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terça-feira, 6 de março de 2018

Esperança - Esperar ou Esperançar?

Mais uma vez enveredo na escrita para falar de esperança. Um termo saliente, que caminha com os humanos, ora como a energia da certeza e ora como um pretexto para a espera.

Esperancei no texto “Um brinde a esperança”, buscando suas melhores afirmações e desta vez busco contextualizar se o ato de esperançar vem como a esperança da crença ou como a espera da incerteza. Duas linhas tênues, quase imperceptíveis da esperança que nascem juntas, porém com conotações completamente diferentes em termos de comportamento humano. Quem esperança persevera e quem espera aposta no acaso.
O filósofo Mário Sergio Cortella dialoga com essa dualidade ao afirmar que uma coisa é ter esperança do verbo esperar e a outra, bem diferente, é ter esperança do verbo esperançar, pois esperança do verbo esperar é apenas espera e esperança do verbo esperançar é juntar fé com determinação, vencer obstáculos e a ação de caminhar rumo ao que se almeja para o amanhã.
Esperança por definição é almejar, sonhar, buscar, agir e assim esperança busca contorno para se tornar o contrário de espera, pois enquanto esperança do verbo esperançar é vida em movimento, esperança do verbo esperar é passividade. Enquanto esperança é ação, espera é solidão.
Tu já pensaste nisso? Já parasse para pensar se tua esperança não é daquelas que só espera o que almejas, mas nada fazes para que aconteça?
Se fôssemos analisar do ponto de vista de uma causa, esperança do verbo esperançar poderia ser uma caminhada junto com a missão, monitorando os contratempos e ao mesmo tempo se deleitando com os resultados positivos. Enquanto isso esperança do verbo esperar, provavelmente faria com que o tempo fosse senhor da razão e os obstáculos justificassem a falta de conquistas.
Ao navegar pelo Rio Tapajós a caminho de Itaituba no Pará e de volta à Santarém, observando a paisagem, onde parte dela se encontra destruída pela ganância humana, tive a oportunidade de refletir sobre missão e causa e cheguei à conclusão que assim como a esperança é confundida com espera, a missão é confundida com a desobrigação de viver, como se nascêssemos para o nada ou ainda sem nenhuma razão que pudesse dar sentido à causa.
Ás vezes nos distraímos com a vida e esquecemos de dar consistência a tudo que produzimos, ou ainda nos esquecemos de dar importância a nós mesmos e com isso passamos a esperar que as coisas aconteçam, ao invés de agirmos para que ocorram. Isso além de ser um vício cultural, para quem luta por uma causa acaba também se tornando um desvio político, pelo menos para quem se propõe a lutar uma por uma nova sociedade e não se prepara para isso.
Porém, do ponto de vista da nossa existência o que é mesmo a esperança? Será que sabemos esperançar? Será que as nossas crenças são maiores que as nossas desilusões? Onde buscamos entendimento que corrijam nossos comportamentos de descrença por falta de confiança própria?
Esperança do verbo esperar é jogar com o futuro. É simplesmente se adaptar aos problemas da vida e porque não dizer fugir do problema central, que às vezes está a um palmo da nossa compreensão. Enquanto isso, esperança do verbo esperançar é vida que surge, caminhos que se abrem, veredas como alternativas para encurtar caminhos. Esperançar é antes de tudo crer na vida e na possibilidade de se refazer sempre.
Minha esperança vem da certeza da luta concreta aprendida à duras penas e busca consistência nas ruas junto com as pessoas mais necessitadas, irmanadas em busca dos sonhos perdidos. Vem dos sonhos de mudar a sociedade rumo a uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Vem do sorriso aberto das pequenas conquistas e da esperança que o melhor ainda está por vir.
Tenho o sentimento que um menino ou uma menina provavelmente tem esperança de ser tudo na vida, o adulto tem esperança que a vida prospere e as pessoas idosas tem esperança que seus ensinamentos e experiências de vida sirvam de exemplo, pelo menos para os seus.
Esperança a meu ver nasce da decisão de querer mudar, da certeza que podemos ser o que quisermos ser, na medida em que vamos conquistando confiança e aprimorando a plenitude de nossa missão. Esperança é chama que se renova, antes que nossa disposição e crença cedam para a desilusão.
Espero esperança que possamos esperançar juntos, que dialoguemos com as diversas vozes que tenta nos desviar do caminho que traçamos juntos.
A esperança sozinha é como uma nuvem passageira. Junto com o otimismo e a disposição de lutar se transforma na energia necessária para a construção de um novo amanhã. É preciso agir com a esperança, antes que ela vire espera.
Finalizo buscando Fernando Pessoa que escreveu: “Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?”.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social

domingo, 11 de fevereiro de 2018

E por falar em saudade...

Conta uma lenda que um menino perguntou a um sábio: o que é saudade? Ele sentou e olhando para o menino calmamente explicou: “Meu filho saudade é a expressão do nosso ser, que se materializa em nossa mente, em resposta ao que vivemos e gostaríamos de reviver”. Uma resposta de pura reflexão.

Hoje, me lembrando disso me atrevi a falar de saudade, considerada a sétima palavra mais difícil de traduzir. Um sentimento tão complexo, que pode ser ao mesmo tempo choros, risos, angústias, mas também possibilidades de caminhos refeitos. É certo que em alguns casos, a saudade devia ficar era quietinha lá no passado, como afirma Mário Quintana: “O passado não reconhece seu lugar: está sempre presente...”, como quem diz: fica aí onde está e não amola!

Quem não tem uma saudade guardada levante à mão? Quem não tem uma saudade que mereça ser lembrada? Que saudade nos leva ao riso e ao choro?

Enfim, infinitas possibilidades e formas de expressar a saudade. Saudade do que houve e saudade incômoda do porque que não houve...

Vou procurar nesse post falar de saudade como nostalgia e não como melancolia, aproveitando o pensamento de Heitor Cony, que afirmava: “Nostalgia é saudade do que vivi e melancolia é saudade do que não vivi”.

