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domingo, 29 de janeiro de 2017

Porque um mandato popular e participativo incomoda tanta gente?

Quero começar esse post fazendo algumas afirmações que estão presentes na atual conjuntura e no seio da resistência ao golpe parlamentar que depôs uma Presidenta eleita e roubou de mais de 54 milhões de brasileiros e de brasileiras o voto e a esperança de mudança via eleições. Como acreditar que nosso voto não será roubado novamente nas próximas eleições?

A primeira afirmação é a de que existe uma profunda crise na democracia representativa, onde a maioria das pessoas eleitas não representa ninguém, a não serem elas mesmas ou seus grupos de interesses. Isso decorre da ignorância coletiva de achar que política é uma coisa ruim e de que todos os políticos são ladrões. Plantaram isso na cabeça da população de forma proposital e a reação normal é a de afastamento. É nesse vazio que nasce as aberrações tratadas como lideranças.

A segunda é a de que a democracia participativa ou direta acaba sendo um fenômeno, principalmente pela falta de uso e pela raridade de gestores e parlamentares que tem a coragem de coloca-la em prática. E porque isso ocorre? Por várias razões, eis algumas:

As pessoas que não respeitam a participação nascem de pelo menos duas vertentes. As que debocham da população e a compra com dinheiro, benefícios e favores e as que acreditam que são seres insubstituíveis dotadas de conhecimento supremo e que só eles ou elas poderão fazer o que a população precisa. Jamais se afastam do assistencialismo e quando realizam eventos participativos o fazem a apenas por convenção.

Em geral essas pessoas morrem de medo de concorrentes para o próximo pleito e isso faz com que mate no ninho qualquer possibilidade de concorrência provinda, principalmente dos setores organizados da sociedade. Defendem a ideia de que a população não está preparada para a participação e, portanto não podem ter muitas conferências, encontros e abominam Conselhos de Mandatos. Era isso que afirmava um abominável prefeito que tive o desprazer de trabalhar com ele. Ainda bem que foi por muito pouco tempo. Quem despreza o povo, despreza a própria vida. Nem sabe por que nasceram.

A participação espontânea provoca reações que só um líder e não chefe é capaz de lidar. Por exemplo, as pessoas que participam querem construir as ideias juntos, fiscalizar sua implantação e, sobretudo fazer avaliações positivas e negativas. Outro fato é a de que a participação leva as pessoas a um nível de entendimento fantástico, de forma rápida e com isso nasce a vontade de participação e a busca de novos conhecimentos, prejudicial para quem não quer concorrência e para quem quer passar a ideia de ser um ser inigualável.

Quando a população descobre que pode participar começa uma estranha sinergia entre o eleito e as pessoas participantes, que se bem aproveitadas poderá iniciar uma verdadeira revolução. Trata-se de um processo horizontal de gestão e não vertical onde apenas um sabe e os demais obedecem. Nesse caso é a decisão da maioria que é acatada.

O principal medo dos dirigentes de alguns partidos com relação aos mandatos participativos é a de é que isso gere a formação de um verdadeiro exército popular a serviço das mudanças efetivas na sociedade e aí, como um tsunami, esse exército irá peitar tudo aquilo que discorda. A partir de então serão criadas novas regras de conduta e novos valores estarão na pauta partidária.

Em Americana está sendo assim com o mandato participativo e popular do Vereador Professor Padre Sergio. Em tão pouco tempo já se produziu um Seminário, os filiados e filiadas foram notificados sobre como o mandato irá se constituir e o início de um curso de formação em parceria com a Fundação Perseu Abramo.

Uma voz do além esbravejou: “Conselho Popular não pode e não será aceito!!!”, no entanto a população disse sim ao chamado do Vereador e essa prática coletiva acabou virando algo novo no meios de tantos eleitos. O efeito disso é simples. Quem quiser peitar o Padre Sergio terá antes que antes peitar os membros do Conselho Popular Participativo e do Fórum Permanente. Um verdadeiro paredão humano. 

Que essa visão e essa prática adotadas pelo Vereador Professor Padre Sergio e pela Deputada Estadual Marcia Lia que tem um Conselho Popular eleito em quase cem cidades, contamine nossa militância e possa mudar os rumos partidários.

Segundo Mário Sergio Cortella: "Para nós, em última instância, adaptar-se é morrer. Estar adaptado significa estar acomodado, circunscrito a uma determinada situação, recluso em uma posição específica; adaptar-se é, sobretudo, conformar-se (acatar a forma), ou seja, submeter-se".

Ao invés de ter que se adaptar ao convencional em declínio, porque não subverter a ordem, se necessário for, em busca de algo novo que seduza novamente a população?


Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública
tonicordeiro1608@gmail.com


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Um tributo às amizades sinceras

Após o ano inteiro de desabafos e enfrentamentos ao golpe e a muita gente que resolveu se revelar como seguidoras dos piratas do poder apresento-me para uma mensagem de otimismo, nesse mar de incertezas que virou o país, porém com grande capacidade de uma grande reviravolta jamais ocorrida.

A vida é dinâmica e nada é definitivo, apenas transitório. Nem a vida é para sempre, apenas a história de vida e mesmo assim se foi registrada. Um dia quem sabe, os de baixo, que por ironia do destino vivem em cima dos morros, poderão descer ao asfalto e tomar a selva de pedra, que eles mesmos construíram, mas não puderam desfrutar. Esse acaba sendo o princípio da exploração humana moderna. Muitos labutam enquanto apenas uma minoria desfruta dos resultados.

Começo revelando minha imperfeição e minha forma inacabada de ser, onde parte de mim caminha a passos largos para o futuro, enquanto a outra parte rebusca o passado à procura de alguns sinais que me ajude a decifrar minha missão. Por outro lado reafirmo minha lealdade à vida, às pessoas, à causa, à luta contra as injustiças e a toda forma de discriminação, aos meus amores familiares e às amizades sinceras construídas em anos de convivências ou há pouco tempo reveladas, que acaba se transformando numa outra forma de amar.  

