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domingo, 21 de dezembro de 2014

Uma pequena vereda chamada Esperança



Quero iniciar esse post afirmando com plena convicção de que todo militante de uma causa é por princípio um sonhador e no decorrer de suas vidas vão tecendo seus sonhos ao fazerem novas pessoas também sonharem. É com esse sentimento que encerro meu trabalho na Fundação Perseu Abramo por esse ano, com a certeza de que de alguma forma, o trabalho colaborou para que muitas pessoas voltassem a sonhar e colocassem seus sonhos a serviços também de uma causa.

Ao lembrar-me dos 37 encontros em cidades sedes, realizados em 2013 e 2014 com os Cursos: Plano de Governo e Ações para Governar e Empreendedorismo Social e Economia Solidária da Fundação Perseu Abramo, as primeiras coisas que me vem à cabeça é que é impossível transformar a sociedade, cometendo os mesmos erros e desvios de conduta que os maus gestores cometeram e cometem e deles se alimentam, pois além de banalizar a máquina pública como uma terra de ninguém e a política como uma coisa somente para políticos de carreira, o ato de governar torna-se uma desagradável e cara brincadeira para a população. No entanto diante de velhos vícios e práticas muitas vezes desprezíveis, milhares de sonhadores e sonhadoras desafiam a lógica do poder vertical e constroem pequenas mudanças que fazem e farão grandes diferenças no futuro, pois por baixo de cada uma dessas mudanças existe um alicerce chamado participação popular.

Acredito que foi com esse intuito que na gestão do companheiro Marcio Pochmann, frente à Fundação Perseu Abramo, foi criado a Área do Conhecimento, composta pelo Laboratório de Gestão e Políticas Públicas e pelos Cursos de Mestrado, Pós-Graduação, Difusão do Conhecimento e pelo Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública nas prefeituras onde o PT está presente, com o principal objetivo de fortalecer o Modo Petista de Governar, Legislar e se relacionar com a sociedade.

Através do conhecimento, velhos padrões de governança vão sendo questionados e enfrentados, ao mesmo tempo em que se inicia um trabalho rumo a governância (entendida neste contexto, como o desafio de governar a várias mãos). Podemos até afirmar que de alguma forma está ocorrendo uma intervenção nesse emaranhado de códigos que é o poder, no sentido de desvendá-los e o mais importante é que isso possibilita atuar nas raízes dos problemas, que antes de serem de ordem política são culturais e de egos. O grande desafio na consolidação da mudança vem do fato de tornar uma política pública numa política de governo, onde a população se aproprie, como é o caso do Programa Bolsa Família, por exemplo.

A velha forma de fazer política no Brasil agoniza, ao perder completamente seus créditos, seja pela falta de interesse da população, que ouve, lê ou assiste todos os dias que política é uma coisa ruim e que todos os políticos são ladrões, pregados pelo PIG – Partido da Imprensa Golpista; seja pelo distanciamento provocado pela maioria dos gestores, independente do cargo que ocupam que querem a população bem longe para não atrapalhar seus escusos interesses; seja pela cultura mercantilista de como os parceiros de um governo se juntam para disputar uma eleição, onde o escambo fala mais alto; ou ainda pela banalização por muitos gestores no trato com o dinheiro público, que escoa pelo ralo da corrupção e resulta na péssima qualidade dos serviços prestados para a população. 

Essas práticas fazem com que cada vez mais a população se afaste do que é político e aposte todas as fichas em pessoas ao invés de projetos, além de escolher seus representantes pelo rótulo e não pelo conteúdo. Logo, a política que deveria ser um meio para mudanças importantes na qualidade de vida da população, passa a ser um grande negócio e uma porta sempre aberta para os aproveitadores de plantão. 

É importante não generalizar, pois no meio de tudo isso, valorosos homens e mulheres, se esforçam para fazerem um bom trabalho, mesmo sem conhecimentos técnicos e vão fazendo o que tem que ser feito. Alguns desses conseguem e não divulgam e outros às vezes não fazem por falta de condições objetivas, mas como estão próximos da população, através de um modelo de gestão participativo, minimizam os problemas e criam novos canais participativos de convivência.

