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quarta-feira, 30 de junho de 2021

A quem serve as estruturas verticais de poder?

 

Estruturas Verticais de Poder são formas de relacionamentos, aonde as decisões vêm sempre de cima para baixo, seguindo uma hierarquia de comando, constituída nem sempre de forma consensual e democrática, onde quem tem mais poder, seja pelo econômico, por mandato ou na hierarquia das direções acaba impondo as regras. Esse é um fenômeno recorrente em praticamente todas as instituições e organismos.

A meu ver duas coisas no universo político andam em descompasso com o modelo de estrutura de participação que defendemos, além de encará-las como um processo excludente em qualquer organismo ou estrutura de poder.

Uma delas comentada no post anterior versa sobre que enxerga a base como “massa”, por ser desrespeitoso, nivelar por baixo e seguir o mantra instituído pela direita de que a massa só serve para experiências de exploração e para servir ao poder. Algo essencial para a manutenção do poder vertical.

A outra é a estrutura vertical de poder construída no seio dos organismos, instituições, partidos e na maioria de qualquer coletivo, onde o andar de baixo na pirâmide hierárquica não participa das conversas com o andar de cima e muito menos das decisões principais. Só chega o que seus representantes, imbuídos muitas vezes por questões emocionais ou política-ideológica querem e podem passar. Isso interfere diretamente num processo de integração, retarda o crescimento de criticidade, além de não contribuir para o crescimento intelectual de quem compõe o grupo, que serão quando muito, tarefeiros e tarefeiras de uma ação de comando ou de uma atividade qualquer.

Ao participar de um organismo ou entidade, subtende-se que todos e todas que integram tenham interesse e/ou necessidade de discutir para onde, com quem e como se caminha, além da discussão das táticas de atuação em tempo. Quando a coisa chega pronta ou não chega, fica presa na esfera superior, a base desse organismo ou entidade também é tratada como “massa” e “massa” não pensa e nem age.

Não estou me referindo a uma regra do tipo de um centralismo democrático, que normalmente é algo construído de forma coletiva e que é acatado por todos e por todas a partir de acordos, pois sabem de suas tarefas e importância no grupo e sim de praticas que vivenciamos nos organismos e entidades, onde as decisões não são informadas ou socializadas e os encaminhamentos chegam a doses homeopáticas, o que a meu ver nada agrega, apenas interferem no comportamento geral de seus e de suas participantes.

Estruturar um projeto participativo e popular a várias mãos, sem enxergar o popular apena como “massa”, a ser usada na hora do bolo, que tenha conteúdo suficiente para dar conta das diversas carências e necessidades da sociedade e também valorizando as pessoas, cada uma com seu potencial interior e de experiência de vida, além de valorizar as pessoas através de tarefas programadas, para que as mesmas não se sintam menores numa escala de valores existente nas estruturas de poder, quem sabe seja a maior tarefa de um ou uma representante do povo, que defende a construção da luta de forma coletiva, seja num cargo público, na direção partidária ou de uma instituição.

O que fazer diante dessa cultura vertical? Quais seriam as possíveis saídas?

Creio que mexer num processo cultural não é nada fácil, pois as estruturas de poder já estão montadas a partir de velhos métodos. Fazem da representatividade pessol algo comum e natural, como se fato fosse. Porém, se defendemos a participação como eixo de uma causa coletiva e defendemos o crescimento das pessoas através da formação, faz-se necessário mexermos nas estruturas, socializarmos os processos, criarmos juntos e juntas em grupos de trabalho e descermos às bases em busca de contribuições. Imagino ser esse o caminho de quem se apresenta como liderança. 

Porém se nada for feito, quem sabe um dia, cheguemos ao que um pensamento da década de 80 dizia: “Acima os de baixo e abaixo os de cima”!

Bem vindos e bem vindas ao mundo das discussões na essência e pela base.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


sexta-feira, 18 de junho de 2021

Da Teoria de Massas à Pedagogia da Escuta um longo caminho...

 

Há uma visão de mundo que vamos construindo a partir das nossas vivências, nutridas por valores momentâneos ou princípios construídos ao longo da vida com as nossas crenças, pensamento crítico ou posições ideológicas. Quem não sabe ouvir, não sabe dialogar. Apenas impõe sua forma de pensar e agir.

Inicio a caminhada por um tema tão complexo, expondo minhas inquietudes ao imaginar a base de um mandato, seja de que cargo for, de um partido ou mesmo da sociedade como “massa”, pois na minha estreita visão isso tanto caracteriza estes setores da sociedade como algo que pode ser usado para qualquer fim, dar sustentação ao que  vem de cima da base na pirâmide social ou ainda nos distancia de apostarmos em formação e organização como métodos para uma possível mudança de sociedade e de valores.

Enquanto a formação liberta e a organização mostra os caminhos de enfrentamento, o senso comum de massas aliena, aprisiona e torna grande parte da sociedade em presa fácil para qualquer situação.

Ao falar de “massas”, como comportamento ou como um fenômeno humano poderia caminhar por várias linhas de estudo e análise, desde a Psicologia das Multidões de Gustave Le Bon, à Teoria de Freud do Comportamento de Massas, que afirma que quando uma pessoa se torna parte de uma multidão, sua mente inconsciente é liberta e entre outras variáveis de comportamento ele tende a seguir o líder carismático da massa.

Le Bon compreendia que a psicologia da multidão era necessária para uma compreensão adequada da história e da natureza humana, quando afirma:

Em certas horas da história, meia dúzia de homens pode constituir uma multidão psicológica, ao passo que centenas de indivíduos reunidos acidentalmente podem não constituí-la. Por outro lado, um povo inteiro, sem que haja aglomeração visível, às vezes torna-se multidão sobre ação desta ou daquela influência. (GUSTAVE LE BON, p. 30).

