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sábado, 9 de agosto de 2014

A paixão pela questão política e o compromisso com a população superando as dificuldades nos municípios






O Curso Plano de Governo e Ações para Governar da Fundação Perseu Abramo, desenvolvido a partir de várias experiências bem sucedidas dos governos petistas, busca entre outros assuntos relevantes, contextualizar o que deva ser na visão dos próprios gestores, o chamado Modo Petista de Governar. Modo esse, que a meu ver não se traduz simplesmente num manual de normas e procedimentos, ou ainda somente na oferta das diversas experiências bem sucedidas ao longo do tempo, mas na reflexão de a quem pertence os mandatos e ainda num profundo debate político de que sociedade temos e que sociedade queremos, a partir de cada município brasileiro.

Faz-se necessário na verdade, mergulhar de cabeça no universo e nos diversos cenários de cada gestão, nos problemas cotidianos, aproveitando o que de melhor já foi realizado e propondo novas ações. Uma ação de ensinar e aprender, onde cada gestão, a partir da cultura local, possa nos passar novos conhecimentos e novas ações e assim o curso ir assimilando novos valores num processo dialético de constante transformação.

Com isso, não podemos cair no risco de se tentar desconstruir qualquer tipo de ação já desenvolvida ou em desenvolvimento, a não ser que esteja em desacordo ético com o partido ou ainda o que imaginamos que o partido espera de cada gestor e gestão e sim possibilitar que as diversas experiências, possam na verdade criar um novo estímulo e apontar possibilidades de mudanças efetivas na qualidade da gestão, que resulte em melhores serviços para a população, principalmente a mais carente.

No debate ficam evidentes várias coisas. Entre elas, o fato de que a maioria dos gestores chega à conclusão que nem eles estão totalmente preparados para uma gestão participativa e nem mesmo a população está preparada para governar junto, o que faz com que discutam também o que e como fazer. Além disso, chegam também à conclusão de que um dos grandes desafios da gestão vem do fato da falta de integração do governo, que segundo eles nasce da cultura mercantilista existente na sociedade, do processo de alianças mal resolvidas, da vaidade de alguns gestores e principalmente, em alguns casos, da falta de determinação das mentes centrais dos governos em derrubar os muros existentes em cada espaço e implodir as “caixinhas de poder”. Um projeto estratégico de governo exige integração de todos os setores e de todos os colaboradores. 

Tenho afirmado aos prefeitos e prefeitas que comparecem nos cursos, de que quanto mais participação popular tiver em seus governos, mais barato irá custar a campanha para reeleição ou sucessão, assim como de que vale a pena governar para toda a população, mas estarem sempre ao lado da população mais fragilizada. Cito para essa afirmação, o que o ex-presidente Lula, quase no final de seu governo declarou para a imprensa: “Governo para todos, mas tenho lado”. Uma clara demonstração de quem usou o espaço de poder, para fazer com que a população mais pobre tivesse vez e voz.

São poucas as cidades governadas por prefeitos e vices, filiados ao Partido dos Trabalhadores. Uma chapa pura como chamamos. Normalmente são alianças compostas por vários partidos, o que faz com que seja necessária a criação de mecanismos como por exemplo um Conselho Político de Governo, como foi criado em Araraquara no Governo do Edinho e em outras localidades, capaz de democratizar o processo de gestão e também regular as insatisfações, ciúmes e ampliar o debate sobre o modelo de gestão que queremos. Essas alianças compõem na verdade um cenário do PT e seus aliados. Uns mais fáceis de trabalhar uma visão democrática e participativa e outros nem tanto. Porém, no final das contas saímos dos municípios com a certeza de que contribuímos para o fortalecimento daquela gestão, a partir de valores amplamente discutidos, onde prevalece à visão programática em detrimento à cultura mercantilista presente infelizmente, numa grande parte das administrações públicas no país.

Até o momento foram 32 encontros em cidades sedes, em 11 estados, com 167 cidades presentes e 1316 participantes. Entre eles prefeit@s, deputad@s, inúmer@s secretári@os e demais gestores, além de pessoas ligadas ao partido e conselheiros municipais. Quase por unanimidade, o curso foi avaliado, como sendo bom, ótimo e excelente pelos participantes que preencheram a avaliação, o que faz com que continuemos com esse método, até mesmo porque ele não é findo, vai se atualizando a cada encontro e nas diversas mudanças de conjuntura política, econômica e social. Além disso, a avaliação afirma que a metodologia e a didática atingiram perfeitamente os objetivo. Só tenho a agradecer a todos e todas que possibilitaram que tudo isso pudesse estar acontecendo.

Estivemos em todas as regiões do Brasil e só não chegamos a mais municípios onde o Partido dos Trabalhadores está presente na gestão, por motivos alheios à nossa vontade, que não vem ao caso discutir nesse espaço. Porém, como não desistimos jamais, com certeza, num breve espaço de tempo, chegaremos aos demais municípios para fortalecer o Partido dos Trabalhadores partido, as gestões e o Modo PeTista de Governar.

Grande parte dos municípios visitados vive a mesma situação econômica e social. As prefeituras acabam se transformando na maior empresa da cidade, colocando em risco a qualidade da gestão, pois muitas delas estão "inchadas", abrigando parentes e amigos dos políticos anteriores locais, além de muitos deles estarem comprometidos perante a Lei de Responsabilidade Fiscal, principalmente no que se refere ao teto da Folha de Pagamento, ou seja, nos 54% do Orçamento Público Municipal. Além disso, uma grande parte da população ainda se encontra vulnerável à pobreza, segundo dados da ONU, obrigando que a pauta municipal mais importante seja a criação de um Plano de Ação para o Desenvolvimento Econômico Social, como ponto de partida para todas as Políticas Públicas.

