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terça-feira, 29 de março de 2016

Quando a escolha de um vice faz toda a diferença

Tenho afirmado nos cursos que ministro pela Fundação Perseu Abramo sobre Gestão Pública, que na extrema maioria dos municípios, os governos são arquitetados, formados e geridos de forma mercantilista e não de forma programática. Ou seja, se junta pessoas para governar um município ou um estado, a partir de seus interesses e não a partir de um Plano de Governo, que pudesse ser o indicativo inicial para todas as ações de governo.

Esse fator faz com que cada secretaria de um governo se torne uma “caixinha de poder”. Uma nova prefeitura com regras próprias, como se fossem várias prefeituras num só governo.

A coisa se torna mais séria ainda, quando a escolha do vice se dá por interesse. Seja porque a figura é boa de voto ou faz parte de um partido que trará votos para a vitória eleitoral. Centenas de prefeitos e prefeitas adorariam que seus vices virarem pó. Desaparecessem do mapa. Porém, isso se torna impossível na medida dos pactos estabelecidos no processo eleitoral.

A escolha de Lula com o empresário José Alencar para vice, apesar de muita gente do PT achar que Lula iria ficar refém do empresariado, para o tipo de governo que Lula fez foi acertada, enquanto a escolha de Dilma trazendo Temer do PMDB, partido até então fiel aos acordos, se configurou no maior caso de traição dos tempos modernos. Um verdadeiro amigo-da-onça. Um clássico traidor, que primeiro conquista a confiança da pessoa e depois a entrega aos leões para ser devorada e ele assumir sua posição.

A chamada base aliada, a começar por um vice. Ou vem para a composição do governo a partir de um Plano de Ação Participativo, que comprometa as ações futuras e construa uma linha ideológica de atuação ou se tornará mais dias, menos dias, num clássico caso de traição como Temer representa nesse momento para o Brasil e para o mundo. Um golpista sem caráter, que tem por trás a maçonaria, que já esteve por trás também de tantas ações golpistas, como por exemplo, na renúncia de Jânio Quadros como presidente.

Uma coisa é certa. Quem sempre esteve do lado do império jamais estará ao lado do povo. Quem sempre esteve com a casa-grande jamais se aliará à senzala. Alia-se a eles achando que era assim, mas mudará a partir de um projeto quem quer ganhar eleições, porém correrá sempre o risco de não governar, como de forma tão didática está se vendo no caso de Dilma.

Uma coisa tem que ficar muito claro. Quem vende a ilusão de que a luta de classe acabou, comunga com o neoliberalismo, se apoia no famigerado terceiro setor e de quebra golpeia a democracia, na medida em que usa a teoria da conspiração como principal elemento de mediação na sociedade. A luta de classe está mais presente do que nunca e precisa reagir contra o desmonte democrático e de direitos, promovidos pelo Congresso.

O único aliado que se pode contar é o povo organizado e formado conscientemente a partir de seus direitos.

Voltar às ruas será a única saída para não haver golpe, assim como a manutenção da democracia requer menos políticos de carreira e mais lideranças populares organizadas.

As velhas raposas se unem para acabar com o galinheiro, com o firme propósito de trocar galinhas por tucanos, não se sabe se pela beleza das penas ou ainda pelo tamanho dos bicos que acumulará muito mais comida no futuro.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública Social
tonicordeiro1608@gmail.com

quarta-feira, 23 de março de 2016

A espera ansiosa da direita e do PIG pelo primeiro cadáver


De repente voltamos ao cenário do início do fatídico ano de 1964. Um clima de revolta abala a sociedade. De um lado golpistas e fascistas de toda ordem e do outro os defensores de uma causa, misturados à população atônita pelo que possa ocorrer.

Um clima de incerteza invade mentes e corações de quem já viveu essa mesma situação. Não sabemos sequer o que pode ocorrer no final de cada dia.

No olho do furacão, dois setores necessitam destaques. O primeiro setor empresarial, envolvido no processo cultural de corrupção através da sonegação fiscal e achando que isso não é corrupção e sim meio de sobrevivência, usa de forma clássica a crise de origem mundial, para aumentar os preços, demitir pessoas e pressionar de todas as formas a queda de conquistas trabalhistas históricas, através de seus aliados e representantes do Congresso Nacional. Tudo em nome da democracia e da ordem pública. O segundo muito mais pernicioso é a mídia golpista, pertencente a apenas seis famílias abastadas, com todos seus instrumentos, que prega o ódio diário e a divisão de classes, jogando uns contra os outros. No meu entendimento é a mídia, a grande responsável pela desavença atual e toda violência que ocorre em vários setores da sociedade.

O que pretende essa turma de golpistas juntos, além do golpe? O primeiro cadáver em confronto de ruas como já ocorre no futebol, para que o PT, Lula e Dilma sejam responsabilizados? Uma revolução para matar milhares de pessoas? Uma convulsão social que abale as estruturas da democracia? Como se permite ameaças declaradas de vários setores ao Ministro Teori e a divulgação do endereço de seu filho para ser linchado em nome do combate da corrupção e a imprensa maldita achando isso normal? Como admitir que a polícia brucutu de Alckmin proíba sob repressão, que petistas se reúnam, em plena democracia e isso ser encarado como normal? Como espionar a Presidenta da República e o ex-presidente Lula e também acharem isso normal, ferindo a Constituição? 

A única saída possível diante de um cenário tão conturbado será a organização popular e o enfrentamento ao desmonte das instituições e do processo democrático tão frágil da atualidade. Organizar e enfrentar para que as conquistas não sejam surrupiadas.

