos, segundo testemunho ontem publicado pelo jornalista Felipe Rocondo (acho que é esse o nome), do suspeitíssimo Estadão... Seguiu com a utilização indevida, inadequada, de uma teoria denominada “domínio dos fatos”, cujo autor, um alemão, ele próprio citou a inadequação ao caso. Só porque era ministro, daí se concluía que Dirceu era o “chefe da quadrilha”... Passou até mesmo pela condenação artificialmente dosada para escapar da prescrição, como relata o mesmo jornalista. Terminou numa “triste tarde” com um discurso do próprio Barbosa, em que este, desmascarado, buscou desqualificar seus próprios pares, inclusive os que votaram com ele, como Celso de Mello e Marco Aurélio, e atingiu os demais poderes, o Executivo e o Legislativo.

Passará para a história também como o maior erro judiciário brasileiro. Aliás, não se trata de erro, propriamente dito, mas dolo. Dolo específico de prejudicar, de perseguir, de condenar representativos dirigentes de um partido que, segundo seus algozes, não poderia ter chegado ao poder e não pode nele permanecer, a ser derrubado custe o que custar. Perseguição que segue até hoje, seja porque os presos em regime semiaberto cumprem as penas, na prática, em regime fechado, seja porque Barbosa empreende a mais insana sequência de atos de sufocação dos presos, já mais do que suficientemente humilhados.

Enfim, tenho outros afazeres urgentes e não quero tomar mais do seu precioso tempo, embora você tenha tido a elegância de me dedicar valiosos instantes do seu para me dirigir sua mensagem (que achei por acaso, você precisa aprender a usar o recurso "marcar", do Face), para me dizer o quanto minha “mialitância ideológica” o incomoda. Não, não vou mais incomodá-lo. Se ainda tiver tempo para mais um texto de minha autoria, que de vez em quando repito aqui, conforme a necessidade, convido-o a lê-lo clicando neste link: 

https://www.facebook.com/notes/luís-antônio-albiero/aos-meus-parentes-amigos-e-conhecidos-da-vida-real/695824653770867 

Você, M. A., G. e todos de sua família são pessoas que admiro e a quem quero muito bem. Não se sintam, pois, desprestigiados por eu os excluir da minha lista de amigos, aqui do Face. É só uma "amizade" (sic) virtual, afinal, que não se confunde com a amizade real. No texto, você compreenderá minhas razões. Faço-o justamente para preservar nossa amizade, real e sem aspas. Fique à vontade para visitar minha página, sempre que desejar.

Quando quiser e sentir saudades venha a Americana. Traga A. Se possível, traga An. também. Serão sempre bem-vindos em minha casa, como sempre foram. No ano que vem, se tudo correr bem e se eu e Luciana conseguirmos realizar nosso velho projeto de construir nossa casa própria, voltaremos a residir aí e nossos encontros haverão de tornar a ser frequentes. Desde que, claro, não tratemos de política. Muito menos de ideologia...

Beijos à A., lembranças ao bom e velho J. e a todos aí. Fiquem em paz.

PS.: a poesia emoldura a realidade, mas esta é obra que se constrói com atos concretos. Decerto, os poetas incomodam menos que os construtores.

Luís Antônio Albiero
Advogado na cidade de American/SP
laalbiero@yahoo.com.br

segunda-feira, 3 de março de 2014

Explicação a quem interessar possa sobre a Ação Penal 470

Não, José Dirceu não foi jamais condenado por ter "roubado" alguma coisa. Também Genoíno não foi sequer acusado de ter "roubado" algo. Nem Delúbio Soares.
Dirceu, Genoíno e Delubio também não foram condenados por serem "corruptos".

Ao contrário, todos eles foram condenados porque, segundo o Ministério Público, teriam "corrompido" deputados federais, dentre eles Roberto Jefferson, que só recentemente foi preso. Isso mesmo. É incrível, mas é a mais pura realidade. Foram condenados por "corrupção ativa", ou seja, porque seriam "corruptores". 

Na corrupção, o corruptor normalmente é o empresário, o sujeito que tem dinheiro, que "compra", que corrompe um servidor público, para que este faça ou deixe de fazer alguma coisa, de modo a beneficiar o corruptor. É como quando você - você mesmo! - "molha a mão" do guarda para não levar uma multa.

