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sábado, 1 de outubro de 2016

O que esperar dessas eleições municipais?

O exercício democrático nos oferece amanhã mais um capítulo das eleições municipais, em meio a uma das maiores crises políticas da história do país. Uma crise que tem como objetivos: conter o avanço democrático dos últimos doze anos, estancar as conquistas trabalhistas e intervir diretamente nas conquistas sociais, terceirizando as funções sociais do Estado.

Além disso, ressurge como grande cenário político ideológico a retomada do projeto neoliberal interrompido pelos governos de Lula e Dilma. Isso inclui entre outros retrocessos, a volta do FMI, a venda do que restou de patrimônio nacional, a gestão do petróleo pelas estatais americanas e a introdução de empresas multinacionais da construção civil, a partir da quebra das nacionais com o evento da lava jato. Algo bem parecido com o que está ocorrendo no Iraque, após o assassinato de Saddam Hussein.

Trata-se na verdade de mais uma estratégia do capitalismo mundial, que ocorre em vários países, mas com prioridade para os países da América Latina.

Nem se discute a importância das eleições, pois muita gente foi presa e torturada e muitos deram a vida para que tivéssemos a oportunidade de votar, após o golpe militar de 64 que durou mais de vinte anos. Porém, algumas perguntas se fazem necessárias: O que de fato uma eleição como essa, num momento tão crítico politicamente falando, trará de resultados concretos para a realização dos sonhos de milhares de brasileiros e de brasileiras? Que país sobrou após o golpe que derrubou a Presidenta Dilma? O que será da esquerda brasileira, que a meu ver parou no tempo? Como organizar o enfrentamento a essa nova modalidade de golpe?

Na busca de algumas respostas sem paixão, se faz necessário primeiro entender o enredo do processo político atual no país. O golpe foi alimentado sob o pretexto do combate à corrupção e pelo deus mercado entender que precisava derrubar Dilma, mesmo que isso gerasse um prejuízo incalculável para algumas de suas empresas, visando especialmente às eleições de 2018 e barrando qualquer possibilidade de uma possível volta de Lula como Presidente.

Num processo kamikaze, ao mesmo tempo em que a mídia golpista, junto com a elite devassa negava a importância da boa política e do voto, na medida em que afirmavam que todos os políticos roubam e que a política é uma coisa ruim, recorreram ao Congresso Nacional bizarro eleito pelo desprezo à política e derruba-se a presidenta eleita democraticamente por mais de 54 milhões de eleitores. Fato consumado por 61 elementos, onde a maioria deles tem problemas com a justiça.

Para piorar a situação, alguns partidos de origem progressista e parte dos integrantes de alguns partidos de esquerda, cederam à tentação de virarem partidos de resultados ou partidos eleitorais e profissionais da política, não investindo em formação política, não estimulando o surgimento de novas lideranças e abandonando o compromisso de ajudar a sociedade a se organizar em busca de seus direitos. Com isso perderam a identidade e a credibilidade. Viraram organizações idênticas que lutam apenas por pequenos poderes, resultados favoráveis e vagas nos espaços públicos em troca de apoio e mandatos. Surge assim uma nova personagem, a República de Mandatos. Algo que se apresenta maior do que as próprias direções partidárias.

Do ponto de vista dos eleitos, a impressão que se tem é que a maioria deles e delas, nos 5570 municípios, seja para o executivo ou legislativo, governam e legislam para si ou para o grupo que os apoia e os financia e não para e com a população. Governam e legislam de costas para o povo, principalmente para os que mais precisam. Nem a maioria dos eleitos do campo progressista ou de esquerda, se submete a governar a partir de Fóruns Temáticos Permanentes e legislar a partir de Conselhos de Mandatos.

Apenas a título de ilustração, certa vez numa palestra para membros da gestão pública de uma prefeitura de médio porte, com secretários, diretores, gerentes e apoiadores, além de lideranças comunitárias, inclusive com o prefeito presente, perguntei a cada secretário se sabia em detalhes os projetos de seus colegas e o que cada projeto tinha em comum e para minha surpresa a resposta, quase unânime, foi a de que não sabiam. Ninguém sabia o que estava acontecendo na secretaria ao lado da sua. No meio a falta de planejamento e organização, temas como esse não vão para as pautas das reuniões do secretariado. Em geral se administra o caos e assim tudo vira urgência.

Para complicar ainda mais perguntei também quem conhecia em detalhes o Plano de Governo, se tinham participado do processo de formulação, ou ainda quem já tinha visto pelo menos um exemplar do Plano. Para todas as perguntas, por incrível que pareça foi também não. Isso mostra que o Plano de Governo, para muitos gestores é apenas um papel e não um compromisso que devia ser atualizado a cada encontro com a população.
Outro fator preponderante vem do fato das alianças serem mercantilistas e não programáticas, o que faz com que cada secretaria vire uma prefeitura independente, por falta de transversalidade e integração de governo.

O que isso tem a ver com o resultado do processo eleitoral que se aproxima? No meu entendimento muito, pois é nesse desencontro que a politica se desenvolve, com ou sem nenhuma participação da população.

Essa breve análise de fatos nos revela que infelizmente para uma enorme quantidade de políticos, o importante é ganhar. Não importa como e muito menos com quem. A única forma de tentar intervir nesse processo viciado da velha política eleitoreira será uma ampla e participativa Reforma Política, que consiga dar voz a sociedade e discuta a representação a partir da participação.

Com esse clima golpista e a falta de compreensão de grande parte da sociedade, a impressão que tenho é que o campo democrático sairá ainda menor e o que nos resta é organizar a população para cobrar seus direitos e mostrar aos funcionários públicos de carreira que ou eles lutam com dignidade ou perderão o emprego em breve, pois a intensão da trupe governista golpista é terceirizar e privatizar o que for possível e dê tempo.