É fundamental ressaltar ainda que há pouco mais de dez anos, não existia nenhum curso de gestão pública no Brasil. Apenas de políticas públicas, pois é muito mais fácil discutir políticas do que gestão, pois essa requer que se discuta também o modelo político-ideológico que a formatou e a mantém.

O conteúdo que formatamos para o curso de gestão “Plano de Governo e Ações para Governar” da Fundação Perseu Abramo leva os participantes a um longo debate sobre gestão e sobre o papel dos gestores e começa questionando a quem pertencem os mandatos. Normalmente a resposta encontrada é surpreendente, pois mesmo os participantes detectando que constitucionalmente pertence ao povo e pelo arranjo político também aos partidos da base aliada, em muitos casos chegam à conclusão de pertencem aos próprios gestores. Isso faz com que na prática haja um deslocamento de poder, que fica concentrado nas mãos de alguns iluminados, que acabam repetindo a velha máxima que alguns nascem para fazer e outros apenas para elegê-los.

Em outro momento do curso, a pergunta é se os gestores estão preparados para governar com a população, ou ainda se a população está preparada para atuar junto com o governo, desde que seja convidada. Em regras gerais os participantes respondem que não para as duas e também chegam à conclusão que em muitos governos, a forma mercantilista escolhida pelo grupo que governa, desde o processo de alianças, passando pela ampliação da base de apoio nas Câmaras Municipais, aliada a cultura do poder verticalizado, onde se elege um semideus para governar, impedem a integração de governo e torna cada parte da gestão pública numa nova prefeitura e, portanto em “caixinhas de poder” quase intransponíveis. Infelizmente esses fenômenos ocorrem na maioria dos municípios brasileiros. De quebra, por falta de planejamento, tudo passa a ser urgente.

Só há integração de governo quando os gestores se comprometem com o resultado final desse governo, ou seja, com o Plano Estratégico e só há participação reeducando a população para se apropriar de seus direitos.

Duas experiências, dentre outras poderiam ser citadas como exitosas, tanto no processo de participação como principalmente de integração de governo. A primeira na cidade de Artur Nogueira na gestão do Prefeito Marcelo Capelini, com a criação do Grupo Gestor de Integração e Planejamento e a segunda em Osasco na gestão do Prefeito Emídio de Souza com a criação da Sala de Gestão e Planejamento. Ambas as experiências são apresentadas no decorrer do curso e os participantes discutem se as gestões das suas cidades estão preparadas para experiências como essas.

Vale ressaltar que o curso não entra na discussão se os gestores presentes, principalmente os que encabeçam o processo, querem que a população de fato participe da formulação e do controle das políticas públicas, pois além de ser constrangedor, caso o prefeito ou a prefeita, ou ainda os secretários e secretárias caminhassem noutra direção. Até porque, seria inadmissível que uma prefeitura governada por um gestor do Partido dos Trabalhadores, negasse o direito de participação e de controle social, principalmente aos movimentos sociais organizados, principalmente porque o partido lutou muito para que esses direitos saíssem do papel institucional e virassem direitos indissolúveis. A Presidenta Dilma em seu Plano de Governo coloca a Participação Social a partir dos Conselhos de Base, como uma estrutura determinante na consolidação da democracia e das políticas de direitos.

Outra pergunta debatida no curso é um questionamento se o ato de governar é um meio para as mudanças efetivas necessárias na sociedade ou um fim em si mesmo. A maioria dos participantes chega à conclusão de que deveria ser um meio, sendo que para isso seria necessário que os gestores transformassem o seu dia a dia diante da máquina pública e na relação com a sociedade num ato de militância permanente, principalmente para não se deixassem seduzir pelo “canto da sereia”. Ou seja, muito dinheiro fácil a ser administrado e muito desconhecimento de controle por quem mais necessita. Essa é a combinação perfeita para o que Paulo Freire chamava do que é diabólico na política, onde o que é simbólico e necessário para a população, se não tiver participação cidadã, corre o risco de desaparecer ao longo do tempo, ficando apenas no visual da construção daquela tão sonhada ponte. 