E como foi a "corrupção ativa" de Dirceu? Como Ministro de Estado - portanto, na condição de servidor público (o que já é uma inversão do que ocorre normalmente...), ele teria "comprado" deputados. E só deputados federais. E para quê? Com qual interesse? Segundo os Ministros que o condenaram, era para que esses deputados votassem a favor do governo. Para quê? Para que o partido dele se "perpetuasse no poder".

Por aí já dá para ver o motivo político da condenação. Ora, como é que o PT poderia se perpetuar no poder sem obter a segurança de que continuaria obtendo o voto popular? 

E mais: como poderia contar com o voto popular com medidas impopulares, embora necessárias para o futuro da Nação, como as reformas da Previdência e Tributária? 

São necessários os votos de 3/5 dos deputados federais e 3/5 dos senadores para aprovar uma reforma constitucional. Então, como é que Dirceu poderia garantir a aprovação que exigia votos favoráveis de mais de 300 deputados e senadores "comprando" apenas meia dúzia de deputados e nenhum senador?

É preciso estar com a mente contagiada pelo bombardeio diário da TV ao longo dos últimos NOVE anos para acreditar numa trama fantasiosa como essa.

O que está por trás dessa história é o ódio de classe. As elites brasileiras não perdoam quem, vindo de baixo, trouxe dignidade ao povo pobre do Brasil, que hoje tem acesso a shoppings, faculdades, aeroportos, créditos etc.

Gilmar Mendes, de família tradicional de Diamantino (MT), onde sua família exerce o papel de "coronel" da política local; Marco Aurélio de Melo, primo de Fernando Color, cuja família domina a política de Alagoas; Celso de Melo, juiz conservador nascido em Tatuí, ex-braço direito de Saulo Ramos, ministro do governo Sarney; são os ministros do STF que hoje representam as elites naquele tribunal.

A eles, somou-se, por um erro de cálculo e ingenuidade de Lula, Joaquim Barbosa, que serviu a Golbery do Couto e Silva durante os governos militares. Depois veio Luiz Fux, outro erro de indicação, agora de Dilma.

Esses cinco ministros, conluiados com os PGRs anteriores, "compraram" a trama desenvolvida pela oposição, rotulada poir Jefferson (autor do título “Mensalão") e patrocinada pela mídia conservadora. E empreenderam a mais nefasta perseguição aos réus da AP470. 

Razões politicas foram acintosamente utilizadas pelos ministros para condenar os réus. São, sim, presos políticos. Nada "roubaram", tampouco "compraram" deputados.

A absolvição por formação de quadrilha foi só o início do restabelecimento da justiça. A caminhada ainda será longa até que justiça efetivamente seja feita em sua plenitude.

Luís Antônio Albiero
Advogado na cidade de Americana/SP
laalbiero@yahoo.com.br

O Brasil da atualidade e a aliança à direita pela volta ao passado


A partir desse momento até o dia das próximas eleições, os meios de comunicação ligados à velha mídia, comandados por seus proprietários, ou seja, aquelas seis famílias, assim como as redes sociais, estarão repletas de informações e desinformações, no sentido de “ganhar” a confiança de seus leitores, ouvintes, telespectadores e internautas, visando uma única possibilidade: confundir a cabeça da população e tirar do comando do país o Partido dos Trabalhadores e seus aliados, que nos últimos doze anos, resgataram a soberania nacional e desatrelou o país dos EUA e também das amarras do FMI e do Clube de Paris.

Quero iniciar essa conversa afirmando que a razão que move a oposição brasileira, desprovida de um Plano de Governo Nacional que fortaleça a soberania, liberte o povo pobre e, sobretudo projete o país para os desafios futuros, é a mesma que move em todos os países da América Latina que hoje são governados por partidos e líderes ligados ao um pensamento de esquerda, como por exemplo, a Venezuela, onde a direita prega um golpe e o que esta por trás é o petróleo. Ontem foi a colômbia e antes de ontem a Argentina.

No seio dessa disputa está o petróleo, a hegemonia da elite econômica e a elitização de todos os meios que fortaleçam a possibilidade de liberdade do povo pobre de todos esses países, tais como acesso a: educação, emprego formal, casa própria e aos diversos bens de consumo, até então privilégio de poucos, como era o Brasil de um passado recente. Um país pobre, mergulhado no neoliberalismo e sem perspectiva futura.

