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quarta-feira, 23 de abril de 2014

QUE AS PRÓXIMAS HORAS NÃO SEJAM AS ÚLTIMAS DO DIA

Cheguei ao mundo muito tarde o grande evento que aconteceu por volta das 18 horas. Já eram quase 21 horas quando cheguei. Tudo já estava decidido e a festa já corria solta. Muita gente que participou deste evento/reunião não se deu conta de que a partir dali se concretizariam novos rumos para a estrutura da sociedade, mas não sem promover tensões. Outras reuniões como esta já haviam acontecido mais cedo, mas para nós, esta foi, sem dúvida, a mais importante e, embora a pauta não estivesse tão bem definida, é a que pauta nossa vida até hoje. Bom, não posso dizer por eles, mas imagino que os que tiveram à frente desta reunião não tinham toda a clareza e nem estiveram muito preocupados em mensurar a proporção que os desdobramentos tomariam e quão perniciosos poderiam ser.

Como cheguei atrasado, o mínimo que posso fazer é tentar entender os caminhos que decidiram tomar para assim, poder entender o que está acontecendo agora, poucas horas depois. Não é tarefa fácil, pois além de ser necessário entender o que aconteceu nas últimas horas, durante minha pequena permanência aqui, preciso tentar vislumbrar o que vai acontecer antes do dia acabar e deixar, ainda que um recado, para os que chegarão mais tarde, pois acredito que muitos chegarão e, quando eles chegarem, talvez sejam mais habilidosos do que temos sido para postergar o fim do dia.

Algum filósofo há muito tempo, já sugeriu que sob o prisma da humanidade o nosso tempo de vida é uma gota d'água no oceano e, de modo similar, sob o prisma da idade da Terra nossa vida duram poucos minutos. O oceano é imenso, é profundo, é raso, é escuro, é claro, é agitado, é tranquilo, é assustador e ao mesmo tempo admirável. Mas, infelizmente nós, gotas d’água, talvez não tenhamos nos conscientizado para o fato de que, querendo ser diferentes, nos destacar, não querendo ficar tão ao fundo, seja individualmente, seja em grupos, podemos comprometer a perenidade desta maravilha que é o oceano.

O ser humano, entendido como o ser vivo dos seres vivos, aquele que está acima dos demais animais por ser “racional”, tem sido muito mais irracional do que imagina. Quem estava aqui às 18 horas não vive mais, e nós, atrasados ou não, aqui chegamos. Preocupados com nossas tarefas, com nossos desejos, com nossos próprios “nós”, parece que acabamos por nos esquecer de um precioso fato: não basta reproduzir a espécie para reproduzir a vida.

Embora não tenhamos estado aqui às 18 horas, recebemos um pacote dos que aqui estavam, e notadamente parece ser difícil imaginar que este pacote possa ser substituído, tão já, por algo novo. Pode ser que este grande evento tenha sido não o melhor, mas o menos pior sistema já experimentado pelos seres humanos, mas está muito longe de ser o ideal. Está ai, é o que temos, quando nascemos ele já existia e quando morrermos, acredito eu, ele ainda estará ai, em pleno vigor. Cuidado, não se trata de 'aceitar a vida como ela é'. A questão é que este pacote nos tornou mais individualistas e menos livres ao no impor padrões, além de ser intrinsecamente desigual e nem tão justo quanto dizem.
A livre iniciativa, a liberdade de expressão, a democracia, a propriedade privada, ganharam nossa simpatia e há motivos de sobra para justificarmos as razões pelas quais. Mas esse quadro pintado esconde coisas por trás, e o nosso 'sucesso' ou 'bem-estar' não dependem somente da 'livre iniciativa'.

Acreditamos na 'liberdade de expressão' mas nem sempre nos damos conta de que as informações à que temos acesso carregam consigo boas doses de parcialidade. Passamos a pensar que o voto é o ápice da nossa condição de cidadãos e não refletimos sobre o modelo de 'democracia representativa', aliás, como boas gotas d'água, preferimos nos recolher à nossa pequenez e acreditar que não há o que fazer e assim contribuímos para a manutenção do status quo. Acreditamos que teremos tudo o quanto quisermos se assim nos esforçarmos para tal, mas nem sempre entendemos porque queremos ter tanto. Esforçamo-nos para ter 'a minha casa' e para encher 'a minha barriga' e somos inclinados a pensar que a fome e a moradia precária se devem ao fato de não estarem se esforçando o suficiente para terem o que precisam, atribuindo ao indivíduo toda a responsabilidade pelo seu insucesso e perpetuando a falsa ideia de que todos, sem exceção, 'competem' com as mesmas armas e, portanto em pé de igualdade.

Por estas e outras razões nos distraímos, e com pequenas coisas nos roubam os minutos que temos, nos impedindo de olhar, refletir e compreender nossa condição sob um prisma mais amplo, pois nossos minutos passam rápido demais para nos preocuparmos com os minutos de 'todos os demais' e menos ainda com os minutos dos que virão depois.

Esse pacote que recebemos impõe um modo de vida, que há existia quando nascemos e que estamos perpetuando. Esse pacote permitiu à humanidade coisas grandiosas, porém não temos conseguido dar respostas a problemas relativamente simples, o da fome, por exemplo, que nos parece não ser um problema de escassez material. O problema é que, se não enxergarmos sob um prisma que exceda nosso tamanho, nossos minutos se passarão e não teremos dado nossa contribuição para os que virão depois de nós e que, poderão mudar a pauta e, quem sabe, se reúnam e façam melhor que nós.

Há potencial de crescimento econômico em diversos países, mas não paramos para pensar se o 'modelo' de crescimento é o mais adequado. O crescimento pode vir, mas o desenvolvimento não necessariamente. Precisamos aprender a fazer diferente e melhor, para evitar que as próximas horas sejam de caos. É incontestável que os Estados Unidos da América (EUA) são o baluarte do capitalismo, o modelo mundial de sociedade 'desenvolvida' e, mais uma vez sob um ponto de vista de muitas horas, precisamos refletir sobre o fato de que se este 'modelo' pode ser reproduzido e sustentado por mais quantas horas.