Vivemos tempos complexos de difícil entendimento, de defesa de valores e de cooptação de aliados à causa humanística que se alimenta da solidariedade, porém é bom se diga, que todo processo leva a uma forma didática de análise de determinadas situações, assim como o acúmulo de fatos e atos acaba construindo a pedagogia do enfrentamento, uns por convicção e outros por pura distração.

No meio de toda essa complexidade, os tempos e a ciência nos brindaram com as redes sociais, algo tão assustador que nos promove, nos enfrenta, nos assedia, nos engrandece, tudo ao mesmo tempo e principalmente nos aproxima de pessoas que assim como nós compartilham as angústias da vida e suas melhores alegrias e se fazem presentes em nossos sonhos de mudar a vida e a sociedade. Assim ocorre com os quase cinco mil amigos e amigas presentes na minha página do facebook.

A maioria dessas pessoas caminha lado a lado comigo em busca de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas e enfrenta com determinação dia e noite os perigos da vida e do poder político, capaz nos dias de hoje de transformar o mal num paraíso com o intuito de atrair milhares de pessoas que se tornaram reféns de suas próprias ignorâncias políticas e viraram presas fáceis dos vampiros do poder.

Não tem nada mais gratificante do que saber que do outro lado das redes sempre há alguém disposto a interagir e até aconselhar se for o caso.

Quero neste início de ano me reportar exclusivamente a vocês amigos e amigas do face, que estivemos juntos em muitos momento. Senti na pele o amor fraterno e o carinho humano por duas vezes recentemente, na internação do meu pai e no avc que minha teve. Descobri que nunca estive só, pois foram centenas de mensagens recebidas de várias partes do país. Isso não tem preço e vale por uma vida.

Como bem dizia Mário Quintana: “A amizade é um amor que nunca morre”. Ou ainda como dizia Platão: “A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro”.

Obrigado pela amizade de vocês e que 2017 nos torne cada vez mais sábios para juntos decifrarmos os códigos do poder e o caminho para a terra prometida.

Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

As diversas crises de 2016

Como avaliar 2016? O que esperar de 2017? Um ano que presenciamos angustiados um dos maiores retrocessos que a história do Brasil já passou. De uma só vez o povo pobre e trabalhador perdeu sua representante eleita, seus direitos trabalhistas e o congelamento por vinte anos do investimento em Saúde, Educação e Assistência Social. Porém, como as Políticas Públicas são integradas, essas medidas afetarão em cascata, praticamente todo o universo público e principalmente a população que mais precisa.
O golpe em curso trouxe para a pauta nacional uma nova modalidade de divergência, acompanhada por um ódio de classe, plantado e disseminado pela mídia golpista. Não está se falando de divergência política partidária, mesmo sob a compreensão de que nos dias de hoje está difícil caracterizar um partido, sua matriz ideológica e seus reais interesses, mas de um enfrentamento que invadiu as ruas do país, sob o pretexto de caça aos petistas.
Por outro lado, há algo no ar além dos aviões de carreira, como dizia o Barão de Itararé. O que leva alguns indivíduos e indivíduas a abandonarem seus partidos de origem, após terem desfrutado a parte boa desses, sob o pretexto de que não foram ouvidos, notados ou ainda não reconhecidos como a última “bolacha do pacote” e que só eles e elas poderão salvar a humanidade nas próximas eleições? Como podemos chamar esse fenômeno em moda principalmente no PT? Oportunismo? Traidores da causa? Profissionais da política? 
Sei lá, me vem à cabeça inúmeros adjetivos, porém se faz necessário esclarecer que não me refiro de quem sai do PT para o PSOL, PCO, PSTU ou mesmo o PC do B, além dos que defendem a luta armada e pretendem, quem sabe, fundar o PLUA - Partido da Luta Armada, mas de pessoas que migram na calada da noite em busca de cargos ou de projeção política, as vezes às custas da miserabilidade da sociedade. 
O que se presenciou desde o início do ano foi uma enxurrada de barbaridades acontecerem, a começar pela destruição do Projeto de Participação Social proposto pela Presidenta Dilma, destruído pela maioria do Congresso Nacional que tem lado, cor, partido e principalmente dinheiro público desviado para financiar as mudanças que a elite vai determinando como essenciais.
Na sequência veio a construção do cenário do golpe. Algo milimetricamente pensado, muito bem articulado e elaborado a partir de argumentos convincentes voltados ao público jovem e para uma nação alienada que bailou em busca de vingança, não contra seus possíveis algozes ou contra a corrupção, mas pela possibilidade de extermínio do PT, de Lula e de Dilma, com a falsa ilusão de uma luta contra a corrupção e de que toda banalidade política, nasceu na era dos governos petistas.
Vale lembrar que só existem políticos corrutos em evidência porque uma enorme parte da sociedade também é corrupta e se coloca sempre a venda para quem pagar mais ou em troca de privilégios futuros.
Além dessas e outras desgraças impostas pelo governo golpista e seus aliados, para fechar o ano aí vem à aprovação da PEC da Morte, mudanças nas leis trabalhistas que enterrarão de vez a CLT e a tal Reforma da Previdência, que levará a Previdência ao seu fim. Uma grande parte de quem vive de salário, vai morrer bem antes de se aposentar. Um plano diabólico para o fim de direitos, conquistados com muita luta ao longo de mais de cem anos. 
Porém uma coisa não pode ser esquecida, que é a capitulação de grande parte da esquerda e o enorme vacilo dos governos de Lula e Dilma, que poderiam ter feito as reformas necessárias quando tudo parecia favorável. Claro que também poderia ter sido um fiasco, porém não foi tentado fazer e isso deixa um vazio entre o que não foi feito e o que está sendo feito agora à revelia de nossos interesses políticos, econômicos e principalmente sociais.
Para 2017 grandes pontos de interrogação: O que aconteceu com os movimentos sociais e com as entidades de classe? Que tipo de reação ainda poderá ser feita a partir do completo caos político? Que tipo de ser a sociedade moderna produziu nas últimas décadas? Como juntar os cacos sem um projeto político definido? Cadê as lideranças políticas e comunitárias, por onde andam? Como conviver com a República de Mandatos, que quer determinar o jogo, intervir nas instâncias partidárias e anular as possíveis lideranças?
O ano que se inicia nos fará conviver com uma sociedade moralmente abatida, individualizada em termos de interesses políticos e econômicos e principalmente infectada com a grave doença do analfabetismo político, que leva à alienação, ao apoio do fundamentalismo religioso, ao preconceito, a toda forma de discriminação e a venerar cegamente os inimigos políticos de classe, que almejam uma raça pura, sem negros, índios, homo afetivos, nordestinos e principalmente pobres. Talvez seja a hora de recomeçar do zero rumo ao resgate de nossas dignidades. Caminhar com a parte sadia da juventude que luta por seus direitos e principalmente por ideais.
Para não dizer que não falei das flores, a única coisa preciosa que se tem para comemorar no dia 31 de dezembro à meia noite é a vida. O fato de estarmos vivos já é a certeza de que o mundo ainda não acabou e, portanto enquanto houver vida haverá esperança e sonhos de mudanças.
Além do mais, não existe militância sem sonhos, assim como militantes que não ouse sonhar em busca de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Que em 2017 possamos unir os sonhadores e sonhadoras em busca da terra prometida.
Paulo Freire certa vez nos disse: “Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanha pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina”.

