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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A ELITE ECONÔMICA E A MULHER DUAS VEZES PRESIDENTA

Foto: http://desabafopais.blogspot.com.br

Queiram os perdedores golpistas ou não, o evento de ontem foi mais um para ficar na história. Depois do operário Lula que governou o Brasil por duas vezes, pela primeira vez na história desse país, como ele sempre diz, uma mulher foi empossada pela segunda vez para o cargo mais alto do país, indicada e apoiada pelo operário Presidente. Dilma Presidenta!

Dilma Rousseff ficará na história como a primeira mulher, que lutou contra a ditadura, sendo presa e torturada e vencendo o próprio ódio que devia ter contra quem solapou o país e assassinou centenas de militantes e inocentes, em nome da moralização e da ordem, ajuda a restaurar a tão sonhada liberdade e o processo democrático e com ele chega à Presidência da República por duas vezes consecutivas. Um fato e tanto.

Portanto, um dia para ficar na história, um país machista que agride uma mulher a cada quinze minutos e mata outra a cada hora e meia, além de classificá-las como seres inferiores no deus mercado, lhes pagando salários menores que o dos homens e se essa mulher for negra e nordestina, sofrerá em dobro, principalmente se vier a morar no sul ou no sudeste do Brasil.

Só isso já seria o suficiente para deixar clara a importância da vitória da Presidenta Dilma. Afinal, nada caiu do céu e sim foi conquistado com muita luta, vide as últimas eleições, onde sua luta maior foi contra a mídia golpista, a direita raivosa e seu candidato desqualificado com mais de 30 denúncias pessoais. Uma luta do deus mercado e seus representantes, que consideram a população pobre como classe inferior, versus um projeto que visa o fortalecimento da população brasileira, em especial a menos favorecida. 

Porém, estamos falando de um universo muito mais amplo. A Presidenta Dilma representa um projeto que colocou na pauta nacional a possibilidade das pessoas pobres terem casas próprias, empregos com carteira assinada e com melhores qualificações profissionais, através dos oito milhões de cursos do PRONATEC, terem médicos e agora também especialidades, com o Programa “Mais Médicos”, os filhos das pessoas de baixa renda estudando nas universidades brasileiras e também em algumas do exterior, o Brasil fora do mapa da fome da ONU, além de tantas outras políticas públicas inclusivas em andamento. Estamos falando ainda da possibilidade da população pobre fazer as três refeições por dia e voltar a sonhar por um mundo melhor.

Brasil, Pátria Educadora. Um lema que coloca no centro da pauta nacional a educação, que com certeza será um projeto inclusivo, deixando claro de vez que as universidades públicas não são apenas para a elite branca se beneficiar e as oportunidades serão para todos e todas. A educação será a porta de entrada para os demais projetos brasileiros. Basta dizer que levamos 514 anos para um ter um Plano Nacional de Educação - PNE e nunca teve porque o foco sempre foi no privado e não no público. O PNE, através das suas 20 metas, obriga que os governantes, nacionais, estaduais e municipais, discutam todas as políticas públicas de forma integras e tenha a educação como o grande eixo transversal. O Plano de Educação discute o futuro a partir dos problemas atuais e o lema do Governo Federal trabalhará a educação como o ponto de encontro do desenvolvimento e das ações sustentáveis.

Em regras gerais, o discurso da Presidenta foi animador, pois leva ao mesmo tempo esperança para a população menos favorecida com novas oportunidades e deixa à direita, a elite econômica branca racista e os golpistas com as “barbas de molho”, pois apesar da equipe governamental conter algumas figuras contraditórias, será ela mesma que irá comandar e também será ela que estará à frente de uma verdadeira transformação nesse país. Ao invés da direita raivosa e chorona porque perdeu as eleições, ficar só jogando pedras, como estão fazendo para chamar a atenção, porque não criar de fato um pacto nacional contra a corrupção, como a Presidenta propôs. 