É bom que os golpistas saibam. Se acharem que o povo vai ficar de braços cruzados com impeachment de Dilma sem provas de crimes de responsabilidade e a prisão de Lula, também sem provas, tenham a certeza de que uma vez que isso ocorra, será como o rompimento de uma enorme barragem. Não haverá mais controle da situação.

Quem viver verá.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Não tem avaliação de conjuntura que dê conta do cenário político nacional

Tenho comentado em outros posts o descaramento da oposição ao governo federal, em não admitir ter pedido as eleições para Presidente. Claro que isso é uma estratégia descarada, tanto da oposição, como da elite devassa e da imprensa golpista, que visam, através de “golpe legal”, derrubar o governo eleito de forma democrática e em especial o Partido dos Trabalhadores, com alegações que anteriormente passavam despercebidas, como por exemplo, a captação de recursos eleitorais via “caixa dois”, ou ainda as tais “pedaladas fiscais”, que são apropriações de recursos públicos, no caso do governo federal, para continuidade de alguns importantes programas sociais.

Ao ampliar essa conversa, chega-se à conclusão que não faz o menor sentido o valor gasto numa campanha eleitoral, seja em nível municipal, estadual ou federal, para todos os cargos eletivos. Tornam-se campanhas milionárias, onde os eleitos se tornam presas fáceis de seus investidores e uma pessoa sem recurso e sem apoio financeiro, jamais se elegerá.
Só para se ter uma ideia, oficialmente declarado (fora o que entrou por fora), cada deputado federal eleito investiu em média R$ 1.429.000,00, sendo que os seis deputados que mais investiram, suas campanhas custaram entre 6 a 8 milhões de reais cada uma (Arlindo Chinaglia/PT, Iracema Portela/PP, Marco Antonio Cabral/PMDB, Eduardo Cunha/PMDB e Carlos Zaratini/PT). O investimento no senado também foi alto. Cada um dos 27 senadores eleitos investiu em média R$ 1.859.000 cada. As campanas mais caras foram a de Anastasia (PSDB) que custou 18,33 milhões, a do Serra (PSDB) 12,67 milhões e a do Caiado (DEM) que custou 9,62 milhões.

A pergunta que cada brasileiro e cada brasileira faz é de onde veio esse dinheiro, visto que é um valor muito alto para uma pessoa dispor em caixa próprio, a não ser de forma ilícita. Aí entra parte dos recursos dos Fundos Partidários e as empresas, que investiram pesado nas campanhas eleitorais, visando negócios futuros.

Vale lembrar que a maioria dessas empresas não tiraram esses recursos de seus lucros e sim do “caixa dois”, advindos da sonegação fiscal, que é um dos ralos gigantes de recursos públicos e alimentando cada vez mais a indústria da corrupção.

Imaginemos em 2015 as infinitas conjunturas vividas. Desde a votação dos deputados recusando o Plano Nacional de Participação Social, sugerido pela Presidenta Dilma, passando pelas inúmeras tentativas de golpe e as midiáticas manifestações, com patrocínio da TV Globo, contra o governo federal e contra o PT e chegando à caça ao ex-presidente Lula. Teve dias de termos vários cenários de conjuntura política, econômica e social.

Se um leigo em política fizesse uma análise da conjuntura nacional na semana passada, chegaria à conclusão de que tudo estava consumado. Dilma ia ser caçada, Lula ia ser preso e o PT na visão do PIG estava liquidado, não só com a debandada de inúmeros oportunistas e a difamação diária sofrida. Além disso, a direita surfava em altas ondas, pois a chamada Operação Lava a Jato, comandada por um juiz tucano, prendia apenas petistas, enquanto o pupilo Cunha continuava livre leve e solto.

O PSDB e o DEM comandavam a festa. Pousavam bons e éticos samaritanos, enquanto imputavam ao PT ser o inventor e Lula  o pai da corrução.

Eis que alguns fatos tenderam a mudar completamente o cenário. Primeiro foi o STF que rejeitou a comissão ilegal de Cunha. Depois veio a ocupação das escolas estaduais de São Paulo, se estendendo para outros estados, pelos meninos e meninas em luta pela educação. Além disso, a caminhada da esquerda em dezembro contra o golpe reforçou a ideia de que, mesmo descontente com a postura da Presidenta que criou um grupo de governo neoliberal na área econômica, a esquerda foi unida às ruas do país em defesa de seu governo e principalmente da democracia.

Porém, ninguém podia imaginar o que estaria para acontecer. Primeiro o roubo da merenda em São Paulo, comprometendo a cúpula tucana e seus aliados e segundo a ex-amante de FHC, que desnudou o até então o intocável presidente, que mesmo tendo comparado sua reeleição por 200 mil cada voto, privatizado todos patrimônio público federal e quebrado o país três vezes, pousava como o ídolo maior dos chamados “coxinhas” e uma galera alienada que pedia a volta da ditadura e o impeachment da Presidenta Dilma.

A coisa é muito séria, pois envolve a traição, o pagamento da mesada mensal com empresa de fachada, o pagamento de dois abortos, a falsificação do DNA do próprio filho e tantas outras acusações. Além disso, a irmã de sua ex-amante é funcionária fantasma de Serra e ele se defende que ela não aparece por estar em missão secreta. Só não falou qual é a missão.

Uma coisa é certa. O PIG fustigou tanto a vida de Dilma e de Lula, que as pessoas já estão se dando conta de que o grande objetivo é afastar Lula de 2018 e intervir diretamente nas conquistas do povo brasileiro de 2003 a 2015.

Principalmente esse ano eleitoral e de tantos interesses em jogo, com certeza teremos centenas de casos que mudarão, quase que diariamente a conjuntura nacional. O importante é quem luta por uma causa estar sempre vigilante.

Cabe a esquerda brasileira e os militantes de uma causa, se organizarem e se unirem em torno do projeto de inclusão em curso e pela manutenção plena da democracia brasileira tão jovem e tão perseguida.