Bob Marley disse certa vez que saudade é um sentimento que quando não cabe no coração escorre pelos olhos. No meu entendimento os olhos expressam o que o coração transborda. Os mesmo olhos que reagem com lágrimas a uma lembrança triste pela perda, podem brilhar quando a mente leva a uma saudade prazerosa. Uma dualidade que vai moldando nossa parte emocional, que vai enfrentando o debate entre a razão e a emoção.

Diria até que saudade é como erva daninha, que quando se da conta vai se alastrando pelo jardim afora. Para isso temos que nos precaver de forma permanente para que a saudade não nos faça apenas presos ao passado e esqueçamos que a vida tem que ser vivida a partir do presente, mas com foco no futuro. Ou seja, aproveitar o passado, viver o presente e focar no futuro.

Nas viagens de nossas inquietações, Drummont alertava para a saudade inexistente, aquela que nunca ocorreu na prática, pelo menos na dimensão do que se imaginava. Dizia ele: “Também temos saudade do que não existiu, e dói bastante”. Algo que deve ser mais inquietante ainda. Fernando Pessoa também fez referência à mesma coisa: “Não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram”. É como se fosse uma espécie de fantasia, que ora gera um vazio e ora angustia. Nem quero pensar!

Do ponto de vista da nossa existência saudade vem para preencher um vazio, para nos lembrar de que um ciclo foi interrompido, que algo que era bom poderá não mais acontecer. O poeta Peninha dizia que saudade é melhor do que caminhar vazio, como se para ele a saudade, mesmo incômoda, fosse uma espécie de alimento que acaba preenchendo o vazio das nossas imaginações.

Já que a coisa parece inevitável, porque não leva-la às escolas como parte integrante de historia, pois saudade é vida que se viveu. É sentimento acumulado, mas, sobretudo é parte fundamental da história de cada ser humano. Uma possibilidade de trabalhar com as crianças reforçando seus valores humanísticos e de convivência que serão lembrados no futuro e também trabalhar com elas como lidar com a saudade de suas perdas.

Tenho gostosas lembranças da minha infância num sítio em Belo Jardim, Pernambuco: os banhos de rio que nem ele existe mais, dos momentos de sol e chuva, uma mistura perfeita que exalava o cheiro da terra molhada e após a chuva a relva que nascia preguiçosa nos roçados e se deparava com centenas de passarinhos a se deliciar e do carrossel no distrito de Serra do Vento. Nem imaginava que o carrossel seria uma figura fundamental na minha vida profissional, após a conversa com Paulo Freire em 1989. Era bom e eu nem sabia.

Clarice Lispector falando de si nos alerta para algo importante, o cuidado para que não nos percamos de nós mesmos e isso vir a provocar uma saudade do que éramos e de quem poderíamos ter sido, ou ainda um medo do que poderemos ser. Disse ela: “Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, atendendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde estou eu? Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim - enfim, mas que medo - de mim mesma”.

Seja como for, saudade é, foi e será uma parte fundamental das nossas vidas e existe para nos lembrar que estivemos e estamos com o coração batendo provando que viver vale a pena e prontos ou não para vivermos outros momentos que nos gerem muitas saudades futuras. Saudade é antes de tudo um hiato entre o que foi e o que é na atualidade.

Como bem disso Vinicius de Morais: “Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos...”

Eu por exemplo nesse momento, estou com saudade de um doce de leite de cabra que a minha vó Isabel fazia em seu fogão de lenha, sempre para agradar os netos e vinha na rede me chamar para que eu pudesse comer ainda quente. Como foi tão bom vó!

Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com


domingo, 4 de fevereiro de 2018

O Brasil da minha Avó Mariana

Desde criança sempre gostei muito de ouvir as histórias vivenciadas por minha avó materna que se chama Mariana, relatos de uma vida Severina, causos de uma mulher nordestina que nasceu num Agreste pernambucano pouco convidativo nos idos de Março de 1932. A história de vida da minha avó se confunde com a história de milhares de nordestinas, brasileiras e pernambucanas que trazem consigo resquícios de uma sociedade colonial firmada no machismo, alienação e fanatismo religioso regado à miséria. Em uma noite com o celular nas mãos resolvi gravar suas palavras, o diálogo era sobre fome, miséria e a desgraça dos anos de sua juventude. Como historiadora que sou não deixei de inserir sua fala num contexto histórico familiar aos meus ouvidos e as páginas dos diversos ensaios que nos contaram a tragédia da fome.
            A seguir um relato não de quem ouviu falar, mas de quem vivenciou, de quem chegou a tocar naquele cenário de Vidas Secas, assim com seu jeito simples e sem preocupações ortográficas me relatou minha avó Mariana:
...Era tudo um jiral de varas. Um catatal de vara com uma esteira velha. Era minha “fia”. Era a riqueza, era essa. Mas pronto! Ah minha “fia” eu nasci e me crie foi vendo gente passar necessidade. Roubar mandioca, pelos rosados. Era o povo roubando mandioca pra fazer “bejú”. Aproveitavam que os donos não “tavam” no roçado. Arrancar mandioca.
-Mas foram no meu roçado e arrancaram não sei quantos pés de mandioca.
            Tudo pra fazer “bejú” pra alimentar os “fios”. Tá pensando que era brincadeira era? Hum. Esse povo novo não sabe disso não. Pensa que nunca houve isso não. Mas houve muito viu! O que passou no mundo da “cambada véia”, só quem sabe quem for antigo.
            O povo “ia” pro Juazeiro de pé. Pedir coisa ao meu Padre Cícero. E quando chegava lá, pedia coisa pra ele. Ele dava alguma coisa que ele tinha que tinha poder.
Mas era tanta da coisa que você não sabe de nada não. Chegava numa casa. Aquele horror de gente. Escondidos por que era tudo rasgado, “entangado”. Era fogo. Hum.
Meu pai era uma pessoa... Que meu pai ajudou muito. Ele ajudou muito o povo. Quando ele sabia que tinha uma pessoa passando mal. Ele mandava ir ver coisa lá. Ele tinha feijão de “fole”. Roça pra fazer farinha à vontade. A pessoa ia pro roçado de mandioca assim. Quando dá fé chegava quatro, cinco pedindo umas mandioquinhas pra aprontar pra “relar” fazer “bejú”. Hum. Você não sabe de nada não, mas eu, eu sei. Eu vi coisa quando era criança.
Água? Era uma seca! Tinha ano que era seco. Pra ver uma gota naquele “vinquivinco”, um pote d’água. Na cabeça. Meu pai como tinha “animá” levava numa âncora. Ele tinhas umas âncoras de carregar água. E quem não tinha era na cabeça. Saiam de madrugada aquele rebanho pra ir ver água no Retiro. “Muié” e homem. Tudo. Com os potes na cabeça. E era longe vissi! Mais de légua.
            A volta era fogo.       Hoje todo mundo é rico. Graças a Jesus. Todo mundo é rico, tem ninguém mais pobre não, mas naquele tempo. Daquele povo antigo tem poucos.
            Chegava numa casa. Naquelas casas que tinha o que comer. Era que o povo dava uma coisinha de farinha. Outro um feijão. Por que tinha quem “trabaiava”, quem podia “trabaiava” pra ele, mas muitos não podiam por que iam morrer de fome. Trabalhar pra dá de comer a família.
Ah minha “fia”! A coisa era preta. Eu vi tanta crise na minha vida. Fazia dó.
            O relato acima descrito com riqueza de detalhe foi ao longo da história contado em diversas obras como, por exemplo, Josué de Castro em Geografia da Fome, na literatura por Graciliano Ramos em Vidas Secas, Os Sertões por Euclides da Cunha entre outras obras que se debruçaram sobre este tempo e esta temática, mas todos escritos sob a ótica analítica foram de suma importância para a posteridade, mas não há nada mais valioso que a memória das muitas Marianas, é pessoas que não leram que não ouviram falar, nem se quer sabem que a história de sua vida pertence a um contexto histórico, mas que seus olhos foram testemunhas e suas vidas vítimas de um descaso social materializado, que hoje temos conhecimento através das obras históricas e literárias.
            O Brasil da minha avó Mariana foi este Brasil por ela relatado, um Brasil desigual, cruel, que massacrou milhares de Marianas.
Cibele dos Santos Silva
Especialista em História-Belo Jardim-PE

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Por onde anda a identidade do povo brasileiro?

Às vezes por necessidade de trabalho e outras por pura preocupação, paro só para pensar em como traduzir o complexo momento que vivemos no país. Sinto na alma que por mais que sorrisos vastos inundem o espectro do nosso dia a dia, há sem dúvidas uma grande dose de tristeza perambulando no imaginário de milhares de pessoas. Algo que além da tristeza traz junto uma profunda crise de identidade. Algo tão profundo que o mais tolo dos tolos um dia acordará e quem sabe se dará conta de que nem mesmo chão tem mais.

Como explicar que de uma hora para outra todas as lutas dos últimos cem anos foram suprimidas e comprometidas e como resultado apenas uma passividade absurda? Cadê o respeito a quem deu a vida para que se tivesse liberdade e melhores condições para o povo trabalhador? Como levar ânimo para quem perdeu o rumo das coisas e que ontem mesmo cantava suas conquistas em versos, prosas e muito consumo?

Talvez a resposta de algumas dessas perguntas esteja na leitura precisa que a professora Marilena Chauí fazia sobre a conjuntura da época, ao se referir ao conjunto de trabalhadoras e trabalhadores. Enquanto se vendia a ilusão que o país tinha produzido uma nova classe média, ela afirmava que se tratava apenas de uma nova classe trabalhadora, que tinha conquistado o que nunca teve acesso, mas estava longe de se afirmar como pertencentes à classe média, a qual caracterizava como uma verdadeira aberração.

Diria que foi uma doce ilusão que caminhou lado a lado com o povo sofrido brasileiro por algum tempo e por falta de lastro, consciência crítica e política e a necessidade de sair do individual para o coletivo tudo veio abaixo. O golpe em curso foi algo permitido e premeditado. Um golpe de classe que segue rigorosamente a restauração das dez metas estabelecidas no Consenso de Washington.  Uma fatídica reunião ocorrida nos EUA em 1989, que tinha como pressuposto básico a implantação do neoliberalismo na América Latina e no Caribe. Um projeto de sucesso com FHC e interrompido pelos governos Lula e Dilma. Esse foi e é o verdadeiro enredo do momento que vivemos.

O resultado disso nos leva a impressão de estamos dentro de um filme de terror, vivendo cada cena apavorante. É como se um monstro desenvolvido em laboratório tivesse sido criado em casa como um bicho de estimação. Ele cresceu e engoliu seus criadores. O que o povo conquistou nos últimos cem anos, perdeu em várias canetadas e votos pagos com o dinheiro do povo.

Ao vasculharmos a história do Brasil, extremamente mal contada ao longo do tempo, percebemos que têm em seu DNA, invasão, golpes e escrachos políticos de toda ordem, mas também muita luta. Muita gente se organizou para lutar por direitos e mudanças na política nacional ao longo de sua historia.

Apesar disso, existem enormes contradições que transitam no tempo na política tupiniquim, onde os herdeiros da casa grande e seus representantes sempre esconderam que usaram e usam a boa fé do povo brasileiro para os enganarem e se manterem no poder, enquanto uma grande parte dos de baixo sempre consentiram em troca de algumas benesses. Uma contradição que manteve a democracia representativa atrelada aos interesses escusos nacionais e internacionais e que hoje se encontra praticamente falida.