A meu ver, estamos atravessando uma estreita ponte. Um grande risco à nossa frente. Por um lado a população pobre começa a tomar gosto por desfrutar de alguns bens e serviços proibidos nos governos anteriores por falta de posse e por outro o risco eminente desse mesmo povo cair novamente no “canto da sereia”, como por exemplo, achar que alguém pode fazer mais e melhor se nunca fez. Ora, se isso fosse possível, Lula e Dilma não teriam ganhado três eleições seguidas. Só ganharam pelo fato de terem gerado resultados suficientes que mudaram a vida de milhares de pessoas. Esse é um fato concreto e contra fatos todos os argumentos são secundários.

O que faz a direita, a extrema direita e a extrema esquerda se unirem para combaterem o governo atual, senão a intenção de desconstruir uma trajetória vitoriosa. Algo que distancia quem se apoderou dos resultados dos últimos anos dos discursos vazios desses setores, onde o discurso está a anos luz da prática. Em regras gerais todos esses setores almejam a volta ao passado, com uma complicada avaliação de que o país está quebrado, de que o país gasta muito com o social, de que a copa é das empreiteiras e por isso tem que ser combatida, de que não se investiu muito em educação e de que o mais médico, com a importação de médicos cubanos é a legitimação da escravidão cubana no Brasil, entre outras análises descabidas.

É claro que a direita e a extrema direita seguem um caminho, incomodadas pelo fato de seus agentes não operarem aqui como faziam no passado e pelo fato dos pobres estarem ocupando as vagas que eram suas nos governos anteriores e a extrema esquerda, como aquele disco de vinil arranhado, repetindo as mesmas coisas de cinquenta anos atrás e querendo uma revolução armada, para acontecer exatamente como ocorreu no passado. Com a pobreza extrema, ambos os discursos se encaixam perfeitamente.

Não quero com essa breve análise afirmar que o país está do jeito que queremos, pois para isso temos que mudar os rumos da sociedade e dar voz ao povo, mas é impossível dizer que o país capitalista chamado Brasil é o mesmo do passado, onde os EUA espirravam e nós ficávamos gripados. O Brasil da atualidade é outro. Continua capitalista, com todos os problemas do sistema, mas, no entanto com o povo pobre ocupando o espaço que foi suprimido por 502 anos, ou seja:  estudando, trabalhando com carteira assinada, se capacitando tecnicamente, comprando sua casa própria, viajando de avião, comprando seu carro novo, abrindo conta nos bancos e sobretudo com acesso a programas sociais nunca antes existentes.

Na verdade tínhamos no passado um país de poucos e para poucos, comandados pelos EUA, pelo FMI e pela elite brasileira e hoje temos um jovem país nascendo a partir de um processo de inclusão e participativo. É justamente isso que será combatido nos discursos que veremos a partir de então. Isso soa como algo subversivo para quem acha que o povo não tem capacidade de pensar, tomar decisões próprias e principalmente de agir quando alguma ameaça for detectada. Não queremos mais ser tratado como “garrafinhas” trocadas por votos e sim ter o direito de escolher nossos caminhos.

Queremos na verdade um país livre e soberano, que talvez não seja esse que está desenhado na atualidade, porém está muito mais perto da mudança do que tínhamos no passado quando era achincalhado pelo EUA, FMI e demais países do chamado primeiro mundo. Nenhum governo anterior conseguiu fazer com que o Brasil fosse ouvido como exemplo e principalmente copiado, em algumas ações, como por exemplo, o SUS e o Programa Bolsa Família, como esse Brasil de agora esculpido nos governos Lula, Dilma e pelas inúmeras Conferências Nacionais deliberativas ocorridas ate então.

É obvio que temos muito a fazer, como principalmente moralizar a política através de uma Reforma Participativa, exterminar de vez a corrupção, aprovar o Financiamento Público de Campanhas, evitando assim o financiamento privado e o caixa dois para as campanhas milionárias e tantas outras. Porém isso só será possível com a efetiva participação da sociedade organizada em todas as decisões do país, exercendo o direito pleno de Participação e de Controle Social.