O fato que mais chama a atenção é que a maioria dos gestores e técnicos dos governos municipais vai aprendendo na prática, pois a formação em gestão pública é uma grande novidade nacional que não tem dez anos, inclusive no próprio Partido dos Trabalhadores, que sempre buscou atualizar esse referencial, mas somente nos últimos tempos foi possível sistematizar em termos de formação acadêmica para seus filiados: mestrado, pós-graduação e outros cursos de Extensão voltados à militância e aos gestores.

Na maioria dos casos, os gestores vão se virando com muita dedicação, compromisso e uma intensa paixão política pelo que fazem. Sabem os perigos e vícios que rondam o sistema, mas também sabem que se usarem bem o espaço técnico e político emprestados pelo povo, a partir do processo eleitoral, ficarão na história como alguém que fez o que tinha que ser feito quando era possível e mesmo que não continuem a partir do julgamento da maioria da população eleitora, para aqueles que entenderam essa nova forma de governar, serão sempre vistos como os que plantaram e um dia a população mais carente colherá.

Entre inúmeras avaliações sobre o curso, o Prefeito Zeca do pequeno e charmoso município de Santo Cristo no Rio Grande do Sul falou em seu comentário: “O curso que tem um bom conteúdo, poderia nem mesmo ter, pois o mais importante que ocorreu foi à possibilidade da realização de um grande debate político, coisa que todos nós estávamos precisando”. Enquanto isso, a Prefeita Bett Sabah de Rondolândia no Mato Grosso sempre diz em seus comentários sobre o trabalho que fizemos lá: “Os cursos (porque lá foram dois: gestão e economia solidária) possibilitam que todos nós façamos uma profunda reflexão sobre qual é nosso papel numa administração pública, ainda mais sendo uma Administração ligada ao nosso Partido dos Trabalhadores”.

Como paulofreiriano, aprendi que viver é isso. Aprender e ensinar. Ensinar e aprender. Um movimento simultâneo e contínuo que nos leva à reflexão de que não sabemos tudo, apenas uma pequena parte do todo. Estamos sempre aprendendo. Com um pouco de humildade podemos nos tornar alunos aplicados da própria vida.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A guerra invisível que a maioria da população nem fica sabendo

Figura: http://parolebrevi.wordpress.com/

Ao olhar do último andar de um prédio de qualquer cidade, a impressão que dá é de uma paz absoluta. Ainda mais se for à noite. Apenas um barulho típico de cidade nos vem de imediato e a confusão de luzes dos prédios, ruas, avenidas e os automóveis a circular.

Nem dá para imaginar que no meio de tudo que vemos ao longe, existe uma violência incontida, que afeta todos os segmentos da sociedade. Trata-se da violência urbana que já invade a rural. Algo ligado à modernidade, sem regras e sem limite. Uma verdadeira guerra entre o bem e o mal, além da guerra pela manutenção do poder.

Essa violência aliada ao descaso da maioria dos governantes mata uma mulher a cada duas horas, 72 jovens por dia, sendo 50 jovens negros, além de 115 mortes diárias por acidente de trânsito. Um pequeno resumo do caos urbano e rural, o que faz com que a questão da violência e de sua prevenção seja um dos assuntos mais discutidos, porém fica apenas no papel na maioria das cidades brasileira, sem contar que a polícia brasileira mata quatro vezes mais que a dos EUA. Em muitos casos mata pelo prazer de matar ou pela síndrome de Rambo.

Essa é a violência que se vê, porém existem muitas outras que está no dia a dia, no interior das instituições, como é o caso das crianças que simplesmente desaparecem e são assassinadas para venda de órgãos ou vendidas para famílias estrangeiras e as mulheres vitimizadas pelo crime sexual? No meio de tudo isso existe ainda a droga, onde os traficantes aliciam jovens indefesos em nome de uma vida fácil. A disputa é diária e à luz do dia.

Além de toda essa violência, vivemos numa sociedade alienada pelos meios de comunicação pertencentes a seis famílias abastadas e reféns da indústria da corrupção. A propina virou uma moeda de troca e os escândalos já não abalam os muitos empresários que são os verdadeiros corruptores, além dos corruptos, dependendo claro do volume arrecadado.

A grande dúvida na cabeça de grande parte da população, com relação às próximas eleições é quem votar. A imprensa golpista diz que todos são iguais e todos roubam e a falta de informação gera a insegurança de não se saber em quem está votando. Aí o resultado é votar em qualquer, visto que se vende a ideia de todos agem da mesma forma.

Só há uma saída. Quanto mais se pratica gestão participativa mais barato se torna uma eleição e quanto mais o cidadão participar e praticar seus direitos de participação e de gestão social, menos corruptos serão eleitos e mais corrutos serão desmascarados.

Afinal, quem tem um projeto de vida paga o preço. Quem tem um nome a zelar não aceita dinheiro fácil. Quem defende a humanidade não aceita ser financiado por quem a explora e quem usa o ato de governar como meio jamais usará para beneficio próprio e sim para mudar o que for necessário na sociedade. Romper com o sistema e criar uma nova sociedade.

O mais interessante é que parte dessa guerra invisível está nas redes sociais. Todos os dias se faz necessário se divulgar o óbvio para que o insano não prevaleça.

Portanto, na dúvida participe!


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Navegando nas águas dos Rios Amazonas e Pará em busca da troca de conhecimentos

Estive afastado do meu blog por alguns dias, simplesmente degustando o que significou uma incursão pelo Pará em três cursos de gestão pública nas cidades de Cametá, Gurupá e Almeirim e a troca de experiências com os povos da região. Foram mais de 40 horas de barco, lancha e balsa, 8 de ônibus e 4 num pequeno avião, além de taxi, moto táxi e os aviões de carreira. Uma verdadeira e ótima aventura.