O que poderia acontecer se outras grandes economias quiserem adotar para si um modelo de desenvolvimento similar ao do 'baluarte'? Se os padrões de produção e consumo do 'baluarte' se disseminarem por muitos outros países, o que aconteceria? Sem mudanças, sem novos rumos no processo produtivo, caso continuemos o caminho que estamos trilhando, estaremos acelerando o processo de catástrofes climáticas.
Precisamos de uma nova agenda de desenvolvimento, de um novo pacote que seja construído nos próximos minutos e que paute a atuação da humanidade para as próximas horas, tarefa ingrata, incompreendida, que não atrai atenção popular e que não angaria voto.

A mudança precisa começar nas bases, nos alicerces da sociedade. Falo da educação, da cultura, do acesso á formação é à informação, da politização. Talvez não tenhamos minutos suficientes para ver um sistema de sociedade muito diferente do atual, mas precisamos pensar no que queremos para os que virão.

Se quisermos um mundo melhor, sem pobreza, menos desigual e mais livre, precisamos nos atentar para o fato de que este mundo só será possível se pensarmos para além dos minutos que temos.

Pode ser contraditório, paradoxal, mas ainda acredito na humanidade. Espero que os que estão por vir não se decepcionem tanto quanto poderão com os seus antepassados, nós. Que possamos começar algo melhor para que os que estão por vir o desenvolvam e desfrutem, corrigindo o que há para ser corrigido, reformando o que há para ser reformando, jogando no lixo o que não serve mais e renovando.

Precisamos provar e fazer jus à “racionalidade” que dizemos que temos. Precisamos parar de olhar só para o nosso próprio relógio, pois ele funciona por pouquíssimo tempo, e começar a olhar para o tempo sob o ponto de vista da humanidade. As próximas horas virão, e elas não necessariamente precisam ser cinzentas, penosas, vazias. Se nós não fazemos as escolhas, outros farão por nós.

Roberto Rodrigues
Economista, Especialista em Economia Social e do Trabalho, Mestrando em Desenvolvimento Econômico junto ao Instituto de Economia da UNICAMP, Professor do ISCA Faculdades e Economista Associado à LMX Investimentos.

rodriguesrobertto@yahoo.com.br

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A sociedade precisa se reinventar para resgatar o humanismo

Figura: netmarinha.uol.com.br

Quero iniciar essa conversa nesse tempo de reflexão, me referindo ao humanismo em seu sentido amplo, que significa a valorização do ser humano e a condição humana acima de tudo.

Com esse olhar humanista, fica difícil compreender e aceitar a guerra invisível contida no seio da sociedade, às vezes entre pessoas que aparentemente caminham juntas. Porém quem se considera melhor que o outro, vai excluindo as outras pessoas, boicotando possibilidades, construindo a teoria da conspiração e tentando afastar quem se mostra tão capaz quanto essa que se considera a única opção possível e viável para a humanidade. Por incrível que pareça na maioria das vezes isso ocorre pelo simples fato de uma disputa por uma ínfima parcela de poder, ou ainda por simples paranoia e pura incompetência.

O fato é que infelizmente nos deparamos com situações semelhantes em praticamente todos os espaços onde seres humanos habitam. Quem não consegue se viabilizar e não tem uma missão a seguir, tenta parar o mundo para que não gire numa velocidade maior que a sua.

Que mundo é esse, onde falsos líderes tratam pessoas simples como “garrafinhas”, somente para provar que desfrutam de prestígio e de poder de voto? Nesse momento minha revolta é tamanha que me enxergo totalmente anarquista e a minha atitude é entrar na luta, apenas para não permitir que essas pessoas simples sejam mais uma vez enganadas. Quem pensa e age assim não nos representa.

Já repararam atentamente no trânsito? Algumas pessoas nos ultrapassam, até pela direita, apenas para ganhar uma vaga e ficar à frente. Uma disputa insana pela dianteira, simplesmente para ser o primeiro ou ainda para provar que o seu carro é mais poderoso. Trata-se na verdade de um desvio de conduta rumo à violência.

Outra questão que está destruindo a humanidade vem do fato de que se permitiu que a velha mídia virasse o quarto poder e determinasse os hábitos e as vontades das pessoas.

A humanidade está em crise? Que tipo de crise? O que buscam as pessoas? Qual a verdadeira intensão de quem: toca um projeto, chefia, gerencia, coordena ou mesmo governa? É preciso anular as pessoas para provar quem manda? O que fazer para resgatar o humanismo? Até que ponto isso tem a ver com cada um de nós?

É impossível responder qualquer uma dessas perguntas sem antes descobrirmos qual é a nossa missão, tanto como cidadãos, mas principalmente como seres humanos. Qual é a sua causa que alimenta sua vida? Veio ao mundo à passeio ou a trabalho?

A pressa no trânsito, a falta de crença, o desencontro com a missão, a disputa pelo nada e uma busca incontida pelo senso comum, talvez sejam apenas desculpas para a omissão. O que tenho a ver com isso? E nessa insensata falta de compromisso muitas pessoas passam a maior parte de seu tempo. Como se nada demandasse da omissão de cada um. No final das contas, ou por ação ou por omissão todos que se omitem carregará para a eternidade sua parcela de culpa.

As pessoas estão tão envolvidas ou com o nada ou com sua sobrevivência, que não conseguem enxergar que a sociedade capitalista é extremamente seletiva e faz uma seleção natural para determinar quem serão seus escolhidos para a continuidade.