A população terá dois caminhos muito claros a seguir: um da continuidade e avanços dos projetos atuais e o outro da volta ao passado. Ninguém faz mais e melhor se não fez no passado e tampouco mudará o país eletrocutando o povo, afinal quem gosta de choque é a polícia e o paciente em estado terminal.

A lógica era a de que até os empresários apoiassem o governo atual, afinal nunca ganharam tanto, mas afinal não farão devido à luta de classes. Eles estão se organizando para destruir o que já conquistamos e cabe a nós defendermos nossa liberdade nas ruas se necessário.

"A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação exige permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão." (Paulo Freire).


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Porque a velha mídia não quer ser controlada


Julian Assange  do Wikileaks, afirmou que um dos maiores problemas do Brasil está na centralização da imprensa nas mãos de apenas seis famílias. Essas famílias controlam sozinhas 70% de toda a imprensa do país e por ela passa apenas as informações que interessam aos donos desses veículos e tudo que eles considerarem que é contra seus interesses econômicos e políticos será duramente combatido.

Podemos dizer que a afirmação de Assange pode ser considerada como generosa perto do que vivemos no dia a dia das rádios, TVs, Jornais e Revistas. O povo brasileiro lê, assiste e ouve diariamente, as maiores barbaridades contra os interesses populares e com direito de resposta apenas restrito a quem ganhar na justiça.

É evidente que ao responder uma afirmação como essa, os órgãos da imprensa ligados ao PIG – Partido da Imprensa Golpista, irão ter uma reação ou bastante evasiva, ao sugerir que a imprensa é democrática, imparcial e serve aos propósitos democráticos do país, ou radicalizarão dizendo que é coisa do PT ou de setores de esquerda. Dirão ainda que um instrumento democrático como um conselho, será uma mordaça à democracia, um golpe na tal liberdade de imprensa e de expressão e bla...bla...bla.

O que há de concreto é um oligopólio midiático, com um histórico de atrelamento dos meios de comunicação no país a quem está no poder e interessa aos seus proprietários, sendo que esse atrelamento vai desde uma postura de complacência com seus candidatos, até um boicote geral aos representantes das lutas sociais e dos interesses da população excluída da sociedade. Defendem todo poder ao mercado e o encurtamento cada vez maior do poder do Estado poder nenhum para a população organizada, suas instâncias e seus representantes.

Para que se tenha uma ideia do oportunismo dessa mídia, dados apresentados no livro Retrato em Branco e Negro, da autora Lilia Moritz Schwarcz, revela que a maioria da imprensa na época da abolição era escravagista e quando viram que a abolição iria acontecer de qualquer jeito, imediatamente viraram abolicionistas. Não é diferente de hoje, apenas com uma diferença, onde os campos ideológicos estão muito mais difíceis de detectar. Quem é a direita? Está travestida de centro. Quem é o centro? Está travestido de esquerda.  E quem é da esquerda? Essa é uma grande e necessária reflexão a ser feita, pois num primeiro momento muito se dizem, porém na hora de construir as alternativas ficam muito poucos.

O Jornalista Vilson Vieira Jr. Revela, que um importante estudo feito em 2002 pelo Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom), denominado “Os donos da Mídia”, abrangendo o universo dos meios de comunicação no Brasil, mostra que as redes: Globo, SBT, Bandeirantes, Record, Rede TV! e CNT, estão organizados em 668 veículos em todo o país. São 309 canais de televisão, 308 canais de rádio e 50 jornais diários, além de 138 grupos regionais afiliados de televisão do Brasil.

De acordo com os dados coletados, o sistema brasileiro de televisão é composto, atualmente, de 332 emissoras, sendo que 263 estão vinculadas às redes Globo, SBT, Record, Bandeirantes, Rede TV! e CNT. Segundo a pesquisa, Globo e SBT possuem, respectivamente, 20 e 11 emissoras próprias, o que não é permitido pelo decreto-lei 236/67 em seu artigo12, o qual determina que uma mesma entidade só pode deter um máximo de 10 concessões de radiodifusão de sons e imagens (TV aberta) em todo o território nacional.