Penso que o que sobrar desse golpe sairá muito mais fortalecido, tanto para a direita como para a esquerda. A direita que não tinha lastro agora tem e deem graças à mídia partidária e de classe que fez a cabeça de grande parte da população, além do que formaram alguns militantes, que é uma coisa nova no cenário político brasileiro. A dança dos verdes-amarelos consistiu num ponto de partida de pertencimento ideológico dessa linha de pensamento, que tem como grandes instrumentos o deus mercado, a meritocracia e o acúmulo de capital. A direita vive no Brasil sua lua de mel com o poder econômico.

Por outro lado, a esquerda brasileira tem a grande oportunidade de se reinventar, de criar a tão sonhada frente de esquerda, a partir de um projeto unificado de sociedade, organizar a sociedade na luta de seus direitos, além de retomar antigas bandeiras históricas perdidas no individualismo de cada segmento e de cada linha de pensamento.

Para hoje no processo de enfrentamento, a grande tarefa será a organização nacional de comitês de resistência suprapartidários, ou ainda de Conselhos Populares, com base na capacitação, principalmente para que se possibilite o nascimento de novas lideranças, que é a grande escassez do momento.

Conquistas se fazem conquistando. Lutas concretas necessitam de exercício diário e contínuo e projeto de vida necessita de sonhos que o alimente.

Cada vez que o trem da história faz uma curva caem por terra centenas de falsos líderes e dão espaço para que, da base da sociedade, sujam novos atores que lutam por uma causa.
Ter uma causa é antes de tudo se comprometer com milhares de pessoas que perderam suas identidades, resgatando seus sonhos perdidos e alimentando o direito de participação como grande instrumento de vida.

Que consigamos embarcar no trem da história e fazermos a travessia rumo a uma sociedade justa, livre e igual para todos e todas.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

sábado, 27 de janeiro de 2018

24 DE JANEIRO DE 2018: UM DIA TÍPICO NO BRASIL

“Não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar”. Não. Esta frase não foi dita em 2014 para alinhar a inalienável PresidentA Dilma. Esta frase foi proferida pelo jornalista Carlos Lacerda no ano de 1950 para tentar alinhar o postutalnte a presidente da república, depois de 15 anos governando o país - com golpe e tudo- (1930 - 1945), Getúlio Vargas e tirá-lo do pareô de concorrer às eleições. Getúlio foi candidato e ganhou. Governou até quando pôde. Saiu no caixão. Mas, não cedeu. Ou melhor, cedeu a vida no lugar da entrega. Neste país a história de repete. Como farsa ou como tragédia, viu, Marx. Se repete. E, dia 24 de janeiro de 2018 será mais um dia de repetição da história. Devemos lembrarmo-nos de que já a fizemos de formas distintas em diversos momentos. A nossa história já foi de revoltas; de levantes; de Canudos, de Balaiadas, Alfaiates, Malês... Foi e é de quilombo. O fato deste texto ser escrito por mim já apresenta o que é resistência de um povo. 
No entanto, não adentrando no vergonhoso juridicamente; no torpe socialmente e seletivo escravagista penalmente; processo que condena o presidente Lula, no dia 24 de janeiro de 2018 não está em jogo somente um julgamento. Estaremos tratando da escrita de mais um capitulo da história do Brasil. História construída sobre os escombros de corpos indígenas e negros. Feita sob a negação da participação e contribuição das mulheres, para além dos choros da dores. História feita de nordestinos que somente “serviam a quem vence o vencedor”, - os vencedores moravam no Sul Maravilha, viu, Camões! Somente isso. Terras brasilis em que as Ilhas de riquezas formam o arquipélago desajuntado em geografia e organizadíssimo em sentimentos de perseguição e de matanças. Dia 24 estará na história. Não como um ponto fora da curva, mas como a lógica. A lógica? Poderia até ser. Mas, D. Lindu mãe do Lula, educou seu filho para ajudar a mudar a lógica.  
A lógica, esta senhora da razão, do raciocínio. Esta moça da ciência foi desafiada mais uma vez. Em outros momentos também o foi e, com tamanha grandeza para o seu tempo. Agora, em nossos tempos, também representa a mesma grandeza. Lula desrracionalizou a lógica e lhe pôs poesia. Introduziu a metáforas futebolísticas para falar que cabia um keinesianismo na economia. Apresentou para o reinado súditos cansados. Não de trabalho, mas cansados de ser súditos. E, os reis ficaram sabendo que haviam no Brasil uma legião de pessoas com capacidade extraordinária para fazer o neodesenvolvimentismo seguir. Isso foi cutucar a onça varas curtas, Singer? Bem provável, né!?
O fato não é este. Somente quero expor que não se trata de amor, este texto. Na ciência tem de caber poesia para que a gente entre. E, que a gente puxe mais gente, mais gente nossa, como me orienta o maior movimento, a meu ver, de resistência no Brasil hoje, que são os movimentos diversos e em varias frentes que as mulheres negras fazem. E nos ensinam. 
Lula não desafiou ninguém. Lula negocia até as pessoas perceberem que entre o Estado e a Nação há pessoas... e, o entendimento de Estado-Nação somente se faz com a devida porosidade. A questão está em que a elite brasileira foi constituída pela negação, não pela afirmação. Assim sendo, não era para entrar ninguém. Mas, entrou. Entrou e fica. Já está na história. Se a história da gente fosse com as perdas individuais a gente já havia sucumbido. A nossa é coletiva.  
Enquanto gestor e político, antes de Lula somente Getúlio, mesmo sendo filho da elite agraria do Sul ousou a fazer a novidade. E fez. Pagou com a vida. Para conseguir apontar a arma contra a própria cabeça precisa de ter os 10 dedos da mão em riste contra. Lula não tem. Somente tem 9. Um dos dedos se foi ajudando este Brasil a sem maior e caber mais gente. Este que sustentaria jamais nasceu porque não seria ou será usado. A coragem de Getúlio neste momento é revivida e reorientada por Lula. Guerras de posição e guerras de movimento é de acordo com o tempo, né, Gramsci... (este teve os olhos ofuscados pela luz da liberdade italiana a o as retinas não suportaram dois dias foras do Cárcere que valeu ao mundo os Cadernos). Lula é filho de muitos ensinamentos. Filho e uma força inaugural. De uma coragem descomunal. De uma audácia sem igual... de uma perseguição infernal. Não vencerão. 
24 de janeiro está na história do Brasil como uma das grandes datas. Das datas que a gente sente tristeza em que ocorra, mas alegria em viver ao lado de quem tem coragem. Como diz um amigo meu: “pode chorar pode mijar” vocês podem até escolher as datas, mas a gente escolhe a história. Presidente é povo e o povo tem um presidente. Tem o presidente: Luís Inácio Lula da Silva. Eleição sem Lula é fraude. Sigamos! 
Jocivaldo dos Anjos, 20/01/18

BRASIL, BEM-VINDO AOS TEMPOS MACHADIANOS: POR UM NEO-ILUMINISMO À BRASILEIRA.