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

domingo, 27 de novembro de 2016

Avaliação de Conjuntura Seminário do Vereador Professor Padre Sergio de Americana

O Mandato Popular e Participativo do Vereador Professor Padre Sergio, se situa no campo que defende a Justiça Social como norma de conduta, a Igualdade de Oportunidades como regra do desenvolvimento econômico e social e a Ética Política como o único caminho para quem representa uma causa. A luta contra todo tipo de discriminação e injustiça, assim como a defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores, das trabalhadoras e da população que mais necessita, serão eixos principais do Mandato.
Do ponto de vista partidário, o Mandato se situa no campo que lançou e defendeu uma candidatura própria do Partido dos Trabalhadores à Prefeito da cidade de Americana nas últimas eleições de 2016, entendendo ter sido a melhor opção para o enfrentamento das forças conservadoras locais, assim como fazer a defesa do partido frente aos ataques que vem sofrendo da mídia golpista e da direita organizada da cidade. Além disso, o Mandato defende que o Partido dos Trabalhadores da cidade caminhe na direção de ser novamente uma força política relevante, como já fora em diversas ocasiões.
O projeto a ser desenvolvido pelo Mandato visa ser um instrumento de reforço e fortalecimento dos direitos constitucionais de Participação e de Controle Social, se colocando à disposição da população que luta por seus direitos, incentivando a criação de instrumentos participativos, tais como: Fóruns Temáticos, Entidades de Moradores, Conselhos Populares e outros, visando à organização, capacitação e melhor entendimento das Políticas Públicas específicas, assim como o acompanhamento e fiscalização dos atos do Executivo em busca dos resultados esperados.