Os próximos dias e meses prometem. Quem viver verá!

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Erradicação do analfabetismo continua como meta não alcançada


Ricardo Costa Gonçalves[1]

A erradicação do analfabetismo é a primeira das dez diretrizes estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE), no qual duas metas tentam atacar diretamente este problema. Presente em planos anteriores, o objetivo de combater o analfabetismo no país se desenvolve a passos lentos, com redução muito pequena nos índices a cada ano. De acordo com a última Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio (PNAD), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2009, o Brasil possui ainda 14, 1 milhões de analfabetos e mais de 20% da população é considerada analfabeta funcional. Questões como a formação de educadores, as estratégias para manter adultos nos programas de alfabetização e o próprio conceito de analfabetismo estão presente na discussão sobre como evitar que a meta tenha que ser prolongada para o decênio seguinte.

No PNE, a meta número 5 (cinco) prevê a alfabetização de todas as crianças até, no máximo, o final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental. A estratégia apresentada para consecução desta meta é ampliação do ensino fundamental para nove anos, já implementada em todo país. Segundo o texto do PNE, o objetivo é garantir a alfabetização plena de todas as crianças, no máximo, até ao final do terceiro ano, como recomendado pela Conferência Nacional de Educação (CONAE). Atualmente, as crianças de seis anos devem estar matriculadas no ano, encerrando aos oito anos o chamado ciclo de alfabetização, de forma que o último ano da pré-escola configura agora o primeiro ano do ensino fundamental. No entanto, esta estratégia ainda parte da ideia de que aumentar o tempo dedicado à alfabetização é a solução para o problema do fracasso escolar. Medidas como esta já foram adotadas anteriormente, sem dar resultados expressivos.

Outra estratégia assinalada para atingir a meta 5 (cinco) é aplicação de exames para avaliação alfabetização de crianças. Em 2008, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) aplicou a primeira Provinha Brasil, cujo objetivo é avaliar a alfabetização de crianças matriculadas no segundo ano de escolarização das escolas públicas do país. Os resultados da Provinha é de uso privativo dos professores e gestores das escolas, que interpretam os resultados a partir de orientações contidas no material distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) às escolas.

Outra meta é a número 9 (nove) que propõe elevar a taxa de escolarização da população com 15 anos ou mais para 93, 5% até 2015 e erradicar até 2020, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional. Esta meta tem relação com o compromisso firmado no Fórum Mundial de Educação em Dakar, em 2000, mas enfrenta um imenso desafio: a evasão de adultos dos programas de alfabetização.

Em 2003, o governo federal institui o Programa Brasil alfabetizado (PAB). Este programa é voltado para a educação de jovens e adultos (EJA), através de apoio a estudantes e aos professores da rede pública. Conforme dados da página do programa na internet, relativos a 2010, mais de um milhão e meio de pessoas estão sendo alfabetizadas por meio do PBA. No entanto, os resultados ainda estão distante do esperado. Entre 2000 e 2010, a taxa de analfabetismo entre a população a partir de 15 anos caiu de 13,63% para 9,63%, segundo IBGE.

Em relação ao analfabetismo funcional, os dados coletados pelo IBGE seguem as recomendações da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que considera analfabetismo funcional aquele que teve menos de quatro anos de estudos completos. A partir desse critério, é possível afirmar que mais de 20% da população é analfabeta funcional. Contudo os números não refletem a realidade da população brasileira quando se fala em habilidades de leitura e escrita e no conceito de letramento, ou seja, o uso social dessas habilidades.

Outra questão é em relação ao conceito de analfabetismo. A própria diretriz indicada pelo plano pode ser considera inadequada. A diretriz parte da visão errônea de que o analfabetismo é uma doença, um câncer, uma peste que precisa ser erradicada, curada de forma radical. A grafia erradicação só serve para situar o analfabetismo na ordem do biológico, do psicológico, do individual, escondendo a sua natureza social, ou seja, que é resultado das desigualdades e dos processos de marginalização social que sustentam o desenvolvimento das sociedades capitalistas. A diretriz deveria ser alterada para universalização da alfabetização.

Embora as metas estabelecidas no PNE sejam consideradas difíceis de atingir, alcançá-las pode não significar o avanço que se espera na educação brasileira. Portanto, precisamos refletir sobre “que tipo de educação estamos buscando”? Apenas de números ou realmente uma educação que busque o desenvolvimento pleno, crítico, cidadão desse sujeito? Logo, a questão do analfabetismo é uma questão de justiça social, portanto, exige uma atuação conjunta que leve em consideração as condições estruturais de exclusão política, socioeconômica, pedagógica e cultural.

A importância da alfabetização, como se pode inferir não só dos PNEs elaborados até o momento atual, mas da própria constituição brasileira, das discussões nas diversas instâncias da educação no país, governamentais ou não, é questão unânime, porem repleta de incongruência. Portanto, não basta afirmar que a alfabetização e a escolarização constituem objetivos prioritários. É necessário muito mais que isso. Há que traduzir tal discurso em fatos concretos: em dotação orçamentária adequada, em prédios escolares que mereçam o nome de escolas, com a devida infraestrutura e equipamentos; em docentes em número suficiente, qualificados e devidamente remunerados.




[1] Professor de Matemática da Rede Estadual de Ensino do Maranhão, Mestrando em Estado e Políticas Públicas pela FLACSO/FPA

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Como identificar um ou uma fascista travestido de democrata?