Jocivaldo dos Anjos¹
Welcome!
Acordamos neste dia em que a Pauliceia desvairada celebra mais uma primavera na Selva de Pedra, onde a “garoa rasga a carne naquela torre de Babel”. Gosto daquela Babel e vez em quando vou naquele esgarçamento de línguas e linguagens somente interpretadas pelo realismo. Quem chora ali mandam pra casa ou pro saco. Ali é terra de pouco sentimentos. Terra de bandeiras e de bandeirantes. De bandeirantes que adentraram as almas, mataram corpos e receberam homenagens. Reinado do realismo machadiano. O real no real. Sendo de lá pode ser o dólar, euro... no real. Assim é ela. A cidade que não dorme e odeia romanticismo. Os românticos costumam dizer que “não existe amor em SP”. SP não está nem aí para o amor. SP é razão. Quem quiser paixões que vá para outras bandas do Brasil em que foi ensinada que “somente o amor constrói”. Não foi amor o que construí nesta cidade o 1% mais rico do planeta. Não foi. Não foi por amor que foi construído por lá o centro nervoso do capitalismo brasileiro. Não foi por amor que o massacre do Carandiru contribuiu para a inauguração de novas formas de relacionamentos entre encarcerados e encarcerados e sociedade. Não é por amor que meu irmão levanta as 04:00 da manhã para trabalhar. Em São Paulo somente o amor não constrói. Nem em canto nenhum. O amor é uma bazofia criada para inglês (brasileiro ver). O axioma é sua falta. A retorica é sua presença. Mas, de conversa bonita o céu está cheio. O inferno é a realidade. E também: o inferno não são os outros. E, o quinto dos infernos ficou maior ainda. Não é por amor que meus filhos podem estudar em escola privada. É pela mensalidade que o meu corpo escravizado pelas possibilidades melhores que os corpos escravizados de minha mãe e de meu pai me permitiram. Também não é por amor que vou visita-los vez em quando. É pelas minhas condições de pagar as passagens de deslocamentos entre a Soteropólis e a Gata Borralheira. O papo hoje é reto. Na real.
Não sou pessimista. Apenas realista, de vez em quando. Afinal tem dias que Machado deve ser de Assis. De Assis para mostrar que a preposição DE indica que tem um dono. Não é Machado de todo mundo. É somente de Assis. Tem dono. No capitalismo se tem quem tem. No capitalismo todo mundo tem um dono. Mesmo que implícito. No capitalismo quem não tem dono é como aquele preto que não sofre racismo. A isso a gente aprendeu a chamar, no realismo de burrice, cegueira, escravidão adestrada... que leva a canalhice. Se faz por não saber não importa. Errado é errado e acabou. Quem não sabe que trate de aprender e apreender. Crime é crime e eu sou eu”. Quem pode ter tem. Quem pode dominar domina. Quem teve a herança possui. Pronto! Então, vamos parar de sonhos para entendermos o que é de quem e o que isso representa. De ressaca não se folga na segunda-feira, necessariamente. De ressaca, no máximo, vai-se ao banheiro vomitar. Geralmente, numa como a deste dia 25 de janeiro de 2018 vomita-se a bílis de fígado. Aquele liquido gosmento verde que parece se rasgar parte do corpo a cada saída forçada do corpo. Amarga demais. Dê mais. E não afasta de mim este cálice.  
Se hoje é dia de ressaca é porque o de ontem foi de festa. Ontem, 24 de janeiro de 2018 foi mais um dia da festa da história do Brasil. Já houve outros momentos de festas, mas alguns se sobressai. Somente lembrarei de três para ilustração: 23 de abril de 1500 (para celebrar a apropriação das terras, corpos, almas e estupros de indígenas no Brasil; dia 14 de maio de 1988 para celebrar a continuidade da escravidão no povo afro-brasileiro e, premiando isso ainda com leis que permitisse prender os corpos cujos os machados de antanho não conseguiu arrancar a cabeça e levar em praça pública. Por se falar em praça pública (que é somente do povo rico.Dos plutocratas brasileiros) e cabeças decepadas, lembremo-nos dia 22 de abril , que se sucedeu a arribada à Praça de Ouro Preto a cabeça de mais um: Tiradentes foi o da vez. Desta forma, este dia 25 de janeiro de 2018 não é um ponto fora da curva. É mais um dia de nossa história ressaqueada. Aliás, devemos afirmar também que como somos formados por um positivismo cartesiano exacerbado, quem sente a ressaca não é quem estava no banquete. É assim de quem estava trabalhando no banquete servindo aos donos da festa e, já de corpo esguio e cansados, tomou um gole da pinga pior que tinha pela manhã para voltar pra casa. Esta desceu queimando tudo e... continuou bebendo pelo caminho até se chegar em casa. - Quem não ouviu aquela frase: eu bebo e você embebeda? Nesta pegada!
Ontem houve festa no país. Houve até o CarnaLula. Esta festa foi nomeada desta forma para celebrar a condenação do ex-presidente Lula por crime de corrupção. A corrupção, como em outras datas, precisa de ser banida. Não toda a corrupção. A seletiva corrupção. A corrupção que pode permitir o reposicionamento de classes. O que pode, em alguma medida, permitir outras inclusões na agenda de desenvolvimento nacional. Pensemos e entendamos. Nos EUA o fim do apartheid foi fruto de que? No Brasil a criação dos programas de inclusão é fruto de que? A contratação daquela banda para aquela festa é fruto de que? – fruto da competência de quem conseguiu decifrar o enigma da esfinge. Né naummmmm? 
O convite agora não é invisível como em outros tempos. A implicitude abre passagem para que nesta avenida passe o carro forte, com as notas verdes e à frente haja negros fortes e bons em carros fortes melhores e armados até os dentes para a defesa do carro e dos seus donos e de outros negros, afirmando como quem manda quer que seja e quem é mandado deve agir. Tempos de razão. No tempo da razão se racionaliza. Não se trata de um novo iluminismo. Mas, de um iluminismo à Brasileira, que seja. Somente devo afirmar que é tempo da razão. Necessariamente um iluminismo feito por quem foi objeto de estudo dos velhos iluministas. Um neo-iluminismo. Na razão a razão dirige. 
Na ressaca se toma chá de boldo. Não adianta dizer que não vai beber nunca mais. (as drogas fazem parte das celebrações e do fugere humano). Não adianta enjoar e passar o dia dormindo. Na ressaca a gente organiza para beber a dose que se aguenta. Ou somente beber (até ficar de ressaca) quando puder celebrar. Se não puder celebrar bastante, melhor não beber. Na ressaca a gente já pode refletir, pois, apesar de estarmos de ressaca já estamos sóbrios. E, já podemos ler Machado de Assis na ressaca e desligar o sertanejo universitário. Na ressaca a é ex. e o ex. já tem outra mais nova e mais gostosa. Na ressaca a economia solidária não resolve os problemas da parte superior do capitalismo. Na ressaca a marginal deve servir somente para o acesso a via principal. Na ressaca não há conciliação de classe e nem uma nova classe média. Na ressaca, preto é preto, branco é branco, bicha é bicha, puta e puta, corno e corno e veado é veado. Bem-vindos a ressaca. E não tomem chá de boldo para não permitir embriagar novamente. Sem choros pelas palavras e coisa feitas nos momentos das bebedeiras. Mesmo que por osmose. 
Nunca vi ninguém ganhar nada chorando. Se ganha lutando dentro de uma dada realidade. Dentro das possibilidades de se construir a história em Marx. Dentro do sentimento de Potência em Nietzsche. Dentro das relações sociais em Machado. Guardem os livros de romantismo. Queimem os de autoajuda. Liguem a TV (seja na vênus platinada ou em qualquer outro partido do poder) A vida real é dura. Muito dura. Duríssima. Bem-vindos. E, sem chororô. Sigamos!  