Quando os companheiros da APA (Assessoria & Projetos da Amazônia) entraram em contato comigo, em busca de informações sobre como levar uma capacitação de gestão pública para algumas prefeituras do Pará, logo de pronto aceitei, primeiro pela dificuldade que tinha em chegar até essas prefeituras sem ajuda e segundo porque de fato tinha um enorme interesse em fazer um trabalho nesse Estado. Fui informado que o deslocamento era um tanto complicado, mas não imaginava a distância e muito menos o que significava viajar por mais de 20 horas num barco para o deslocamento de uma cidade para outra.  

Ao chegar a Belém, tudo estava pronto, desde o roteiro das viagens até os contatos com cada prefeitura. Em cada cidade um povo hospitaleiro nos aguardava.

São cidades simples em busca de desenvolvimento, com problemas de mobilidade urbana e rural, com mais da metade da população cadastrada no Programa Bolsa Família e alguma suspeita de que muitas delas possam ter mentido para o IBGE para não perderem o direito ao Programa, coisa que os gestores estão investigando e agindo. Ao encontrar famílias nessa situação, logo são tiradas do Programa, que é o que todos os gestores deveriam fazer em suas cidades, porém sabemos que muitos deles usam o Programa como moeda de troca de votos.

Quando nos deparamos com gestores tão interessados numa nova forma de governar e comprometidos com as causas humanistas, como foi o caso desses prefeitos e tantos outros que estiveram presentes nos 32 encontros que fizemos em cidades sedes, passamos a entender melhor a carência técnica existente para a maioria dos gestores que estão no comando das prefeituras, assim como da importância das capacitações em busca de um modelo de gestão: ético, integrado, transparente e participativo.

Há pouco menos de dez anos, quando iniciei estudos sobre gestão pública no Brasil, me deparei com a situação de que havia apenas 22 cursos no país e não de Gestão Pública, mas de Políticas Públicas, o que deixa claro de que esse era um campo de trabalho considerado como “terra de ninguém”, onde nem as universidades tinham o menor interesse nesse assunto.

Ainda hoje grande parte dos servidores de carreira é mal remunerada, não existe um plano de carreira e muito menos perspectivas de crescimento. Temos sugerido um Plano de Ação Participativo, onde se construa no processo da gestão uma Reforma Administrativa, capaz de profissionalizar a máquina pública e aumentar a eficiência e eficácia nos serviços oferecidos à população.

Só para ser ter uma ideia da situação, o primeiro curso de Gestão Pública e Social no Brasil foi lançado por nós no UNASP em 2010, a partir da experiência do Grupo Gestor de Integração e Planejamento da Prefeitura de Artur Nogueira, na gestão do Prefeito Marcelo Capelini. Dessa experiência nasceu também o primeiro Laboratório e diversos Cursos de Extensão Universitária na área de Gestão Pública.

O que mais me chamou a atenção foi a determinação dos gestores em busca de uma nova forma de governar, além de procedimentos para a moralização da máquina pública e da própria gestão.

Um dos temas mais discutidos nos cursos foi a possibilidade de formatarmos um Plano Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, onde fossem respeitadas e potencializadas as áreas de Economia Solidária, a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e o mercado formal.
Saímos de lá com a possibilidade de criarmos um Núcleo de Desenvolvimento com os três prefeitos, fazermos um Seminário com os demais prefeitos e prefeitas onde o Partido dos Trabalhadores estiver presente, como também uma possível parceria com a Universidade Federal do Pará, para formatação de produtos voltados aos Temas Ambientais. Tudo isso em parceria com a APA – Assessoria & Projetos da Amazônia.

Que o exemplo do Pará possa ser socializado com os demais gestores interessados e comprometidos com uma nova forma de governar.


Tenho plena convicção que aprendemos na mesma proporção que ensinamos e é essa troca que nos faz caminhar.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Tomara, só que não!

Assim seja, espero que, oxalá, ou simplesmente tomara. E tomara que não estejamos abusando muito desta palavra. O tomara não pode substituir nossas responsabilidades e nossas atitudes. Sim, há uma diferença entre aquilo que é passível de ser realizado por nós e aquilo que gostaríamos que acontecesse, mas que independe de nossas atitudes. Delimitar claramente cada caso pode não fácil em algumas situações, mas é preciso. Tomara que pelo menos até aqui este texto esteja sendo claro o suficiente.

A fé naquilo que se faz é sempre bem-vinda, pois é justo o sucesso daquele que ‘arregaça as mangas’ e ‘bota as mãos na massa’. Há muito tempo já se disse que ‘a fé sem obras é morta’, de modo que apenas torcer para que nossas vontades tornem-se realidade enquanto se espera de braços cruzados será em vão. O poeta já nos sugeriu: ‘quem sabe faz a hora, não espera acontecer’.

Muito esperamos e pouco fazemos. Queremos ser um país de primeiro mundo, queremos desenvolvimento, queremos educação, mas se pararmos bem pra pensar estamos só no tomara que tudo melhore e não fazendo nada de concreto para uma mudança de fato. Se cada um de nós não mudarmos, melhorarmos, nada muda, nada melhora.

Só pra não restar dúvidas: nem tudo depende de nós, diversos fatores nos influenciam e as circunstâncias e oportunidades não são homogêneas, de modo que o que é possível pra um pode não ser para o outro. Assumindo isso, vamos nos concentrar na idéia daquilo que é realizável, daquilo que é possível de ser feito e que poderia ajudar à nós mesmos a nos livrar de tantos ‘tomara’.