De um lado seus escolhidos com direito a tudo e do outro os que a servem, esses sem direito algum. Para esses a justificativa é que não souberam aproveitar as oportunidades ou nasceram mesmo sem sorte. O pior é que esse ciclo se transfere também para o mundo da política. Em regras regais a maioria dos escolhidos por um sistema eleitoral falido e tendencioso defendem exatamente os que nasceram com sorte. Sobra para a maioria da população brasileira, ou a conformação de que nasceram sem sorte ou lutar bravamente pelos seus direitos.

Das duas uma: ou a sociedade se reinventa, no sentido de incluir e receber bem as pessoas que deram suas vidas para que a minoria pudesse se beneficiar às suas custas e nunca tiveram nada em troca ou a maioria que nunca teve nada e agora estão conquistando seus direitos marcharão rumo ao poder no sentido de destruí-lo.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

segunda-feira, 14 de abril de 2014

As principais mensagens do filme Saneamento Básico

Fui convidado pela minha orientadora de Mestrado, Elisabete Stradiotto Siqueira, a escrever um capítulo de um livro que ela está idealizando, onde a partir do conteúdo de um filme seja possível fazer uma análise da Administração.

Como a minha área é Administração Pública, escolhi o Filme Saneamento Básico, que de uma forma simples e descontraída nos oferece conteúdo suficiente para fazer uma ampla análise da situação do saneamento básico nas cidades brasileiras. Segue abaixo uma parte do capítulo, justamente a que faz uma leitura do filme.

Partindo da realidade da maioria das cidades brasileiras, pode ser observado que o filme aborda um contexto peculiar, ao situá-lo num vilarejo sulino com moradores descendentes de italianos. Isso caracteriza que aqueles moradores, apesar de morarem numa periferia, ou com características de periferia, pelo abandono do poder público, sabem se defender e reivindicar seus direitos. Situação bem diferente dos migrantes que povoam as periferias brasileiras. A justificativa dessa afirmação pode ser notada em alguns detalhes, tais como: o fato do personagem Otaviano já ter sido subprefeito, o que mostra certo grau de compreensão política; a existência no vilarejo de pequenos empresários como ele próprio e o personagem Antonio e um sentido de organização social, na medida em que se cria uma Comissão de Moradores, que entre outras ações já tinham elaborado vários abaixo-assinados reivindicando a construção da fossa. Esse fato só vem reforçar a tese de que a população conhece seus direitos, o problema está como essa população se organiza e quem são e como atuam seus representantes.

Como ocorre em grande parte dos municípios brasileiros, principalmente nos de pequeno porte, as reivindicações não são atendidas e muito menos quem reivindicou é recebido por algum gestor, prática que reforça a falta de crença da população, tanto pela política como principalmente pelos políticos. É evidente que não é bem assim, pois mesmo nesse tipo de administração pública existem pessoas comprometidas, sejam comissionadas ou servidor de carreira. Quem nivela por baixo é a imprensa brasileira, que em nome das seis famílias que detém 70% dos meios de comunicação, se constituem no quarto poder.

O fato da prefeitura da localidade não ter recursos destinados ao saneamento básico, apesar de ser uma reivindicação antiga, revela em primeiro lugar o descaso de muitos gestores com relação à questão do saneamento, que desagua em vários problemas, inclusive de saúde pública e segundo a necessidade de manter a população distante do entendimento do orçamento público. Essa situação pode ser notada na medida em que nem mesmo os gestores das diversas áreas de governo, na maioria das prefeituras, sabem como o orçamento é elaborado, num primeiro momento através do PPA (Plano Plurianual) e posteriormente através da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias).

Segundo o Fórum Brasileiro de Orçamento Participativo, a extrema maioria dos municípios não praticam o Orçamento Participativo e muitos dos que adotaram o OP como é chamado, abandonaram no segundo mandato. Há evidência que isso ocorre por algumas razões, entre ela o fato de não haver integração de governo e isso levar a participação de apenas um ou dois secretários nas reuniões de OP e sobre eles cair toda a insatisfação da população e também pelo fato de não haver, por parte das administrações públicas, uma relação mais próxima com a população, seja através de Conselhos Gestores Participativos, onde a maioria ainda são apenas consultivos ou mesmo a falta de incentivo para que a sociedade se organize, através de suas entidades representativas e possa exercer o direito de Participação e de Controle Social. Algo que o poder público poderia iniciar pela organização de Fóruns Temáticos, sem custo algum para os cofres públicos e de grande benefício para a formulação e controle das políticas públicas.

O enredo do filme se desenrola em como usar uma verba federal aprovada de R$ 10 mil para a produção de um filme, na construção de uma fossa que custaria R$ 8 mil. A existência de uma verba federal aprovada, independente de que área, nos dias de hoje demonstra a existência de um projeto e a mudança de curso dessa verba relatado no filme, da cultura para o setor de obras, nos permite alguns comentários. O primeiro deles voltado à criatividade humana, aonde através de uma breve pesquisa, os personagens vão vencendo suas barreiras e limitações e vão alinhando o enredo de acordo com a necessidade da população do vilarejo. Na prática, as pessoas precisam ser estimuladas. Um segundo comentário está ligado como a personagem Marcela, gestora da subprefeitura, enxergava o fato de uma possível devolução dos recursos para Brasília. Dizia ela: “Não se pode devolver verba para Brasília. É um absurdo”. Um comentário com alta dose de maldade e adotado por parte do grupo, principalmente pelo fato de que se a verba não for utilizada tem que de fato ser devolvida. Além disso, o comentário traz à tona como a população enxerga a cidade de Brasília e os políticos, como uma cidade do poder e repleta de ladrões. Nos dias atuais essa avaliação é reforçada diariamente pela velha mídia, que afirma que todos os representantes eleitos seja uma corja de ladrões, com o nítido interesse em reafirmar que política é uma coisa ruim e, portanto tudo que dela migrar também será. Afirmações que afastam cada vez mais a população de enxergar seus direito, de se aproximar dos códigos do poder  e de uma efetiva participação na vida política de sua cidade, seu estado e no próprio país. Trata-se de algo direcionado para coibir o crescimento dos setores esclarecidos da sociedade

O desenrolar do filme mostra também o conflito entre os personagens. Fazer o filme de qualquer jeito apenas para ter acesso ao dinheiro ou fazer bem feito?
           