Avaliação de Conjuntura
O exercício democrático nos ofereceu recentemente mais um capítulo das eleições municipais, em meio a uma das maiores crises políticas da história do país. Uma crise que tem como objetivos claros: conter o avanço democrático dos últimos doze anos promovidos pelos governos Lula e Dilma, estancar as conquistas trabalhistas de mais de um século de enfrentamento e intervir diretamente nas conquistas sociais, terceirizando as funções sociais do Estado.
Além disso, ressurge no cenário político ideológico, a retomada do projeto neoliberal interrompido desde 2003, com a primeira vitória do Presidente Lula. Um resgate fundamental para o capitalismo mundial. 
Trata-se de uma mudança de curso na linha econômica e social, que afeta economicamente todos os setores da sociedade e se sustenta a partir de retrocessos, como: o fim do Fundo Soberano, à volta ao FMI, à venda do que restou do patrimônio nacional, privatização de setores fundamentais para o combate às desigualdades, entrega da gestão do petróleo para as estatais americanas, entrada de empresas multinacionais da construção civil, a partir da quebra das nacionais, com o evento da Lava Jato, entre outros. Algo parecido com o que ocorreu no Iraque, após o assassinato de Saddam Hussein.
Trata-se de mais uma estratégia de reciclagem do capitalismo mundial, que ocorre em vários países, porém com foco principal para os países da América Latina, após vários deles terem sido governados nos últimos anos no campo progressista ou com governos declaradamente de esquerda, dando-lhes outra conotação de liberdade e de soberania nacional.
Do ponto de vista da democracia direta ou do ato de votar, é impossível negar a importância de uma eleição, pois representa, nem que seja por pouco tempo, sonhos de mudança. Porém, do ponto de vista prático para o combate das desigualdades e no que se refere à melhoria da qualidade de vida da população, principalmente para os que mais precisam; uma eleição municipal, na grande maioria dos municípios brasileiros, pouco ou quase nada representa.
O sistema eleitoral está corrompido. O marketing eleitoral domina o cenário das disputas e projeta quase sempre eleições caríssimas, como por exemplo, de um prefeito ou de uma prefeita. De onde vem tanto dinheiro? De ondem brotam milhões de reais? Infelizmente grande parte dessas disputas é financiada com dinheiro de caixas dois, tanto de órgãos públicos, como das empresas que tem interesses em negócios futuros e o financiamento acontece com recursos da sonegação fiscal. A partir dessa constatação o que se fala não se cumpre.
Como bem dizia Paulo Freire: “A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade”.
É importante ressaltar que o que há de avanço no campo da transparência municipal, veio das leis criadas pelos governos Lula e Dilma. Lei Complementar 131/09, que criou os Portais da Transparência em todos os órgãos públicos; Lei 12527/11 – Lei de Acesso à informação, que possibilitou que um cidadão ou cidadã, tivesse acesso a qualquer documento público, sem a necessidade de ajuda jurídica e a Lei 12846/13 – Lei Anticorrupção, que instituiu o mesmo crime, para os que pagam e para os que recebem propinas. Essa lei foi inaugurada com a prisão dos empreiteiros, apesar do juiz Moro, de outros setores da justiça e principalmente da imprensa golpista, esconderem tal fato.
Infelizmente a democracia representativa está doente. À beira de sua falência total, pois a maioria dos chamados representantes da população, seja na política institucional ou nos diversos organismos participativos da sociedade, representa apenas eles mesmos ou grupos de seus interesses e não seus representados. São os códigos do poder. Um jogo, que apenas quem está jogando domina. Além disso, há uma negação permanente das eleições, fazendo a população acreditar que todo político é ladrão e política é uma coisa ruim. Esse fator teve como principal resultado o Congresso Nacional mais reacionário de sua história, sendo o carro-chefe do golpe atual e responsável por todos os retrocessos que acabam virando lei. Um congresso que representa a elite devassa e nega todas as conquistas sociais e econômicas.
E a Democracia Direta e Participativa por onde anda? Essa caminha a passos lentos e nem mesmo o campo progressista ou da chamada esquerda brasileira, consegue fazer com que a população se envolva e a defenda. Faltam elementos concretos que seduzam a população. Falta credibilidade por parte da maioria dos chamados líderes e principalmente faltam projetos forjados a várias mãos, onde os eleitores se sintam sujeitos de suas próprias histórias. 
Os resultados das últimas eleições demonstraram isso. Venceu a direita organizada e a não política. Um campo perigoso que inflama as forças reacionárias a evocarem a ditadura como forma de governo e dá total apoio às reformas absurdas contra o campo trabalhista e contra a população mais pobre, como estamos assistindo. O que é mais preocupante e negativo nessa situação, vem do fato da esquerda brasileira não ter um projeto alternativo.
Junte-se a isso a inercia dos Movimentos Sociais e do Movimento Sindical, tanto no Brasil como em várias partes do mundo, com algumas entidades vendidas e outras perdidas quanto às suas missões e tarefas, apoiando-se no engodo de que a grande necessidade do momento é a preservação do emprego, a qualquer custo. A solução para a crise que a direita propõe é o relaxamento das leis trabalhistas, flexibilização total da relação capital-trabalho e a aprovação da terceirização para todas as categorias e formas de trabalho. 
O que fazer diante de tal cenário político e econômico? Que país sobrou após o golpe que derrubou a Presidenta Dilma? Qual o papel das forças progressistas e de esquerda no enfrentamento à crise e na busca de soluções? Como organizar o enfrentamento a essa nova modalidade de golpe? O que de fato um mandato como o do Professor Padre Sergio, pode contribuir para a busca de resultados concretos para a população carente de Americana e para o avanço no grau de compreensão política de seus eleitores, filiados e filiadas?
Na busca de algumas respostas, se faz necessário primeiro entender o enredo do processo político atual no país. O golpe foi tramado sob o pretexto do combate à corrupção e pelo deus mercado entender que precisava derrubar Dilma, mesmo que isso gerasse um prejuízo incalculável para algumas de suas empresas, visando especialmente às eleições de 2018 e tentando barrar qualquer possibilidade de uma possível volta de Lula como Presidente. 
Para piorar a situação, alguns partidos de origem progressista e parte dos integrantes de alguns partidos de esquerda, cederam à tentação de virarem partidos de resultados ou partidos eleitorais e profissionais da política, não investindo em formação, não estimulando o surgimento de novas lideranças e abandonando o compromisso de ajudar a sociedade a se organizar em busca de seus direitos. Com isso perderam a identidade e a credibilidade. Viraram organizações idênticas que lutam apenas por pequenos poderes, resultados favoráveis e vagas nos espaços públicos em troca de apoio e mandatos. Surge assim uma nova personagem no cenário político: a República de Mandatos. Algo que se apresenta maior do que as próprias direções partidárias.
Não há dúvidas em afirmar, que a saída para essa crise e suas consequências, está na organização popular e na formação política, que possibilite o surgimento de lideranças a partir de projetos coletivos, de entidades com melhores estruturas políticas e principalmente de pessoas conscientes de que para os que mais precisam nada será doado, mas conquistado com muita luta. 
Talvez tenhamos que reaprender a ocupar os espaços, hoje dominados pela direita e pela extrema direita. Talvez tenhamos que aprender com a juventude, que bravamente está lutando pela manutenção e pela melhoria na qualidade do ensino público, ocupando as escolas e saindo às ruas para enfrentar a repressão policial. Talvez tenhamos que ouvir várias vezes o discurso da menina Ana Júlia, que no meio de tanto tristeza nos disse que ainda há tempo para a felicidade, ao constatar que a luta os fez deixar de ser apenas adolescentes e virarem homens e mulheres que lutam por ideais.
Como dizia Paulo Freire: “Onde quer que haja mulheres e homens, há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar e há sempre o que aprender”.

Antonio Lopes Cordeiro(Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

terça-feira, 15 de novembro de 2016

O Brasil de hoje não promete um amanhã

Cadê os figurantes do carnaval do golpe, fantasiados de verde e amarelo destilando ódio contra o PT, Lula e Dilma? Por onde andam? Ao certo devem estar enrustidos se divertindo ao lerem nos blogs sociais, pois seus jornalecos e revistecos omitem e suas rádios e TVs golpistas escondem que o país está sendo desmontado pouco a pouco para os pobres e arquitetado para os ricos, seus apoiadores e apoiadoras e seus bajuladores e bajuladoras.

Aquele país alegre de todos e todas está sendo visto como um ser privado de vontade própria. Exatamente como parte da definição do que é zumbi. Resultado da vampiragem que assola o país. Gota a gota vão sugando o sangue da classe trabalhadora e das pessoas com menor poder aquisitivo. São anos de luta sendo levados numa enxurrada de retrocesso e sacanagem.