Infelizmente não dá para cobrar consciência política num processo onde o coração fala mais alto que a razão.

A única coisa que me alegra é saber que a luta mal começou e o embate revelou que nasceram novos e vigorosos personagens que estão prontos para um grande conflito em defesa da dignidade humana.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Tonicordeiro1608@gmail.com

sábado, 3 de setembro de 2016

Quem sai do Partido dos Trabalhadores para outros partidos continua sendo petista?

Quero acreditar que esse seja um dos assuntos do momento, onde o PT e seus militantes são perseguidos, não pelos seus erros, mas principalmente pelos seus acertos e algumas pessoas o abandonam. A casa grande treme só de imaginar que Lula poderá voltar em 2018. Em minha opinião esse foi um dos motivos do golpe atual.

Não tenho a pretensão de julgar ninguém, até porque cada um ou cada uma deva ter uma perfeita explicação para isso, mas apenas como militante de uma causa e grande parte dela forjada na militância petista, tentar analisar o que faz uma pessoa trocar de partido se não for por altíssimos interesses.

Temos acompanhado nos últimos tempos muita gente que acreditávamos ser petistas de coração abandonar o partido quando o partido mais precisava, visando apenas disputar as eleições municipais que virão. É um processo democrático mudar de partido? Sim, pois mesmo a surrada democracia aponta para isso. Porém o que leva a essa mudança? Quais os interesses por trás do cenário? É possível mudar para um partido de direita e levar o petismo consigo?

Ao conversar com essas pessoas, por alguns momentos até ficamos solidários, tamanha é a justificativa e argumentos usados. “Ah o presidente do partido me abandonou”. “Nunca fui ouvido”. “Nesse novo partido tenho a liberdade que buscava”. Enfim, uma coletânea de motivos, que alguns deles de fato podem ser verdade, mas a pergunta que fica é: ao se indignar você não usou os instrumentos e as instâncias do partido para se contrapor a sua indignação?

As saídas do partido se apresentam como se fossem estratégias de poder, reafirmação de caráter ou o argumento que não permitem ser chamados de “petralhas”, que é o termo pejorativo forjado pelo PIG, como se ao se esconder da Estrela Vermelha ou escondê-la perante a sociedade, a pessoa ficasse mais acreditada ou que não faz parte da ideia de partido construído pelo PIG a partir de seus interesses.

Trata-se na verdade de negar a importância partidária ou ainda de homologar a negação do Estado de Direito e da Democracia como valores que garantem o exercício da cidadania. Nada tem a ver com os argumentos principais da fuga partidária. Lembra-me a frase da Dona Florinda: "Não se misture com essa gentalha" e ao fugirem estarão livres da maldição da imprensa golpista e próximos da sociedade branca, seletiva e discriminatória.

Por outro lado, se entendermos o petismo como algo maior, como uma prática e que possa ser maior que o próprio partido, pois resgata a construção coletiva, os valores universais de mudanças efetivas da sociedade, rumo a uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas, podemos até entender, enxergando  que as pessoas saíram do PT porque o partido escolheu um caminho diferente do que pensavam e defendiam como comportamento político perante a uma sociedade capitalista, oportunista e de profunda desigualdade.

Isso implicaria necessariamente na busca por essas pessoas por partidos mais à esquerda que, mesmo com problemas, a nova sigla daria conta de ancorar tais pensamentos e práticas e, portanto não estariam traindo o que pretensamente defendem, mas se alojarem em partidos golpistas e se abraçarem com golpistas de plantão, apenas deixam claros os interesses em jogo, além de representar uma tremenda traição das convicções políticas que as pessoas diziam ter.

O que defendo nada tem a ver com quem usa ou usou o partido para se promover, se tornar eleito vitalício ou ainda desrespeitar a militância como pessoas, tratando-as como as famigeradas “garrafinhas”, que podem ser trocadas por novas oportunidades por quem delas se aproveitam. Esses ou essas têm que ser punidos rigorosamente.

Ser petista no meu entendimento é fazer uma escolha. É optar por um caminho onde a opção pela luta dos mais pobres e a defesa intransigente de direitos conquistados se faça presente, custe o que custar. Isso na verdade tem que se transformar na militância de uma causa. Ser petista para mim é ter a opção de divergir, construir, desconstruir se necessário for e, sobretudo reaprender com a vida e com a militância de uma causa. Por isso defendo o direito de tendências, porque um partido democrático não pode ter um único pensamento, muito menos um proprietário. Quem nunca ouviu que fulano comprou a sigla tal e ciclano aquela outra? O PT não mudou. Quem mudou foram algumas pessoas petistas.

Quero realçar que essa minha inquietação serve também para comportamentos internos do partido. Quantos candidatos do PT ao legislativo e executivo estarão defendendo um mandato ou um governo de fato participativo a partir dos Fóruns Temáticos, dos Conselhos de Mandato, da participação contínua da sociedade e respeito ao funcionalismo público ou ainda aos setores organizados da sociedade que lutam por direitos?

Não se trata de censurar quem saiu do partido e sim de buscar uma reflexão que me faça entender a “dança das cadeiras partidárias”, como elemento além do processo democrático. Em minha opinião quem muda de partido como se muda de camisa, apenas para se dar bem, não tem e nunca terá um projeto coletivo e sim interesses pessoais, construídos a partir do entendimento de que a pessoa é a própria estrela e nasceu para isso. O que nos consola é saber que serão julgados pela história.

Acredito que a verdadeira história se constrói nas entrelinhas da vida e na possibilidade de mudanças pessoais, se necessário for, assim como tenho a plena convicção de que o petismo e o PT ainda irão contribuir muito para fortalecer as instâncias democráticas e dar voz a sociedade que luta contra as injustiças e a exclusão social.  