Podemos aplicar essa idéia para o convívio familiar, para os relacionamentos, trabalho, estudos, enfim, para a vida. Pequenas e grandes conquistas não caem do céu, é preciso estar no lugar certo e na hora certa, é preciso se preparar e estar sempre pronto.

Já que mergulhamos nessa discussão pretensiosamente filosófica, não há que se poupar outra idéia bastante profunda: o caminho se faz caminhando, e as alegrias do caminho rumo ao que se deseja, que se sonha, podem ser até maiores do que as alegrias da chegada, ou seja, talvez seja mais prazerosa o trajeto de subida da montanha do que simplesmente estar no cume.

Então não fiquemos parados, caminhemos! Não nos permitamos afundar na areia movediça da rotina e dos padrões fabricados e à nós impostos de maneira sutil. Tomara que haja mais questões do que certezas, e que sempre possamos nos permitir a autocrítica.

A comunicabilidade talvez seja a grande virtude e o grande mal dos nossos tempos. As possibilidades que a vida virtual nos abre podem nos estar fechando para o que é, de fato, importante. Podemos interagir com colegas distantes, conhecer pessoas novas, e isso é bacana, mas não podemos deixar passar a oportunidade de abraçar o amigo de perto. É legal e lícito acessar atalhos e utilizar modelos prontos, mas isso não pode ser empecilho pra que nós mesmos saibamos fazê-los. Não podemos confundir informação com conhecimento.

Se pensarmos no nosso bairro, nossa cidade, nosso Estado, no País, todos listaremos uma grande quantidade de problemas e de mudanças que gostaríamos que acontecessem, correto? A lista de problemas é extensa e todos nós; uns mais e outros menos; sabemos o que precisa ser mudado, mas o que não podemos é acreditar que tudo está perdido, que não há solução e então não nos comprometermos com mais nada. Não podemos ser egoístas à esse ponto, cruzar os braços e simplesmente deixar rolar. Talvez o nosso maior desafio seja mudar a idéia convencional de que ao votarmos escolhemos alguém para nos representar e só poderemos nos manifestar novamente quatro anos depois. Não, o que precisamos é construir instâncias para a maior participação, de modo que não decidam por mim, mas comigo.

Que nós nos comprometamos com o ideal transformador à partir de ações práticas. Está certo que o Governo Municipal, Estadual ou Federal pode não ser aquele que mais nos agrada e também não é mentira que podemos fazer muito pouco individualmente diante da força do grande capital. Mas tal fato não pode ser motivo para nos fazer encurvar ao senso comum, às falsas informações das redes sociais e às mídias convencionais tendenciosas.

Nelson Rodrigues foi categórico ao afirmar que "quem pensa com a maioria não precisa pensar". Portanto, não compre idéias prontas, vamos vestir a camisa do otimismo e do compromisso com nossos ideais, vamos deixar os ‘tomara’ de lado e começar a mudança que tanto queremos ver. Será que um dia nos livraremos de tantos ‘tomara’? Sinceramente: tomara!
           
Roberto Rodrigues
Economista, Especialista em Economia Social e do Trabalho, Mestrando em Desenvolvimento Econômico junto ao Instituto de Economia da UNICAMP, Professor do ISCA Faculdades e Economista Associado à LMX Investimentos.
rodriguesrobertto@yahoo.com.br


segunda-feira, 14 de julho de 2014

O que aprendemos com a Copa do Mundo do Brasil?


Quero iniciar essa breve reflexão, fazendo uma pequena análise sobre as manifestações de junho de 2013, que tem tudo a ver com o resultado da Copa, com o fracasso da seleção e com o desejo incondicional do PIG.

Apesar de aquelas manifestações terem nascido de uma reivindicação justa do Movimento Passe Livre, tomaram outro rumo a partir da violência policial em São Paulo e deram contorno por algum tempo, com a manipulação explicita dos meios de comunicação.

Em regras gerais, na essência do movimento estava a revolta da população, em especial dos jovens, contra a onda de corrupção que assola o país e o desprezo contra a política e os políticos, potencializado pela mídia que generaliza a situação, na medida em que vende a falsa ideia de que todos os políticos são ladrões ou ainda que a política seja uma coisa do mal.

Vários estudiosos escreveram sobre o assunto, principalmente sobre quem era os personagens das ruas, o que de fato buscavam e quem os tentou manipulá-los.

O que ficou evidente foi que o PIG – Partido da Imprensa Golpista (Termo usado para definir os 75% dos meios de comunicação: Rádios, TVs, Jornais e Revistas, pertencentes a seis famílias abastada, que fazem opção clara por partidos direitosos e seus candidatos e se colocam no período eleitoral contra qualquer candidato que represente algum partido mais à esquerda, principalmente o Partido dos Trabalhadores, ou ainda contra qualquer ação ou Política Pública que represente benefícios ou inclusão das pessoas menos favorecidas), enxergou nas manifestações uma grande possibilidade de passar a imagem de que o Brasil de Dilma e do PT estava um caos e as manifestações eram contra Dilma e, portanto pedindo mudanças radicais nas próximas eleições.

As próprias manifestações desmoralizaram essa imprensa, ao deixar claro que a luta era contra a corrução, que infelizmente atinge todos os partidos, principalmente pelo alto custo das campanhas eleitorais e alguns gestores que transformam sua gestão numa grande oportunidade de se dar bem financeiramente e não contra o Governo Federal.