Hoje de manhã, entusiasmado pelo evento da posse de ontem, resolvi dar uma passada pelo PIG-DEMO TUCANO, o paraíso da Teoria da Conspiração, a começar pela CBN-DT (Rádio CBN – Demo-Tucana) e fiquei muito tranquilo com o que ouvi, li nos instrumentos demo-tucanos e assisti em suas TVs. Apesar de não conseguir ficar mais de dois minutos em cada um deles, ouvindo, lendo e assistindo os urubólogos e urubólogas mexendo o caldeirão de satã com mais de 1000 pragas dentro, voltei ao mundo real bastante tranquilo, pois se eles pensam e pregam essa imagem do Brasil é porque tudo está e será diferente, afinal a bronca deles é porque não foi o playboy do Leblon que tomou posse ontem. Não estão preocupados com o país e sim com o fato deles terem perdido o “bonde” da história. A maioria da população brasileira provou que não se deixará manipular.

Parece até brincadeira, mas eles conseguiram encontrar 45 avaliações catastróficas no discurso da Presidenta Dilma. Imagino que foi para fazer jus a sua matriz ideológica. Começaram dizendo que o país que Dilma mostra e vive é um país do faz de conta, disseram que somos a 7ª economia do mundo e que terminaremos 2015 sendo a 8ª, passando pela equipe ministerial que para eles é um desastre, que o discurso da presidenta foi apenas fantasioso, que a roupa que ela usou na festa era brega, que o Brasil vai continuar a gastar somente com o social e que não vai investir no que interessa, que muitas indústrias vão falir e tantas outras desgraças para a elite branca, racista, homofóbica e que odeia pobres. Enfim, passaram a ideia de que o Brasil está falido sem nenhuma perspectiva de crescimento. Não conseguiram achar sequer nem uma virtude só coisas ruins que na visão deles aconteceram e que o pior ainda está por vir.

Assim meus caros, não que eu não ache que não vamos passar alguns momentos complicados, até porque a economia esta nas mãos deles e eles vão dificultar o máximo para o governo, mas uma coisa eu tenho certeza, muitos deles irão morrer do coração só de pensar que poderão ficar mais 12 anos sem passar nem perto do governo federal, sendo oito pós-Dilma. Quero deixar claro que também sou favorável à alternância de poder. Assim como eles ficaram 502 anos à frente das decisões do país, defendo que só fiquemos 500 anos e cada vez mais voltados à ideia de que as decisões finais saiam das assembleias populares. Saiam finalmente do povo que nunca teve vez e poderão afinal ter voz. Somente uma coisa não deve ser feita, imaginar que com a vitória de Dilma chegamos ao poder. Esse é o maior erro, pois chegamos ao governo central. O poder só chegará ao povo quando ele conquistar e não será com golpe e sim através dos setores organizados da população.

Já imaginaram quando eles souberem que o vice-presidente dos EUA veio ao evento da posse só para se reunir com Dilma a portas fechadas, para saber como o Brasil pode ajudar na nova parceria Cuba-EUA? Aí sim que os “coxinhas” irão pirar de vez. Nós em Cuba a passeio e eles indignados com os EUA. Que vão para o Afeganistão.

Da minha parte não vou urubuzar. Vou continuar torcendo para que tudo saia bem, principalmente para a população mais frágil, apenas afirmando que não se faz revolução apenas via governo, mas que podemos governar bem, avançar e escolher um lado. Uma revolução só se faz organizando a população, enfrentando o capitalismo selvagem e todos os seus colaboradores e criando aos montes lideranças comunitárias, para que apenas alguns não sequestrem o poder e transformem a maioria em “garrafinhas” a serem trocadas por mais poder. Qualquer semelhança com o que acontece hoje com alguns indivíduos até nos partidos de esquerda não e mera coincidência.