Prefiro essa velha estrela amarrotada e xingada por míseras coxinhas alopradas, porém com uma história de luta pelas causas mais nobres da sociedade, do que alguns partidos que me promovam financeiramente ou profissionalmente, mas que carregam em seus DNAs o sangue derramado de quem lutou por justiça e liberdade.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública Social
Tonicordeiro1608@gmail.com

sábado, 27 de agosto de 2016

Vamos apoiar Marcio Pochmann para Prefeito de Campinas?


Em tempos tão difíceis como o que estamos vivendo e de perseguição ao Partido dos Trabalhadores, se faz necessária à formação e a capacitação, mas, sobretudo a mobilização no sentido do PT conquistar mais uma vez nas próximas eleições municipais, o espaço que construiu ao longo do tempo, que se depender da mídia golpista e da direita da casa grande, será certamente dizimado em números de eleitos, seja no campo majoritário ou na vereança.
Nesse sentido, dentre as inúmeras candidaturas que o PT vai disputar, destaca-se a do companheiro Marcio Pochmann em Campinas. Uma candidatura chapa pura, com uma vice, escolhida pelo Núcleo de Mulheres do PT de Campinas, moradora da periferia e uma expressiva liderança comunitária. Como ele bem ressaltou em seu discurso na Convenção, caso seja eleito, a composição do governo também será paritária. Algo que colocará seu governo em destaque nacional.
O único limitador para o porte do enfrentamento que terá com os demais candidatos, será a questão financeira, pois todos os recursos serão levantados através de doações legais. Algo que pode ser encarado como preocupante, pois requer a busca de doadores, porém gratificante ao saber que os recursos virão a partir de uma rede de colaboradores, que o conhece e respeita pela sua trajetória de vida.
De forma bem direta e objetiva, gostaria de saber se podemos contar com a sua contribuição para que o projeto que foi formatado a várias mãos, a partir do Lema: Ouvir para fazer diferente”, tenha chances reais de disputa no pleito em curso.
Não será o montante da contribuição o fator mais importante e sim a atitude que companheiros e companheiras estarão fazendo para que possamos mostrar um PT integrado e participativo.
Lutar por uma causa sempre foi nossa prática e juntos seremos muito mais fortes. Conto com sua ajuda.
Abraço Fraterno

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social








quinta-feira, 18 de agosto de 2016

As eleições de Americana e as distorções da representatividade

No dia em que se inicia a corrida eleitoral, nem uma rápida pesquisa no site do TSE sobre as eleições em Americana, de todos os candidatos cadastrados para as eleições e ainda aguardando julgamento pelo Cartório para a homologação de suas candidaturas.
Alguns números me chamaram muito a atenção que me motivou escrever este artigo, pelo fato do quanto as eleições descrevem a face da sociedade. Uma eleição predominantemente patriarcal, branca e burguesa. Vejamos:

De todas as candidaturas cadastradas a maioria esmagadora é de homens brancos. Dos candidatos cadastrados 69% são homens e apenas 31% são mulheres, o inverso da representação por gênero da sociedade, onde segundo dados do IBGE as mulheres representam a maioria da população brasileira somando 51,4 % da população, e quando a gente vai para a questão racial a disparidade é ainda mais gritante, onde 84% dos candidatos se dizem brancos e apenas 16% dos candidatos são negros, em uma população que segundo o mesmo IBGE é formada por 54% de negros. Dos 370 candidatos a Vereadores em Americana, apenas 21 candidatos tem menos de 30 anos de idades, ou seja, a minoria é formada por jovens.

Estes números são retratos de quanto às distorções nas representações políticas no Brasil é algo que necessita ser resolvida, e isto só vai acontecer com uma ampla reforma política que estabeleça uma nova relação dos candidatos com a população e não uma representação que cumpra a função de salvaguardar os interesses privados da minoria. Este pequeno recorte analisado aqui, pode ser traduzido em todo o território nacional. Mas, contudo a novidade deste pleito eleitoral é a proibição do financiamento privado das campanhas eleitoral feita pelo Supremo Tribunal Federal e que somada à lei da Ficha Limpa vai gerar uma novidade nestas eleições dando uma equilibrada nas disputas eleitorais no ponto de vista do teto de gasto nas campanhas.

É dentro desta realidade que estamos vivendo um momento da necessidade de uma profunda mudança na cultura política do país, um caminho para isto é indicado por Silvio Caccia Bava Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil, no editorial do mês de julho de 2016, quando o mesmo nos indica que para combater o retrocesso dos direitos dos trabalhadores/as deste país se faz necessário elegermos uma forte bancada da cidadania. Isto significa a necessidade de elegermos homens e mulheres capazes de propor uma nova agenda para a sociedade em um momento em que o governo golpista representante do capital financeiro internacional quer barrar os avanços sociais e cortar os direitos de trabalhadores/as. Eleger homens e mulheres que se comprometam a colocar na agenda nacional o debate da Reforma Política que corrija estas distorções acima mencionadas, que defendam o SUS, o SUAS e se coloquem contra a mercantilização dos serviços públicos, com a questão da água e da saúde pública e que garantam á todos ao direito a cidade. Este é o desafio colocado nestas eleições.
Bruno Francisco Pereira
Sociólogo e militante do Coletivo
Grito dos Excluídos de Americana e Nova Odessa