A saga do PIG visando às próximas eleições vai longe. Nos últimos três meses ele se concentrou seus esforços, contra a Copa do Mundo, vendendo a ideia de que o país não estava preparado, de que havia gasto muito dinheiro e que esse poderia ter ido para a educação e para a saúde (como se os seus governantes ou gestores, tivessem feito a lição de casa em tempos anteriores ou na atualidade em inúmeros municípios ou estados), de que a infraestrutura não ia dar conta, de que era trágica a situação dos aeroportos, de que os estádios não iam ficar prontos e tantas outras coisas que confundiam a cabeça do povo e alimentava o ódio dos “coxinhas”. O PIG enxergou que se a Copa fosse um fracasso, seria uma ótima oportunidade para afirmar que o Governo Federal teria fracassado.

Todos os dias esses assuntos eram pautas dos principais jornais televisivos ou radiofônicos e programas diversos, jornais impressos, sites dos mais diversos e semanalmente em suas revistas, principalmente na inVeja ou na Isto É, passando a visão de que o Brasil não estava preparado para um evento como esse. Cansei de ouvir em minhas viagens para os cursos da Fundação Perseu Abramo, os chamados “Coxinhas” vociferarem: “Imagina esse aeroporto na Copa. Não vai aguentar, vais ser um caos. É um absurdo!”. O ápice dessa calhordisse ocorreu na abertura da Copa, quando a nossa Presidenta foi xingada de  forma vil.

Foi necessário que a imprensa mundial afirmasse que a Copa do Mundo do Brasil foi um sucesso para que o PIG embarcasse nessa onda, pelo simples fato de não ficar sozinha e passar a reconhecer que o Brasil recebeu bem seus convidados, que não aconteceu o caos que pregara, que não aconteceram as manifestações que queriam, etc. Uma verdadeira desmoralização para uma imprensa que está longe de ser livre dela mesma e que morre de medo de ser controlada por um Conselho Nacional de Comunicação.

Agora a bola da vez é a Seleção Brasileira. As duas derrotas renderão comentários negativos por muito tempo, pelo menos nos próximos noventa dias, que não por acaso chegará até as eleições.

Entrando num campo que não e de meu total conhecimento, porém como torcedor, arrisco-me a enumerar alguns palpites sobre o que está sendo chamado de fracasso:

1.  O mercado futebolístico brasileiro necessita de uma grande reforma, que vai desde a transformação dos clubes brasileiros em empresas, onde todos os jogadores, independentes de suas famas, tenham seus direitos como trabalhadores, passando pela valorização e chegando à formação de base que teria que ser obrigatória em todos os clubes.

2. Se de fato a CBF – Confederação Brasileira de Futebol representa o país em suas modalidades, se faz necessário uma composição de forças com o Governo Federal, talvez para evitar que apenas o mercado seja o protagonista, inclusive impondo condições aos próprios jogadores, através de seus patrocinadores.

3. É impossível a Seleção Brasileira de Futebol ter um pleno sucesso, sem base, sem regras e sem um projeto consistente, como vimos em outras seleções, que acumularam vários anos de trabalho com o mesmo técnico e com um grande trabalho de base. Além disso, se torna impossível manter uma base no Brasil, onde um mercado predatório destina as melhores condições para o exterior e nossos melhores jogadores vão e absorvem vários ensinamentos, que na prática vira uma grande “salada”, a ser digerida em tão pouco tempo de preparação.

Vimos na seleção campeã, que a maioria dos jogadores está em clubes na Alemanha e o técnico vem de várias temporadas.

A grande lição que a Copa nos deixou foi em primeiro lugar, que a Copa do Mundo no Brasil foi um sucesso, em várias áreas, em segundo que a mídia golpista foi desmoralizada e que nenhuma das pragas que jogaram contra o Governo Federal vingou e em terceiro, que o futebol brasileiro necessita de uma grande reforma, de moralização, de trabalho de base e principalmente de criação de um projeto que analise o passado, aprenda com o presente e se prepare para o futuro. 

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O que a derrota do Brasil na Copa do Mundo tem a ver com a falta de água no Sistema Cantareira?


Aos nossos olhos, um assunto como esse nada tem a ver uma coisa com a outra, porém para a velha mídia, para os membros do Partido da Imprensa Golpista (PIG), para aquela mídia que pertence a seis famílias abastadas, caso o Governador de São Paulo fosse do Partido dos Trabalhadores, teria sim, tudo a ver. 

Simplesmente iriam dizer na CBN, na TV Globo e Bandeirantes, em seus jornalecos direitosos e em suas revistas apócrifas, que o PT teria boicotado a chuva, através de um pacto com São Pedro e não tinha construído ao longo de vinte anos, nenhuma alternativa que assegurasse água para a população. Portanto seriam os únicos responsáveis. Como quem está no poder paulista há vinte anos é o PSDB, seus eternos candidatos, nada dizem ou se dizem, minimizam o máximo que puderem.

O cenário é o seguinte: Chega a ser profundamente lamentável observar como uma parcela da população brasileira é reacionária, direitosa, racista, homofóbica, machista e, sobretudo, a mentora intelectual do separatismo entre ricos e pobres.

Fica na verdade putíssima (desculpem o termo chulo), com as cotas raciais e de renda; com o trabalho com carteira assinada; com o valor do Salário Mínimo; com as casas do Minha Casa Minha Vida para os de baixa renda, que nesse caso, além da insatisfação em ver os pobres tendo suas casas próprias, várias empreiteiras ainda buscam pessoas pobres e impõem trabalho escravo; com o controle da economia; com tantas Escolas Técnicas e Universidades sendo construídas, com os Médicos do Programa Mais Médicos; com o fato do Brasil não depender dos EUA e do FMI e tantas outras coisas afirmativas e inclusivas, porém, o que eles ficam mais possessos é com o fato do PT estar no comando da Nação por três governos.