Além disso, vou continuar a dizer também que a nossa Presidenta com essa equipe, que imagino ter montado para que facilite o trânsito com o novo Congresso conservador, só conseguirá fazer o que está se propondo, a começar por uma ampla Reforma Política, se fizer uma transparente aliança popular com os Movimentos Sociais, criar mecanismos de comunicação independentes para que não fique refém do PIG, além de criar o habito de denunciar qualquer manobra golpista que para ela se apresentar.

Acredito que assim como eu, milhares de pessoas estão prontas para irem às ruas defender a Presidenta e o projeto que ela defende, mas para isso precisamos saber exatamente quem são nossos adversários e quem podemos chamar claramente de aliados.

Boa sorte Presidenta Dilma!


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

2015 poderá ser o ano da preparação da colheita




Do ponto de vista pessoal só tenho a agradecer. Afinal 2014 foi um ano e tanto. Não ganhei dinheiro, mas me empenhei no trabalho da Fundação Perseu Abramo e apesar de algumas pedras no caminho, ministrei 23 cursos em 8 estados, com 44 prefeituras presentes e 852 gestores. Juntando o trabalho de 2013 com 2014, agora já são quase 1600 gestores, técnicos, servidores, conselheiros, militantes políticos e lideranças comunitárias, que entraram na discussão do Plano de Governo e Ações para Governar e sonharam juntos por uma Nova Forma de Governar.

Ao fazer um balanço do ano de 2014 do ponto de vista político, vejo que os brasileiros mais ganharam do que perderam, mas, no entanto, após o período de democracia pós-golpe militar de 64, nunca tivemos um retrocesso político tão grande como o que tivemos esse ano. Realmente os monstros saíram da toca.

Vamos terminar ano de 2014 sem saber como será o comportamento em 2015 em termos políticos, econômicos e sociais. Quem de fato é de esquerda? Quem é de direita assumida? Quem está travestido só para confundir a população? Como conviver pacificamente com a ultradireita golpista que resolveu ir para as ruas pedir golpe militar e derrubar uma presidenta eleita democraticamente? Quais são de fato os governos que tem a coragem de governar com a população? Quem usa os mandatos para se beneficiar? O que fazer com o PIG – Partido da Imprensa Golpista, que tem lado e partido? Enfim... São muitas perguntas sem respostas precisas.

Eu diria que 2014 foi um ano para não ser esquecido durante um bom tempo. Porém, mesmo com o sufoco que foi o processo eleitoral, com características golpistas, hoje sabemos claramente quem tem compromisso com a democracia e quer um país livre das amarras dos EUA e do FMI e quem são os sabotadores da liberdade, os adeptos do nazi-fascismo e principalmente quem odeia pobres, nordestinos, homossexuais, etc. 

Em regras gerais era um ano, apenas para estarmos comorando mais uma vitória popular e dessa vez da única mulher que conseguiu se eleger e se reeleger Presidenta da Brasil e do outro a oposição decepcionada, mas, no entanto conformada com a derrota, afinal isso é a democracia. Porém, em nome da democracia (que deve ser avaliada de que democracia estamos falando), estamos comemorando sim esse grande feito, mas também em pé de guerra contra os habitantes das trevas, aqueles que querem golpe, impeachment e intervenção no processo democrático brasileiro, que já custou a vida de pelo menos algumas centenas de pessoas, além de termos esgotado todas as forças na luta contra a corrupção, que parece que se institucionalizou de vez.

Uma coisa é certa, na política não tem espaço para ingenuidade e muito menos para ingênuos. As regras são claras e esse sistema está falido. Ou se tem o povo participando do processo antes, durante e pós-eleitoral, ou terão que ter muito dinheiro para nutrir a indústria da eleição, com seus marqueteiros, os cabos eleitorais pagos e os seguradores de bandeiras. Chega a ser uma cena deprimente, pois muitos políticos chegam a dispensar os militantes para não serem incomodados na disputa interna e preferem as “garrafinhas”.