Porém, no sentido de buscar sustentação para minhas inquietudes, usarei o conceito de dois autores da comunicação, que conceituam “massa”:

Massa: grande grupo de indivíduos compreendido sempre pela base do menor coeficiente de organização, interação, produção enunciativa consciente e coesão possível, ou seja, pela menor quantidade de pontos comuns identificáveis entre os indivíduos do grupo, o que confere ao “objeto” representado pelo termo um caráter indistinto, uma falta de clareza que acaba sendo sua principal característica. (VILALBA, 2006, p. 119).

Massa. O termo descreve um vasto, mas amorfo conjunto de indivíduos com comportamentos semelhantes, sob influência externa, e que são vistos pelos seus possíveis manipuladores como desprovidos de identidade própria, formas de organização ou de poder, autonomia, integridade ou determinação pessoal. Representa uma visão da audiência dos media [sic]. (MCQUAIL, 2003, p.506).

Ao caracterizarmos, aceitarmos ou concordarmos de que é necessário um coletivo de massas para tocarmos o projeto que defendemos, comungamos dos mesmos ideais do pensamento estratégico da direita de que o povo só serve para cumprir determinados ritos ou tarefas pré-determinadas e servir a quem mais lhe seduziu.

Além disso, pensando estrategicamente no processo eleitoral, cabe uma pergunta: você que será candidato ou candidata a um cargo público, tem base eleitoral organizada ou apenas eleitores e eleitoras? Dessa resposta podemos concluir quem é representante de um projeto coletivo desenvolvido a várias mãos ou da velha forma falida de representatividade, onde não importa que acordo foi feito ou com quem anda, pois o importante é a vitória eleitoral.

Precisamos ter a coragem de romper com mais essa engenharia do sistema, que interfere diretamente no processo de mudança da sociedade que temos para a sociedade queremos, intervindo nos setores caracterizados como “massas”, oferecendo formação com base na realidade local, ajudando no processo de organização coletiva e escolhendo alguém para votar que respeite o projeto construído a várias mãos ou que saia dele e não em alguém que se acha tão importante e sabido ou sabida, a ponto de se considerar insubstituível.

Caso o que escrevo faça sentido para você, bem vindo e bem vinda à desconstrução das massas de manobras e a construção de novos arranjos coletivos rumo a uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
tEstatístico e pesquisador em Gestão Social

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. 165 p.

LE BOM, Gustave. Psicologia das Multidões. Tradução de Ivone Moura Delraux. Título original PSYCHOLOGIE DES FOULES © Presses Universitaires de France, 1895 © Edições Roger Delraux, 198O, para a língua portuguesa. Disponível em: https://filosoficabiblioteca.files.wordpress.com/2016/03/le-bon-gustave-psicologia-das-multidc3b5es.pdf. Acesso em 17 de junho de 2021.

MCQUAIL, D. Teoria da Comunicação de Massas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

VILALBA, R. Teoria da Comunicação: conceitos básicos. São Paulo: Ática, 2006.




quinta-feira, 13 de maio de 2021

E por falar em amor, desejos e prazeres em tempos de desamor...

 

Inicio desejando a todos e a todas que acompanham o blog, vida longa e muitos desejos, de preferência que não sejam secretos, pois desejos secretos acabam nos escravizando e muitas vezes invadindo o universo de quem caminha conosco.

Como pesquisador começo essa conversa no meu cantinho predileto perguntando: Qual é o teu desejo? Ele é secreto ou pode ser compartilhado com quem você ama? Até onde teus desejos te levam? Até que ponto os desejos interferem diretamente numa relação se não puderem ser compartilhados?

Li um texto certa vez sobre o amor e as diversas formas de amar que me chamou muito a atenção e ficou no imaginário, pois trás uma definição do amor que os tempos modernos tentam desconstruir, além de uma visão sobre as diversas contradições, problemas e situações vividas no exercício de amar.

Para aprofundar essas questões teríamos que ler, principalmente Freud e Lacan, que viajaram pelo universo do amor, desejos e fantasias, expondo as contradições humanas nas vivências amorosas em busca do prazer.

O autor afirmava que o amor que sentimos por uma pessoa em particular, não pode e nem deve ser confundido com o amor fraterno que sentimos por parentes e amigos queridos, pois o que diferencia a forma de amar alguém não é com quem fazemos sexo de forma regular e sim o que faz um coração pulsar mais forte por outro ser.

Segundo ainda o autor, o amor sublime como ele chamou fica numa área restrita do coração, que só cabe uma pessoa de cada vez e os sentimentos viajam diariamente por ondas que são alimentadas pela reciprocidade. Enquanto que o amor fraterno é nutrido pela amizade sincera e também se nutre da solidariedade e do carinho nas ações do dia a dia, além de que não se consegue em sã consciência, amar a duas pessoas em área restrita ao mesmo tempo e que misturar o amor sublime com o amor fraterno numa relação, pode trazer consequências confusas para o resto da vida e até o fim de uma amizade.

Quem sabe essa seja a razão principal para que um ser humano normal opte em ter uma única pessoa em seu relacionamento, possibilitando assim que o amor sublime se construa, cresça e se complete com a vida sexual. O autor afirmava ainda que do ponto de vista do prazer, o sexo com amor é universalmente diferente do sexo sem compromisso, que é só um prazer momentâneo e irreal, pois o gozo é o momento final, mesmo que venha a se repetir. Algo do instinto humano e não do sentimento.