Dizem eles: Como um Partido com origem na classe trabalhadora, onde seu primeiro e segundo Presidentes foi um trabalhador semianalfabeto e uma mulher como a primeira Presidenta do País, governa, está bem avaliado, apesar dos urubus e com chance de ficar mais 12 anos no controle? Sim, porque depois de Dilma vem Lula de novo. Isso faz com que os reacionários, a elite racista e os raivosos de plantão, percam o sono e principalmente até o rumo de casa.

No fundo a birra deles é que o Brasil de hoje não se curva ao deus mercado e sim cria regras de convivência, privilegiando os trabalhadores.

Para quem precisa que se desenhem as coisas, vamos a alguns conceitos:

Reacionário: Que ou aquele que defende princípios ultraconservadores, contrários à evolução política, ou social. (Dicionário Aurélio)

Direitoso: Termo que se origina na concepção da Revolução Francesa, que nas assembleias, durante o debate sobre a Constituição, os deputados ligados à aristocracia e aos defensores da monarquia constitucional, bem como os membros da alta burguesia, sentavam-se à direita do plenário. Esse grupo ficou conhecido na França como os girondinos, em decorrência de serem provenientes principalmente da província de Gironda. Os girondinos, ou a Direita, defendiam que o processo revolucionário fosse interrompido, garantindo apenas as conquistas alcançadas até o momento, como a elaboração de uma Constituição e o voto censitário, destinado apenas aos ricos. O objetivo principal era consolidar as conquistas burguesas e evitar a radicalização da revolução.

Paulo Henrique Amorim, em seu site Conversa Afiada, escreveu um belíssimo texto denominado: Perfil de um reacionário. Você conhece algum? (http://www.conversaafiada.com.br/pig/2012/03/23/perfil-de-um-reacionario-voce-conhece-algum/).

O texto começa com a seguinte citação: O reacionário é, antes de tudo, um fraco. Um fraco que conserva ideias como quem coleciona tampinhas de refrigerante ou maços de cigarro tudo o que consegue juntar, mas só têm utilidade para ele. Nasce e cresce em extremos: ou da falta de atenção ou do excesso de cuidados. E vive com a certeza de que o mundo fora da bolha onde lacrou seu refúgio é um mundo de perigos, pronto para tirar dele o que acumulou em suposta dignidade.

Voltando ao futebol, acredito que o time do Brasil perdeu para ele mesmo, tanto pela teoria burocrata de seu técnico, pela falta de um goleador aguerrido e também pela pressão psicológica da mídia conservadora, que antes da seleção queria mesmo era que a Copa fosse um fracasso para jogar nas costas da Presidenta Dilma e com isso tentar virar o jogo das eleições.

Sobre a falta d´água do Sistema Cantareira, fica evidente que o PSDB, nas figuras de Covas, Serra e principalmente Alckmin, se preocupou apenas em propagandas para vender o “nada” e se esqueceram do óbvio que era criar uma alternativa para evitar esse vexame em cima da hora. Não quero nem falar nos 12 bilhões de reais de propinas, já estimados no escândalo do propinoduto do metrô e dos trens paulistas, que só foi descoberto devido à denúncia da Siemens. 

Na verdade, a maioria da sociedade brasileira vive um grande conflito. Por um lado acha injusto o voto obrigatório, que também acho, votando em pretensos representantes, sem ao menos conhecê-los, por falta de participação e por outro fica refém da mídia das seis famílias, que representa o quarto poder, vendendo a imagem de que todo político é ladrão e política é uma coisa ruim, com o claro intuito de afastar a população do mundo da política, voltando para aquela alusão antiga de que política, religião nem futebol se discutem.

Enquanto o povo não descobrir que começo, meio e fim das questões políticas está em suas mãos, onde a participação ativa nas decisões políticas, que é um direito, poderia limpar do mundo do poder, tanto aqueles que usam o povo para se auto beneficiarem, como principalmente aqueles que tratam a população como “garrafinhas” a serem negociadas no processo eleitoral.

Garrafinhas do Brasil uni-vos. Quem nos trata como “garrafinhas” não nos representam.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com






domingo, 6 de julho de 2014

Quem nunca ouviu de um gestor: “Aqui não adianta, o povo não quer participar”?


É comum ouvirmos de vários gestores, em várias partes do país, as seguintes frases: “Você não conhece essa cidade. Nessa cidade ninguém se interessa por participação”. “Aqui, pode chamar. Não vem ninguém”.

Lembro-me das palavras de algumas pessoas quando estávamos iniciando os trabalhos em 2009, para criação do Grupo Gestor de Integração e Planejamento, na cidade de Artur Nogueira, no governo do Prefeito Marcelo Capelini. “Essa cidade tem 60 anos e sempre foi assim. Ninguém participa. Não há o menor interesse por parte da população em nada que for do governo”. Eram palavras desanimadoras.

Fingindo que não ouvia, pois não era relevante perto da nossa tarefa, simplesmente fomos fazendo. A primeira surpresa ocorreu quando a Secretaria de Planejamento Estratégico e Desenvolvimento Sustentável, que eu secretariava, chamou o I Encontro de Economia Solidária no dia 20 de agosto de 2009, das 8 às 13 horas, uma quinta feira chuvosa e vieram mais de 250 pessoas. A segunda, ainda mais improvável, que era um Encontro com os empresários, que nunca tinham participado de nada em termos de governo. O I Encontro de Negócios teve a participação de 128 empresários, numa quarta feira à noite.

Quebrando todos os mitos de forma definitiva, o Grupo Gestor de Integração e Planejamento promoveu em 40 meses de trabalho, nada mais, nada menos, do que 51 eventos de forma direta e participou de mais 20 organizados por outros setores do governo, sendo a extrema maioria deles pela primeira vez. Algo impensável para os participantes da primeira reunião no dia 20 de março de 2009.