Enquanto não houver uma profunda Reforma Política, ampla, geral e irrestrita, que abale as estruturas corruptas do sistema e intervenha no custo das campanhas eleitorais, o chamado “Caixa Dois” será o único instrumento que a maioria dos políticos conhece para o alinhamento das disputas, apesar de ter algo novo no ar, além dos aviões de carreira, como bem dizia o Barão de Itararé. A lei anticorrupção (12.846/14) veio para punir corruptos e corruptores. Quem não acreditar é só ver como foi possível prender os donos das maiores empreiteiras do país. Foi e é fruto da lei sancionada pela Presidenta.

É inconcebível do ponto de vista humano, uma campanha eleitoral para deputado estadual custar entre 5 a 10 milhões de reais e para deputado federal de 10 a 15 nos grandes centros. Quem banca isso? De onde vem todo esse dinheiro? Como isso será pago? Quais os reais interesses dos financiadores? Para quem pensa assim e trilha por esse caminho, povo é a última palavra a ser pronunciada. Eleitores sim. Povo junto não! Cabos eleitorais sim. Militantes juntos jamais!

Vamos direto ao ponto. Um prefeito ou uma prefeita, de um partido que se diz de esquerda ou ainda popular, que não faz gestão participativa, ou seja, governa de gabinete, primeiro está traindo as convicções a que se propôs e segundo necessitará de muito dinheiro para tentar sua reeleição ou ainda para sua sucessão. A única forma de baixar o custo de uma campanha eleitoral é uma ampla aliança com a população. Essa aliança pode ser construída nos Fóruns Temáticos, nas Conferências, nos Encontros, nos Seminários, no Orçamento ou no PPA Participativos e em todos os canais criados para esse fim. O que não dá é ouvir que não se faz gestão participativa porque o povo não participa ou ainda porque não está preparado. A população não quer é ser enganada e espera o convite para participar.

Vou radicalizar ainda mais. Não dá para permitir que a velha mídia direitosa e partidária banalize a situação, que generalize afirmando que todos são iguais, ou ainda que todos roubem. Isso além de ser uma grande mentira, na verdade é um espelho da própria mídia, que morre de medo de ser avaliada e controlada por um conselho e que só defende quem na verdade se compromete financeiramente com ela. Tem muita gente séria querendo fazer o que é certo e sendo interrompida por lobistas ou aproveitadores de plantão. Além disso, tem muita gente fazendo belas coisas, gerando políticas públicas de alto valor social por esse Brasil afora. Só falta um espaço para ser divulgado.

Sem medo de errar posso afirmar que o ano de 2015 será muito melhor que 2014, pois a Presidenta Dilma foi reeleita, a expansão econômica continua e centenas de projetos já criados e outros em andamento ganharão vida nova e novos atores. Quem tem que fazer a parte deles é os prefeitos e prefeitas, governadores e governadoras, além do Congresso Nacional, que ao invés de surfar em ondas golpistas, poderá contribuir e muito para a melhoria da qualidade de vida da população, ao fazer novas leis e moralizar a casa expulsando figuras maléficas como esse deputado que se mostrou como um verdadeiro estuprador, por exemplo.

Imagino que a coisa será mais séria para os prefeitos e prefeitas, pois quem não fizer o que tem que ser feito nesse ano irá perder a reeleição ou a sucessão. Porém, para aqueles e aquelas que plantaram e continuarão a plantar, será o ano da preparação da colheita.

Termino o ano acreditando que dá para construir sonhos, tanto individuais como coletivos. Dá até para se comprometer com alguns deles, afinal todo militante de uma causa é antes de tudo um sonhador. O que não dá é para admitirmos e convivermos com pessoas que vendem ilusão, pois além de enganar muita gente, acaba matando talvez o último sonho de quem acabe de acordar para a realidade.

Do ponto de vista pessoal, vou entrar o ano novo entusiasmado, pois além do trabalho que faço atualmente de capacitação em gestão em determinadas prefeituras, irei prestar outros serviços de gestão e pesquisas, em parceria com outros profissionais, através da empresa A.L.C. Planejamento e Gestão, criada especificamente para esse fim.