Duas amigas psicoterapeutas que sempre converso, afirmam que seus consultórios virtuais, se encontram lotados de pessoas infelizes, que tem o mundo do prazer à sua disposição a um clique no celular, mas diante de seus travesseiros, com o tempo, ficam expostas à solidão e à depressão. Uma escolha ou um vício como elas afirmam, mostrando que o vício pela busca do prazer é tão intenso e prejudicial quanto o vicio das drogas, comandado pelo instinto e afetando diretamente o emocional.

A nossa vida é feita de escolhas e isso resulta no que somos e temos hoje, mas que podemos ter outro cenário amanhã, diante de novas escolhas. Essa é a minha busca atual na construção de um novo cenário de vida, que comporte quem eu sou e torne o meu amanhã mais leve e feliz. Quem viver verá!

Sabe o que não tem preço? Podermos realizar os nossos sonhos e desejos livremente, compartilhando com quem caminha conosco. Uma troca de desejos e sentimentos, pois só o amor sublime é capaz de mexer com a nossa imaginação, bulir na nossa vaidade e fazer com que levemos alguém em pensamento dia e noite de forma leve, só pelo prazer de lembrar. Dure o tempo que durar.

Termino afirmando e refletindo que só o tempo que é Senhor da Razão dirá quem estará conosco quando as rugas e as estrias chegarem de forma intensa e as aparências do corpo já não forem mais o nosso cartão de visita. Quem sabe aí descobriremos de fato o que é o amor e quem de fato nos ama.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

quinta-feira, 29 de abril de 2021

O amanhã é uma esperança na moeda atirada na fonte dos desejos...

Como será o amanhã? Onde devemos concentrar as nossas expectativas para o amanhã? Quem estará conosco quando a primavera passar e chegar aquele frio na alma que a aparência já não dá mais conta? Tem como compor um projeto ou uma vida com alguém pensando apenas no hoje?

Diante do momento atual numa sociedade em crise de valores, que vive de resultados e de aparências de corpos e de vida, onde uma grande parte discrimina as pessoas, seja pela cor, pela idade, pela opção sexual, pela etnia, pela aparência e principalmente pela questão econômica pessoal, o amanhã passa a ser um desejo depositado numa moeda atirada na fonte da vida ou num poço da sorte. Quem viveu o ontem e não aprendeu com as diversas relações, ou quem vive o hoje sem rever suas marcas no corpo, na pele e na alma, não está preparado ou preparada para o amanhã. Lembrando que tudo que vivemos hoje amanhã será passado.

Caminhando pelo interior da discriminação com as pessoas idosas, materializada politicamente há alguns anos pela Christine Lagarde, na ocasião diretora do FMI, afirmando que o mundo tinha muitos velhos e era um custo muito alto para o capitalismo e agora chancelado pelo Ministro da Economia do genocida, ela apenas sinaliza para o topo do iceberg existente. É uma discriminação que está no centro da sociedade, escondida nas aparências. Algo que está presente até em várias relações amorosas.

A partir desse cenário, ponho a me perguntar: O que as pessoas que acham que serão eternamente jovens de aparência, buscam e esperam de fato para o amanhã? Que expectativas terão? Onde guardarão seus preconceitos? Como agirão caso um dia sejam também discriminadas? Quem eles ou elas gostariam de ter aos seus lados quando a velhice chegar? O que farão quando a aparência já não for mais o cartão de visita para qualquer tipo de relacionamento?

Enfim, são inquietudes que nos levam a uma profunda reflexão de vida e de que sociedade temos e que sociedade queremos. Vale lembrar que a sociedade de uma forma geral expõe o pensamento vivo de seus habitantes e também as suas contradições.

Como projeto de vida, o amanhã é apenas uma aposta que habita em nossas imaginações. Algo presente em nossos sonhos diários. É uma manifestação individual, mesmo num processo coletivo, por estarmos falando de uma fração de tempo onde não temos o menor controle sobre ele. Dependemos da sorte para continuarmos em vida e bem, para que as nossas expectativas tenham chance de se realizarem. Além disso, sabemos que tudo pode mudar numa fração de segundo, para uma situação melhor ou pior.

Estamos num momento de plena contradição humana, com muita gente perdida ou afogada em suas vaidades ou decepções. Vivemos nos guetos da vida por pensarmos diferente da maioria, sonharmos com uma nova sociedade e não aceitarmos negociar nossas dignidades. Buscamos muitas vezes em plena escuridão uma dose de bem estar para que possamos dormir bem hoje e acordarmos amanhã com um ar de quem deu de cara com uma expectativa realizada. Por isso o encontro de almas é tão essencial.

O amanhã é sonho. É fantasia. É a ponte para os nossos desejos. É a busca incontida de qualidade de vida. É um caminho a ser trilhado por amor e por amar e também uma aposta nos encontros humanos. Por isso requer sonhos, vontades, lealdade, transparências nas etapas, carinhos e planos discutidos passo a passo, que contenham nossas expectativas, mesmo que não aconteçam. O amanhã é uma mistura de brincadeira de roda em noite enluarada, com outras formas de brincar de vida na ciranda do tempo.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


Imagem disponível em: 
https://fpinacia.blogspot.com/2017/01/dinamica-fonte-dos-desejos.html


quarta-feira, 7 de abril de 2021

Quando o sol reaparecer e a lua der o ar da graça...