Além de outros questionamentos durante seu percurso, o curso aprofunda o debate com a indagação de que sociedade temos e que sociedade queremos. Uma ampla reflexão entre o presente e o futuro. Entre os valores reais e os subjetivos, evitando que o “ter” passe a ter mais importância do que o “ser” e a necessidade da construção de uma sociedade inclusiva, justa, fraterna e igual para todos e todas esteja à frente de todas as políticas públicas e as ações de um governo. Esse tipo de análise ajuda bastante na formatação de um planejamento futuro do município, desenhando cenários de como a cidade deveria ser nos próximos dez ou vinte anos, além de comprometer os gestores frente à população. 

Em regras gerais, o curso é uma viagem no universo da máquina pública e no ato de governar. Nesse momento do curso os participantes chegam à conclusão de que ao tornar o ato de governar um meio para uma possível transformação na sociedade, descobrem também que para isso ocorra terão que lutar contra uma sociedade de plenos interesses, contra toda forma de discriminação, contra quem usa a máquina pública para se beneficiar ou para beneficiar sua próxima campanha eleitoral e principalmente contra o desconhecimento do jogo político, que produz os semideuses e os chefes de plantão como seus verdadeiros guardiões e afasta a população dos seus direitos e de entender minimamente sobre a política e sobre o papel dos políticos.

O impressionante é que tudo ocorre em nome da democracia. Potencializando-se a democracia representativa e obviamente fugindo da democracia participativa e direta. Desse universo vêm os avisos: “A população não está preparada para a participação”. “O povo votou em nós para que fôssemos seus legítimos representantes”. Assim, a participação fica apenas nas audiências públicas às 9 horas de uma manhã qualquer.


Ao levar os cursos a 37 cidades sedes, nas cinco regiões do país em 12 estados, atingindo um público presente de 176 prefeituras e quase 1600 gestores, técnicos, servidores, conselheiros, vereadores, militantes políticos e lideranças comunitárias, chego à conclusão de que uma revolução silenciosa está em curso. Mesmo com o fato de muitos prefeitos e prefeitas não participarem e às vezes nem mesmo todos os secretários e secretárias, a base do governo participa que é quem de fato põe a mão na massa e para esses o curso fará uma grande diferença, hoje, amanhã e sempre. Isso está expresso nas mais de 1500 avaliações, com um profundo agradecimento. 


No ano que se aproxima terá muito mais. O desafio agora é levar esse trabalho aos 26 estados brasileiros e fazer com que a Vereda chamada Esperança que leva as pessoas aos seus sonhos de possuírem uma vida digna, principalmente aos cidadãos e cidadãs que mais precisam, passe a ser o único caminho trilhado por homens e mulheres que governam, legislam ou se envolvem em atividades políticas e sociais em nome do Partido dos Trabalhadores.

Como dizia Paulo Freire, o que move a vida de um militante é a utopia de mudar radicalmente essa sociedade injusta juntando-se a companheiros e companheiras que transformam suas lutas do dia a dia no grande projeto de suas vidas. 

Acreditem – o melhor ainda está por vir.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

De que lado você está?



O dia 31 de março de 1964 ficou marcado na minha memória como o dia em que ouvi um estrondoso tiro de canhão e o som daquele tiro ainda hoje está presente na minha memória. Uma criança de apenas dez anos de idade assustada pela voz da ditadura.

Por certo esse tiro isso não ocorreu, mas o terrorismo plantado através do rádio, que era o único veículo de comunicação da época presente na vida dos brasileiros, foi de extrema eficiência. A voz de Ranieri Mazzilli, então Presidente da Câmara de Deputados, anunciando que João Goulart tinha abandonado a Nação e que o cargo de Presidente da República estava vago, era a dose certa para espalhar o medo e iniciar o terrorismo, tudo em nome da luta contra o comunismo e da restauração da ordem. 