É inegável afirmar que a sociedade tem uma nova doença contagiosa, elaborada passo-a-passo pela direita e pela extrema direita. Trata-se do ódio, individual e coletivo, que não chega a ser um fenômeno isolado quando estamos falando de ciúmes, invejas e tantas outras loucuras humanas, porém no campo da política e do modo como vem sendo tratado e disseminado, podemos sim afirmar que é algo novo e assustador para a democracia.

Esse ambiente de ódio revelou duas criaturas ocultas até então. A primeira o “Coxinha” e de quebra ampliou o espectro fascista. Entre ambos habita uma galera alienada comandada pelo caos midiático e com pouca massa cinzenta na cabeça, que não luta desfila.

Esse conjunto forma uma tropa de paranoicos travestidos de éticos, de democratas e com a visão de que nada presta nessa Nação chamada Brasil. Bom mesmo é o EUA, principalmente pelo fato do fascínio de saber que estão tratando com um império que tenta dominar o planeta. Sonham inclusive de voltarmos a ser um agregado dos Estados Unidos e do FMI, como éramos nos governos tucanos.

Enquanto coxinhas são espécies alienadas, normalmente de classe média, pessoas mimadinhas pelo dinheiro, que se julgam melhores que os outros, comandados pelo PIG e nem sabem por que desfilam de verde e amarelo contra o PT, Lula e Dilma; fascistas são vermes de outra categoria, que seguem um ritual ideológico e são de alta periculosidade.

Apoiado no artigo da filósofa Marcia Tiburi, escrito para a Carta capital, me arisco a traçar um breve perfil dessas criaturas, no sentido, muito mais de alerta do que de enfrentamento político a eles, principalmente porque temos que combater primeiro quem fomenta suas criações, quem lhes dá guarida e quem altera o comportamento da sociedade com o envenenamento coletivo.

Segundo Marcia, é impossível estabelecer uma conversa com um ou uma fascista, pois essa gente sofre de uma grave incapacidade de se relacionar com pessoas que pensem de forma diferente, sobre qualquer aspecto e sobre qualquer assunto. Normalmente reagem aos berros. Exaltam-se com tudo e com nada. Sentem-se vítimas constantes da sociedade e se consideram eternos perseguidos. Acreditam que só gritando e humilhando as pessoas, poderão mostrar que são superiores ou ainda como esconder suas inferioridades humanas.

Outra faceta desse tipo de gente é odiar a democracia. Aliás, nem imaginam o que venha a ser isso e enxergam na ditadura militar a única forma de estabelecer a ordem e a luta constante contra o comunismo, que também, nem de longe, sabem de que se trata. Imaginam algo como era a frase que originou o lema da Bandeira Nacional: “Ordem é Progresso”. Ou seja, só com ordens repressivas haverá progresso. Quem não conhece alguém assim?

Aqui no Brasil odeiam tudo que se referira às questões sociais e adoram a meritocracia. Adoram a riqueza e odeiam não a pobreza, mas os pobres.

Porém, o ódio maior é destinado ao PT, a Dilma e principalmente ao Lula, pois ousaram intervir e mudar radicalmente um cenário nacional esculpido desde a invasão de 1500, exclusivamente para os moradores da casa-grande e seus representantes e o ódio aumenta quando lembram que o PT e alguns de seus aliados, que militam por uma causa, impedem na prática que fascistas e direitistas de toda ordem, transformem os menos favorecidos, numa gigantesca senzala a lhe servir.

Em regras gerais, tanto “coxinhas”, como fascistas, são preconceituosos, machistas, racistas, homofóbicos e em especial odeiam pobres. São pessoas (se podem ser chamados assim), que mesmo sabendo que de alguma forma são elas as grandes responsáveis pelas desigualdades humanas, imputam isso, ou a sorte imaginam ter, ou ainda a falsa visão de que as oportunidades estão para todos e todas, só não aproveita quem não quer. Muitos deles ou delas se escondem atrás de uma religião e viram adoradores da Teologia da Prosperidade e odeiam a Teologia da Libertação.

Ainda segundo Marcia, que concordo plenamente, o fascismo é uma aberração política, que se origina da miséria de nossa época. A pobreza e a miséria no mundo acabam sendo uma grande fonte de renda e de inspiração para fascistas, direitistas, populistas, políticos que transformam a política em profissão, o tal do terceiro setor, ONGs, OSCIPs e tantas outras patifarias e comportamentos neoliberais e de extrema direita, que ao invés de combater os males em suas raízes, se nutrem deles.

A falta de informação e de conhecimentos acaba sendo em última instância, os alicerces dos oportunistas, dos falsos líderes e dos paranoicos pelo poder. Essas pessoas sequer se amam, pois não conhecem o que é amar e sim serem servidas. São consumidas diariamente pelos inimigos invisíveis e pelo ódio que habitam em suas mentes e corações.
A única coisa boa a se pensar é que representam a extrema minoria da sociedade e parecem muitos devido à mídia golpista os transformarem em milhares de dragões, com forças sobrenaturais, porém não passam de pessoas oportunistas, doentes mentais e atormentadas pela defesa do lado que ocupam na luta de classe.

É bom que se diga que quando um(a) gestor(a) ou um(a) legislador(a) se comporta como alguém que não quer perder o que chama de poder, também, em maior ou menor proporção, não passa de instrumento que fortalece, tanto “coxinhas”, como fascistas.

A partir desse cenário, infelizmente a eleição de 2016 será o palco de novas disputas, não políticas e ideológicas, mas do bem contra o mal, dos que lutam pela liberdade contra os que querem a volta da ditadura militar. Dos que sonham com uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas e aqueles e aquelas que querem aprisionar a liberdade e transformar o povo de bem desse país em escravos a lhes servir.

O antídoto para essa situação e a essa gente é a união intransigente das pessoas de bem que militam e lutam por uma causa, formando uma grande rede que luta por justiça e liberdade.