terça-feira, 16 de agosto de 2016

PEC 241: UM DOS PIORES ABSURDOS JÁ PROPOSTOS NO PAÍS


Apesar do discurso de austeridade, o governo de Michel Temer tem utilizado o enorme déficit fiscal aprovado no Congresso para conquistar e retribuir apoios ao processo de Impeachment e à gestão.
Se, por um lado, houve a promessa para setores da sociedade – os economistas, o mercado – de que seria um governo que primaria pelo cuidado fiscal, que seria conservador e ortodoxo com as contas públicas e que teria uma equipe econômica mais técnica; por outro lado, o que se assisti até aqui é, na verdade, um governo preocupado em se manter no poder, e em recompensar aqueles que apoiaram o golpe, com um custo para as contas públicas.
Essa retribuição está refletida, por exemplo, na liberação de recursos contingenciados para ministérios e em projetos como renegociação das dívidas dos estados e reajuste para magistrados. Portanto, a aprovação de uma meta fiscal mais ampla não seria preocupante se tivesse acontecido em prol de investimentos públicos que gerasse crescimento e emprego. No entanto, ao que parece, é um déficit maior em nome do fisiologismo.
Sem se preocupar com um ajuste de curto prazo, o governo TEMER propõe uma mudança estrutural, de longo prazo – a Proposta de Emenda Constitucional 241, que propõe restringir crescimento dos gastos públicos à inflação do ano anterior. Segundo a economista Laura Carvalho, “o que ficou como promessa é o teto de gastos, que, no fundo, tampouco garante a melhora das contas públicas – porque não dá para saber o que vai acontecer com a receita – mas que é ideológico e reduz o tamanho do Estado na economia”.
De acordo com as estimativas, a PEC significará igualar o Brasil a nações que não concebem o estado como agente da promoção social e organizador da economia.
“As contas mostram que, se a gente aplicasse agora a regra, a gente chegaria, em 20 anos, à metade do tamanho do nosso Estado. Ou seja, um gasto de 40% do PIB passaria para 20% do PIB. E isso se a gente crescer pouco; se crescer muito, a redução é maior ainda. Isso é mais ou menos o tamanho do Estado no Afeganistão, em alguns países da África Subsaariana. Equivale a países que não têm Estado de bem-estar social”, diz Laura Carvalho.
A economista destaca, assim, o caráter antidemocrático de promover essa mudança, que é contrário aquilo que a população aspira.  “Isso (o Estado social) foi uma decisão que sociedade tomou, com a constituição de 1998, e que foi renovada nas últimas quatro eleições presidências”, afirma.
Mesmo nas manifestações ocorridas em junho de 2013 e nos atos pró-impeachment, os participantes não se colocaram contrários ao papel do Estado como prestador de serviços públicos, pelo contrário. Os brasileiros não são contra um sistema de Saúde e Educação públicas universais. Pelo contrário, querem melhorar esses serviços. Então, só um governo ilegítimo poderia matutar proposta como essa, que certamente eliminará qualquer possibilidade de serviços públicos universais, mesmo na qualidade ainda insuficiente que temos hoje.
    No entanto, o governo TEMER enfrentará dificuldades de emplacar a PEC 241, cuja admissibilidade foi aprovada nesta terça-feira (9/08), na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, em meio a debates acalourados. Há divergências, inclusive dentro do governo e no Parlamento, sobre a iniciativa. Há dúvidas se isso será realmente aprovado.


Ricardo Costa Gonçalves

Professor, graduado em Matemática, especialista em Estatística, Planejamento e Desenvolvimento Regional. 

Mestrando em Estado e Políticas Públicas pela FPA/FLACSO.
Ex-secretário de Educação de Pedreiras, MA.}
Ex-superintendente adjunto do INCRA-MA.
Técnico do Laboratório de Extensão da UEMA (LABEX/UEMA).







sábado, 13 de agosto de 2016

QUAL FUTURO QUEREMOS PARA NOSSOS FILHOS EM MARICÁ?

“Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes”.
Paulo Freire

Inicio e termino esse texto com duas citações do grande mestre Paulo Freire, educador reconhecido mundialmente. Criador de um método de alfabetização que foi disseminado no mundo pela ONU, que diferente do pensamento de alguns “coxinhas” e representantes da direita golpista, reconhece o valor de seus escritos e práticas.

Mas o que o texto acima tem a ver com o futuro de nossos filhos? Tudo! Basta-nos uma rápida leitura para entendermos a importância das eleições desse ano. Eleições que manterão ou não o município em sua linha de atuação recente de oito anos de práticas transformadoras. Oito anos de crescimento e inclusão de sua população mais carente, necessitada, em seu mapa, seu PIB e Orçamento.

A manutenção dessa linha, de inclusão social e distribuição de renda com crescimento econômico, só incomoda àqueles que ainda se veem como classe dominante, coronéis da antiga, donos de escravos. Uma pequena parcela de famílias, que ainda vivem de um passado recente, que nunca se preocuparam com o futuro do município e sua gente. Uma pequena parcela, que prefere o município fora do mapa político e cultural do estado e esquecido do Brasil. Uma pequena parcela, que não consegue enxergar para além de suas cercas de arames farpados ou eletrificadas. É isso que está em jogo nessas eleições de 2016, um município de todos e para todos, ou só para os alguns, que só sabem conviver com aqueles que são imagens de si mesmos, refletidas em um espelho carcomido pelo tempo.

A polarização entre o candidato do PT e do DEM, representa bem essa dicotomia entre o novo que quer continuar a transformar o município, com o velho, que por quase 200 anos escondeu Maricá do mundo. Basta uma rápida olhada nas propostas de governo dos candidatos.