Sem querer descrever a história, que se encontra em detalhes em alguns livros e hoje através das redes sociais e da internet, vale lembrar que tudo isso ocorreu após a renúncia de Jânio Quadros, que morreu dizendo que “forças ocultas” lhe fizeram renunciar, aonde uma das possibilidades desse fato vem da Loja P2 da maçonaria e João Goulart como seu vice assume o cargo e faz uma das maiores reformas que o pais já realizara, finalizando com a decretação da Reforma Agrária e a nacionalização das refinarias estrangeiras de petróleo.

Os medos da época? As posições de Jango consideradas de esquerda, que planejava Reformas de Base, que visavam reduzir as desigualdades econômicas e sociais. Com isso, a elite econômica da época temia que tais medidas afetasse seu poder econômico e assim faziam de tudo para enfraquecer o Presidente Jango, com o pressuposto de era comunista, principalmente após sua visita à China, exatamente como dizem que o projeto de Dilma é bolivariano.

Quem dominava o Congresso Nacional da época? Os representantes da elite. Esse foi o cenário do golpe militar que durou mais de 20 anos e assassinou quase 500 pessoas, declaradas de acordo com a Comissão Nacional da Verdade, fora as mortes ainda hoje não esclarecidas, como por exemplo, as 1049 ossadas descobertas numa vala comum do cemitério de Perus quando Erundina era Prefeita de São Paulo, com muitas crianças entre elas, que não só não foram identificadas, como também não fazem parte das estatísticas oficiais. Um verdadeiro tempo de trevas.

A sustentação do golpe se deu, não só pela força sanguinária dos militares, mas principalmente com a conivência de grande parte da população, a começar pela sua Marcha da Família com Deus pela Liberdade, apoio dos meios de comunicação, como o Jornal Folha de São Paulo que emprestava carros para o transporte de presos políticos para os porões da ditadura ou ainda a FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, que financiou a Operação Oban, um dos braços econômicos da ditadura.

Pela descrição e por infinitas situações não descritas nesse pequeno texto, o trabalho da Comissão Nacional da Verdade foi extraordinário e corajoso, pois não só revela os monstros como pede punição aos mesmos. Não pode ser esquecido que no meio de tudo isso, 210 pessoas foram simplesmente deletadas da sociedade. Os militares assassinaram e sumiram com os corpos, tal qual a descrição em detalhes feita por George Orwel no seu livro e filme “1984”. 

Qualquer semelhança com os ocorridos nos dias atuais, desde as manifestações de junho do ano passado, passando pelos reacionários direitosos que apoiaram Marina e Aécio nas últimas eleições, chegando aos nazifascistas que vão à Paulista pedir a volta do golpe militar e a queda da Presidenta Dilma, não é mera coincidência. Faz parte dos instrumentos de dominação econômica, que alimenta o poder e engorda a velha e a nova elite brasileira, responsáveis por toda discriminação e desigualdades econômicas e sociais existentes.

Ao fazer esse breve relato fico imaginando se temos solução para esses fatos históricos e respondo que sim. Porém, apenas quando a sociedade brasileira se organizar e enfrentar de dentro para fora quem as explora, a começar por cada cidadão e cidadã que se coloca como líder, mas que agem como verdadeiros ditadores e que têm que ser combatidos.

Num país capitalista ou ainda numa ditadura para mantê-lo, como o que ocorreu na América Latina, os aliados do sistema são os mesmos, justamente para não perderem a hegemonia e nos dias atuais com uma dose diabólica, pois até o discurso da esquerda foi sequestrado. Enquanto isso ocorre e é reforçado nos editoriais diários do PIG, a população desinformada e alienada através do conteúdo ideológico, nega a intervenção e se aliam por ação ou por omissão.

Na atualidade, o que está em jogo, como bem disse o Lula em determinada ocasião do processo eleitoral, não é apenas a eleição de Dilma versus Aécio e sim um projeto que de alguma forma liberta o país das amarras internacionais e inclui a população menos favorecida, versus um projeto da volta ao poder dos aliados do sistema internacional neoliberal, onde o grande compromisso é a manutenção da hegemonia elitista. Falo isso, mesmo sabendo que pouca coisa será mudada no sistema capitalista, mas a possibilidade de restaurar um Estado de Bem Estar Social, que pelo menos se responsabilize com os desvalidos do próprio sistema, enquanto se prepara a sociedade para um enfrentamento na raiz do problema.