Quem se cala diante de uma injustiça é tão cúmplice do processo, como aqueles e aquelas que a provocaram.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social

toni.cordeiro@ig.com.br

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Uma dose de otimismo num cenário adulterado

Você já parou para pensar no cenário político-econômico-social que estamos vivendo? O que deve ser verdade? O que deve ser mentira? Quais as maldades em jogo? Qual é a real situação da sociedade e do país? Quem adulterou o cenário em beneficio próprio? Qual o seu papel nessa história?

Enfim, são tantas perguntas que às vezes muitos se perdem nas possíveis respostas, pelo simples fato de não estarem atentos ao que se defende como projeto de vida e não estarem conectados com as causas humanas que estão sendo delapidadas. Aliás, nunca foi tão difícil acompanhar as inúmeras conjunturas que ocorre no país, às vezes no mesmo dia. O próprio PIG que se mostra grande sabedor passa cada mico que só.

Muitas pessoas desistem até de sonhar, perdidas no horizonte pintado por ilustres representantes da elite devassa sem cores. Isso gera, além do desconforto de achar que nunca mais será possível, certa aptidão pelas pessoas tristes em seguir falsos líderes ou em acreditar na bruxa da Branca de Neve.

A sociedade capitalista é cruel. Classifica as pessoas e as selecionam a partir da meritocracia, comandada e disputada por apenas 20% da humanidade e os 80% restantes, segundo eles, vieram ao mundo para servi-los.

Aprofundando esse problema, chegamos às religiões, onde muitas delas pregam a Teologia da Prosperidade, vendendo a ideia de que basta seguir os mandos de um pastor, para que sua vida tenha prosperidade. Uma heresia, tratada como se o mundo se dividisse apenas na dualidade de ricos e pobres, ou os de bem de vida e os que nunca terão nada e, portanto, deverão sempre servir os que têm ou que conseguiram ter.

Certa vez li um artigo com o título: “No universo da sociedade nem tudo é verdade”. Há tantos interesses em jogo que seria impossível enumerá-los nesse post. Desde o deus mercado que oferece o paraíso e vende o purgatório, passando por várias igrejas que vende a salvação, mas em troca a alma já foi vendida e chegando-se ao sombrio mundo da política como profissão, onde uma pessoa, que se acha iluminada, quer ter o direito de nascer político de carreira e morrer como tal. Exatamente como era o Senado antigamente no tempo do Império. Ninguém é tão bom que não mereça ser substituído, desde que seja por alguém que defende as causas coletivas.

Há de se entender que tudo não passa de uma grande peça teatral e o que é pior, em certos casos, uma grande tragédia humana. O que é o capitalismo onde metade da população mundial passa fome, senão uma grande tragédia? O que é a oposição direitista e golpista brasileira posando de democratas éticos, senão uma grande chanchada? A vida é como uma peça teatral. O grande problema é que não se permite ensaios. Errar e acertar fará parte do resultado final, mesmo contra a nossa vontade.

Normalmente pensamos que se o ano que acabou não foi bom, que venha o próximo que o receberemos com muito mais energia. Sem planejamento, mas com muita vontade de mudar. Não é o ano de 2016 que tem que ser diferente e sim cada um e cada uma de nós. Temos que ter atitudes positivas, imaginando que se não conseguirmos mudar a sociedade como um todo, mas se fizermos a caminhada juntos com quem confiamos e que defende a mesma causa que defendemos, plantaremos a mudança durante o caminho. Faremos uma grande revolução silenciosa.

Em minha opinião, um dos maiores problemas humanos, vem do fato das pessoas não saberem o que vieram fazer na vida. Não terem um projeto. Qual a missão a ser cumprida e principalmente que caminhos e com quem seguirão. Essas pessoas na prática não vivem e sim vegetam. Não conduzem. São conduzidas.  Assim, a primeira mudança que tem que ocorrer dentro de nós é identificarmos qual a razão das nossas existências e verificarmos se daríamos nossa própria vida para que ela pudesse acontecer.

Acredite menos no que você não vê e busque mais aliados para construir a tão sonhada ponte do presente incerto ao futuro promissor. Na dúvida consulte quem está fazendo. 

Que o ano de 2016 possa provocar em cada um e cada uma que estará lendo esse post, as mudanças necessárias para que possamos transformar juntos, esse enorme limão que a mídia mostra e que a politicalha provoca, numa grande e saborosa limonada.

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O ano de 2015 transitou entre o amor e o ódio

Aquele país fraterno, hospitaleiro e solidário com todos e todas, de todas as partes do mundo, acabou? Sucumbiu? Se depender da mídia golpista que elegeu o PT, Lula e Dilma como grandes vilões da história, não tenho dúvidas que sim. Porém, para o bem geral da nação esse bando de fundamentalistas delinquentes não chega a 10% da população. Parece maior porque a mídia os quintuplica e seus seguidores vão juntos para um rolezinho sem causa.

Onde estavam esses fundamentalistas, fascistas, racistas, homofóbicos e demais malucos nacionalistas? Escondidos em suas vaidades? Afinal, essas pessoas mudaram de uma hora para outra ou se revelaram? Foram dominadas por alguma força oculta ou o mau-caratismo aflorou? São vítimas do sistema ou velhos aliados disfarçados de democratas? Com certeza são perguntas e respostas desconcertantes, pois algumas dessas pessoas podem estar muito próximas de todos nós.

Nos 35 cursos que ministrei em 2015, pela Fundação Perseu Abramo, tivemos oportunidade de fazermos em sala um amplo debate sobre as diversas conjunturas nacionais e locais vividas no decorrer desse ano e que solução seria mais adequada para algumas situações. Um ano que com certeza ficará na história como um dos mais atípicos e complicados vividos pelo país em seus 515 anos de vida. Criou-se o ódio coletivo. Algo que só se via nas torcidas de futebol e agora também presente na vida política. Parece até que os zumbis saíram das tumbas e os monstros das tocas e juntos caminham sem rumo.