Imagem disponível em: https://lightroombrasil.com.br/como-tratar-uma-paisagem-com-por-nascer-sol/

Gosto de escrever buscando construir uma narrativa que seja capaz de dialogar com todas as divindades que o cosmo abriga e também consiga prender a atenção de quem lê. Fecho os olhos e tento fazer uma conexão entre o coração que ainda pulsa forte pelo amanhã e os dedos inquietos que buscam digitar o que a mente vai oferecendo em termos de conteúdo. Uma equação emocional que me leva a refletir sobre o ato de viver e sobre como viver a vida.

De repente olho para um céu azul e vejo no limite do horizonte o sol nascendo em todo seu esplendor. São raios de luzes e de vida que chegam para nos aquecer em dias tão frios pelas incertezas do momento e de muita tristeza pela perda de tantas vidas. Porém poder respirar, sentir o cheiro das flores e o gosto do néctar que a vida nos oferece é a certeza de que estamos vivos.

Nessa viagem mental fui me lembrando de vários momentos que já vivi e algo muito distante devido ao tempo, mas tão presente em termos de lembranças, me veio à mente. Quando eu era muito pequeno, o animal aonde eu e meu pai vínhamos das suas andanças em busca de negócios, caiu num buraco em pleno breu. Uma luta intensa do meu pai para salvar o animal e ao mesmo tempo uma carga viva que trazia. Depois de muito tempo apareceu alguém para ajuda-lo. Sairmos e seguimos viagem de volta para casa, por mais de uma hora e eu tão pequeno e assustado rezava baixinho para chegarmos bem.

Nessa época morávamos numa modesta casa na parte alta de um sítio da família, com direito a céu estrelado, noites enluaradas e um barulho inquietante ao passarmos por um canavial nas margens de um riacho perto de casa, que eu tremia de medo só em pensar passar por lá. Quando chegávamos em casa, as luzes dos candeeiros nos fazia confundir o que era real e o que era pura fantasia medrosa, de uma criança que ainda não convivia com a luz elétrica, com as sombras projetadas nas paredes ou mesmo no teto da casa.

Na simplicidade éramos felizes. Colo da vó com cafuné, banhos de chuva no terreiro ou no rio quando conseguia encher, requeijão feito por ela no café da manhã com bolo de milho, bolacha da feira de Serra do Vento à tarde e à noite cuscuz com leite puro das cabras. Eu nem sabia que tudo isso junto poderia ter composto uma linda poesia e ser recitada nas brincadeiras de roda com os primos e primas e depois dormir com uma cantiga de ninar tirada do baú da Vó Isabel. Saudade do tempo em que a fantasia se misturava aos sonhos.

A vida é assim. Uma hora dispomos até com sobra do que nem sempre valorizamos e noutra estamos no meio do mundo, no pico de uma montanha procurando encontrar o ponto de partida para à terra do bem comum. A nossa história é repleta de vários acontecimentos que vão marcando cada folhinha do nosso calendário de vida. Sonhar com o amanhã é preciso e nos faz viver.

Diante da ladeira íngreme à nossa frente tudo parece assustador, mas a utopia que construímos de uma nova vida numa nova sociedade nos anima e quem sabe esse seja o “novo normal” que tanto esperamos. Um projeto de vida onde nem precisemos nos envergonhar em não termos os bens que a burguesia ou a pequena burguesia tanto veneram, tampouco sermos tratados como um vegetal e ignorados na sala de espera, mesmo rodeados de tanta gente.

Quando o sol novamente reaparecer e a lua der o ar da graça, aproveitaremos que estão brincando no cosmo, sairemos às ruas saudando a liberdade de andarmos sem medo e agradeceremos o dia, à noite, à madrugada e principalmente ao raiar de um novo amanhã que trará com ele a resposta para todas as esperanças contidas em nossas preces.
Quem viver verá...!

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


domingo, 14 de março de 2021

A busca dos sonhos no limite do tempo e do vento

 

Hoje acordei inquieto, com uma vontade imensa de caminhar sem direção, apenas para sentir a brisa da manhã em meu rosto e deixar meus pensamentos voarem no rumo que o vento os levar, porém ainda me falta coragem para sair sem medo e achar que basta por uma máscara que tudo volta a normal. Pode até ser um ato de fraqueza ao ver a movimentação lá fora.

Fui à busca de conexão com dez amigos e amigas, para enganar o silêncio e me sentir vivo diante da imensidão do medo que paira no ar. Minha pergunta foi se realmente o mundo anda de cabeça para baixo ou se só eu estou vendo assim. Todas e todos falaram de forma contundente sobre a complexidade para entender o momento atual e garantir a sanidade mental, além da necessidade de administrar as introspecções pessoais, numa fase de tantas perdas humanas e ainda sem perspectivas seguras de como será o amanhã.  

Chegamos à conclusão que a vida só anda normal para a população que por necessidade tem que trabalhar e arrisca a vida em transportes lotados, para a galera da “night” que acha ser imortal e vive do prazer, para quem segue o “tinhoso” e não está nem ai e para a classe política, que os corpos estão presentes em busca de evidência se misturando ao povo, num momento de pleno risco, mas as cabeças só pensam naquilo. Votos em 2022 a qualquer custo. No mais a vida está por um fio e por vacina publica para todos e todas.

Quem sabe a minha prima tenha razão. Ela diz que temos que continuar fazendo o que o nosso coração pede, pois só vai morrer quem Deus quiser. Querendo dizer que tudo vale a pena enquanto vida tiver. É algo a se pensar...