A partir desse cenário político ideológico, a maior importância do momento está voltada para uma grande Reforma Política, que comece por cada cidadão ou cidadã que se propõe a ser um representante da população. É necessário discutir quem deve financiar uma campanha política e de onde virão os recursos que hoje são privados, mas também qual a importância de ser um eleito. Ou seja, que se pergunte a quem pertencem os mandatos, qual o papel da população, qual o papel dos meios de comunicação, que mesmo sendo uma concessão pública, servem apenas ao sistema e principalmente o que se quer quando se chega ao tal do poder, onde a maioria dos eleitos e das eleitas serve a eles mesmos e não à população.

Não dá mais para que os partidos se mantenham como uma República de Mandatos, onde todos os cargos partidários são determinados pela cúpula ou ainda pelos eleitos. No meio de tudo isso, como respeitar um indivíduo ou uma indivídua que trata os filiados de um partido ou os associados de uma organização como “garrafinhas” e em nome delas negociam seus destinos? Infelizmente no modelo atual são essas figuras que ocupam os espaços de poder e sobrevivem a partir do tráfico de influências. As pessoas que não possuem as tais “garrafinhas”, sequer são convidadas para o grupo que toma decisões.

Para aprofundar a crise, como respeitar alguém que se diz dono de uma ONG ou de uma OSCIP, com a desculpa de que são benevolentes pela justiça social? Essas mesmas pessoas se estivessem à frente de uma cooperativa ou de uma entidade sindical, por exemplo, também se sentiriam donas e anulariam qualquer possibilidade da base intervir. Afinal, o tal “terceiro setor”, nasceu apenas para dar manutenção ao “Estado Mínimo” e substituir o Estado em suas funções sociais, conforme afirma Paulo Nogueira Batista em seu livro “O Consenso de Washington”.

O processo eleitoral de 2014, apesar de sinistro, pois revelou os monstros que estavam nas tocas e suas verdadeiras intenções, foi rico em detalhes e nos expôs as cicatrizes do poder. Estamos e continuaremos divididos, pois assim é o sistema. De um lado que se satisfaz com a discriminação de toda ordem, com o machismo e principalmente com as desigualdades econômicas e sociais, pois sempre precisaram da população carente para servi-los e de outro quem dá a vida, se necessário for, como ocorreu nas ditaduras brasileiras e da América Latina, em prol da liberdade e do combate a todo tipo de injustiça.

Por fim, a grande pergunta que temos que fazer para muitas pessoas que conhecemos e outras que consideramos companheiros e companheiras, mas enxergamos visivelmente seus desvios, é: DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ?

Se a pessoa responde que também se indigna com as injustiças cometidas e está disposta a enfrentá-las a partir de um projeto coletivo, estamos juntos. Porém se a resposta for de que a única saída é a de se aliar às forças sinistras, mesmo que seja um pouqunho, pelo bem da sociedade, além dessa pessoa está mentindo, pois na verdade está aliada ao sistema, está traindo as convicções de quem sempre colocou a vida em jogo para defender a população menos favorecida. Nesse caso jamais estaremos juntos.      

Não há outra forma de conhecer uma pessoa do que dar a ela o que sonha. A partir de então cada pessoa vai formatando seu projeto de vida. Devemos apenas lembrar o que a minha mãe sempre afirma: “Diz com quem andas que direi quem te és”. Na po

Quero encerrar com uma afirmação: “Ou a sociedade de bem reage de forma organizada a essa onda de neoconservarodismo ou corremos o risco de voltarmos ao dia 31 de março de 1964 e tudo em nome da ordem o do progresso”. Os atores são os mesmos e os motivos também.

Além disso, um militante de uma causa quando saí dessa vida a única coisa que deixa é a sua história e como já sabemos, não podemos mover uma linha do passado, mas podemos reescrevê-lo hoje e amanhã, fazendo com que no futuro possamos também reescrever a história do Brasil. 