Ainda segundo o Jornalista Vilson Vieira Jr., outro estudo, divulgado pelo Epcom em 2006, destaca uma relação direta existente entre o poder econômico de uma região e o grau de concentração e de pluralidade dos meios de comunicação, o que, consequentemente, leva a uma distribuição extremamente desigual no que se refere ao acesso desses meios a toda a sociedade. Quanto mais pobre é a região maior é o nível de concentração da mídia, ou seja, menor é o número de agentes que detém veículos como rádio e TV, sendo que o Produto Interno Bruto (PIB) está diretamente relacionado à quantidade de emissoras de radiodifusão e operadoras de TV por Assinatura nos estados. Neste caso, as regiões Sul e Sudeste abrigam, segundo a pesquisa, o maior número de emissoras e retransmissoras de TV (cerca de 4 mil, de um total de 10.514 no País), 1,6 mil rádios comerciais e educativas (de 4.392 no total), 900 emissoras comunitárias (de 2.513 em todo o País) e mais da metade das operadoras de TVs a cabo (55% das 298 em todo o país).

Há um pouco mais de dez anos eram nove famílias e agora apenas seis representam os clãs que comandam o oligopólio midiático no Brasil. As famílias Abravanel (SBT), Civita (Editora Abril), Frias (Folha de S. Paulo), Marinho (Organizações Globo), Saad (Rede Bandeirantes) e Sirotsky, à frente da Rede Brasil Sul (RBS).

Esses instrumentos de comunicação ditam as regras de comportamento, indicam seus candidatos livremente, vendem a ideia de que todos os políticos são ladrões e que todos os partidos políticos são de mentirinha, como quer o Presidente do STF. Além disso, fazem um enfrentamento diário e sistemático contra o PT, MST, sindicatos, partidos de esquerda, lideranças populares e qualquer situação que tirem sua hegemonia, como foi e é o caso das Rádios e TVs Comunitárias, sem contar que plantam uma mentira e esperam quem venham desmentir. Como a população menos favorecida não tem como agir e muito menos reagir compram aquela informação como verdadeira.

O que fazer? Instrumentalizar a população no sentido de saber usar os instrumentos disponíveis. Dar voz ao povo, principalmente à população menos favorecida.  

Colocar wifi em praças públicas, por exemplo, como fez o Prefeito Haddad, criar Rádios e TVs Comunitárias, ensinar a população como usar as mídias sociais e democratizar essa relação com o uso dos telecentros, pode ser um caminho para ampliar a democratização das informações.

Porém, sem um Plano de Comunicação Social participativo nos municípios e a coragem de discutir a criação de Conselhos Deliberativos de Comunicação em todos os níveis, não se chegará ao controle absoluto da comunicação no Brasil.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A elite brasileira adoraria um país somente dela


O que tem a ver o Brasil real com o Brasil surreal pintado pela elite econômica e mantida pela classe média, caso eles estivessem no poder? Em regras gerais poderíamos responder que nada, porém uma cultura forjada pela elite brasileira e sua direita raivosa, vai moldando através das novelas, dos editoriais de rádios, tvs, jornais e revistas, além dos hábitos herdados do dia a dia um país extremamente surreal e segmentado.

Lembro-me da primeira vez que a minha amada mãe me disse para não tomar leite e chupar manga a seguir, que com certeza faria mal? Por certo minha mãe tinha aprendido com sua mãe que certamente aprendeu em sua época. Existe algum estudo científico que comprove isso? Que eu saiba não. Esse é um termo que tem como herança o triste momento de escravidão no país. Onde a necessidade de afastar os escravos dos pés de mangas e principalmente de peitos das vacas, relegando-os às sobras da Casa Grande, enquanto a Senzala passava sérias necessidades, ressoa pelos rincões brasileiros, como se ainda hoje representasse uma verdade absoluta.

Outra maléfica questão difundida nacionalmente vem do fato de que também nos ensinaram que política, religião, nem futebol não se discutem. Alguém pode nos dizer o porquê? Talvez o futebol a gente entenda, até pelo machismo que o mesmo representa, além da promiscuidade financeira que está metido e até mesmo a religião, com o pressuposto de preservar a maioria católica, porém a política tem um endereço certo: afastar qualquer possibilidade de domínio popular da ciência e da prática política, na medida em que para eles, política é coisa para políticos e assim, basta votar num herói que tenha nascido para isso, que suas necessidades serão atendidas.