É importante afirmar, sem medo de errar, que nada do que aconteceu e está acontecendo foi ou é por acaso. Trata-se de um plano arquitetado milimetricamente pelas forças conservadoras e pela elite herdeira da casa-grande, a começar pelo seu maior instrumento que é o PIG – Partido da Imprensa Golpista, partidária e com resquícios fascistas, que coloca em xeque e em suspeita, não só as diversas universidades que formam essa gente, como principalmente os ditos profissionais que perdem a moral e o rumo quando optam por serem parciais e defenderem apenas um lado.

Outro ponto importante que discutimos nesse ano foi a gigantesca traição da chamada Classe C nas últimas eleições, que sem dúvidas foi a classe mais beneficiada, não só com os projetos sociais, mas principalmente pela política desenvolvimentista dos governos Lula e Dilma, que destinou às suas vidas diversos projetos, como por exemplo, o Minha Casa Minha Vida, Universidade para Todos, Mais Médicos e tantos outros, que mudaram a história de milhares de pessoas, de milhares de mulheres e de milhares de jovens. Na prática aconteceu com essa gente uma revolução silenciosa.

Apenas a título de esclarecimento, vale ressaltar que enquanto os eleitores das Classes A e B votaram majoritariamente no tucano Aécio e os das Classes D e E votaram majoritariamente na Dilma, os eleitores da Classe C, não sabiam se eram ricos ou pobres e, portanto oscilaram e se dividiram, dando uma vitória apertada à Presidenta Dilma. Uma traição sem igual com quem sempre os tratou como sujeitos dessa nova história.

Estamos observando no Brasil e em várias partes do mundo uma perfeita armadilha mundial. Um desmonte em velhas conquistas. Uma nova fase do capitalismo, comandada pelo capital econômico e com total apoio da velha mídia, de falsos líderes, dos remanescentes da casa-grande e de seus agentes. Muda-se o país, porém o método é o mesmo. Nega-se a luta de classe, porém é só observar a composição do novo Congresso brasileiro, para se notar o quanto a classe trabalhadora iludida, perdeu em termos de composição, organização, participação e principalmente de direitos.

Enquanto a esquerda só pensou em cargos e relaxou quanto ao acompanhamento das entidades e de formação política que possibilitasse o surgimento de novas lideranças, a direita nadou de braçada. Sequestrou o discurso da esquerda, infiltrou gente em todas as esferas nacionais, criou hegemonia na comunicação com um discurso nacionalista e fascista e, sobretudo plantou a ideia de que todos os políticos roubam e política é uma coisa ruim. Com isso, pregou-se também a ideia do voto em qualquer um ou uma.

Enquanto os velhos militantes de esquerda foram desprezados e substituídos por repúblicas de mandatos, que buscam “garrafinhas” e não militantes, a direita criou um atalho atraente, substituindo o militante de uma causa por voluntários, através do ópio chamado terceiro setor. Um engodo que veio no pacote do projeto neoliberal e com a privatização com o principal objetivo de substituir o Estado em suas funções sociais. Algo lindo aos olhos da sociedade, mas cruel quanto ao verdadeiro sentido das coisas.

A direita começa 2015 elegendo o Congresso Nacional mais esdruxulo e conservador da história, rejeitando o Plano Nacional de Participação Social, fazendo uma devassa nos projetos sociais e da classe trabalhadora e termina com o sonho de um golpe na cabeça. Além disso, conseguiram confundir e atrair alguns aliados do governo e atingir também o PT, que teve uma debandada da turma que entrou no partido apenas para tirar proveito próprio. Um bando de oportunistas que vieram para o PT quando o partido optou por ser um partido de massa e pagou um alto preço por isso.

A estratégia da direita foi enfraquecer o PT, Lula e Dilma e criar um factoide que o Brasil está quebrado pela incompetência da Presidência Dilma e a mesma merece ser tirada do cargo porque usou dinheiro dos bancos públicos para investir no social sem aprovação do Congresso. É claro que a Presidenta teve sua grande parcela de culpa nessa história, ao criar uma equipe econômica para agradar o deus mercado, a custas do social e trabalhista.

O que sobrou de positivo dessa triste história para 2016? Sobraram os fatos, os projetos implantados, a mudança de qualidade de vida numa enorme parte da população, além da esperança dessa crise ser passageira. Sobrou também a inusitada união da juventude estudantil paulista que colocou os tucanos de São Paulo na roda, além da união da esquerda brasileira contra o golpe e pela manutenção da democracia, assim como a vontade de quem luta pela liberdade e por uma causa em continuar de plantão contra qualquer tipo de golpe.

Enquanto a direita descobriu que a Onda Vermelha voltou mais unida que nunca em defesa da Presidenta e da democracia, como no último  16 de dezembro, a esquerda descobriu que a luta tem que continuar e que nunca tivemos no poder e sim apenas e tão somente nos governos. O verdadeiro poder continua intacto com o mercado e com as demais forças econômicas. Parece até que precisamos ter vivido na pele para acordamos.

Sobrou por fim, muito amor pela causa a ser compartilhado com quem sente a necessidade e se dispõe a lutar por uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.

Que o ano novo nos fortaleça e alinhe nossos pensamentos para que possamos subverter a ordem, se necessário for, rumo à organização popular.

Meu espírito se avoluma na defesa de uma causa e se arrepia ao enxergar um(a) golpista à frente tentando sucumbir direitos universais conquistados.