Para quem viveu o terror do golpe militar, viu de perto algumas pessoas simplesmente desaparecerem para nunca mais voltar e a democracia brasileira tão jovem, trazer de volta a ilusão de que o amanhã iria compensar tamanha dor, não consegue acreditar que aquele frio que invadia a alma e nos colocava de prontidão permanente esteja de volta. A senzala e os porões da tortura estão sendo trazidos de volta do além pelos agentes da casa grande e suas bestas-feras armadas que agem a mando de seus senhores feudais.

Golpe é golpe! Não dá para simplificar e muito menos dizer que foi por falta de aviso. Foi denunciado passo a passo. Aquela votação dos deputados e deputadas ficará na história como um dos dias mais tristes do país. A trupe de salteadores que invadiu o governo sem permissão, apagou da historia a parte boa de 2016, pois a esperança, o voto de mais de 64 milhões de eleitores e eleitoras e as conquistas de anos de luta foram e estão sendo destruídos.

Resta apenas um raio de luz enfrentando a escuridão e um flash desafiando os porões das trevas, materializado nos filhos e filhas de pessoas simples que lutam por nossos direitos. Mesmo que não entendam a complexidade ideológica do que está em jogo, a juventude sente que sem luta não haverá futuro. São dignos e dignas de aplausos, pois lutam por vezes sós.

É importante não esquecer que a democracia tem várias facetas. Enquanto a participativa caminha a passos lentos pelas alienações da vida, a falsa democracia representativa, pois não tem lastro, se alvoroça elegendo representantes deles mesmo. Essa modalidade de democracia está desenganada de vida e cumpre seus últimos suspiros. Quem sabe quando morrer de vez, rumo à ditadura, parte do povo acorde e dê vida à democracia direta, a democracia participativa e aí seus representantes serão verdadeiros.

Sergio Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta disse certa vez: “A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento”.

Ao ler isso, várias perguntas me vêm à cabeça: Como em pleno 2016 os brasileiros e as brasileiras admitem uma situação como essa? Por onde anda aquela consciência política dos atores da década de 80? Quanto tempo será necessário para organizar um amplo levante popular? Cadê aquele Brasil que estava sendo construído a várias mãos? O que será do amanhã?

Como a maioria dessas perguntas permanece sem resposta, ficam apenas algumas inquietações a serem resolvidas: ou tudo que ocorreu nos últimos anos não passou de mera ilusão de ótica democrática ou os agentes da mudança não empoderaram ninguém. Ou uma enorme traição foi desenvolvida passo a passo ou o jogo do poder não permitiu a politização das conquistas. Se de fato foi isso que ocorreu não sobrou ninguém que se beneficiou com todos os programas dos governos Lula e Dilma, além das politicas sociais e econômicas, que fizesse a defesa das conquistas. Apenas a militância e a juventude continuam a desafiar os poderosos e a sonhar que um dia a aurora do amanhã invada essa enorme escuridão.

Sou daqueles que acha que se não aprendermos com os erros, eles voltarão em proporção maior a ponto de nada mais poder ser feito. A verdade revelou que as serpentes nos rodeiam vindas de todas as direções e que na menor distração seremos picados por elas e aí lá se foi o amanhã.

Como militante de uma causa, tenho convicção do que ainda virá. O vampiro não é o ser ideal para a casa grande. É apenas um tapa-buraco. Um falastrão que fará todas as maldades em nome da elite devassa. A casa grande quer na verdade seres de bicos e penas para devorar o que restou. Para isso, poderá ressuscitar um tal de FHC. Um sujeito que quebrou o país várias vezes, comprou sua reeleição por 200 mil cada voto e vendeu todo patrimônio nacional, apenas e tão somente para não queimar o filme de seu candidato verdadeiro em 2018. Um tal de comedor de merenda envolvido no trensalão tucano e tantos outros episódios que a imprensa golpista esconde.

Diante desse cenário de filme de terror, admito que jamais imaginaria que tudo pudesse ocorrer e chegar aonde chegou sem uma forte reação popular, principalmente por parte dos movimentos sociais organizados. Porém, a meu ver, os movimentos se encontram anestesiados. Apáticos e esperando apenas o fim do mundo que se depender dessa bandalheira está próximo.

Para quem se acostumou a pensar e a tecer reflexões a partir de um cenário democrático, é como se o dia tivesse virado noite. Foi-se a luz, veio à escuridão. Nossa esperança vem do centro da crise, ao surgir essa força jovem que promete muita luta em busca do horizonte perdido. Caminharei com ela custe o que custar para onde for, mesmo que nada de concreto seja conquistado. O que vale mesmo é a certeza de que a luta pela dignidade humana caminha cada vez mais firme. É só olhar o brilho nos olhos de quem está nas ruas lutando que saberão do que estou falando.

“Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes”, (Paulo Freire)
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

sábado, 29 de outubro de 2016

SE FICAR O BICHO PEGA SE CORRER O BICHO COME

Como se não bastasse já estarmos vivendo em uma ditadura, apesar da Globo e cumplices tentarem esconder, ainda temos a sinuca de bico das eleições americanas. Quem seria pior para o Brasil? O maluco do Donald Trump ou a cínica da Hillary Clinton.

Historicamente, os hipócritas religiosos do Partido Republicano -  Bush filho foi aconselhado por Deus a invadir o Iraque e o Afeganistão, fizeram menos mal ao Brasil do que os Democratas. O Golpe de 64 teve início e total apoio do presidente democrata, John Kenedy, que falou ao então embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, “Tirem Goulard do Brasil”, segundo fitas gravadas na Casa Branca e exibidas no documentário “O Dia que Durou 21 Anos” do diretor, Camilo Galli Tavares.