Outra questão importante abordada é a saudade dos italianos por sua terra natal e pela cultura de seu país. Essa cena nos leva a refletir os desencontros de imigrantes e migrantes, que pela sobrevivência financeira tiveram que abandonar a história de vida de cada um e se deslocarem para regiões que não conheciam, onde muitos deles sofreram e ainda sofrem maus tratos e discriminação.
           
No campo empresarial algumas observações. Primeiro o fato do personagem Antonio, que é dono de uma pequena empreiteira de obras, assumir o projeto de construção da fossa, sem licitação. Sua convicção é tamanha que chega a comprar de forma antecipada materiais para a realização da obra, chegando ao absurdo de sugerir o uso da verba da merenda escolar para a construção de uma ponte. Em seu diálogo com a gestora, fica claro um jogo de interesses de ambos os lados. Em outro momento o filme aborda os patrocinadores do filme, que aceitam em troca de divulgarem seus produtos para as crianças e pais da localidade, como algo natural.

A troca de acusações feita pelos personagens Otaviano e Antonio, mostra tanto o processo de corrupção mantido por parte do poder público e as empresas, como também a sonegação fiscal, que em regras gerais representa pelo menos duas vezes do valor da corrupção existente hoje no país, que se constitui numa poderosa vertente da corrupção.

O universo da sociedade machista é abordado no filme em dois episódios. O primeiro no patrocínio, quando um dos empresários fica interessado na conversa da gestora se referindo às mulheres do bar e segundo pelo personagem Zico, o produtor que surge na parte final do filme. Todo seu interesse esteve voltado à Silene, inclusive sendo pano de fundo para uma mudança surpreendente no roteiro do filme, ao explorar sua sensualidade.

No campo do poder, o prefeito local, como ocorre em várias partes do país, se omite da responsabilidade na medida em que não destina nenhum recurso para solucionar o problema do saneamento básico, reivindicado pela população há tempo, porém quando o filme chega à fase final e as obras se iniciam, mesmo sem a aprovação da verba, o que é muito estranho, surge a figura do político de carreira querendo aparecer às custas do trabalho da população. No final do filme ainda arremata ao citar seu investimento, como se tivesse sido investimento da prefeitura em cultura, para a realização das obras, de não terem sido concluídas, o que demonstra que pelo menos parte da verba tenha sido desviada, houve um crescimento cultural e de turismo na cidade.

Algo inusitado ocorre na parte final do filme. Os atores, mesmo de forma amadora, porém comprometidos com o resultado do trabalho, procuravam desenvolver o enredo que planejaram. A mudança do nome do filme: “O monstro da Fossa” para “O Monstro do Fosso”, ocorre quando surge à figura de Zico, procurado para editar o que já estava pronto. Logo começa a palpitar e usando toda a sua experiência, malandragem e interesse na personagem Silene, convence o grupo que o que já é bom pode ficar melhor, pagando por isso, é claro. Um dos problemas a ser administrado a partir desse momento é o orçamento do filme, que com essa novidade come a ficar caro e distante do seu objetivo principal. O recurso usado pelo personagem Zico para convencer a mudança de rumo, é tocar na vaidade pessoal dos atores e uma mudança de postura de alguns deles começa a acontecer.

Após o convencimento, Zico consegue seu intento. O filme é editado, regravado algumas partes e com isso muda totalmente o enfoque, inclusive dos atores e membros da Comissão de Moradores. O objetivo que era arrecadar fundos para a construção da fossa, dá lugar à projeção individual do elenco. No meio disso tudo algo positivo: mostrar para todos que para ser ator e atriz não precisavam ir para Porto Alegre. Tinham acabado de realizar uma obra digna de ser mostrada ao público.

O filme termina com a revelação de que as obras da fossa não foram concluídas, como ocorre em inúmeras cidades brasileiras, porém os atores da comunidade se sentem prestigiados com o sucesso do filme e exploram isso das mais variadas formas possíveis e a população da Linha Cristal? Continuam a esperar pela construção da fossa prometida, assim como muitos brasileiros e brasileiras aguardam ainda por água e esgotos tratados.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