1. Jocivaldo dos Anjos é aluno especial do Doutorado em Administração Pública pela Universidade federal da Bahia – UFBA. jocinegao@hotmail.com
Belo Horizonte – MG – Brasil, 25 de janeiro de 2018, 

RAÍZES HISTÓRICAS: FANTASMAS SANGRAM NOSSA DEMOCRACIA

É preciso debruçar-se sobre o período republicano para compreender as raízes golpistas das forças que sempre atuaram contra a Democracia. A História pontua e demonstra que a ruptura democrática ocorrida em 2016 não foi um fato isolado dentro da nossa História, mas uma reincidência histórica, tramada inclusive pelos mesmos atores de outrora, pelo uso dos mesmos instrumentos ideológicos e pelos mesmos grupos.
Tragicamente a História do Brasil trás em sua narrativa sucessivos golpes, e essa prática foi herdada pelo regime Republicano, inclusive a República nasceu de um golpe contra a Monarquia, não que a Monarquia fosse positiva. Não era, de forma alguma, mas a República não foi instaurada, ela foi outorgada pelas mesmas classes que hoje sangram a Democracia. Por isso, é elementar uma análise histórica do período Republicano na História do Brasil, uma vez que o momento em que vivemos tem raízes e ocorrências dentro da República.
A observação sobre fatos e fatores políticos que antecederam o Golpe Parlamentar de 2016 torna a compreensão dos acontecimentos mais clara para a compreensão dos acontecimentos contemporâneos, pois todos os eventos históricos estão interligados no tempo e no espaço. É preciso compreender as amarras de cada ocorrência e seu respingo na sociedade em que estamos inseridos.
Concretizado o Golpe Parlamentar de 2016 que depôs a Presidenta eleita, Dilma Rousseff, a elite orgânica, a mídia e o judiciário são sem sombra de dúvida os maiores beneficiados, pois além de participarem diretamente da administração pública estão usufruindo de cargos, de privilégios e dinheiro público, para através das reformas impopulares e à custa do direito do Povo Trabalhador manter-se no poder ao lado do governo mais impopular da história desse país, isto é, do Sr. Michel Fora Temer.
Os fatos ocorrentes no Brasil desde 2016 são mais sequências de páginas da nossa história que tem em seu enredo o ataque à Democracia, dias que nos envergonham tal qual1964, pois são páginas marcadas como mais um dos capítulos da História Republicana onde mais o Estado Democrático de Direito foi violado.
A condenação de Lula pelas duas primeiras instâncias num processo sem uma prova contundente e indiscutível torna Lula mais um Tiradentes, mais um Arraes, mais um Jango, mais um Gregório Bezerra, mais um brasileiro que tem sua liberdade cerceada pelos golpistas que transitam pela História do Brasil em diferentes épocas, mas com a mesma máscara, com o mesmo objetivo: Sangrar a Democracia.
Cibele dos Santos Silva
Pós-graduada em História
Belo Jardim-PE

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Em defesa da Democracia e de Lula

ImagemLideranças políticas de entidades sociais, sindicais, estudantis, professores, partidos de esquerda e militantes  independentes das causas sociais do Território do Sisal, vieram à público manifestar a indignação com a justiça seletiva que insiste em condenar o Ex-Presidente Lula sem as devidas provas efetivas que comprovem o seu suposto envolvimento no caso do denominado Triplex da OAS. 