Obama, que recebeu o Nobel da Paz em 2009, ultrapassou o Bush em mais do que o dobro em número de mortes através dos ataques de “drones”. A Al-Qaeda e suas “franchisings” terroristas, além do Boko Haran, do Da’ish (Estado islâmico) e outros grupos, nunca receberam tantos dólares e armas dos EUA, França e Inglaterra como nos dias do governo democrata do Obama, que por sinal, não se manifesta quanto ao golpe no Brasil.

Hillary, a nova candidata dos democratas à presidência e Secretária de Estado de Obama, foi grande incentivadora dos ataques à Síria e Líbano. As corporações armamentistas e do petróleo agradecem e muito os esforços dos EUA em levar a democracia aos quatro cantos do mundo. Aliás, os EUA tenta tomar conta da Síria desde o final da década de 40, mas como não ganhou mais nenhuma guerra depois da II Guerra Mundial... só faz piorar a situação do povo onde eles tentam levar a “democracia”. Ou já se esqueceram do menino Aylan Kurdi que apareceu afogado em uma praia da Turquia?

O problema aqui no nosso terreninho, é que os cucarachas fingem acreditar na máxima do Juracy Magalhães (ARENA) que dizia “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”. Quando na verdade, nada do que é bom para os EUA, necessariamente é bom para o Brasil. Mas nosso atual governo, que é golpista sim, e aquele bando de pessoas que saíram de amarelo às ruas, ainda acreditam na máxima e sonham em serem humilhados em Miami. Sonham em morarem em guetos de luxo. Cuidado, se der Trunmp a vida pode ficar ruim lá... ou seria se der Hillary? Na realidade, nenhum deles será bom para nós. Vão continuar querendo nosso óleo, nossa água e minérios.

Mudando de ”focinho de porco para tomada”, escrevi esse texto como uma forma de desabafo, para espraiar um pouco. Estou lendo o livro do Luiz Alberto Moniz Bandeira, “A Desordem Mundial, o espectro da total dominação”. Estou no 10º de seus 24 capítulos, e quando me lembro do tempo em que assistia a Globo e demais televisões (jornais). Quando me vêm à mente as imagens do Bonner, Merval, Cristina, Boris, Boechat, Sheherazade e outros e outros pulhas, me dá ânsia de vomito. Mas como ainda acredito que, se juntar o bicho foge, que tenham uma boa leitura, sem náuseas.

Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A contribuição do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo no cenário eleitoral

O Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública nas prefeituras petistas, integrante da Área do Conhecimento e do Laboratório de Gestão e Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo, teve início em abril de 2013, com seu primeiro curso: Plano de Governo e Ações para Governar. Um curso que percorreu as cinco regiões do país, deixando um legado na história de cada cidade que esteve presente.

O objetivo principal do curso, em suas 70 edições nas cidades sedes, foi o de discutir a concepção de um Plano de Governo, a partir de três importantes variáveis:

1. O desafio da integração de um governo, que requer entre outros mecanismos, alianças programáticas e não mercantilistas, além da quebra das “caixinhas de poder”;

2. Uma viagem no universo da máquina pública buscando melhorar a compreensão do Ato de Governar, assim como desmistificando a partir de experiências petistas bem sucedidas, o desafio do monitoramento e avaliação das políticas públicas;

3. Uma relação íntima com a sociedade através do incentivo à criação de Fóruns Temáticos Permanentes, que em regras gerais traz como elementos principais, o fortalecimento dos Conselhos Gestores e como consequência a ampliação da democracia participativa em todos os níveis.

Além do curso citado, considerado ao longo do trabalho como carro-chefe do Programa, outros dois cursos estiveram sendo ministrados: Empreendedorismo Social e Economia Solidária, que trabalha as questões específicas dos temas e Plano de Desenvolvimento Econômico e Social, que aborda a aplicação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Micros Empresas, Empresas de Pequeno Porte e Micros Empreendedores Individuais), abre discussão sobre o Desenvolvimento Econômico a partir do Desenvolvimento Humano e trabalha a ideia da implantação de um Sistema de Desenvolvimento Econômico e Social, a partir de seus instrumentos participativos.

Foram números expressivos nos 82 cursos ministrados: 19 Estados nas cinco regiões geográficas, em 70 cidades sedes, com 314 cidades presentes e 2879 participantes.

Pelas avaliações gravadas e escritas pelos participantes, os cursos deram uma nova visão do processo de capacitação, pois integraram pessoas em todas as regiões e caminharam com a militância petista do Oiapoque ao Chuí. Além disso, quase por unanimidade os cursos foram avaliados como uma excelente forma de integração, pois juntou gestores com servidores, com lideranças políticas e comunitárias, em busca de aprimorar o modo petista de governar, legislar e de se relacionar com a sociedade.

Trazendo o trabalho para o campo político e eleitoral, além de varias ações desenvolvidas a partir dos cursos, como por exemplo, a criação de grupos de estudo da gestão urbana em algumas localidades, há evidências de que de alguma forma o trabalho foi positivo eleitoralmente, numa parcela das cidades que estiveram presentes nos cursos.

Ao analisar as 354 cidades que estiveram presentes nos cursos, sendo que 40 delas estiveram presentes por mais de uma vez, 33 que o PT não participou do processo eleitoral, 5 com candidaturas impugnadas e 1 com candidatura própria em segundo turno, chegamos ao número de 30,54% de prefeitos e prefeitas eleitos, sendo 17 cidades com candidaturas próprias e 67 em coligações de outros partidos.

Se por um lado não dá para afirmar que o Programa de Capacitação Continuada foi decisivo nessas vitórias, também não dá para negar, tamanha foi à aceitação que os gestores receberam o trabalho e expressaram isso em suas avaliações.

Uma coisa é certa, o Programa de Capacitação Continuada contribuiu e contribui para o fortalecimento da Área de Conhecimento da Fundação, composta também pelos cursos de Mestrado, Especialização e o Curso de Difusão do Conhecimento.

Como dizia Paulo Freire: “Onde quer que haja mulheres e homens, há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar e há sempre o que aprender”.