sábado, 12 de abril de 2014

REMANDO CONTRA A MARÉ

Como pude conviver anos a fio, em muitos casos desde a infância, com certas (muitas!) pessoas sem nunca ter percebido nelas traços de direitismo - hoje cada vez mais explícitos -, sem jamais desconfiar?
Não, não se trata de esperar ingenuamente que todas as pessoas com quem convivo ou me relaciono sejam de esquerda, muito menos que sejam petistas ou sequer minimamente simpáticas ao partido, mas que ao menos, em grande parte desse contingente, tenham preocupação com os mais necessitados, que compreendam a importância histórica da redistribuição de renda e da emergência dos programas de inclusão social.
Os que torcem o nariz ao povo são os que sempre criticaram a política e os políticos - de qualquer matiz ideológico, mas especialmente os de esquerda. O PT, porém, sempre navegou no contra fluxo, defendendo a Política como único meio civilizado de promover a justiça social, a democracia como valor inalienável, as vias institucionais como forma de respeitar o estado democrático de Direito, fundamento da nossa República, segundo a Constituição.
Nesse aspecto, Lula foi exemplar. Sofreu três derrotas consecutivas e jamais arquitetou um golpe ou qualquer expediente antidemocrático que desestabilizasse os poderes constituídos. Jamais ouvimos dele, ao longo dos oito anos de PSDB à frente do governo federal, um grito de "Fora FHC" ou uma queixa de fraude nos pleitos eleitorais em que foi derrotado.
Na presidência, priorizou a inclusão social, promovendo a ascensão de milhões de miseráveis ao patamar da dignidade e elevando a condição social das demais classes. Por seu obstinado trabalho, hoje o pobre tem acesso a recursos públicos e privados, como crédito, ensino superior, aeroportos e shoppings centers.
Teve oportunidade de conquistar o terceiro mandato, mas, por sua estatura de verdadeiro estadista, desautorizou quem chegou a formular essa proposta. Ao sair, soube colocar-se na penumbra, em silêncio respeitoso a quem o sucedeu. E agora, a despeito de um certo clamor popular pelo seu retorno, já se anunciou como cabo eleitoral pela reeleição de Dilma Rousseff.
Em suma, o político Lula deu vida e sabor à Política, em sua essência. Escrevi certa vez que Lula, tido por analfabeto, discriminado por não ser detentor de curso dito superior, é um compêndio vivo de ciência política. Tenho-o por um estadista, um líder revolucionário, dos maiores da História universal, para mim o maior de todos, superior a Gandhi e Mandela, porque, à frente do governo, trouxe ao seu povo resultados mais significativos e sustentáveis que as conquistas dos demais.
Hoje, minha esposa comentava sobre o absurdo de um discurso rancoroso do comediante (!) Marcelo Madureira, compartilhado no Facebook por um desses amigos de nossa convivência de cujo direitismo jamais desconfiávamos. Não que essa característica fosse alterar alguma coisa na nossa sincera amizade, mas é algo que sempre decepciona.
Ouvir e compartilhar um Madureira, que como analista político é um péssimo comediante, dizer que Lula desmoraliza a política - ou algo assim - só se justifica se for para apontar a indigência intelectual do ator global e seu descompasso absoluto com a realidade.

Enfim, com decepções aqui e ali, sigamos em frente, nadando contra a maré, enfrentando a correnteza do senso comum, porque nenhuma luta é fácil e a lutar estamos mais que acostumados.
Luís Antônio Albiero
Advogado na cidade de Americana/SP
laalbiero@yahoo.com.br


quinta-feira, 10 de abril de 2014

As lições que o Curso Plano de Governo e Ações para Governar vai colhendo pelo caminho

Tem sido um novo aprendizado viajar com o Curso Plano de Governo e Ações para Governar pela Fundação Perseu Abramo, nas diversas prefeituras onde o Partido dos Trabalhadores se encontra presente na gestão. É algo tão intenso que a técnica e a empatia caminham lado a lado. Chegamos até o momento a 21 cidades sedes, com 140 cidades presentes e mais de 750 participantes.

Sem sombra de dúvidas, o depoimento mais contundente foi o do Prefeito de Santo Cristo no Rio Grande do Sul, ao afirmar que o conteúdo do curso, que é bom, poderia nem ser, pois o mais importante foi o que o curso proporcionou: um grande debate sobre o desafio e o modo petista de governar e sobre a importância de enxergar que um governo onde o Partido dos Trabalhadores estiver presente, não pode ser igual aos que já passaram por aquele município. Temos a obrigação de sermos diferentes, onde a população organizada será a grande protagonista.

Assim, o curso traz para o cenário da gestão os conflitos da sociedade, o conflito dos gestores que muitos nem mesmo sabe como proceder e faz uma enorme provocação, na medida que desafia o gestor a sair do individual para o coletivo, na busca de uma forma de governar a várias mãos.

O principal objetivo desse trabalho é construir um referencial humanista na forma de governar, onde as questões técnicas sejam conduzidas por um Plano de Ação e a frieza da máquina pública seja alterada na medida em que os servidores vão sendo convidados a colaborarem e isso começa numa pesquisa com o lema: “O Governo quer ouvir você”. Além disso, fortalecer o modo petista de governar, deixando claro que quem governa pelo Partido dos Trabalhadores não governa para si e sim para o Partido e principalmente com a população.

O curso é atual na medida em que personaliza cada região, busca dados socioeconômicos dos municípios e termina com um trabalho em grupo, buscando respostas para os principais desafios locais, no sentido de construir juntos, um Plano de Ação até o final do governo.

O mais interessante é observar que há um momento diferente a cada turma para sair da forma vertical de conduzir o curso, onde ainda há certa desconfiança por parte da maioria dos participantes e caminhar para o envolvimento emocional, numa forma horizontalizada, onde todos, além de se envolverem no debate, passam a contribuir de forma espontânea buscando entender o papel de cada um na gestão e o que cada um tem a ver com o trabalho do outro para que o resultado seja a eficiência e a eficácia go governo.

É isso que fica. É essa a essência do encontro. Homens e mulheres atentos em suas missões, procurando detalhar cada tarefa e resultando numa mudança completa na forma de governar, passando do estágio onde cada setor de governo se vê como uma instância isolada do todo e cada um procurando buscar envolvimento nas ações integradas.

Como isso é possível? Relacionamento sincero, olho no olho e compromisso estabelecido onde o desvio, seja de quem for, poderá comprometer o Plano Estratégico de Governo.

Dos 750 depoimentos colhidos, a extrema maioria avalia o curso como bom, ótimo e excelente, o que nos dá uma enorme sensação de dever cumprido, porém com muito mais responsabilidade na busca da excelência.

Cada cidade por onde passamos é um novo aprendizado. Ensinar e aprender, como uma troca de saberes necessária para o pleno entendimento. Ao final vemos que seria necessário de mais tempo para explorarmos cada assunto, porém afirmamos que estamos dispostos a voltar com outro tema na medida em que os gestores derem continuidade às tarefas acordadas em curso.

Além disso, os Cursos oferecidos pela Área do Conhecimento estão tão integrados, que parecem um trabalho em rede. Um complementa o outro e é isso que deixamos claro a cada encontro.