Sem contar outros absurdos contidos na história do país, como o Brasil ser descoberto se estava habitado pelos índios, como os Bandeirantes serem pintados como desbravadores, quando na verdade matavam os índios e delapidavam pedras preciosas, ou então Calabar ser tratado como um traidor, quando na verdade ficou do lado dos holandeses apenas pelo fato de enxergar uma possibilidade de liberdade do seu povo.

Querem mais duas? Quem sabe com nasceu o termo “Terra grilada?” ou o termo “Santo do Pau Oco”. Vamos lá para as explicações.

No caso da “Terra Grilada”, é sabido que até 1850 o país não possuía uma Lei da Terra, sendo regido pela Lei das Sesmarias, criada em Portugal em 1375 e trazida pelos portugueses. Em sua origem essa lei pretendia fixar os trabalhadores rurais às terras e diminuir o despovoamento. Quando a primeira Lei da Terra foi promulgada, o governo brasileiro (português), disse o seguinte: “Ora, pois, pois, quem apresentar para o governo um documento antigo de posse da terra onde está, ganhará sua propriedade”. Legal não, é? Pois então. Praticamente ninguém tinha. O que fez o “jeitinho brasileiro”? O indivíduo ia ao cartório e fazia o documento. Como o papel estava novinho, deposita-o numa gaveta juntamente com diversos grilos e tempos depois o papel estava amarelado, parecendo que tinha sido feito há muitos anos. De uma sacanagem nasceu o termo “Terra Grilada”.

Porém, sacanagem ocorreu com as imagens. Ocas que eram, vinham em procissão de Portugal para o Brasil vazias e voltavam repletas de ouro e pedras preciosas, também em procissão e o mais incrível: ninguém nem desconfiava.

Na atualidade a coisa continua com a velha mídia, que faz um papel ridículo de servir somente a um lado, de informar apenas o que esse setor deseja e plantar falsas informações, somente as vezes para levantar a dúvida. Alguns exemplos: Nenhum partido no Brasil é sério. Todo político é ladrão. O país está quebrado. A direita organizada, mesmo que para um golpe, isso é chamado de democracia. O Brasil tem um grande gasto social (Ao se referir aos projetos sociais). O tal do terceiro setor surgiu para suprir o Estado falido. O governo federal está perdido e tantas outras teorias da conspiração.

Na verdade a elite brasileira e o seu braço fiel que é a classe média, através do PIG (Partido da Imprensa Golpista), destila seu veneno por uma raça pura. Um Brasil sem cotas, sem negros, sem periferia, sem homossexuais, sem escolas públicas para os pobres, sem pessoas com deficiência, só com partidos de direita, sem sindicatos, sem greve, sem manifestações contra eles, pode apenas contra o PT e o governo federal, enfim um país branco, racista, machista e homofóbico. Isso seria o sonho. Onde os pobres existiriam apenas para lhe servir.

E o pior é que grande parte da sociedade brasileira, mesmo a menos afortunada, votam nos representantes da elite, simplesmente por achar brega votar nos seus. Pobre povo que não consegue fazer a leitura correta do ponto de partida de sua exploração.

Ao recorrer a Paulo Freire para me dar suporte no encerramento desse pequeno desabafo, o que ele diz: “Seria uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que permitisse às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica”.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O dia em que o terrível Godofredo assassinou a impressora

Godofredo sempre foi um cara descontraído metido a intelectual. Namorador que só. Frequentava as mais diversas rodas políticas na década de 80 e participou de momentos importantes da vida política do país.

Após várias tentativas sem sucesso, Godofredo descobriu que era um homem de negócios e meteu na cabeça que ia ser empresário. Começou lá embaixo e após alguns anos de trabalho conseguiu montar um império, pelo menos para quem veio de baixo. Aos poucos sua empresa cresceu, a base de mais valia, é claro e ele se se tornou um empresário de sucesso. Batia no peito e dizia que era fruto da sua inteligência, esforço e dedicação pessoal. Apesar de tratar seus funcionários à bordoada, dizia ser necessário, pois se não fizesse assim a empresa não vingaria e todos que o criticavam ficariam sem trabalho.