Antonio Lopes Cordeiro
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada 

sábado, 1 de outubro de 2016

O que esperar dessas eleições municipais?

O exercício democrático nos oferece amanhã mais um capítulo das eleições municipais, em meio a uma das maiores crises políticas da história do país. Uma crise que tem como objetivos: conter o avanço democrático dos últimos doze anos, estancar as conquistas trabalhistas e intervir diretamente nas conquistas sociais, terceirizando as funções sociais do Estado.

Além disso, ressurge como grande cenário político ideológico a retomada do projeto neoliberal interrompido pelos governos de Lula e Dilma. Isso inclui entre outros retrocessos, a volta do FMI, a venda do que restou de patrimônio nacional, a gestão do petróleo pelas estatais americanas e a introdução de empresas multinacionais da construção civil, a partir da quebra das nacionais com o evento da lava jato. Algo bem parecido com o que está ocorrendo no Iraque, após o assassinato de Saddam Hussein.

Trata-se na verdade de mais uma estratégia do capitalismo mundial, que ocorre em vários países, mas com prioridade para os países da América Latina.

Nem se discute a importância das eleições, pois muita gente foi presa e torturada e muitos deram a vida para que tivéssemos a oportunidade de votar, após o golpe militar de 64 que durou mais de vinte anos. Porém, algumas perguntas se fazem necessárias: O que de fato uma eleição como essa, num momento tão crítico politicamente falando, trará de resultados concretos para a realização dos sonhos de milhares de brasileiros e de brasileiras? Que país sobrou após o golpe que derrubou a Presidenta Dilma? O que será da esquerda brasileira, que a meu ver parou no tempo? Como organizar o enfrentamento a essa nova modalidade de golpe?

Na busca de algumas respostas sem paixão, se faz necessário primeiro entender o enredo do processo político atual no país. O golpe foi alimentado sob o pretexto do combate à corrupção e pelo deus mercado entender que precisava derrubar Dilma, mesmo que isso gerasse um prejuízo incalculável para algumas de suas empresas, visando especialmente às eleições de 2018 e barrando qualquer possibilidade de uma possível volta de Lula como Presidente.

Num processo kamikaze, ao mesmo tempo em que a mídia golpista, junto com a elite devassa negava a importância da boa política e do voto, na medida em que afirmavam que todos os políticos roubam e que a política é uma coisa ruim, recorreram ao Congresso Nacional bizarro eleito pelo desprezo à política e derruba-se a presidenta eleita democraticamente por mais de 54 milhões de eleitores. Fato consumado por 61 elementos, onde a maioria deles tem problemas com a justiça.

Para piorar a situação, alguns partidos de origem progressista e parte dos integrantes de alguns partidos de esquerda, cederam à tentação de virarem partidos de resultados ou partidos eleitorais e profissionais da política, não investindo em formação política, não estimulando o surgimento de novas lideranças e abandonando o compromisso de ajudar a sociedade a se organizar em busca de seus direitos. Com isso perderam a identidade e a credibilidade. Viraram organizações idênticas que lutam apenas por pequenos poderes, resultados favoráveis e vagas nos espaços públicos em troca de apoio e mandatos. Surge assim uma nova personagem, a República de Mandatos. Algo que se apresenta maior do que as próprias direções partidárias.

Do ponto de vista dos eleitos, a impressão que se tem é que a maioria deles e delas, nos 5570 municípios, seja para o executivo ou legislativo, governam e legislam para si ou para o grupo que os apoia e os financia e não para e com a população. Governam e legislam de costas para o povo, principalmente para os que mais precisam. Nem a maioria dos eleitos do campo progressista ou de esquerda, se submete a governar a partir de Fóruns Temáticos Permanentes e legislar a partir de Conselhos de Mandatos.

Apenas a título de ilustração, certa vez numa palestra para membros da gestão pública de uma prefeitura de médio porte, com secretários, diretores, gerentes e apoiadores, além de lideranças comunitárias, inclusive com o prefeito presente, perguntei a cada secretário se sabia em detalhes os projetos de seus colegas e o que cada projeto tinha em comum e para minha surpresa a resposta, quase unânime, foi a de que não sabiam. Ninguém sabia o que estava acontecendo na secretaria ao lado da sua. No meio a falta de planejamento e organização, temas como esse não vão para as pautas das reuniões do secretariado. Em geral se administra o caos e assim tudo vira urgência.

Para complicar ainda mais perguntei também quem conhecia em detalhes o Plano de Governo, se tinham participado do processo de formulação, ou ainda quem já tinha visto pelo menos um exemplar do Plano. Para todas as perguntas, por incrível que pareça foi também não. Isso mostra que o Plano de Governo, para muitos gestores é apenas um papel e não um compromisso que devia ser atualizado a cada encontro com a população.
Outro fator preponderante vem do fato das alianças serem mercantilistas e não programáticas, o que faz com que cada secretaria vire uma prefeitura independente, por falta de transversalidade e integração de governo.

O que isso tem a ver com o resultado do processo eleitoral que se aproxima? No meu entendimento muito, pois é nesse desencontro que a politica se desenvolve, com ou sem nenhuma participação da população.

Essa breve análise de fatos nos revela que infelizmente para uma enorme quantidade de políticos, o importante é ganhar. Não importa como e muito menos com quem. A única forma de tentar intervir nesse processo viciado da velha política eleitoreira será uma ampla e participativa Reforma Política, que consiga dar voz a sociedade e discuta a representação a partir da participação.

Com esse clima golpista e a falta de compreensão de grande parte da sociedade, a impressão que tenho é que o campo democrático sairá ainda menor e o que nos resta é organizar a população para cobrar seus direitos e mostrar aos funcionários públicos de carreira que ou eles lutam com dignidade ou perderão o emprego em breve, pois a intensão da trupe governista golpista é terceirizar e privatizar o que for possível e dê tempo.

Infelizmente não dá para cobrar consciência política num processo onde o coração fala mais alto que a razão.