Antonio Lopes Cordeiro
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Chega! Precisamos reagir já


Quando eu era criança, me lembro que quando brincava com os meninos e meninas lá na Vila Marchi em São Bernardo do Campo, uma das brincadeiras que mais me chamava à atenção era a do telefone sem fio. Crianças perfiladas uma ao lado da outra, onde a primeira cochichava no ouvido da segunda uma pequena história e essa falava para a terceira e assim sucessivamente. Dávamos muitas risadas todas às vezes, pois quando a história chegava ao último participante era completamente outra. No caminho a verdadeira história se perdera. O que era assim passou a ser assado e o que restava da história original era apenas “cacos” juntados em seu percurso. Como era brincadeira servia apenas de muita diversão e passa tempo.

Jamais podia imaginar que em pleno século XXI iria ver a história do telefone sem fio aplicado de forma tão didática na política brasileira e grande parte da população se comportando como aqueles meninos e meninas sem noção, que riam por ingenuidade e caçoavam da falta de atenção uns dos outros e não tinham nenhuma responsabilidade com o resultado. 

No Brasil de 2014, senhoras e senhores, por incrível que pareça, a velha mídia tucana junto com a direita golpista transformou a brincadeira do “telefone sem fio” num instrumento político necessário para disseminar sua forma diabólica de fazer política. Dizem o que querem, plantam factoides, passam a visão de que o PT é o pai da corrupção, vendem a ideia de que tudo está errado e que o país está quebrado, precisando de um “choque de gestão tucano” para voltar à sua rota natural. Ou seja, para privilegiar apenas a velha e a nova elite. 
Vale ressaltar que tal método já ocorreu no Brasil em outras ocasiões. Por exemplo, a LSN – Lei de Segurança Nacional, criada pelos golpistas militares a partir de 64 usava os meios de comunicação para plantar o medo dos “terroristas” de esquerda. Enquanto isso os torturavam e os matavam. Noutro momento, como conta Paulo Nogueira Batista em seu Livro “O Consenso de Washington”, os mesmo meios de comunicação, pregavam para a população que tudo que fosse estatal era do mal e tudo que fosse privado era uma coisa maravilhosa. Esse “conto da sereia” foi responsável pela privatização de todo patrimônio nacional por FHC, que seguindo o ideário internacional implantou o neoliberalismo no Brasil e reduziu drasticamente as funções sociais do Estado, tercerizando as ações, através do chamado "terceiro setor", com suas ONGs.

Vamos ser sinceros. A história que contam hoje sobre o Brasil nas revistas, nos jornais, nas programas de rádio e nos programas de TV, não passa de um conto de fadas com final infeliz, tal qual aquela velha mentira de que Pedro Alvarez Cabral descobriu o Brasil ou ainda que os Bandeirantes foram desbravadores do país. No primeiro caso houve uma invasão na terra dos índios e no segundo mataram os índios e levaram os minérios que encontravam no caminho. Trata-se na verdade da estória da carochinha, reeditada com um toque de crueldade contra a democracia.

Essa falta de interesse na política por parte da população e a ideia de que todos os políticos são bandidos e ladrões, vendidas pela mídia golpista, não nasceu por acaso. Tudo isso e muito mais faz parte do plano diabólico da direita e da extrema direita de acabar com as instituições e trazer os demônios torturadores de volta. Na cabeça deles, enquanto isso não ocorre, seus fieis escudeiros da mídia e da política direitosa vão arrotando verbos contra a Presidenta e escondendo seus enormes rabos, gerados quem sabe, para quem acredita, desde aquele episódio em praça pública quando optaram por Barrabás. São filhotes do “pecado social”.