Sendo assim, como forma de fortalecer a democracia, prestamos nossa solidariedade ao Ex-Presidente Lula, aquele que mais implementou políticas sociais que mudaram substancialmente a vida do povo pobre trabalhador do Brasil, Nordeste, Bahia, Sisal, Serrinha, bem como defender o Estado de Direito em nosso país. 
Para que a democracia seja assegurada plenamente, é que estivemos nesta quarta (24/01), realizando uma grande caminhada pelas ruas de Serrinha, manifestando nosso direito democrático de cidadão(ã), de maneira pacífica, mas altiva no tocante a denunciar todas as mazelas e retirada de direitos do nosso povo.
Ademais, conclamamos toda sociedade de Serrinha e Território do Sisal para que juntos possamos gritar em uma só voz, pela democracia e pela justiça social. Vamos seguir em frente defendendo o povo brasileiro.
#EleiçãoSemLulaEFraude
Serrinha-Ba, 24 de janeiro de 2018.
Jivaldo Oliveira*

Pedagogo, Especialista em Gestão Pública (UNEB).

*COM LULA ATÉ O FIM*

Foto: Rede Brasil Atual
Lula em ato na Praça da República/SP

A decisão de hoje do Tribunal Federal de Recursos da 4ª Região foi de envergonhar a comunidade jurídica, especialmente o Poder Judiciário do país, mas isso será tema para outro texto.

A questão que importa é: e agora, o que será de Lula? Agora, Lula é e será o nosso candidato a Presidente da República!

Mas e se ele for preso?

Ainda assim. Teremos um candidato a Presidente da República do Brasil atrás das grades, denunciando ao mundo que o país foi vítima de um golpe de Estado e continua sob o jugo dos golpistas, corruptos e sanguessugas do erário, arvorados no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.

Mas ele poderá ser candidato?

Sim. A lei eleitoral lhe garante. O partido apresenta o pedido de registro da candidatura e deixa que impugnem. Qualquer que seja o resultado, ele poderá levar adiante sua candidatura até o fim. O processo prosseguirá no STF e não terá data para terminar.

Mas e se ele vier a ser eleito e posteriormente vier a perder o recurso no Supremo?

Os recursos tramitarão lentamente, mas se houver o trânsito em julgado da decisão e ele estiver lá por perto da metade do período de mandato, haverá *novas eleições* e poderemos emplacar um Fernando Haddad, por exemplo, para suceder Lula. 

O Plano B do PT só pode ser esse, para depois das eleições de 2018, para a remota hipótese de novas eleições.

Essa possibilidade está garantida pelo §3° do art. 224 do Código Eleitoral:

"§ 3o A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, *a realização de novas eleições*, independentemente do número de votos anulados"

Se essa possível cassação vier a ocorrer durante os dois últimos anos do mandato, a eleição será indireta, de acordo com o art. 81, §1°, da Constituição. Ainda assim, o governo Lula, conforme o grau de popularidade, poderá emplacar um ministro, por exemplo - o próprio Haddad -, na improvável eleição indireta, a cargo do Congresso Nacional.

Portanto, não temos razão alguma para esmorecer. *Vamos com Lula sim, de cabeça erguida, até o fim*.

*Luís Antônio Albiero*
Advogado em Americana e Capivari
Assessor jurídico legislativo, com atuação no Direito Eleitoral

JOVEM, MULHER E DA PERIFERIA

O que falar desse personagem que, a cada dia vem crescendo e ocupando espaços com suas particularidades, que vem mostrando suas lutas e causando reflexões constantes nessa sociedade hipócrita e machista?
Pois bem, vamos por parte.  A juventude é vista como um dos melhores períodos da vida. É nela, que muitos querem chegar e não desejam sair. É um momento de descobertas, de oportunidades, de novidades, de frio na barriga, de expectativas e de erros justificáveis.
É o momento que mais se escuta a frase “aproveite a vida”. Por carregar tantas coisas, essa fase se torna confusa e insegura e necessitará de alguns ingredientes para um bom desenvolvimento, dentre elas estão: uma estrutura familiar, um meio social construtivo, bem como a garantia de direitos básicos para sobrevivência. Quando nos deparamos, com um meio social que não dispõe desses itens, todo esse cenário de juventude se transforma, pois essa ausência os coloca em situação de vulnerabilidade.
E, se tratando da Mulher tudo fica pior. É sabido que, a história das mulheres trás resquícios de misoginia e sofrimentos, muitos justificados por uma sociedade em ordem para manter os traços elitistas e religiosos, ou em nome de um ventre sadio. Essas premissas para tal violência se dá, pela proteção da posição masculina, que em diversas culturas busca através da retórica machista perpetuar abusos contra a figura feminina, não importando os espaços por ela ocupados.
A mulher, sobretudo jovem, representa ameaça e quando exposta, torna-se alvo de termos pejorativos, como por exemplo, rotulada “a caçadora de homens”, e por essa razão passa a ser combatida de diversas maneiras: exclusão social,  discriminação sexual, hostilidade, o patriarcado, ideias de privilégio masculino, a depreciação, violência física e objetivação sexual. Não só por seus algozes, mas em sua grande parte, pelas próprias mulheres, pois muitas destas absorveram através da história e do conservadorismo as mesmas práticas e discursos.
Esse sujeito aqui apresentado trava enfrentamentos em seu período de juventude, batalha diariamente para se firmar como mulher, e, sobretudo, essa luta se torna constante, se nela estiver o desejo de ocupar espaços padronizados para elite. É nesse último que os assédios sexuais se intensificam, por ser vista como presa fácil, caracterizada com termos depreciativos reproduzidos a sua localização de moradia, ou seja, a “periferia”.
A LUTA DA MULHER JOVEM E DA PERIFERIA É UMA GUERRA CONTRA TUDO E CONTRA TODOS, POIS A MISOGINIA PERSISTE!!!
Edryelle Maria
Militante Social em Belo Jardim - PE
 23 de janeiro de 2018

domingo, 7 de janeiro de 2018

Um canto para quem se encanta

Sinto grandes emoções para esse ano. Primeiro pelos diversos momentos de enfrentamento ao golpe em curso que virão e segundo por ser um ano eleitoral. 