Voltando para a alusão ao Tempo e ao Vento, a primeira coisa que me vem à mente quando penso em tempo e vento é do ato de pipar. Dê-me um sonho que volto a ser jovem e sonhador. Um carretel com linha, uma pipa feita com carinho, sol e vento brando, que meu dia será inesquecível e todos os problemas ficarão à margem do horizonte. Pipar é a emoção da afirmação de que o verdadeiro amor ainda existe e não se limita apenas ao voo que faz colorir o horizonte e que quando a pipa é recolhida, o amor chega ao fim.

Uma viagem mental do tamanho do mar das incertezas que atravessamos, onde o amanhã se confunde com uma brincadeira de faz de conta.

Porém o que a vida espera de nós? Coragem para seguir sem olhar para traz. Olhos abertos para o perigo que nos cerca, cuidados com as falsas promessas e muita disposição para enfrentar as ilusões que aparecem como os cantos das sereias, além da necessidade de lembrar que amanhã quando a velhice chegar, só fica conosco para ver o dia raiar todas as manhãs, quem o coração pulsar mais forte, mesmo que não sejamos mais tão belos e tão belas assim.

Vou passar o dia de hoje driblando o silêncio, organizando meus pensamentos que andam espalhados pela minha mente e com a certeza de que muita agua ainda passará por debaixo das pontes, enquanto vida tiver. O importante é sempre acreditarmos que o melhor ainda está por vir.

Sejamos meninos e meninas ao alimentar nossos sonhos, sem emendas, sem rasuras e enfrentando qualquer obstáculo que ouse nos deter. Viver o hoje sem pensar no amanhã é matar os sonhos que habitam em nós, que viajam nas asas do vento desafiando o tempo. Vamos voar juntos?

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

segunda-feira, 8 de março de 2021

O que é vida? A vida é o que é. A vida é o que há...

 

Ao olharmos pelas frestas de uma janela em dia nublado a procura de sol, nos causa espanto a quietude diante do medo, mesmo que esse medo se disfarce em momentos de lazer ou em passeios para dar vida ao nosso ego. De repente sentimos que nos encontramos de frente pra vida em toda sua plenitude e é nesse momento que descobrimos a necessidade da força interior para avançarmos à frente.

Enquanto os hospitais andam cheios de pessoas que provarão o calvário e muitas perderão a própria vida, uma grande parte da humanidade é forçada à labuta, outra parte desfruta do lazer como se o perigo tivesse estacionado na casa ao lado e outro grande setor desafia a morte, como se a vida fosse gerada, em série, num grande laboratório, sem contar com quem se encontra indiferente a tudo.

Somos oriundos e oriundas do mesmo núcleo composto por um óvulo e um espermatozoide e muitas vezes por dois ou três, que entram apressados, porém de estados emocionais completamente diferentes uns dos outros e das outras e isso faz com que a vida seja todos os dias uma grande aventura para o ato de viver ou uma grande disputa pela própria natureza de ser e do ser, que dá o tom e a cor do momento.

Quem sabe a vida seja uma miragem com rios e montanhas, composta por doces ilusões, misturadas com uma bebida qualquer, onde em quase transe se comete todas as insanidades que ela permite e ao voltarmos à realidade nos deparamos com momentos de pura ventania onde tememos que a nossa história de vida seja comprometida e jogada ao vento como poeira do tempo, pois nada ficou ou restou.

A vida pode ser também um mar ou um paraíso de escolhas, onde na busca do prazer, o sexo e a poesia disputam lado a lado a razão e a emoção do estar com alguém e aí descobrimos que se aproxima a hora da grande escolha pelo caminho que nos levará ao amanhã e quem seguirá conosco. Porém, onde estará o amanhã? Quem sabe na palma da mão fechada que guarda um segredo ou no coração que pulsa mais forte querendo revelar o caminho que gostaríamos de seguir.

Ao olhar um ferrinho de passar roupas que era uma brincadeira de criança e foi transformado numa ferramenta de trabalho, vem à lembrança de que muitas vezes a vida aparece como uma leve brincadeira do faz de conta, onde brincamos de heróis e heroínas num mundo de fantasias, onde tudo é possível e permitido, basta que tenhamos tempo e disposição para brincar.

Noutras vezes a vida aparece nas histórias e advertências feitas por nossas avós e nossas mães, nos alertando para as ilusões, as armadilhas e os contratempos onde seremos avaliados pelo que temos e não pelo que somos. É nessas horas que descobrimos quem veio para ficar em nossas vidas.  

O que não deveríamos esquecer jamais? De que com o tempo as aparências mudam, a idade chega e já não somos tão desejáveis assim. Caminharão conosco por amor apenas quem ficou até mesmo diante da maior tempestade. Quem sabe seja por isso que se faz necessário lembrar da nossa responsabilidade com quem cativarmos e sabemos que é por nós que seu coração pulsa mais forte. Quem sabe ainda num momento de reflexão qualquer ou mesmo nas baladas na calada da noite regadas de muita bebida, possamos parar, pensar e agir antes que o dia amanheça e o sol se ponha.

Dizem que a vida é um feixe de luz com várias mutações durante o trajeto. Ao nascermos uma mistura de cores, quando amamos vira arco-íris, quando envelhecemos a cor do céu nos representa e quando morremos a luz sai de nós e se transforma numa estrela, para que a existência perdure.

O que vou fazer amanhã? Vou brincar de ser menino com asas e me imaginar voando, voando... e pousando onde o meu coração faz morada e pulsa mais forte. Vem comigo...!

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


quinta-feira, 4 de março de 2021

O que esperar e o que fazer diante do caos?