Que em 2016 possamos para cada golpista presente termos centenas de pessoas do bem lutando pela liberdade, pelo amor ao próximo, pela solidariedade e pela democracia.

Feliz Ano Novo!
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social

toni.cordeiro@ig.com.br

domingo, 6 de dezembro de 2015

A grande lição dos Meninos e Meninas de São Paulo

Imagem: www.redebrasilatual.com.br

Acompanho a educação pública do estado de São Paulo há um bom tempo, inclusive tendo lecionado em vários momentos. Não é de hoje que o objetivo principal do governo do PSDB é sucatear o ensino público com o intuito dos pais que podem transferir seus filhos para as escolas privadas e os que não podem ver seus filhos desistindo de estudar ou terminando seus estudos de forma extremamente precária, sem saber ler e muito menos escrever.

A coisa se torna mais séria em sala de aula, pois o professorado se divide em dois grupos muito distintos. De um lado um grupo predestinado, que mesmo sem a menor condição de lecionar, com baixos salários, sem alimentação, sem verbas para infraestrutura e com salas superlotadas, se dedicam ao máximo para tornarem os limões em limonada e convivem harmoniosamente com os alunos e alunas. Do outro, um grupo de professores e professoras, que comungam com o pensamento neoliberal dos dirigentes. Tratam os alunos como bandos, assediando-os moralmente independente da idade, dão péssimas aulas e torna a vida nas escolas um confronto diário de pura sobrevivência.

Sem contar essa parte que já é de pura exclusão, vem essa tal reforma atual, que segundo a revista Brasil Atual, tem endereço certo. Querem privatizar a gestão das escolas, através das OSs – Organizações Sociais. Na verdade uma empresa disfarçada de ONG, como já ocorre na saúde. Esse método já aconteceu em Pernambuco, quando Jarbas Vasconcelos era o governador e o tucano Mendonça Filho (infelizmente da minha cidade natal), era seu vice. Um desastre sem precedentes. Ou seja, uma escola pública com gestão privada. Essa coisa é uma copia de um método ultrapassado americano, denominado Escola Charter.

Essa saga privatista já está ocorrendo em vários estados, como Paraná, Goiás, Pará, Espírito Santo e agora em São Paulo. Um método que visa em primeiro plano fechar escolas, demitir professores e enxugar o que for possível, no sentido de baratear o custo para as OSs, na busca de mais lucros e divisão dessa bolada, contra a sorte de meninos e meninas, que por serem filhos de pobres, a única alternativa é entregar ao destino a sorte deles e delas.

No plano de São Paulo estava aprovado por decreto o fechamento de 94 escolas, o fechamento de 3000 salas de aula e a transferência de milhares de jovens, que entre outros problemas, separaria filhos de uma mesma família, além de ser um amontoado de alunos e alunas, sem infraestrutura, sem tecnologia, sem funcionários e sem gente preparada para algo tão complexo. Um verdadeiro depósito de gente que segundo eles aceitariam tudo sem ao menos reclamar.

Porém, na calada da noite o galo cantou e surgiu do nada uma firme nação jovem para enfrentar o “monstro da lagoa”, como na música de Chico Buarque que deu origem ao primeiro protesto com alunos da Escola Antonio Viana na periferia de Guarulhos (https://www.youtube.com/watch?v=T7MUd11laTI).

Quem podia imaginar que alunos e alunas tão desprestigiados, tão abandonados pela sociedade elitista e tão discriminados, inclusive por um grupo de professores e dirigentes, imaginando-se com pouca autoestima, pudessem surgir de forma assustadoramente organizada e fazerem um enfrentamento político nas escolas ocupadas e nas ruas, capaz de fazer o governador tucano revogar temporariamente o maldito decreto e cair o Secretário de Educação? Nem o mais renomado sociólogo ou ainda antropólogo podia prever um cenário como esse.

Com lemas como: Ocupar para Educar e Aqui não tem Arrego, os meninos e meninas de São Paulo iam ocupando escolas e fazendo protestos diários reprimidos pela polícia.

Como dizia um amigo meu do movimento de habitação de São Bernardo do Campo, foi um Momento Lindo. Lutaram com a alma. Buscaram forças para acamparem dentro das escolas, onde em vários momentos a única coisa que tinha como alimento era miojo e leite com chocolate. Ocuparam sem reclamar. Com regras claras e sem destruir nada do que encontraram. No meio disso tudo, alguns professores, alguns pais, alguns vizinhos, colaboradores e várias entidades lhe deram apoio, tanto material, emocional e de atividades, como aulas de diversas modalidades e resistiram sem titubear.  

Uma revolução anarquista que balançou os galhos do Tucanistão Paulista. Um protesto para ficar na história, com recado bem claro para: professores, dirigentes e principalmente o governo tucano. A partir desse momento nem as escolas serão as mesmas e muito menos esse meninos e meninas que durante quase um mês fizeram milhares de pessoas que se acham lideranças, que acham que sabem tudo e os políticos de carreira, refletirem que de agora em diante quem manda no pedaço é quem tem uma causa para lutar.

A vergonhosa repressão policial deixou claro que tem cor e partido. Se forem os black blocs arrebentando tudo ou ainda as manifestações de coxinhas aloprados contra o governo Dilma tem passe livre, inclusive da mídia golpista. Agora se forem professores e alunos lutando por seus direitos, os policiais se comportam como verdadeiras bestas-feras fardadas e vão batendo e arrebentando o que encontram pela frente. Uma triste realidade policial que mata milhares de jovens negros e da periferia todos os anos, como se fosse uma grande limpeza encomendada pela elite branca da Casa Grande.

Que o governo tucano entenda de uma vez por todas, que a sociedade de bem estará atenta para que esses meninos e meninas não sejam usados por quem quer que seja, que sua luta não seja partidarizada ou ainda contra qualquer tipo de repressão que possa vir, como por exemplo, expulsões, transferências compulsórias ou outro tipo de manobra.