Não há sensação mais gratificante do que um pedido para voltar e não há compromisso maior do que formatarmos juntos uma nova forma de governar.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

domingo, 6 de abril de 2014

O PIG e os Institutos de Pesquisa declaram guerra à Presidenta Dilma


É surpreendente a habilidade e a traquinagem maldosa da oposição à Presidenta Dilma e ao PT. Entra ano e sai ano e eles não conseguem mostrar um plano alternativo para governar o país, que se contraponha ao que foi construído no país nos últimos 11 anos, simplesmente porque não existe. Eles não têm uma proposta sequer para o setor que os financiam, quem dirá para a população menos favorecida, porque nunca tiveram. A população que foi o foco dos governos petistas.

A habilidade está apenas no campo da maldade, com um verdadeiro arsenal de novidades do mal voltadas apenas para prejudicar a imagem da Presidenta a virtual pré-candidata à reeleição, além dos ataques diários ao Partido dos Trabalhadores. Uma tramoia atrás da outra, seja no Jornal Nacional ou no das manhãs, no Globo News, na CBN em quase todos os programas e editoriais, nos Jornais de grande circulação e principalmente num lixo de revista chamado Veja, que sempre esteve do lado do mal.

É um time fantástico, que envolve pessoas, a justiça e principalmente os veículos de comunicação: falado, televisionado e escrito, além das redes sociais. Só para se uma ideia do tamanho da sacanagem foram descobertos 23 mil perfis falsos, criados para atacar o PT na época do julgamento do chamado mensalão e hoje se fala na contratação de pelo menos 15 mil pessoas para atacar o PT e a futura candidata Dilma.

As últimas foram: a reunião ocorrida na semana passada com vários Institutos de Pesquisa, para combinarem uma estratégia para derrotar a futura candidata Dilma à Presidência da República. Isso na verdade já começou com duas  estranhas pesquisas feitas pelo IBOPE e a Folha de São Paulo hoje diz que a popularidade da Presidenta caiu 6 pontos em função da economia. Como se a população menos esclarecida soubesse fazer cálculos mirabolantes, principalmente para saber os motivos quando a bolsa de valores cai e a responsabilidade direta da nossa Presidenta. A outra é que estão tentando dizer que o povo pede a volta de Lula e isso mostra a fragilidade de Dilma. Quanto a isso eu gostaria de saber o que fariam se fosse lançada Dilma para Presidenta e Lula para vice. Que tal a ideia?

Prestam um péssimo serviço à população. São parciais e partidários dos partidos de direita, é claro e ideologicamente vinculados a quem sempre explorou os trabalhadores. Estiveram o tempo todo defendo o golpe de 64 e os golpistas, assim como sempre estiveram contra todos os movimentos de organização dos trabalhadores.

O mais hilário foi ouvir dias atrás o Marcelo Madureira, um canastrão direitoso e que se encontra afastado da televisão, fazer uma análise cientifica e global da Petrobrás e principalmente sobre a compra daquela empresa americana, quando seus aliados políticos, que hoje encabeçam uma CPI política, tentavam a qualquer custo precarizar a Petrobrás, simulando vazamentos em várias partes do país, inclusive chegando ao cúmulo de afundar uma Plataforma (P-36), causando a morte de 11 trabalhadores.

O que temos que fazer? Organizarmo-nos a partir de uma linha de atuação voltada à defesa do governo federal e da Presidenta Dilma. Além disso, usar nossa rede de relacionamento para contarmos a outra história. Não aquela fundada na teoria da conspiração e sim aquela forjada em números concretos e na satisfação da população que quase eles mataram de fome e hoje desfrutam de bens e serviços que jamais ousariam ter.

É necessário democratizarmos os meios de comunicação, assim como criarmos instrumentos populares, como por exemplo as Rádios e TVs Comunitárias urgente.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quinta-feira, 3 de abril de 2014

A educação machista de todos nós

Tão igual aos outros!

Posso até ser muito criticado, mas é verdade: "Se dependesse da criação que recebi da minha mãe - seria tremendamente machista". 

Cresci ouvindo as velhas frases:
1) Homem não chora;
2) Homem é quem manda em casa - meu pai viajava e ela me... tratava como o homem da casa - e eu era um moleque;
3) Homem não leva desaforo pra casa (leva pra onde então? pro caixão?);
4) Homem que é homem não tem medo (e o que eu faço com ele -o medo?);
5) Homem tem que ser esperto - o mundo é dos espertos (se ela soubesse o que tem de 'esperto' na cadeia) - e o mundo é de que tem dinheiro, da burguesia - o que eu tenho é meu e o que sobra pode ser dos outros (e olhe lá se eu não ficar com a sobra também).

Nunca ouvi ela dizer:
1) "Não se bate em mulher", e, se for para 'apanhar' que seja rindo;
2) Que eu podia chorar a vontade (ainda mais se estiver sozinho) - NINGUÉM TEM NADA COM ISSO!
3) Quem manda na casa, na gente, nos filhos, em tudo, são as mulheres - só nos limitamos a fazer a vontade delas;
4) "Não só LEVO o desaforo para casa, enterro ele no quintal ou jogo na privada e dou descarga - assim continuo vivo!
5) Tenho lá os meus medos, porém descobri que a coragem não tem nada à ver com o medo - TUDO É SÓ UMA REAÇÃO QUÍMICA. Estas, aprendi sozinho!

Só Deus sabe o que passei para aprender, eu já nem quero mais lembrar.
Talvez, se tivesse aprendido desde pequeno, seria outra pessoa!
Mesmo tendo uma criação totalmente machista, pude aprender a respeitar nossas companheiras... CONSCIÊNCIA E RESPEITO!

MULHERES, NÓS HOMENS SOMOS CRIADOS PARA SERMOS ASSIM (NEM TODOS É CLARO) - PRECISAMOS MUDAR ESTA REALIDADE DESDE A CRIAÇÃO.

Não culpo meus pais por isso, foi a criação que eles receberam. Meus avós eram assim e antes deles também. O mundo era assim a realidade era essa. HOJE AS COISAS SÃO DIFERENTES, AS MULHERES CONQUISTARAM SEU MERECIDO ESPAÇO E SEUS DIREITOS! É LEI. CABE-NOS CUMPRIR!