 

Imagem disponível em: https://st11.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/2065674?profile=original

Há um ano estamos acuados e com medo sob o efeito da pandemia e em pleno crescimento desordenado.  O que esperar diante de tudo isso? O que estamos enfrentando? As festas clandestinas de carnaval? O efeito de ônibus, trens e metrô lotados levando e trazendo o povo do trabalho? A rebeldia das festas, comemorações e bares lotados? A volta das aulas e das reuniões e atos presenciais? Os cultos com igrejas lotadas? Ou tudo isso junto?

Nesse momento não faz a menor diferença do tipo de rebeldia, descaso ou descrença que estamos falando. A verdade é uma só. Mesmo com os números oficiais subnotificados com apenas às pessoas que fizerem o teste, o Brasil chegou ao seu limite na saúde, com hospitais lotados e no seu maior nível de mortes, perdendo em números apenas para os Estados Unidos.

Imaginem nessa seara se não fosse o SUS – Sistema Único de Saúde, que garante atendimento para a maioria da população. Defender o SUS é como defender a própria vida e ter a solidariedade como elemento fundamental.

Estamos diante da maior tragédia humana que o país já passou e num cenário de total incerteza à nossa frente. Poucos testes, pouca vacina, pouca vontade política, um presidente genocida que dialoga com a morte e a reverência necessária do capital ao deus mercado, que se impõe mesmo diante do caos. Só uma mudança de comportamento da população, aliada com a atuação de governadores e prefeitos de forma direta, com vacina pública para todos e todas poderá mudar o triste ciclo em curso.

Cá nos bastidores da vida real a única toada tem sido as eleições de 2022. Algo que preenche o universo de vaidade de algumas pessoas, além de despejar dinheiro no mercado para a indústria das eleições e de quebra dá uma amenizada na parte emocional, pois tudo se decide pela emoção e não pela razão. Sobrou algo para mirarmos nessa terra de ninguém?

Sobrou sim! Para quem foi forjado, ou forjada na luta e tem uma causa como referência de vida, no capitalismo sempre haverá um front de exclusão e desrespeito a ser enfrentado, para que os direitos da classe trabalhadora e de outros segmentos oprimidos pelo sistema não desapareçam, além das lutas específicas que necessitam de apoio e reforços para continuidade.

Garantia da saúde pública com vacina para todos e todas, defesa do SUS, garantia de continuidade da renda emergencial e Fora Bolsonaro e toda sua trupe, são as bandeiras prioritárias para o momento político que vivemos.

A grande tarefa é a construção de um projeto coletivo visando uma nova sociedade, o enfrentamento contra a usurpação de direitos e a busca imediata por melhores condições de vida, especialmente para quem mais precisa, com o empoderamento das mulheres, da juventude que pensa e luta, dos negros e das negras, da comunidade LGBT e de outros segmentos organizados.

Por onde começar? Por juntar pessoas inquietas e sonhadoras, para a criação de um espaço de cidadania, aberto a todas e a todos que queiram participar, onde seja possível misturar cultura com necessidades específicas, uma dose alta de solidariedade e ouvir as pessoas e aí tudo isso poderá virar um novo Projeto Coletivo, Compartilhado e Participativo, onde a participação nas eleições de 2022, necessariamente nasça nesse ambiente ou a partir dele. Com isso evitaremos que muita gente seja usada, apenas como “garrafinhas”, a serem trocadas por algum desejo alheio.

Como a luta não é geográfica e sim nacional, precisamos dialogar além das questões locais. Criarmos um ambiente comum para uma avaliação permanente das conjunturas, construirmos ações organizadas, focarmos nos nossos sonhos e planejarmos juntos e juntas um novo amanhã. Que tal?

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Alguém sabe me falar se tem algum projeto em andamento, além de 2022?

 

Imagem Disponível em: https://blogs.correiobraziliense.com.br/denise/sinais-para-2022/

É exagero afirmar que na classe política, o único projeto que tem em pauta na atualidade são as eleições de 2022? Estão todos e todas movendo suas peças no tabuleiro da sociedade e já com alguns nomes em destaque em campanha. A corrida já começou.

Em regras gerais não há nada de mal nisso, para um país que tem eleições a cada dois anos, além de muita luta no passado pelo direito de votar. O problema é que as eleições se tornaram uma indústria que move o mundo do capital e acaba não cumprindo seu papel político, com raras e boas exceções. A desinformação e o desinteresse da população são cada vez maiores. A maioria vota em seus opositores e ainda saem às ruas para defendê-los sem saber quem são. É como a barata votando no chinelo ou inseticida.

Há uma intencionalidade de desconstrução de tudo que foi conquistado e produzido visando direitos. A ordem do sistema econômico é cuidar do empresariado e detonar a esquerda, porque senão não haverá trabalho. Não importa em que condições.  Como resultado, vemos a trágica situação do país. Desemprego, subemprego, precarização da saúde e da educação e as ruas cheias de pessoas que não tem mais como atuar em sociedade, entregues à sorte e ao destino. Além de um grupo de empresas deixando o pais.

A fome e a miséria também voltaram. O país de Bolsonaro se transformou num puxadinho do capital internacional e de braços dados com a milícia. A pandemia toma conta do país e o genocida brincando de ser eterno. O inacreditável é saber que a popularidade dele está mantida e o dinheiro público comprando os votos que ele precisa para se manter, como foi o caso das eleições da Câmara e do Senado, infelizmente com a contribuição de parte da esquerda brasileira. Algo que dá um calafrio só de pensar...