Cada vez que ministro uma capacitação em alguma prefeitura do país, volto acreditando de fato que o melhor ainda está por vir, tamanho é o entusiasmo dos participantes.

Quero desejar a todos e todas que de alguma forma estiveram junto comigo nessa caminhada de militância de uma causa humanística, um Feliz Ano Novo de muita paz e de muitos projetos inovadores que possam incluir quem se encontram excluídos da sociedade.

Feliz 2015 para todos e para todas!
Antonio Lopes Cordeiro
Coordenador do Programa de Capacitação em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br

domingo, 21 de dezembro de 2014

Uma pequena vereda chamada Esperança



Quero iniciar esse post afirmando com plena convicção de que todo militante de uma causa é por princípio um sonhador e no decorrer de suas vidas vão tecendo seus sonhos ao fazerem novas pessoas também sonharem. É com esse sentimento que encerro meu trabalho na Fundação Perseu Abramo por esse ano, com a certeza de que de alguma forma, o trabalho colaborou para que muitas pessoas voltassem a sonhar e colocassem seus sonhos a serviços também de uma causa.

Ao lembrar-me dos 37 encontros em cidades sedes, realizados em 2013 e 2014 com os Cursos: Plano de Governo e Ações para Governar e Empreendedorismo Social e Economia Solidária da Fundação Perseu Abramo, as primeiras coisas que me vem à cabeça é que é impossível transformar a sociedade, cometendo os mesmos erros e desvios de conduta que os maus gestores cometeram e cometem e deles se alimentam, pois além de banalizar a máquina pública como uma terra de ninguém e a política como uma coisa somente para políticos de carreira, o ato de governar torna-se uma desagradável e cara brincadeira para a população. No entanto diante de velhos vícios e práticas muitas vezes desprezíveis, milhares de sonhadores e sonhadoras desafiam a lógica do poder vertical e constroem pequenas mudanças que fazem e farão grandes diferenças no futuro, pois por baixo de cada uma dessas mudanças existe um alicerce chamado participação popular.

Acredito que foi com esse intuito que na gestão do companheiro Marcio Pochmann, frente à Fundação Perseu Abramo, foi criado a Área do Conhecimento, composta pelo Laboratório de Gestão e Políticas Públicas e pelos Cursos de Mestrado, Pós-Graduação, Difusão do Conhecimento e pelo Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública nas prefeituras onde o PT está presente, com o principal objetivo de fortalecer o Modo Petista de Governar, Legislar e se relacionar com a sociedade.

Através do conhecimento, velhos padrões de governança vão sendo questionados e enfrentados, ao mesmo tempo em que se inicia um trabalho rumo a governância (entendida neste contexto, como o desafio de governar a várias mãos). Podemos até afirmar que de alguma forma está ocorrendo uma intervenção nesse emaranhado de códigos que é o poder, no sentido de desvendá-los e o mais importante é que isso possibilita atuar nas raízes dos problemas, que antes de serem de ordem política são culturais e de egos. O grande desafio na consolidação da mudança vem do fato de tornar uma política pública numa política de governo, onde a população se aproprie, como é o caso do Programa Bolsa Família, por exemplo.

A velha forma de fazer política no Brasil agoniza, ao perder completamente seus créditos, seja pela falta de interesse da população, que ouve, lê ou assiste todos os dias que política é uma coisa ruim e que todos os políticos são ladrões, pregados pelo PIG – Partido da Imprensa Golpista; seja pelo distanciamento provocado pela maioria dos gestores, independente do cargo que ocupam que querem a população bem longe para não atrapalhar seus escusos interesses; seja pela cultura mercantilista de como os parceiros de um governo se juntam para disputar uma eleição, onde o escambo fala mais alto; ou ainda pela banalização por muitos gestores no trato com o dinheiro público, que escoa pelo ralo da corrupção e resulta na péssima qualidade dos serviços prestados para a população. 