Infelizmente as eleições são decididas pelo emocional e não pela razão. Assim, em qualquer canto do país haverá alguém para encantar uma parte da população, independente que seja do bem ou do mal. A população inconsciente estará sempre encantada pelo canto da sereia.

Quem sabe um dia a população vote por convicção, a partir da leitura de um projeto político desenvolvido a várias mãos e por afinidade ideológica. Porém isso ainda é pura utopia. A maioria da população canta a canção de seus opressores e se encanta tentando os imitar. Algo que só se explica para quem sabe o que é alienação.

Mudando de assunto, iniciei minhas escritas esse ano por outras veredas, no sentido, não de fugir da causa que sempre defendi, mas tentando buscar inspiração do outro lado da rua. Algo que pudesse informar, mas também que atraísse o leitor e a leitora para os cantos que o texto relata, ou ainda que os encantassem levando-os para dentro das histórias. Uma ousadia poética com o objetivo de prender a atenção de quem passar por aqui.

Para esse post resolvi dar um título vago, onde ao mesmo tempo em que canto pode ser um som, também pode ser um lugar qualquer ou específico e o encantar que pode ser algo deslumbrante, também possa ser algo mágico com o intuito de desaparecer.

Nasci numa casinha num pé de serra pelas mãos de uma parteira. Coisa bem comum naqueles tempos e naquelas bandas onde nasci. Cresci sentindo o cheiro do mato, brincando no rio e nas horas vagas subindo num pé de pitomba (da família da lichia) como passatempo. Quer coisa melhor?

Descobri com o tempo que devo ser filho do sol, pois apesar de curtir uma chuva fina que caia sobre as árvores, quando criança, o que me alegrava mesmo eram os raios de sol. Raios de luz brilhando nas águas do rio. Réstias que faziam eu e meus primos brincar com as sombras e assim passava o tempo.

O encontro com o contraditório em termos de vida, no papel de migrante nordestino chegado a São Paulo ainda criança e pobre e a reação à violenta discriminação social que sofri me levaram à militância política. Um encontro com a poesia em termos de vida, pois ali todos e todas eram iguais e sonhavam sonhos coletivos. Nem precisava contar o meu.

Durante muito tempo sonhamos e atuamos por um novo mundo, por justiça social e por igualdade de direitos e cantamos as músicas de protesto da época em vários cantos da cidade. Nessa época, de todos os cantos da América Latina sofrida saiam cantos que nos fazia viver. Verdadeiros saraus recheados de conjuntura.

Aqui no texto, se canto for cantar, me leva a uma canção interpretada por Mercedes Sosa e Beth Carvalho, que começa assim: “Eu só peço a Deus; Que a dor não me seja indiferente; Que a morte não me encontre um dia; Solitário sem ter feito o que eu queria”. Um desafio à própria existência. Um recado para quem tem uma causa para lutar. Mercedes e Beth sempre lutaram por uma causa.

Porém se canto aqui for um lugar, fico imaginando um cantinho além do horizonte. Uma casinha com fogão de lenha onde se possa ver o por do sol e quem sabe um violão afinado para ai canto ser som e lugar ao mesmo tempo.

A vida não devia ser assim? Cheia de histórias para contar. Em sua essência o ser humano é assim. A maioria das pessoas tem uma história de vida que adoraria contá-la para alguém que a valorizasse, mas em muitas vezes não se encontra ninguém disposto a ouvir. Aí nesse caso o encantar passa a mera vontade de desaparecer.

Uma das coisas que certamente altera o tom da vida e o comportamento dos seres humanos é o poder, ou o que se chama de poder. Quem não conhece uma pessoa dócil e gentil, que ao simples contato com o que imagina ser poder virou um monstro ou ainda um ser intocável? Por outro lado, as várias formas de poder, para a população desprovida de conhecimento, acabam se tornando uma bela ilusão. Um canto onde o verdadeiro lobo permanece encantado.

No filme a Guerra do Fogo, quando uma tribo descobriu a magia do fogo, que naquele momento simboliza o poder para quem o tivesse, logo formou um exército em volta para guardar de outros seres a grande descoberta. Assim nasceu a ideia de polícia para guardar o simbolismo de um grupo em detrimento ao restante da população e repressão aos intrusos do poder.

Voltando ao canto como som, como esquecer da música do Vandré: “Há soldados armados; Amados ou não; Quase todos perdidos; De armas na mão; Nos quartéis lhes ensinam; Uma antiga lição; De morrer pela pátria; E viver sem razão”. A “Síndrome do Rambo” invadindo as mentes com o poder das armas.

E se encantar aqui no texto for compreendido como uma reação humana que provoque uma sensação de interesse intenso, porque não tentar sentir o que um beija-flor sente quando experimenta o néctar de uma flor, ou ainda quando se depara com um jardim? Agora se encantar for o ébrio provocado por falsas sensações, que dê vontade simplesmente de desaparecer, porque não enfrentar como se fosse a última batalha?

Prefiro a utopia de mudar a sociedade cantando nas passeatas da vida, do que ser um ser imutável e inútil daqueles que esmorecem quando descobrem que nem história deixarão. Minha história não se encanta por qualquer canto. Faço história cantando com as pessoas, só pelo prazer de ouvir a voz em coro.

Prefiro ainda encantar as pessoas subvertendo a ordem imposta de cima para baixo, afirmando que elas podem mudar suas próprias histórias, do que aceitar um canto qualquer como resultado do meu projeto de vida.

Que cantemos juntos e juntas o hino da vitória, seja em que canto for.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social