O novo representante do velho, o candidato à Prefeito atualmente no DEM, que já foi candidato em duas outras oportunidades, apresenta as mesmas propostas colocadas anteriormente, ou seja, NENHUMA. Está tão preparado que não sabe a que veio, além de resgatar o “status” daquela pequena parcela da população já citada. Para não ser injusto, nessas eleições, ele promete dar continuidade às conquistas obtidas pelo PT. Entendeu que não tem como ignorar o que foi já foi realizado. Mas e quanto ao que falta? Sabe o que falta? Pois, fora a continuidade do já conquistado, suas propostas são as mesmas de antes...nenhuma.

A situação pode vir a ser pior para o município, caso sua prática seja a mesma de seu partido no governo golpista, interino, do Cunha/Temer. O governo golpista que tem apoio do candidato do DEM em Maricá - todos lembram sua atuação na votação do Impeachment na Câmara. O governo golpista também promete manter as conquistas obtidas pelo PT nacionalmente. Promete manter o Minha Casa Minha Vida para a classe média alta e suspende o Faixa1 para os mais carentes. Promete manter o Ciência sem Fronteiras, para os doutorandos e encerra o dos graduandos. Promete a geração de empregos, mas quer que a CLT seja riscada do mundo do trabalho. Promete manter os projetos de distribuição de renda, como o Bolso Família, mas desde que congelados por 20 anos, como também quer congelar os investimentos em Educação e Saúde, pelos mesmos 20 anos. Você, eleitor de Maricá, consegue em sã consciência, ver no candidato do DEM, que defende o exposto acima pelo governo golpista do Cunha/Temer, quer realmente manter as conquistas aqui obtidas? Ou, na mesma linha golpista, vai congelar o Moeda Mumbuca? Vai mesmo manter os Vermelhinhos com tarifa zero, ou vai render-se àqueles que sempre financiaram suas campanhas, os donos da Amparo? O fato, é que não temos nem o que debater com o candidato do DEM, uma vez que suas propostas (a continuidade do que o PT fez) não condizem com as práticas do DEM e, mais uma vez, não apresenta qualquer proposta sua ou daquela pequena parcela da população que ele representa. Mais uma vez, temos um candidato de “slogan”, “vamos para cima” ou outro de igual significado, porém também vazio.

No extremo oposto, temos o Deputado Federal, Fabiano Horta, oriundo de família tradicional de Maricá, ligada ao histórico MDB, que ainda em sua adolescência se filiou ao PT, de onde não mais saiu. Não só tem a obrigação de manter o já conquistado aqui, como também, combater os golpistas em Brasília, combater os “cunhas” e “temers” de nossa política. E como nada é fácil para àqueles que pensam para além de seus umbigos, colocar em práticas as demais propostas do PT, ainda não iniciadas ou em processo de encaminhamento, pensadas em prol do município e sua gente. Temos a Universidade Municipal, os Centros Populares de Educação Transformadora, iniciativas ligadas ao movimento mundial de criação de escolas democráticas. A operação do Hospital Che Guevara, o crescimento da frota dos vermelhinhos, os recifes artificiais que além de melhorar a balneabilidade de nossas praias, podem colocar o município no calendário mundial do surf, trazendo mais renda e turismo. A luta pela manutenção da Petrobras, o Pré Sal, COMPERJ e o Porto. Enfim, muito mais do que só a continuidade do já conquistado.

É obvio que estamos todos contaminados com o processo de desinstitucionalização do Brasil, do processo de venda do Brasil, que o governo golpista apoiado pelo candidato da oposição aqui, do DEM, querem levar a cabo. Teremos uma eleição em um momento em que o Estado de Direito apresenta-se fragilizado, ou em algumas áreas inexistente. E, quando você pressionar os botões na urna, não só vai votar no futuro de seus filhos, mas no futuro do Brasil também. Infelizmente, essas eleições sofrerão grandes influencias de fora de nossas fronteiras. De novo, infelizmente, ou avançamos no tabuleiro do jogo da vida, ou voltamos oito casas. Voltaremos a um passado recente, que a duras penas havíamos começado a transformar. Nossos filhos dirão mais a frente, se acertamos ou não. Se terão emprego e salário, ou serão os novos escravos de uma mesma parcela velha de nossa população. Parcela que defende um sistema que necessita apenas de 20% da população mundial para se manter em ciclos de crises. Os demais 80% são números negativos em uma planilha, são custos e não gente. A qual percentual desse mundo você acredita pertencer?

“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática”.
Paulo Freire

Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá

PARA ENTENDER: ACABOU! O QUE FAZER?

Começo esse texto sem negar as enormes melhorias que aconteceram no país desde as eleições de 2002. A ideia é discutir a que preço conquistamos essas mesmas melhorias e o que fazer daqui para frente.

O PT e a esquerda em geral, parece ou fingem não entender que as forças que realmente detém o poder no Brasil - os donos do capital - estão com a “faca e o queijo” na mão. Pior, “faca e queijo” cedidos a eles por conta do nosso abandono das ruas e acreditar que as redes sociais poderiam substituir a política. Grande engano, as redes podem marcar eventos e expor as mentiras de nossa mídia. Mas a política de verdade não é feita nas redes e muito menos nos interiores dos gabinetes e corredores de Brasília. Ela é feita olho no olho, ombro a ombro, como “nos antigamente”. Ao abandonarmos o olho no olho, deixamos de priorizar as relações horizontais e passamos a adotar as relações verticais, o tal “centralismo democrático” que não prioriza as discussões na base do partido, revivendo em alguns momentos o pior do “stalinismo”.

Passamos a apostar nos projetos pessoais mais do que nos projetos (planejados e/ou executados) de transformação das cidades e seus cidadãos. As ações passaram a visar a manutenção dos cargos e mandatos a qualquer custo, mesmo que esse custo venha a ser o abandono dos princípios políticos que nos norteavam. Abrimos mão da discussão com a militância ao implantarmos o PED e deixar de lado os Núcleos e Setoriais, que até então eram a alma do Partido. Expulsamos parlamentares e deixamos que outros saíssem sem uma discussão aprofundada sobre o que realmente estava acontecendo, quais os reais interesses. Essa “nova” visão do Partido trouxe nomes da oposição para a legenda, negociou votos para o Rodrigo Maia na Câmara ou mesmo, a sobrevivência à Lava Jato.