Não cofiava em ninguém. Nem mesmo na sua sombra. Uma das coisas que chamava a atenção de todos era o que ocorria de anormal quando Godofredo entrava em seu estabelecimento industrial. Lá fora ele era o Godofredo: o cara bonzinho, o político bem informado, o amigo e camarada de todos. Vivia rindo a toa. Porém, quando Godofredo passava pelo limite da porta que dividia o dentro e o fora da sua empresa, algo de muito estranho acontecia. Uma espécie de entidade do mal dele se apoderava. Mudava a voz, o jeito de andar e principalmente o olhar para os funcionários, impondo medo. A partir daquele momento não era mais o Godofredo amigo e sim o Sr. Godofredo o “Diretor Presidente”.

Para provar que ali o Godofredo era a lei, começava logo cedo a xingar os funcionários que via pela frente: “Vamos trabalhem, que moleza é essa? Quero produção, produção!. Tá muito fraco!” “Só faz coisa errada, que litígio é esse cara?”. “Ah isso aqui vai mudar, ah se vai! Quem não se enquadrar vai pra rua” “Quer ser mandado embora, quer”? Enfim fazia o percurso, da produção da sua empresa desclassificando todo mundo, simplesmente para provar quem manda no pedaço. Godofredo simplesmente se transformava num monstro.

Godofredo é mesmo uma daquelas figurinhas carimbadas. Certa vez começou a brigar com um de seus irmãos, tão louco quanto ele e começaram a xingar as mães, como se fossem mães diferentes. Gritavam: “Um falava: sua mãe é isso e o outro respondia: é a sua. Vem falar aqui vem? E o outro respondia: venha você para eu partir sua cara. Sua mãe deve ter se arrependido de ter te gerado seu infeliz. E a sua deve se envergonhar do traste que gerou.” E a coisa foi ficando cada vez mais tensa. Em dado momento a coisa foi para as vias de fato.

Godofredo para provar que era melhor e mais forte que o irmão, derrubou de cara uma prateleira tipo torre, cheia de ferramentas e essas se espalharam pelo chão da fábrica. Foi um corre-corre geral para apanhá-las. Parecia que as ferramentas tinham vida e queriam fugir daqueles insanos.

O irmão de Godofredo começou a correr atrás dele (que cena fantástica) dizendo: “Vou te pegar seu miserável. Não sobrará nada para contar a história”. Para se defender Godofredo que não é bobo nem nada, buscou proteção do lado de dentro do escritório. Escondeu-se atrás da porta. Ele xingando a mãe do irmão de um lado e o irmão por sua vez xingando a mãe dele de outro. Como cada um esmurrava a porta com mais força, como se fosse ao outro, a porta que era de ferro dobrou ao meio. Parecia de lata. E aí cara a cara, antes que um matasse o outro, chegou a turma do deixa disso e separou aquelas criaturas, que ficaram se  jurando. “Você não e homem, dizia um e o outro respondia: vem aqui pra eu provar”. A porta imprestável, foi para o ferro velho, pois não havia mais conserto.

Tudo isso já era o suficiente para internar aquele maluco que tratava sua empresa como um verdadeiro manicômio. Os funcionários perguntavam baixinho uns para os outros: “cadê o doido já chegou?” E nas rodas de conversa ele era o assunto do dia.

Porém, algo muito mais louco e hilário estava para acontecer. Alguém que não tinha vida própria estava para ser assassinada: uma pobre impressora Epson LX 300.

Naquele dia Godofredo amanheceu doidão. Espumava de raiva. Estava de mal com o mundo. Já tinha brigado com a empresa inteira. Em dado momento empurrou a porta do escritório bruscamente e entrou apressado procurando um relatório. Chegou perto de um garoto que tinha entrado há pouco tempo e estava se formando para pastor e falou: “Cadê o relatório cara?” O garoto pálido de medo gaguejava: “Sensenhor Gogogodofredo...aaa impressossora quebrou....” Godofredo vermelho como um pimentão, coçou a barba e com um sorriso irônico esbravejou: “CARA VOCÊ AINDA NÃO CHAMOU O TÉCNICO PARA CONSERTAR ESSA P.... DE IMRESSORA. QUE LITIGIO É ESSE?” e o garoto quase chorando dizia: “Ainda não Seu Godofredo, desculpe. Ainda não consegui falar com Seu Barbosa”. E Godofredo aos berros disse o seguinte: “ISSO É UMA VERGONHA. É UMA INCOMPETÊNCIA. AQUI TODO MUNDO É INCOMPETENTE. VOLTAREI DAQUI A DEZ MINUTOS E SE ALGUÉM NÃO TIVER RESOLVIDO ESSA SITUAÇÃO EU MESMO VOU RESOLVER. VOCÊ VAI VER”.