É bom que se diga que há uma confusão intencional de várias vertentes, no sentido de se descaracterizar os campos ideológicos, confundindo a cabeça do povo. Como entender o que é na atualidade ser de direita, centro, extrema direita ou esquerda? Ao olhar o mapa de composição política nos municípios para o cargo de prefeito ou prefeita, a única coisa que me vem à mente é de um personagem do Viva o Gordo, que ficava um tempo no espaço e quando voltava não acreditava no que escutava sobre o país e dizia: “Me tira o tubo”.

Tem um fato que é determinante para tudo isso. Uma eleição a cada dois anos impõe que a agenda principal esteja focada em como participar e organizar o processo eleitoral. É um mundo de negócios e das negociatas. Uma mistura que confunde a cabeça do povo. Como a pauta já é 2022 mina as pequenas chances de organização da população, em busca de seus direitos. Fica tudo em nome da democracia. Porém de que democracia mesmo estamos falando?

O que fazer diante desse cenário? Nossos representantes têm, apenas eleitores ou também base eleitoral? É possível construir um projeto antes de um nome a representar? Como cobrar de forma qualificada em quem votamos?

Na política não tem mágica. Quem defende o capital nunca vai defender a classe trabalhadora. Quem vive com seus ranços de homofobia, racismo, machismos e outros, nunca vai entender as lutas especificas e os enfrentamentos políticos.

Um projeto popular de formação e organização, envolvendo os principais setores que sofrem com o processo de exclusão e discriminação, poderia ser um começo e ai sim escolher pessoas do projeto ou intimamente ligadas a ele para representar os anseios e expectativas de setores que normalmente são usados como “garrafinhas” em troca de uma parcela de poder ou um cargo político.

Bem vindo e bem vinda ao mundo onde uma reflexão vale um conto...

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


sábado, 13 de fevereiro de 2021

Sem carnaval quando o ano vai começar?

 

Imagem Disponível em: https://www.tribunabm.com.br/seu-ano-so-comeca-depois-do-carnaval/

Está no imaginário popular que o ano só começa depois do carnaval e se não tem carnaval como fica?

Num ano normal o país já estaria em festa há algum tempo e ontem teria sido o primeiro dia oficial dos desfiles e do carnaval de rua. Ensaios nas quadras das escolas regadas por muita cerveja teriam embalado as madrugadas, ensaios dos blocos, encontros sendo marcados para os dias de festejos e o país caminharia para mais uma grande festa, nem tão popular assim, com uma grande parcela da população, se esquecendo por alguns dias das mazelas que vivemos e outra grande parte dizendo que é coisa do “capeta” e a vida seguiria.

Para milhares de foliões e foliãs, que se preparam durante um ano para seus desfiles de escolas e blocos, ou mesmo para pularem, ficará um grande vazio, pois será o primeiro ano em 89 anos sem carnaval. Uma festa existente para as que as pessoas extravasem suas neuras, além do ano poder de fato começar, embora o sistema econômico tenha se apropriado da festa para tudo girar economicamente em torno dos quatro dias de folia e quem não tem dinheiro não desfila nas escolas e nos blocos principais, como bem fala a música “Visual”. Para quem é da folia, realmente deve ser um ano sem graça.

De certa forma eu entendo perfeitamente, pois senti o gostinho de como é participar de um desfile e viver o clima do momento, mas quando me lembro de que na terça de carnaval do ano passado eu estava enterrando meu pai, que morreu com todas as características do vírus e que estamos chegando a 250 mil mortes oficiais por COVID, sem contar quem não entrou na conta, a verdadeira festa de carnaval é festejarmos o fato de estarmos e continuarmos vivos celebrando o ato de viver. Por certo no ano que vem será outro momento e quem sabe com a população toda vacinada com suas duas doses.

Não é politicamente correto e um atentado à saúde púbica, uma pessoa com COVID não respeitar o tempo de quarentena e transitar como se nada tivesse acontecendo. Levaria o vírus para muita gente. Assim evitar as festas é o melhor que se faz, pois o que não falta são pessoas infectadas por ai...

Há quase um ano estamos vivendo momentos de inquietações, seja pela pandemia que quando não mata deixa sérias sequelas ou pelas armadilhas preparadas pelo genocida de plantão, que provocam males irreparáveis. Eu diria que o país está muito mais pobre triste e do que estava no ano passado.

O carnaval seria uma forma inclusive de protestos nos desfiles que já se anunciava, mas por conta do abandono do país chegamos a essa situação impensável. O desgoverno e também a contribuição por uma parte da população, que desdenha da situação e continua a se expor, nos levou a esse caos.

Muitos beatos e beatas dizem que o carnaval é uma festa pagã e, portanto repleta de pecados. Creio que o verdadeiro pecado habita onde se escondem os preconceitos, as discriminações, os racismos, a ostentação e outras performances de pessoas que vieram ao mundo para servir ao deus dinheiro. Tudo que é em excesso faz mal e o mundo que sonhamos vai ficando cada vez mais estreito.

Quem veio ao mundo para servir e que tem uma causa para defender, sente no ar que estamos num momento de plena carência humana, a partir de vários fatores. Assim, uma saudação de bom dia, um ouvir, um se por à disposição e principalmente um momento feliz junto, pode fazer toda diferença.

Quando se tem controle emocional e respeito pela vida humana e por quem caminha conosco, tudo vale a pena por a alma não ser pequena. Obrigado Fernando Pessoa!

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Um arco íris chamado amanhã...

 

Imagem Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/fisica/arco-iris-ou-circulo-iris.htm

Fecho os olhos e me permito embarcar numa viagem em busca de respostas para a vida. Disposto a viver da melhor forma o que vier pela frente. Vejo à minha frente uma estrada arborizada e florida e inicio minha caminhada por ela onde o amanhã é o destino. Vou degustando todos os meus sentimentos. Flores de cores diversas a me colorir, canto dos pássaros como hino e o cheiro da relva molhada.