Por outro lado, os reais donos do poder - os donos do capital, perceberam que o mesmo estava em disputa, em jogo. Parcela do PT passa a disputar o poder “por cima”, através de acordos que nos colocaram permissivos ao uso abusivo das doações financeiras. Entendido isso, os donos do capital passam a atuar estrategicamente na desconstrução da imagem do PT e de suas principais lideranças. Usam e abusam da falta de normatização da mídia e fecham acordo com uma classe até então “ignorada” politicamente, os juízes, promotores e procuradores, o Judiciário. As corporações estrangeiras também se colocam partícipes dessa estratégia, calando o governo americano em relação ao Golpe. São pelo menos 12 anos de massacre midiático que desembocaram no julgamento da AP 470, o Mensalão. Julgamento que arranhou, mas não impediu a vitória eleitoral do PT no Governo Federal, porém o Congresso Nacional começou a ser reconfigurado. Na reeleição da Dilma, a Lava Jato tentava terminar o que o Mensalão não conseguiu. De novo mantivemos o Governo Federal, mas o Congresso se transformou no pior Congresso da história brasileira. Nem a Ditadura obteve tal vitória. De lá para cá, o Brasil tem sua imagem e sua recente história destruída e achincalhada internacionalmente. Nossos “homens” da justiça, comprometidos com o “andar de cima”, rasgam as Leis, a Constituição e qualquer vestígio de moral pública ou individual. Voltamos a ser vistos, como uma República das Bananas como no início do século XX. Nada do que relatado aqui, incomoda os donos do poder, aqui e muito menos nas corporações estrangeiras de olho em nossas riquezas, em especial o petróleo. No dicionário deles, moral e princípios não existem para além de servi-los.

Hoje, no ano de 2016, mesmo depois de tudo que aconteceu, mesmo com o impeachment da Dilma em vias de ser aprovado definitivamente no Senado, o Partido continua dividido. Parte insiste nos acordos com o “andar de cima”, e parte tenta reviver as ruas. Mas os dias são outros, os mais empobrecidos continuarão fora das ruas, e a classe média que antes formava alguma opinião a nosso favor, hoje, com boa vontade, está dividida por conta do massacre midiático e cultural do projeto neoliberal. Os movimentos de 2013 não serviram de aprendizado, nem para a classe dominante, apesar de terem se apropriado do movimento e, muito menos, para parte da esquerda que não entendeu a mensagem colocada pela juventude. Mesmo as ocupações das escolas em São Paulo, com seu caráter totalmente horizontal, conseguiu abrir os olhos de alguns parlamentares e dirigentes políticos/sindicais.

Fato mesmo, é que a juventude já mandou o recado - o modelo está esgotado e não os representa mais. Precisamos mudar nossa forma de fazer política ou teremos pela frente um bom tempo de governos fascistas esquizofrênicos (que defendem o livre mercado). Precisamos construir juntos com a juventude uma nova forma de fazer política.

Abaixo, após o poema do Bertold, segue o texto do companheiro Marcos de Dios. Até porque, nada é imutável.

Sérgio Mesquita
Secretário de Formação do PT-Maricá

NADA É IMPOSSÍVEL MUDAR
Bertold Brecht
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.

A crise política vivida na América Latina e pela sociedade brasileira está interligada a uma disputa interna entre frações das classes dominantes pelo controle do aparelho do Estado.  A disputa é dada entre grupos “desenvolvimentistas”, que pensam o estado nacional e grupos “financistas” que defendem o livre capital, o livre mercado. Ambos capitalistas. No outro lado da moeda, temos os partidos de esquerda, burocratizados e verticalizados, estranhando setores da sociedade, das classes populares, que estão gestando uma nova concepção de valores morais e familiares. Construtores de uma nova ética social baseada na verdade, na horizontalidade e respeito à autoridade constituída pelo diálogo conflituoso das relações interpessoais e o bem estar do Planeta. Construindo uma nova institucionalidade em todos os campos (família, escola, trabalho, política, economia, nas relações de Amizade e Amorosas,...), e lutando para romper com o papel que temos enquanto nação na divisão internacional do trabalho, nos imposto desde o período colonial. Construir uma nova unidade de esquerda, baseada não na uniformidade, pois respeitará as diferenças, formulará e discutirá horizontalmente as propostas programáticas que irão nos mover em direção a uma organização plural e democrática na sua radicalidade. Resistir através da transformação da realidade que nos cerca e principalmente, deixar de lado momentaneamente os interesses do meu grupo político em nome de um Projeto Maior, possibilitador da esperança construída coletivamente para uma sociedade mais solidária, humana, sustentável e como consequência, mais Justa e Amorosa.

Marcos de Dios
Prof. De Filosofia e História
Secretaria de Formação PT-Maricá

sexta-feira, 22 de julho de 2016

A presidente do FMI afirma que os velhos vivem demais...

O que pode ser novidade a essa altura do golpe? Apenas as desgraças futuras, que o “mordomo de filme de terror”, como chamou Renan, promete se solapar de vez o governo. Uma coisa boa nessa história é que ele não esconde nada. Declara publicamente, sem o menor constrangimento, a quem serve e o que pretende fazer para restaurar o poder da casa-grande, além de servir como espião aos Estados Unidos, onde ofereceu, além da vinda das empreiteiras americanas, a gestão do petróleo brasileiro. Algo impensável há pouco tempo.