O evento menos expressivo ocorreu com os próprios empresários, no dia 25 de novembro, à noite, com a participação de apenas 25 deles. Como não havia uma agenda única de eventos socializada com todos os setores do governo, pois o Departamento de Cultura controlava de forma exclusiva, sem lembrar, estávamos concorrendo com a Missa da Padroeira da cidade e a maioria dos empresários foi à missa e mandaram justificar.


No curso de Gestão Pública que tenho ministrado pela Fundação Perseu Abramo, tenho feito uma ampla reflexão sobre o assunto e às vezes chegamos à conclusão de que isso ocorra, pelo simples fato de que algumas pessoas quando estão no exercício de governar, esquecem que vieram do povo. Simplesmente eles não se consideram como seres normais da sociedade e sim pessoas iluminadas, que recebeu a "luz" para conduzir os anseios, sonhos e destino da população. Normalmente quando saem do poder entram em crise, por não entenderem que a “luz”, que foi emprestada pelo povo, simplesmente apagou.

Outra reflexão possível vem do fato desses gestores acharem que se não tem nada de novo para dizer, ou ainda, que se não há recursos suficientes para investimentos, o melhor é calar. Acho que esse seria um dos grandes motivos para o encontro com a população e junto com ela, discutir o Orçamento, seja pelo PPA (Plano Plurianual) ou ainda pelo OP (Orçamento Participativo). Expor a situação, contar como está a máquina pública ou ainda de forma transparente pactuar com a população as possibilidades ou a falta delas.

Os representantes eleitos que vieram das lutas sociais e que não traíram e não traem suas convicções, em regras gerais, têm menos problemas de entendimento do direito à Participação e de Controle Social, pois também reivindicavam quando estavam do outro lado, porém os que fizeram da política uma carreira profissional ou ainda que vieram de camadas econômicas privilegiadas, jamais entenderão de que todas as Políticas Públicas tem origem na sociedade e terão que voltar em termos de benefícios, para e com os atores envolvidos, desde a formatação, até o monitoramento visando os resultados finais. Isso é democracia.

Um dos grandes males da democracia representativa, que está em crise, é que em regras gerais, pela falta de participação, os ditos representantes da população, na verdade não representam ninguém. Só eles mesmos.

Outro grande mal pela falta de participação vem do fato de que uma grande parte da população se coloca à venda no período eleitoral. Normalmente esse contingente de pessoas pensa assim: “Se sou obrigado a votar, voto naquele ou naquela que me oferecer a melhor vantagem”. Isso teria que ser banido do processo eleitoral e democrático e dito em alto e bom som: É UMA DAS FORMAS DE CORRUPÇÃO POLÍTICAS E SOCIAL.

Caso você, caro leitor ou leitora, seja gestor ou gestora, aí vão dois caminhos possíveis: o primeiro, fortalecendo o senso comum de que política e religião não se discutem e aí essa mentira se justificar pela falta de participação em seu governo e o segundo, saindo do gabinete e governando junto com a população e para isso se faz necessário educar a população para a participação.

Nesse processo não podem ser esquecidos: primeiro de que nem sua equipe poderá estar preparada para governar junto com a população e nem a população aprendeu como participar de qualquer ação de governo e segundo que ao não convidar a população para governar junto, seja através dos Fóruns ou ainda pelas instâncias representativas, corre-se o risco de fortalecer a ideia disseminada pelo PIG de que todos os políticos roubam e que a política é uma coisa ruim.

Como dizia Rousseau: “Uma sociedade só é democrática quando: ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém for tão pobre que tenha de se vender a alguém”.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

sábado, 5 de julho de 2014

O abismo do passado ronda o presente nas próximas eleições nacionais


Caros amigos todo cuidado é pouco. A vitória da oposição significa a volta dos tempos das trevas. Sem emprego, sem casas, sem universidade para os filhos dos pobres e pessoas negras, sem médicos e principalmente a volta do FMI e dos EUA mandando no país. Por quê? Vou tentar explicar em poucas palavras.

Lembro como se fosse hoje, quando voltamos de São Bernardo do Campo para Belo Jardim em Pernambuco, a cidade que nascemos, depois de 10 anos de tempos muito complicados.

Meu avô paterno, que por sinal era irmão do meu avô materno, era uma figura fantástica. Certo dia, ao perceber que eu me interessava pelas questões políticas, me chamou de lado e me disse: “Meu filho, tome muito cuidado, pois aqui nessa cidade, até os sinos batem: ladrão, ladrão, ladrão...”. Num primeiro momento achei muito engraçado o que acabara de ouvir, mas aos poucos fui entendendo o que ele quis me dizer e a preocupação para que eu não me juntasse aos políticos tradicionais da cidade. Todos “bichados” no seu entendimento.

Só para se ter uma ideia, na época na cidade tinha apenas a Arena 1 e a Arena 2 e só depois de muito tempo é que o MDB começou  a ser criado. Os políticos de carreira locais estavam todos perfilados na Arena. Brigavam na frente do povo, no sentido de mostrar que eram diferentes, mas longe dos olhos da população defendiam a mesma coisa e eram coniventes com tudo que dava sustentação à ditadura militar. Apenas brigavam por aquele espaço de poder.

Nessa época, nos idos de 70, era proibido pensar e principalmente agir. Algo como o cenário descrito no filme “1984”. A polícia do pensamento, representada pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e o SNI (Serviço Nacional de Informação), com base na LSN (Lei de Segurança Nacional), podia estar em toda parte. Enquanto havia padres que resistiam e lutavam pela democracia, seguindo o caminho de D. Helder Câmara e eram tratados como subversivos, tinham outros que faziam o triste papel de espiões e entregavam suas “ovelhas” para os torturadores. As pessoas iam se confessar e de repente sumiam e ninguém nem imaginava o que acontecera com elas. O inferno deve tá cheio deles.