Opinião, com base na minha própria criação!

Elder Cruz
Jornalista e Assessor Parlamentar
eldercruz@msn.com

segunda-feira, 31 de março de 2014

Os Filhos da Ditadura

Em todos esses anos quis escrever meu melhor texto sobre você. Minhas melhores palavras, minhas melhores ideias, meus melhores momentos guardei para que em uma folha fosse eternizado meu sentimento por você.

Quantos livros li, quantas tentativas fiz de escrever sobre você, mas não era o meu melhor texto, não era minha melhor história. E você só merece o meu melhor. Pensei, repensei, sorri com o exercício diário de escrever meu melhor texto, mas chorei ao lembrar que longe de você não existo.

Quando percebi que não poderia te traduzir em uma folha comecei a rascunhar esse pequeno lembrete de como você é importante para mim. Sem você não estaria aqui; sem você não existiria nenhum texto meu; mesmo aqueles tristes e lamentáveis que eu rascunhei; meus textos infantis, juvenis não poderiam ser escritos sem que você existisse.

Eu ainda percebi que qualquer coisa que eu escrevesse não traduziria sua importância para mim. Posso fazer o meu melhor texto e ele não dá conta de dizer que você salvou vidas, enxugou lágrimas, acabou com sequestros; enfim você mudou uma sociedade.

Tenho que te pedir desculpas por que às vezes me deixo levar por um senso comum perverso e rancoroso; quando você chegou em minha vida e eu já tinha lá meus 20 e poucos anos; já tinha compreensão de algo e mesmo com sua bondade e que tenha me mudado, eu já tinha marcas, cicatrizes que me são abertas sempre que lembro deste tempo. Eu um jovem, com ideias sonhadoras, iniciando minha vida e consciente de que era importante minha luta, fui desalojado de minha história. Fui apresentado aos porões da vileza, fui refém da maldade, mas por você lutei. E o melhor de minha luta foi encontrar você no final daquela batalha. Não me arrependo de nada, minha vida é marcada por histórias e aproximações; minha vida foi de distanciamentos e reencontros; minha vida foi e é resultado de sonhos e mais sonhos.

Quero agradecer a você, LIBERDADE, por tudo que me proporcionaste. Quero pedir apenas que não deixe usar o teu sagrado nome por aqueles que pretendem prende-la em uma cadeia que subtrai direitos dos mais humildes.

Quero pedir que fique vigilante e que se for preciso conte com meus sonhos, conte com minha militância, com minha ação, conte com meus escritos em favor de um mundo mais solidário, justo e soberanamente livre.

E mesmo que meu texto não seja com as melhores palavras, com as melhores ideias, tenha por certo, que foi com você que vivi meus melhores momentos, pois pude ser eu mesmo sem ter um sensor a me torturar e a torturar a quem eu amava; pude ser eu mesmo só com você, LIBERDADE, que apareceu no início dos anos 2000 e repôs vida, fé e esperança no coração de todos. Hoje compreendo que a esperança venceu o medo, mas também creio que a LIBERDADE venceu o GOLPE; somos servos de você, LIBERDADE, e por consequência somos primos da igualdade, companheiros da luta e defensores do livre arbítrio, da livre palavra, enfim de uma vida livre.

Vou estar junto de você, LIBERDADE, e em teu nome empunharei qualquer bandeira contra a manipulação; levantarei a bandeira da paz, do amor e do direito de viver com você, LIBERDADE, sempre; porque sei que você, LIBERDADE, não vem de forma gratuita. Mas também saiba, LIBERDADE, que por você, um filho seu jamais foge à luta. E sonhos coletivos são realizações que certamente acontecerão.

Antonio Mentor
Deputado Estadual

Viva a Liberdade

Impossível lembrarmos os 50 anos do golpe militar sem, primeiro, nos solidarizarmos com as vítimas, aquelas que morreram nas mãos de torturadores, que se recolheram em exílio mundo afora e aquelas que tiveram suas histórias de vida interrompidas simplesmente porque defendiam a liberdade, a igualdade e a justiça social. São 50 anos de um luto que jamais esqueceremos, não por reverência, mas por lembrar-nos do quão difícil foi esse período na história brasileira e para zelarmos que isso jamais se repita.

Impossível, do mesmo modo, esquecer os anos de atraso, especialmente intelectual, a que nosso povo foi submetido pelo golpe militar de 1º de abril de 1964 e sua política de desmantelamento da educação pública e da liberdade de expressão. Esse foi um retrocesso que vitimou toda a Nação, cujo alto custo é pago ainda hoje.

Mas que fique no passado a história. Dela devemos tirar o aprendizado. Hoje merecemos celebrar a democracia que areja a atividade política e cidadã no Brasil. O que importa é fortalecer nossa vocação de povo livre, defender a Constituição. O que importa é seguir na luta contra o preconceito, contra a desigualdade, contra o racismo e contra todas as formas sutis de opressão que também limitam, segregam e intimidam; que apequenam as pessoas mais humildes e discriminam as diferenças. Esta é a nossa luta.

Uma luta que trazemos no DNA do Partido dos Trabalhadores, um partido político concebido ainda no processo de abertura para a democracia, em 1978, e gestado nas greves do ABC e nos movimentos sociais; o partido liderado por Lula, o nosso líder maior, e por gente do quilate de Apolônio de Carvalho, que trouxe uma experiência de luta contra o nazismo na França e contra Franco na Espanha depois de exilado pela ditadura militar no Brasil; de Lélia Abramo, atriz e militante que trouxe da Itália sua experiência de luta contra o fascismo de Mussolini e única mulher a assinar a ata de fundação do PT no colégio Sion, em 1980; e de Benedita da Silva, uma das primeiras mulheres a filiar-se ao PT, hoje deputada. Isso para citar apenas alguns nomes dos muitos que organizaram o que hoje é o maior partido de esquerda do mundo.