Acompanhei de longe a resistência do povo turco, que evitou um golpe de estado e aí me dou conta de como grande parte da população brasileira é atrasada em termos de consciência política, direitos constitucionais e principalmente sobre o papel institucional da sociedade organizada no que se refere à participação e controle social de todas as políticas públicas. Esse setor da sociedade age como ventríloquos da mídia golpista e escolhem seus representantes, vezes pelo coração e outras tantas por desprezo e em ambos os casos, muito longe da razão. É melhor votar nulo do que por desprezo.

Voltando para a crise política atual, acredito que estamos pagando muito caro pelos governos Lula e Dilma não terem feito às reformas necessárias quando as condições eram totalmente favoráveis, além de mais caro ainda, pelo fato de ambos os governos não terem investido pesado nas mídias alternativas, como por exemplo, a radiodifusão comunitária, onde milhares de Rádios e TVs poderiam estar contando o que o PIG não conta, assim como fazer a defesa de um governo eleito democraticamente, que foi sorrateiramente solapado.

O Vampiro Temer é apenas um condutor de um barco desgovernado que foi roubado de seu verdadeiro dono, porém quem pensa estrategicamente para onde esse barco deve caminhar e com quem dentro dele, são as forças do capital internacional, aliadas a elite brasileira devassa que se acostumou a ser servida e uma leva de empresários que enxergaram no golpe uma ótima oportunidade de rasgarem a CLT e mexerem em conquistas que até então pareciam imexíveis.

Quero chamar a atenção nesse artigo para o fato de que toda crise gera um estado de tensão e uma profunda ruptura na arte de sonhar. Mesmo tendo consciência clara do processo e sabendo que se trata de mais uma reciclagem do capitalismo, em alguns momentos também embarco no túnel do tempo e reviro o passado em busca de alguma luz no fim do túnel.

Foi numa dessas viagens que recorri a Paulo Freire para tentar entender o que ele chamava dos “Condenados da Terra”, que na prática são os excluídos e as excluídas da sociedade e com isso tentar dimensionar a responsabilidade que a militância de uma causa nos obriga a ter.

É bom que se entenda, que dirigentes de entidades, candidatos e candidatas ao legislativo e executivo, representantes de qualquer ordem e principalmente quem se consideram lideranças, mexem e muito, às vezes sem nenhuma permissão, com os sonhos das pessoas, com as fantasias expressas na possibilidade de mudança na qualidade de vida e é essa expectativa que faz com que elejam seus pretensos representantes.

A indignação de grande parte da sociedade, com ou sem consciência política, vem do fato de se sentirem lesados e lesadas pelos seus representantes. Sentem-se enganados e buscam um ponto de referência para a mudança. Daí, ou encontram falsos líderes que tentam lhes vender terra no paraíso ou ainda velhos e novos políticos que quer apenas se dar bem e novamente o paraíso como recompensa. A partir dessa constatação dá para entender o que são as famosas “garrafinhas” na vida política?

Tenho afirmado que a sociedade está doente. A cada dia nasce seus estereótipos. Por sua vez o capitalismo não foi, não é e nunca será uma alternativa econômica. Suas crias continuam a desprezar a humanidade.

Como não se indignar, por exemplo, com a declaração da Presidente do FMI Christine Lagarde (uma pessoa também velha), quando afirma que “os idosos vivem demais e são um perigo”? Como não ficar possesso com a declaração de outro ser desprezível, Rimantė Šalaševičiūtė, ministra lituana da Saúde, membro do PSD Lituano, que declarou pouco depois de tomar posse, em 2014, que a eutanásia deveria ser considerada como uma boa opção para os pobres que não podem pagar os cuidados de saúde.

Para o capitalismo bom mesmo seria matar aquelas crianças que nascem com algum tipo de problema e desnutridas, assim como se encurtar a vida de pessoas idosas, pois em ambos os casos o custo-vida para o capitalismo selvagem é muito alto. Julga-se a humanidade a partir de números e de resultados. É a teoria do ter versus a do ser. É por exemplo, a teologia da Prosperidade versus a da Libertação.

Um estudo recente divulgado no último dia 8 de julho pelo FMI, alerta que em 2035, cerca de 20% da força de trabalho em Portugal será considera “velha”. O valor representa um aumento explosivo, pois atualmente esse número é de 14,9%, sendo que na Espanha, Itália e Grécia irá mais que duplicar.

O mais assustador é que a preocupação dos técnicos do FMI, representantes do capitalismo selvagem, expressa no documento citado acima, não vem do fato de que poderá haver um desequilíbrio em termos oportunidades de trabalho e consequentemente de sobrevivência, mas que essa mão de obra “velha” vai reduzir o crescimento da produtividade e aumentar o custo social.

Cita ainda o documento que o envelhecimento da força de trabalho, que caminha de mãos dadas com o envelhecimento da população e com o declínio da natalidade, “será provavelmente um empecilho significativo ao crescimento da produtividade durante as próximas décadas”.

O que me interessa nessa conversa é saber até que ponto seremos capazes de libertar o povo para que tomem suas próprias decisões de forma consciente, sem usá-lo, seja como mão de obra barata ou ainda como “garrafinhas”, que se traduzem em “massa de manobra” para os politiqueiros de plantão.

O mais trágico é que a capacitação e a formação política como antídoto a esse processo de desigualdade acabam sendo algo “subversivo”, infelizmente até mesmo em setores da chamada esquerda brasileira, pois ao libertar pode se criar uma competição, principalmente aos eternos candidatos.

Paulo Freire em seu Livro Pedagogia da Autonomia faz um alerta: “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo”.