Quando resolvi naquele ano, incentivado pelo Padre Reginaldo, apoiar para Senador, Marcos Freire do MDB, sem perceber tinha escolhido meu caminho ideológico. A partir de então, estava pronto para lutar por liberdade, justiça e igualdade para todos e todas.

Meu avô Sebastião, podia não ter convicção de esquerda e direita, mas tinha a percepção de que aquelas figuras que oscilavam no poder, não o representavam. Isso era o bastante para ele saber o que estava falando.

As próximas eleições nacionais, não podem ser encaradas como mais uma no processo democrático, pois carregam um símbolo de ruptura com passado e principalmente compromisso com o futuro. As diferenças são tantas que parece outro país, se comparado com o de doze anos atrás, quebrado, endividado e servil, tanto aos EUA, como principalmente ao FMI e ao Clube de Paris.

Em regras gerais, a luta concreta será contra os antigos colaboradores da ditadura, ou ainda contra os travestidos de democratas, porém de corpo e alma na “Casa Grande”, com propostas neoliberais no sentido de fortalecer o “Estado Mínimo”. Querem de volta o Exército Industrial de Reserva, que é aquela massa de desempregados, que os ajudam a controlar o mercado.

Nas entrelinhas o que está jogo é a qualidade de vida de uma enorme parcela da população brasileira, que enquanto os representantes da “Casa Grande” estiveram no poder central, trataram essa parcela do povo brasileiro como “Senzala”, suprimindo direitos básicos e conquistas históricas, aprofundando cada vez mais o processo de desigualdades e de exclusão econômica e social.

De um lado, Dilma e seus aliados representa a continuidade dos avanços econômicos e sociais que o país está colhendo desde 2003 e do outro, os demais candidatos que concorrem ao cargo, representam a volta ao passado, no sentido de fortalecer os latifundiários, o grande capital e a ameaça constante de intervenção nas conquistas dos trabalhadores. O homem de economia do candidato Aécio Neves já anunciou: “O salário mínimo no Brasil está muito alto”.
Lula e Dilma Roussef promoveram mais de 100 Conferências Nacionais e tornaram os principais Conselhos Nacionais em deliberativos. Uma clara demonstração de quem não tem medo da população organizada e nem de gestão participativa.

Como disse o Ex-Presidente Lula em recente entrevista à Revista Carta Capital, estamos vivendo uma grande revolução silenciosa. Ele pergunta: “Como explicar que em 100 anos o Brasil conseguiu chegar a 3 milhões de estudantes em universidades e nos últimos 12 vamos chegar a 7,5 milhões? Ou ainda que de 1909 até 2002 fossem construídas apenas 140 Escolas Técnicas e nos últimos 12 já foram 422, ou seja, três vezes o número alcançado em um século, além de 18 Universidades Federais e 146 Campis”.

Nesse legado a serviço da população mais frágil existem números impressionantes. Vamos a 13 deles:
  1. Números do Projeto São Francisco:
    • 110 mil operários empregados
    • 60% de execução das obras
    • Mais de 3 mil máquinas em funcionamento
    • Projeto orçado em 8,2 bilhões de reais
    • 477 km de extensão formando dois canais
    • 12 milhões de pessoas beneficiadas
    • 9 estações de bombeamento
    • 27 reservatórios
    • 4 túneis de transporte de água
    • 14 aquedutos
    • 390 cidades receberão água do projeto nos estados de: PE, CE, PB e RN
    • 38 programas ambientais
    • 1 bilhão investidos em ações socioambientais
    • A cada 1 real investido, outros 3 são aplicados em obras para garantir a segurança hídrica no nordeste
  2. O Programa Ciências Sem Fronteiras abriu oportunidades para 65 mil jovens estudarem no exterior.
  3. 75% dos Royalties do Pré-Sal destinados à educação.
  4. O Pronatec deve chegar até o final desse ano a 8 milhões de pessoas formadas.
  5. O programa Mais Médicos conta hoje com 14 mil profissionais, sendo 9 mil estrangeiros e atuando nos mais distantes pontos do país.
  6. Em 2002 tínhamos 36 milhões de passageiros de avião hoje são 112 milhões.
  7. Em 2003 o Brasil era a 15ª Economia do Mundo e hoje é a 6ª. Subimos 9 postos com Lula e Dilma.
  8. De 2003 a 2013 o Salário Mínimo teve um aumento real de 72,35% acima da inflação. Com FHC valia 112,23 dólares e em 2014 valerá 364,25.
  9. Em 10 anos o Luz para Todos já beneficiou 15 milhões de brasileiros.
  10. O Programa Bolsa Família atende hoje 13,8 milhões de famílias, beneficiando 50 milhões de pessoas. 75,4 dos beneficiários estão no mercado de trabalho.
  11. Nos últimos doze anos foram gerados 20 milhões de empregos com carteira assinada.
  12. Números do Programa Minha Casa Minha Vida: 3.408.184 Contratados – 1.465.321 em Obras – 2.038.704 Concluídas e 1.702.070 Entregues.
  13. As Cotas Raciais e de Renda são um sucesso, inclusive com médias superiores a dos não cotistas.
A vitória de Dilma em 2014 significa nada mais, nada menos que a continuidade da ascensão da população pobre desse país e isso na prática significa oportunidades concretas para quem nunca teve. Sua derrota significaria a volta da exclusão e o aprofundamento das desigualdades que reinaram por 502 anos na história do país.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com