A única coisa que me alegra é saber que a luta mal começou e o embate revelou que nasceram novos e vigorosos personagens que estão prontos para um grande conflito em defesa da dignidade humana.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Tonicordeiro1608@gmail.com

sábado, 3 de setembro de 2016

Quem sai do Partido dos Trabalhadores para outros partidos continua sendo petista?

Quero acreditar que esse seja um dos assuntos do momento, onde o PT e seus militantes são perseguidos, não pelos seus erros, mas principalmente pelos seus acertos e algumas pessoas o abandonam. A casa grande treme só de imaginar que Lula poderá voltar em 2018. Em minha opinião esse foi um dos motivos do golpe atual.

Não tenho a pretensão de julgar ninguém, até porque cada um ou cada uma deva ter uma perfeita explicação para isso, mas apenas como militante de uma causa e grande parte dela forjada na militância petista, tentar analisar o que faz uma pessoa trocar de partido se não for por altíssimos interesses.

Temos acompanhado nos últimos tempos muita gente que acreditávamos ser petistas de coração abandonar o partido quando o partido mais precisava, visando apenas disputar as eleições municipais que virão. É um processo democrático mudar de partido? Sim, pois mesmo a surrada democracia aponta para isso. Porém o que leva a essa mudança? Quais os interesses por trás do cenário? É possível mudar para um partido de direita e levar o petismo consigo?

Ao conversar com essas pessoas, por alguns momentos até ficamos solidários, tamanha é a justificativa e argumentos usados. “Ah o presidente do partido me abandonou”. “Nunca fui ouvido”. “Nesse novo partido tenho a liberdade que buscava”. Enfim, uma coletânea de motivos, que alguns deles de fato podem ser verdade, mas a pergunta que fica é: ao se indignar você não usou os instrumentos e as instâncias do partido para se contrapor a sua indignação?

As saídas do partido se apresentam como se fossem estratégias de poder, reafirmação de caráter ou o argumento que não permitem ser chamados de “petralhas”, que é o termo pejorativo forjado pelo PIG, como se ao se esconder da Estrela Vermelha ou escondê-la perante a sociedade, a pessoa ficasse mais acreditada ou que não faz parte da ideia de partido construído pelo PIG a partir de seus interesses.

Trata-se na verdade de negar a importância partidária ou ainda de homologar a negação do Estado de Direito e da Democracia como valores que garantem o exercício da cidadania. Nada tem a ver com os argumentos principais da fuga partidária. Lembra-me a frase da Dona Florinda: "Não se misture com essa gentalha" e ao fugirem estarão livres da maldição da imprensa golpista e próximos da sociedade branca, seletiva e discriminatória.

Por outro lado, se entendermos o petismo como algo maior, como uma prática e que possa ser maior que o próprio partido, pois resgata a construção coletiva, os valores universais de mudanças efetivas da sociedade, rumo a uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas, podemos até entender, enxergando  que as pessoas saíram do PT porque o partido escolheu um caminho diferente do que pensavam e defendiam como comportamento político perante a uma sociedade capitalista, oportunista e de profunda desigualdade.

Isso implicaria necessariamente na busca por essas pessoas por partidos mais à esquerda que, mesmo com problemas, a nova sigla daria conta de ancorar tais pensamentos e práticas e, portanto não estariam traindo o que pretensamente defendem, mas se alojarem em partidos golpistas e se abraçarem com golpistas de plantão, apenas deixam claros os interesses em jogo, além de representar uma tremenda traição das convicções políticas que as pessoas diziam ter.

O que defendo nada tem a ver com quem usa ou usou o partido para se promover, se tornar eleito vitalício ou ainda desrespeitar a militância como pessoas, tratando-as como as famigeradas “garrafinhas”, que podem ser trocadas por novas oportunidades por quem delas se aproveitam. Esses ou essas têm que ser punidos rigorosamente.

Ser petista no meu entendimento é fazer uma escolha. É optar por um caminho onde a opção pela luta dos mais pobres e a defesa intransigente de direitos conquistados se faça presente, custe o que custar. Isso na verdade tem que se transformar na militância de uma causa. Ser petista para mim é ter a opção de divergir, construir, desconstruir se necessário for e, sobretudo reaprender com a vida e com a militância de uma causa. Por isso defendo o direito de tendências, porque um partido democrático não pode ter um único pensamento, muito menos um proprietário. Quem nunca ouviu que fulano comprou a sigla tal e ciclano aquela outra? O PT não mudou. Quem mudou foram algumas pessoas petistas.

Quero realçar que essa minha inquietação serve também para comportamentos internos do partido. Quantos candidatos do PT ao legislativo e executivo estarão defendendo um mandato ou um governo de fato participativo a partir dos Fóruns Temáticos, dos Conselhos de Mandato, da participação contínua da sociedade e respeito ao funcionalismo público ou ainda aos setores organizados da sociedade que lutam por direitos?

Não se trata de censurar quem saiu do partido e sim de buscar uma reflexão que me faça entender a “dança das cadeiras partidárias”, como elemento além do processo democrático. Em minha opinião quem muda de partido como se muda de camisa, apenas para se dar bem, não tem e nunca terá um projeto coletivo e sim interesses pessoais, construídos a partir do entendimento de que a pessoa é a própria estrela e nasceu para isso. O que nos consola é saber que serão julgados pela história.

Acredito que a verdadeira história se constrói nas entrelinhas da vida e na possibilidade de mudanças pessoais, se necessário for, assim como tenho a plena convicção de que o petismo e o PT ainda irão contribuir muito para fortalecer as instâncias democráticas e dar voz a sociedade que luta contra as injustiças e a exclusão social.  

Prefiro essa velha estrela amarrotada e xingada por míseras coxinhas alopradas, porém com uma história de luta pelas causas mais nobres da sociedade, do que alguns partidos que me promovam financeiramente ou profissionalmente, mas que carregam em seus DNAs o sangue derramado de quem lutou por justiça e liberdade.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública Social
Tonicordeiro1608@gmail.com