Referências:



Sobre a Eutanásia: http://www.jornaltornado.pt/eutanasia-pode-ser-opcao-pobres/ 

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública Social
tonicordeiro1608@gmail.com

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Antes sonhar com o impossível do que fantasiar com o que sequer existe

Muitos acontecimentos na vida política do país e na nossa região de Campinas têm me preocupado nos últimos tempos, pois o que está em jogo não é a vida de fulano ou ciclano e sim o destino de um partido que fez história.
Como o brasileiro não tem cultura partidária e não consegue entender que não há democracia sem partidos, joga tudo no sujeito partidário e não em quem usou e usa as siglas para seus interesses pessoais e a saga de poder. O que deveria ser de fato discutido é qual é o projeto politico-ideológico que esse ou aquele partido defende, pois aí saberíamos de que lado está ou a quem serve.
De antemão quero destacar o PT de Campinas que com todos seus problemas e disputas internas, amadurece e por unanimidade lança o nome de Marcio Pochmann para prefeito, com uma vice mulher e com composição paritária. Algo inovador num país de herança machista entranhada no nosso dia a dia.
Quero iniciar essa conversa me perguntando até que ponto a militância política cresceu nos últimos anos que a fizesse defender com clareza uma causa? Até que ponto quem se considera liderança não usa ainda sua base política como verdadeiras “garrafinhas”, que servem apenas para votar? Até que ponto o Partido dos Trabalhadores cresceu, que possibilite rejeitar candidatos e candidatas que transformam seus mandatos em mandatos de resultados, como se fossem gestores de empresas privadas? Estamos preparados para substituir os candidatos eternos? Trabalhamos nossas bases para a renovação?
São muitas perguntas em busca de novas respostas. Quem vive a vida partidária passo a passo não pode se deixar contaminar por essa ou aquela conduta, que nada tem a ver com as comuns divergências das sadias linhas de pensamento, onde só o PT tem. Quem não aceita isso é porque quer o partido só para si para atender suas necessidades e aí a luta será dura.
Numa visão mais geral, há de notar que a vida politica do país passa por uma verdadeira convulsão social. De um lado alienados e alienadas em fúria marcham para o precipício, sem ao menos se darem conta que estão sendo massa de manobra de malafaias, bolsonaros, cunhas e tantos outros calhordas e do outro um movimento que ressurge das cinzas, diversificado, com pouca origem partidária, porém com um cunho ideológico muito claro. Lutar pela manutenção da democracia e da liberdade política.
O que se faz necessário e urgente é discutir com esses movimentos e com os grupos que vão se organizando, se esse momento para eles representa o sonho de mudanças profundas na sociedade ou apenas a fantasia do enfrentamento que poderá morrer quando a primeira barreira for rompida.
Uma das diferenças entre sonhar e fantasiar, é que enquanto sonhar requer um caminho a trilhar que pareça viável, mesmo que leve tempo, fantasiar caminha na velocidade do vento, sem direção e com a sensação de que de fato aconteceu. Enquanto sonhar nos compromete e nos responsabiliza por às vezes nos distanciar dos sonhos por pura distração, fantasiar se constrói na calada dos nossos silêncios, muitas vezes de forma irresponsável. Enquanto os sonhos nos alimentam, a fantasia nos engana de que estamos alimentados.
Embarco nessa abstração para tentar moldar no campo da militância política, quem milita por uma causa e quem é levado pelas fantasias de alguém. Quem age impulsionado pelas escolhas conscientes e quem age apenas por interesse no que chama de poder, ou ainda para alimentar o ego e os sonhos sejam de quem for.
A meu ver, os desencontros contidos numa sociedade de desiguais e manipulados pela fantasia dominante, leva grande parte da população a enxergar sonhos como ilusão, enquanto fantasiam sem compromissos e sem responsabilidades, compondo um cenário do faz de conta, seja por ação ou por omissão. Não vivem de fato a vida, são apenas levados por ela.
Essa viagem ao faz de conta seduz, não só os que poderiam ser considerados como alienados e alienadas, mas infelizmente também o universo de instituições como sindicatos, partidos, organizações não governamentais e principalmente o universo político eleitoral, onde a extrema maioria decide uma eleição pura e tão somente pela emoção e muito longe da razão.
Toda vez que uma pessoa vai à urna votar apenas porque é obrigado, age ou por desprezo, induzido por uma mídia viciada e partidária, e assim vota em qualquer um ou uma ou ainda vota por pura paixão, achando que seu candidato é o melhor, sem ao menos conhecer suas reais intensões. O resultado é esse Congresso Nacional espúrio. O mais conservador e reacionário da recente história do país. Ou seja, a pessoa desinformada não constrói e sim é levada a construir sonhos alheios ou ainda embarcar na fantasia que não lhe pertence.
Como dizia Paulo Freire, sonho com uma sociedade se reinventando de baixo para cima, onde, a partir de um processo anárquico consciente, questione-se e peite-se toda forma de poder exercido de cima para baixo. Nesse processo, mais vale um ano de experiência popular do que cinquenta anos de vida política, dedicada ao próprio ego. 

Mesmo que a democracia representativa fosse apenas o ato de votar, defendo que as pessoas exerçam esse direito sem serem manipuladas ou conduzidas como as garrafas são num caminhão de entrega.
O ato de sonhar começa a se materializar no exato momento da revolta e se concretiza quando as pessoas dizem não a qualquer sistema que oprima e alimente o poder de alguns e algumas contra a maioria que se faz conduzida.
Na vida real sonho e fantasia se completam, porém na vida política a fantasia afasta a possibilidade da luta concreta e aí acaba virando um pesadelo.
Que tal transformarmos as "garrafinhas" num exército de homens e mulheres que dirão sim para o que sonham e não para as fantasias seja de quem for?
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com