Apenas para avivar a memória dos últimos tempos, como esquecer a compra dos deputados por FHC para aprovar sua reeleição, do mensalão tucano do Azeredo, do desvio de sete bilhões da saúde de Minas Gerais feita por Aécio Claudio da Silva quando governador e principalmente da propina mais cara do Brasil (30%), denunciada pela Siemens, onde os bravos gestores paulistas solaparam o patrimônio público em algo em torno de doze bilhões de propinas nos governos Covas, Serra e Alckmin. Episódio apelidado de trensalão tucano de São Paulo do metrô e dos trens, além de tantas outras barbaridades ocorridas, envolvendo a maioria dos partidos políticos do país. Basta dizer que um candidato a presidente morreu a bordo de um avião, que até hoje não tem dono, a não ser aquele pobre peixeiro de Recife. Porque isso não causa furor como algumas desgraças petistas? Simplesmente porque se age assim: para os amigos o silêncio e para os inimigos a lei.

As últimas eleições foram decisivas em termos de compreensão política, principalmente para que fique claro que a luta de classe está mais viva do que nunca e dividiram o país. Para a direita golpista a eleição ainda não acabou. Até agora não aceitaram a derrota. Sem alternativas, ficamos refém do PIG – Partido da Imprensa Golpista pertencente a seis famílias abastadas, que simplesmente pautou o cenário político eleitoral a seu bel prazer. Esse fato trouxe uma extrema necessidade. Já passou da hora da esquerda brasileira criar seus próprios meios de comunicação.

Além disso, ocorreu nos últimos anos uma aposta perigosa do Governo Federal, que se deu ao luxo de reprimir o movimento das Rádios Comunitárias, fechando centenas delas, ao invés de tê-las como aliadas. Porém, resultado muito pior ocorreu no Congresso Nacional, onde a sociedade direcionada elegeu a bancada mais conservadora de sua história. Só para se ter uma ideia, enquanto a bancada dos trabalhadores encolheu de 83 deputados em 2010 para 46 em 2014, a dos empresários, mesmo tendo diminuído de 246 para 190, se consolida como uma bancada expressiva em busca de seus direitos e no enfrentamento aos trabalhadores, correndo-se o risco de voltar a pauta nacional, o PL 4330, que simplesmente abre para todos os segmentos tercerizarem, o que se configuraria na precarização total das leis trabalhistas. Para completar o cenário, a bancada milionária é composta por mais da metade do congresso e fortalecida pelos conservadores evangélicos, ruralistas e outros. Um cenário perturbador, que só não é pior porque os candidatos a presidente aliados do sistema não foram eleitos.

Para se ter uma ideia do efeito “telefone sem fio” na atualidade, basta dizer que na capital paulista ocorreu um fenômeno eleitoral extremamente complicado. Os magnatas abastados dos jardins votaram nos mesmos candidatos da periferia, o que quer dizer que a população pobre votou contra seu próprio futuro. Enquanto os barracos queimam através de estranhos incêndios contínuos, os magnatas fortalecem os cinturões que dividem o social do econômico.

O resultado de tudo isso beira à banalização. Nas ruas, ao invés de trabalhadores em busca de seus direitos, velhos e novos fascistas desfilam ao som de Lobão e os uivos de conservadores de toda ordem, comandados pelo candidato a presidente tucano derrotado, que não se conforma com a derrota, pelo senador tucano que foi seu vice que só vocifera ódio, além de seu mais novo senador tucano, o sempre representante da extrema direita e envolvido nas falcatruas do propinoduto tucano de São Paulo. O que querem? Simplesmente um golpe contra a Presidenta Dilma. Acham que isso ocorreria na mais perfeita ordem, apenas sob o comando da velha mídia golpista. 

A partir desse cenário, não nos resta outra alternativa a não ser entender que somente a pressão popular pode conter a ofensiva conservadora e nazifascista.

Chega! Precisamos organizar a Onda Vermelha contra a onda golpista que se instalou no país. Não dá para ser taxado de “petralhas” por indivíduos que envergonham a própria raça humana.

Que convoquemos as entidades populares, sociais, religiosas progressistas, políticas e a militância dos partidos aliados para ocupar as ruas e as redes sociais na defesa da nossa Presidenta e do projeto político que mudou o Brasil. 

A partir deste momento as palavras de ordem são:
JUNTOS PELA SOBERANIA NACIONAL E PELA DEFESA DA GOVERNABILIDADE DA PRESIDENTA DILMA!


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br