Essas práticas fazem com que cada vez mais a população se afaste do que é político e aposte todas as fichas em pessoas ao invés de projetos, além de escolher seus representantes pelo rótulo e não pelo conteúdo. Logo, a política que deveria ser um meio para mudanças importantes na qualidade de vida da população, passa a ser um grande negócio e uma porta sempre aberta para os aproveitadores de plantão. 

É importante não generalizar, pois no meio de tudo isso, valorosos homens e mulheres, se esforçam para fazerem um bom trabalho, mesmo sem conhecimentos técnicos e vão fazendo o que tem que ser feito. Alguns desses conseguem e não divulgam e outros às vezes não fazem por falta de condições objetivas, mas como estão próximos da população, através de um modelo de gestão participativo, minimizam os problemas e criam novos canais participativos de convivência.

É fundamental ressaltar ainda que há pouco mais de dez anos, não existia nenhum curso de gestão pública no Brasil. Apenas de políticas públicas, pois é muito mais fácil discutir políticas do que gestão, pois essa requer que se discuta também o modelo político-ideológico que a formatou e a mantém.

O conteúdo que formatamos para o curso de gestão “Plano de Governo e Ações para Governar” da Fundação Perseu Abramo leva os participantes a um longo debate sobre gestão e sobre o papel dos gestores e começa questionando a quem pertencem os mandatos. Normalmente a resposta encontrada é surpreendente, pois mesmo os participantes detectando que constitucionalmente pertence ao povo e pelo arranjo político também aos partidos da base aliada, em muitos casos chegam à conclusão de pertencem aos próprios gestores. Isso faz com que na prática haja um deslocamento de poder, que fica concentrado nas mãos de alguns iluminados, que acabam repetindo a velha máxima que alguns nascem para fazer e outros apenas para elegê-los.

Em outro momento do curso, a pergunta é se os gestores estão preparados para governar com a população, ou ainda se a população está preparada para atuar junto com o governo, desde que seja convidada. Em regras gerais os participantes respondem que não para as duas e também chegam à conclusão que em muitos governos, a forma mercantilista escolhida pelo grupo que governa, desde o processo de alianças, passando pela ampliação da base de apoio nas Câmaras Municipais, aliada a cultura do poder verticalizado, onde se elege um semideus para governar, impedem a integração de governo e torna cada parte da gestão pública numa nova prefeitura e, portanto em “caixinhas de poder” quase intransponíveis. Infelizmente esses fenômenos ocorrem na maioria dos municípios brasileiros. De quebra, por falta de planejamento, tudo passa a ser urgente.

Só há integração de governo quando os gestores se comprometem com o resultado final desse governo, ou seja, com o Plano Estratégico e só há participação reeducando a população para se apropriar de seus direitos.

Duas experiências, dentre outras poderiam ser citadas como exitosas, tanto no processo de participação como principalmente de integração de governo. A primeira na cidade de Artur Nogueira na gestão do Prefeito Marcelo Capelini, com a criação do Grupo Gestor de Integração e Planejamento e a segunda em Osasco na gestão do Prefeito Emídio de Souza com a criação da Sala de Gestão e Planejamento. Ambas as experiências são apresentadas no decorrer do curso e os participantes discutem se as gestões das suas cidades estão preparadas para experiências como essas.

Vale ressaltar que o curso não entra na discussão se os gestores presentes, principalmente os que encabeçam o processo, querem que a população de fato participe da formulação e do controle das políticas públicas, pois além de ser constrangedor, caso o prefeito ou a prefeita, ou ainda os secretários e secretárias caminhassem noutra direção. Até porque, seria inadmissível que uma prefeitura governada por um gestor do Partido dos Trabalhadores, negasse o direito de participação e de controle social, principalmente aos movimentos sociais organizados, principalmente porque o partido lutou muito para que esses direitos saíssem do papel institucional e virassem direitos indissolúveis. A Presidenta Dilma em seu Plano de Governo coloca a Participação Social a partir dos Conselhos de Base, como uma estrutura determinante na consolidação da democracia e das políticas de direitos.