Nossa tarefa não é fácil e nem pequena, mas é preciso reconhecer que foi a partir dos governos do PT, com Lula e agora com Dilma – ambos perseguidos políticos -, que a Nação recuperou sua autoestima; que a universidade e a casa própria deixaram de ser um sonho impossível ao trabalhador. Que o primeiro emprego não é mais um pesadelo aos jovens que saem dos bancos escolares. Que as mulheres ganharam de fato espaço de luta e de reconhecimento.

O PT está fazendo justiça social. O Brasil está oferecendo oportunidades. Isso é democracia.

O que ficou para trás é parte triste do passado. Gostamos do cheiro de gente, gostamos de dialogar, gostamos de lutar e crescer juntos e gostamos da crítica para evoluir.

Viva a igualdade. Vida eterna à liberdade.
Márcia Lia
Advogada - Ex-vereadora
Presidenta do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores de Araraquara

A Liberdade como valor absoluto na construção da sociedade que queremos

Quando aconteceu o Golpe de Estado de 1964, que colocou o país numa ditadura sangrenta que duraram 21 anos eu tinha apenas nove, porém me lembro muito bem da noite daquele dia ouvindo no rádio que o país se encontrava tomado pelos militares. Na minha cabeça todos nós seríamos presos, só não conseguia entender o porquê.

Como criança não tinha a menor ideia do que significava aquilo, porém no meu íntimo sentia que não era uma coisa boa. A confirmação veio anos depois quando alguns conhecidos comentavam que várias pessoas estavam sendo presas como terroristas e algumas delas não voltariam jamais. Era algo assustador.

Se fôssemos fazer uma análise fria da situação, não dá nem para imaginar o que leva um país a sofrer um golpe de Estado, a não ser o poder a qualquer custo, onde o clima de terror se espalha e o medo passa a ser parceiro diário de todas as pessoas que pensam. Chegavam ao cúmulo de vender a ideia de que estudar demais ou ler demais não era uma coisa boa, pois podia levar as pessoas a terem contato com material subversivo.

Hoje ao completar 50 anos daquele dia fatídico e dos tempos de trevas que vivemos, lembro de algumas passagens como se fosse hoje. No dia 19 de setembro de 1971 eu estava no Estádio do Morumbi no jogo Palmeira e Flamengo, com um amigo que se foi, quando foi anunciado que dois dias antes tinha sido assassinado um dos maiores terroristas do país: Carlos Lamarca, que na verdade era mais um guerrilheiro que lutava pela liberdade. O mais sombrio foi que parte da torcida vibrou como se tivesse ouvido que um time adversário tinha tomado um gol. Eu lembro que não vibrei, mas, no entanto não conseguia entender o que significava um terrorista. Lembro apenas da sensação de medo que invadiu a minha alma.

A voz do locutor do estádio até hoje não sai da minha cabeça. Cinco anos depois, na minha cidade natal, Belo Jardim em Pernambuco, tinha início a minha militância, eu me juntara a um grupo de pessoas do antigo MDB e apoiamos para Senador Marcos Freire, que anos depois morria num estranho acidente aéreo.

A partir de então a luta pela liberdade começa a estar presente na minha vida em todos os momentos e teve amplitude nas Comunidades Eclesiais de Base, ligadas à Teologia da Libertação, passando pelas Pastorais da Juventude e Operária, chegando às greves de 78, 79 e 80 em São Bernardo do Campo, até o dia que encontrei o Partido dos Trabalhadores como um ponto de encontro de todas as vozes oprimidas e todas as pessoas que sonhavam com a liberdade, com a justiça e principalmente com a solidariedade.

Aquela liberdade tão sonhada, como as águas de um rio, começava a tomar seu curso natural, alicerçada pelas lutas de todos os setores organizados da sociedade, onde operários, estudantes e os movimentos populares ecoavam um grito parado no ar por mudanças profundas e pelo fim da ditadura. Era algo intenso e represado que pouco a pouco rompia as paredes dos sombrios porões e trazia como resultado a esperança de uma sociedade livre. Aí vieram os comícios pelas Eleições Diretas Já em várias partes do país, que tive a oportunidade de estar em vários momentos. Porém o da Praça da Sé e o memorável Comício do Vale do Anhangabaú foram inesquecíveis e culminou com o início da democracia que vivemos até a atualidade.

Hoje com aquela liberdade que lutávamos conquistada, escrevo apenas para homenagear todos os companheiros e companheiras que tombaram sonhando com uma sociedade livre, a todos e todas que foram torturados e apesar da dor não delataram seus pares e aos que deram suas contribuições, cada um à sua maneira, pois as lutas e os gestos de revolta também tiveram um significado particular, antes e depois do golpe. A todos e todas: o meu respeito, minha identidade com a causa e minha total solidariedade.

É certo que a sociedade que queremos ainda não existe. Porém é inegável o papel da democracia como agente de transformação.  Uma das lutas nos dias de hoje é contra a possibilidade do Estado Mínimo, onde a população carente, fruto das desigualdades capitalistas, não fique refém do mercado, que está voltado apenas a cumprir seu papel de selecionar os melhores e estreitar cada vez mais a pirâmide econômica.

Assim o sonho de uma sociedade justa fraterna e igual continua tão presente como foi no passado e quem é militante de uma causa não descansará jamais enquanto houver em qualquer parte do país pessoas banidas da sociedade e de seus direitos à plena cidadania.

Termino afirmando que, mais vale uma democracia, mesmo que seja tímida, do que uma ditadura seja ela qual for, onde apenas um grupo de privilegiados ditem as regras e vendam à ilusão de que é necessário o sofrimento para chegarem à liberdade.

A sociedade que sonhamos tem que ser antes de tudo humana, onde a solidariedade seja a maior ideologia e a luta pela liberdade seja o lema maior e por ela todo cidadão e cidadã molde seu projeto de vida. 


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com