Que a luta de São Paulo possa servir de exemplo para outros estados que estão nas garras tucanas ou ainda de outros estados que são governados por também gestores que querem destruir o ensino público para meninos e meninas de baixa renda.

Quando tudo parecia perdido, surge do centro da terra uma força jovem incrível, capaz de contagiar todos aqueles e aquelas que lutam por uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Uma verdadeira aula de cidadania para quem achava que a luz da esperança já tinha se apagado.

Ousar vencer. O caminho de quem luta pela liberdade.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O que buscam na verdade quem se elege em nome do povo?

Estamos terminando um ano muito complicado para quem não domina os códigos do poder. Um ano onde o ódio se fez presente e a direita representante da elite econômica da Casa Grande nadou de braçada, por várias questões.

A primeira delas pela própria desorganização dos movimentos sociais, com raras exceções, como é o caso do MST que se tornou um movimento de vanguarda na luta pela terra e pela Reforma Agrária, ou ainda a CONTAG que representa os agricultores em suas diversas frentes.

A segunda vem do fato das forças progressistas acharem que chegaram ao poder, sendo que num país capitalista como o nosso, como bem afirmava Karl Marx, quem determina e determinará é o econômico. Vide a crise atual.

Chegamos ao poder ou chegamos aos governos? Essa confusão está plantada, inclusive na cabeça de muitos petistas e faz com que não se avance em termos de conscientização, de formação política-ideológica e principalmente de renovação de lideranças e de quadros. Esse fenômeno é também sintomático com maior proporção, no setor sindical. Muitos sindicalistas se tornam verdadeiros proprietários de seus sindicatos e as eleições são decididas na base dos chamados “bate paus”, que são trogloditas contratados para bater e ameaçar os contrários de quem os contratou. Uma verdadeira síndrome dos faraós. Em muitos sindicatos Só a diretoria se beneficia. A categoria fica sempre com as sobras.

Porém, a mais séria e complicada questão, vem do fato do Congresso mais conservador que a história já produziu, elaborando e votando leis da Idade Média, como é o caso do Estatuto da Família, ou ainda favoráveis à terceirização, que será um duro golpe na classe trabalhadora. Vale observar o desserviço prestado pelos sindicatos e centrais pelegos, que elegem seus representantes para fazerem o que o patronato sempre desejou.

É importante observar qual foi o primeiro ato do novo Congresso. Logo de cara, para dizer quem manda, a maioria dos deputados rejeitou sem nenhuma reação popular, o Projeto da Política Nacional de Participação Social apresentado pela Presidenta Dilma, com o simples argumento de que se tratava de um projeto bolivariano (fazendo citação à Simon Bolívar – líder revolucionário da Venezuela) e que a aprovação desse projeto seria um desrespeito para quem foi eleito justamente para representar a população.

Quem acredita nisso? Quem de fato se sente representado pela maioria dos deputados eleitos? Quem esse povo representa?

Diria que o ano foi tão complicado que merece ser estudado, para que se chegue à conclusão de que se um terreno não for limpo e constantemente monitorado, quem toma conta são as ervas daninhas. É assim que se sente a maioria do povo brasileiro, ouvindo todos os dias nos noticiários que todos roubam, porém na hora de prender, quem paga a culpa é justamente o partido do governo e alguns aliados e todos os demais pousam de bons samaritanos, mesmo se sabendo que foram eles que quebraram o Brasil várias vezes. Se uma grande parte da justiça fosse imparcial, prenderia seja quem for de que partido for.

Voltando ao tema principal desse post, vale perguntar, diante da conjuntura nacional atual, o que faz com que uma pessoa se coloque à disposição para um cargo eletivo, seja no executivo ou no legislativo? Que projetos defendem? A quem representam? Como a população que não participa toma suas decisões na hora de votar? Que papel tem uma mídia pertencente a seis famílias abastadas?

A impressão que se tem é que a maioria dos eleitos, seja pelo executivo ou legislativo, defendem apenas seus interesses pessoais e de grupos, ou pior, os interesses de quem os financiou. Governam e legislam de costas para a população, de olhos bem abertos para o financeiro atrás do “Caixa Dois”, sem projetos, sem diagnósticos, sem planejamentos, sem nenhuma sistematização dos processos, sem melhoria para os servidores de carreira, que são tratados como máquinas. Enfim sem nenhum compromisso com a melhoria da qualidade de vida da população, principalmente a que mais necessita de apoio.

O que fazer? Não perder a esperança da mudança e saber que não há nada que não se possa mudar. É preciso dialogar com a população. É necessário formar novas lideranças. É fundamental investir em formação técnica e política. É preciso voltar ao processo de cooptação, tão bem sucedido na década de 80 e 90, onde homens e mulheres disputavam as ideias no seio da sociedade.

Não há desculpas. Se os partidos não fazem, ou ainda, se as direções partidárias, dos movimentos ou sindicais, não estão interessadas pelo medo de uma disputa futura, sempre haverá alguém que estará e esse é o único caminho. Faz-se necessário de forma urgente a criação de grupos de estudos e trabalho, com capacidade de organização e formação e formar o maior número de pessoas que compreendam minimamente os códigos do poder e os enfrentamentos que virão. Essa é a única solução para se continuar sonhando com uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.

Como dizia Paulo Freire: “Quer dizer, para isso, é preciso que a gente anteontem já tivesse descruzado os braços para reinventar essa sociedade. Uma sociedade onde a exigência de justiça não signifique nenhuma limitação da liberdade e a plenitude da liberdade não signifique nenhuma restrição do dever de justiça”.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br