Outra pergunta debatida no curso é um questionamento se o ato de governar é um meio para as mudanças efetivas necessárias na sociedade ou um fim em si mesmo. A maioria dos participantes chega à conclusão de que deveria ser um meio, sendo que para isso seria necessário que os gestores transformassem o seu dia a dia diante da máquina pública e na relação com a sociedade num ato de militância permanente, principalmente para não se deixassem seduzir pelo “canto da sereia”. Ou seja, muito dinheiro fácil a ser administrado e muito desconhecimento de controle por quem mais necessita. Essa é a combinação perfeita para o que Paulo Freire chamava do que é diabólico na política, onde o que é simbólico e necessário para a população, se não tiver participação cidadã, corre o risco de desaparecer ao longo do tempo, ficando apenas no visual da construção daquela tão sonhada ponte. 

Além de outros questionamentos durante seu percurso, o curso aprofunda o debate com a indagação de que sociedade temos e que sociedade queremos. Uma ampla reflexão entre o presente e o futuro. Entre os valores reais e os subjetivos, evitando que o “ter” passe a ter mais importância do que o “ser” e a necessidade da construção de uma sociedade inclusiva, justa, fraterna e igual para todos e todas esteja à frente de todas as políticas públicas e as ações de um governo. Esse tipo de análise ajuda bastante na formatação de um planejamento futuro do município, desenhando cenários de como a cidade deveria ser nos próximos dez ou vinte anos, além de comprometer os gestores frente à população. 

Em regras gerais, o curso é uma viagem no universo da máquina pública e no ato de governar. Nesse momento do curso os participantes chegam à conclusão de que ao tornar o ato de governar um meio para uma possível transformação na sociedade, descobrem também que para isso ocorra terão que lutar contra uma sociedade de plenos interesses, contra toda forma de discriminação, contra quem usa a máquina pública para se beneficiar ou para beneficiar sua próxima campanha eleitoral e principalmente contra o desconhecimento do jogo político, que produz os semideuses e os chefes de plantão como seus verdadeiros guardiões e afasta a população dos seus direitos e de entender minimamente sobre a política e sobre o papel dos políticos.

O impressionante é que tudo ocorre em nome da democracia. Potencializando-se a democracia representativa e obviamente fugindo da democracia participativa e direta. Desse universo vêm os avisos: “A população não está preparada para a participação”. “O povo votou em nós para que fôssemos seus legítimos representantes”. Assim, a participação fica apenas nas audiências públicas às 9 horas de uma manhã qualquer.


Ao levar os cursos a 37 cidades sedes, nas cinco regiões do país em 12 estados, atingindo um público presente de 176 prefeituras e quase 1600 gestores, técnicos, servidores, conselheiros, vereadores, militantes políticos e lideranças comunitárias, chego à conclusão de que uma revolução silenciosa está em curso. Mesmo com o fato de muitos prefeitos e prefeitas não participarem e às vezes nem mesmo todos os secretários e secretárias, a base do governo participa que é quem de fato põe a mão na massa e para esses o curso fará uma grande diferença, hoje, amanhã e sempre. Isso está expresso nas mais de 1500 avaliações, com um profundo agradecimento. 


No ano que se aproxima terá muito mais. O desafio agora é levar esse trabalho aos 26 estados brasileiros e fazer com que a Vereda chamada Esperança que leva as pessoas aos seus sonhos de possuírem uma vida digna, principalmente aos cidadãos e cidadãs que mais precisam, passe a ser o único caminho trilhado por homens e mulheres que governam, legislam ou se envolvem em atividades políticas e sociais em nome do Partido dos Trabalhadores.

Como dizia Paulo Freire, o que move a vida de um militante é a utopia de mudar radicalmente essa sociedade injusta juntando-se a companheiros e companheiras que transformam suas lutas do dia a dia no grande projeto de suas vidas. 

Acreditem – o melhor ainda está por vir.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br