O garoto tremendo de medo ligava para seu Barbosa e nada dele atender. Estava em pânico. Dizia quase chorando: “E agora. E agora. Seu Godofredo vai me matar. Ai meu Deus me ajuda e começou a orar com a mão postada, ora para a impressora e ora para a porta com medo do Godofredo entrar”.

Os dez minutos se passaram e o garoto não conseguiu resolver o problema. De repente, quase pondo a porta abaixo aparece Godofredo, pisando duro e lá de longe gritou: “Conseguiu resolver cara?” e o garoto abanando a cabeça dizia não. Nem conseguia falar de tanto medo.

Godofredo calmamente veio em direção à impressora. Caminhava se balançando de um lado para o outro com seu barrigão, fazendo um barulho na boca como se estivesse limpando os dentes. Era uma impressora daquelas de imprimir formulários contínuos. Tirou-a calmamente da tomada, levou às costas segurando-a pelo cabo e antes que alguém falasse alguma coisa começou a bater a impressora no chão com uma força descomunal. Bateu: uma, duas, três, quatro, cinco, infinitas vezes.

Uma cena arrepiante. Dava vontade de rir e chorar ao mesmo tempo, vendo aquela figura parecendo um galo de briga em cima da pobre impressora. Godofredo fazia isso e gritava: “TOMA, TOMA, SUA IMPRESSORA MALDITA. OLHA AQUI O QUE EU FAÇO COM VOCÊ. SE NÃO TEM TÉCNICO PRA TE CONSERTAR EU TE CONSERTO PRA SEMPRE. VAI PRO INFERNO SUA MALDITA. VOCÊS TODOS SÃO CULPADOS POR ESSA CENA. MAS VOU RESOLVER, PORQUE EU SEMPRE RESOLVO, AH SE RESOLVO!”. Nesse instante várias pessoas estarrecidas assistiam aquela cena. Godofredo com seu corpão avantajado agora dava pulinhos em cima do que tinha restado da pobre impressora e gritava: “NÃO SOBRARÁ CACO SOBRE CACO. Vou acabar com tudo”. “ESSA EMPRESA UM DIA VAI MUDAR, OU NÃO ME CHAMO GODOFREDO”.

Após uns dez minutos pulando em cima dos cacos, Godofredo descobriu que ainda tinha sobrado o rolo da impressora e uma espécie de esqueleto da mesma. O que fez Godofredo? Abriu a porta, passou pelo portão de entrada da empresa e foi até o poste mais próximo. Segurando o que restou pelo cabo começou a bater fortemente no poste gritando: “ACABOU, ACABOU, NÃO SOBROU NADA, CHAMA A MULHER DA LIMPEZA. NÃO ERA ISSO QUE VOCÊS QUERIAM? AGORA TÁ FEITO! TÁ FEITO! ACABOU!”.

Quando não havia mais quase nada para destruir, Godofredo limpando as mãos, uma na outra, entrou calmamente na empresa sem olhar para ninguém, subiu a escada, sentou-se na sua mesa de trabalho e começou a trabalhar normalmente como se nada tivesse acontecido. Como se tudo aquilo tivesse sido apenas uma terapia.

Tempos depois, Godofredo contava isso pra todo mundo como se fosse uma resposta aos funcionários incompetentes que tinha e que não conseguiam sequer chamar um técnico para consertar uma impressora. Por outro lado, seus funcionários e conhecidos, além de dar muitas risadas, que rendem altas gargalhadas até hoje, diziam que o problema não é você ser empregado, o problema de fato é ter um patrão como o Godofredo, que ninguém respeitava, apenas morria de medo na frente dele, mas rachavam de rir quando ele dava as costas. Um verdadeiro fanfarrão.

Para entender esse maluco só lendo Michel Focault. Em seus estudos Focault segure que o poder está à margem da loucura é por isso que todo maluco muda a voz, jeito de andar, de se vestir e, sobretudo de amigos.

O pior é saber que o deus mercado está cheio de gente como o Godofredo. Dá para se ter respeito por um tipo desses?


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com