Enquanto caminho, vou recordando da minha trajetória de vida, onde já fui um nada e um tudo ao mesmo tempo. Onde sempre era possível recomeçar. Lembro-me que estou colhendo o que plantei durante a vida ou não há o que colher porque deixei de plantar. Grito em voz alta: “Não me vergonho do meu passado”. “Quero contá-lo para quem sabe sirva de contexto nas histórias futuras”. Sigo pensando em minha história de vida e o que ainda posso escrever. Lembro-me que tenho pressa pois estamos numa fila da vida aguardando a nossa vez. Uma fila que ninguém quer passar à frente ou não é possível voltar ao final dela. A posição está definida.

Vou caminhando e me lembrando de como eram bons os banhos de chuva que tomava no terreiro de terra batida em frente à nossa casa. A terra em contato com a água da chuva exalava um cheiro capaz de ficar para sempre na minha imaginação de menino que achava que podia tudo, mesmo sem nada ter.

Na caminhada me deparo com um lago de água cristalina onde pessoas alegres passam o tempo a brincarem com a vida olhando os peixes, a paisagem e contando suas aventuras, verdadeiras ou não. Chego em silêncio para não ser notado, apenas para observar o movimento daquele povo que deixa a vida os levarem e curtem cada momento regado por muita bebida, que de gole em gole nem veem o tempo passar. Quando dão conta de si o amanhã já chegou.

Ao seguir pela estrada vou passando por pessoas que também caminham em busca do que virá e à procura de novas emoções. Começo a cantarolar músicas que cantei para alguém dormir e isso me dá um prazer momentâneo e inquieto. Sinto vontade de pedir para cantar novamente, mas me lembro de que estou em viagem. Quem sabe quando eu chegar...

Busco na estrada para ver se avisto quem me quer bem e quem eu quero que esteja comigo. Junto palavras para compor uma canção ou uma poesia. Vou fazendo versos com sentido ou não. Quem me dera ser poeta, pois tudo que produzo tem a intencionalidade de agradar, mas nem sempre isso é possível. Gero uma prosa com fragmentos de vida, com sonhos, com vontades incontidas e me preparo para quando eu chegar ler de forma pausada a quem reside em meu coração.

De repente surge à minha frente um lindo bosque. Fico pensando se entro ou não. Penso que se eu entrar posso me envolver com quem encontrar. Por alguns instantes fico na hesitação, mas me encho de coragem, venço meus medos e meus fantasmas e entro de cabeça naquele recanto que me faz sonhar.

Ao entrar sou recebido por uma fada madrinha que me leva ao encontro de divindades que cantaram e dançaram para me agradar. Ela seguiu comigo por dias a fio sem olhar para trás até sermos surpreendidos por uma tempestade com raios e trovões e ela chegando calmamente perto de mim, me disse quase cantando: “Sossega coração! Essa tempestade logo passa e estarei com você até o arco íris aparecer e depois embarcaremos juntos ao amanhã onde o futuro está”. Ao ouvir isso eu abri os olhos sorrindo e fiquei imaginando viver aquela cena dia após dia até o amanhã chegar. 

Assim é a vida. Vivemos de momentos. Vivemos de fantasias. Vivemos de saborear o que mais apreciamos nos encontros da vida. Vivemos sonhando em sermos amad@s, desejad@s e de termos vida em abundância para vivermos todas as emoções que o amanhã nos propõe.

Bem vindos e bem vindas ao mundo das emoções, onde só é permitido acontecer se o coração pulsar mais forte.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

E por falar em Amor em tempos de desamor...

 

imagem disponível em: https://www.facebook.com/Amar.sempre.e.viver/

Como pesquisador e humano que ainda acredita na velha forma de amar, tenho conversado com muita gente, buscando referenciais que possibilitem avaliar se aquela forma de amor que aprendemos desde cedo, ainda existe, ou diante de um mundo em ebulição e da cultura do desamor, o amor como imaginamos, faça parte apenas da nossa imaginação que parou desavisada num tempo passado.

Os gregos antigos reconhecem sete tipos de amor: Philautia - Que é o amor que temos por nós mesmos. Pragma - Amor baseado na dedicação ao bem maior. Uma forma de amor pragmático. Ludus - Que é o oposto de Pragma. É uma forma de amor mais divertida. Eros - Que é caracterizado pelo romance, paixão e desejo. Philia – Como amamos irmãos, irmãs e amigos próximos. Storge - Amor que os pais têm pelos filhos. Agape - Que é o sentido universal de amor que todos nós aspiramos ter. Um desejo permanente pelo bem.

Já a psicologia usa o mesmo referencial para definir seis tipos de amor: Eros - Como sendo um amor romântico e passional. Ludus - Como uma forma de amor sem compromisso (imagino que aqui também se encaixa o chamado sexo sem amor ou em compromisso). Storge - Como sendo um amor amistoso e leal, onde o emocional está em primeiro plano. Mania - Que é uma mistura de Eros + Ludus, onde existe uma dependência emocional e obsessiva. Pragma - Que a psicologia define como uma mistura do Ludus + Storge, onde o sentido prático é a base dessa forma de amor. Um casal com os mesmos interesses. Ágape - Como sendo uma mistura de Eros + Storge. Uma combinação do amor romântico com o amistoso e leal.

Nessa pesquisa que realizei com pessoas conhecidas, há quem afirme que amor é tudo igual, seja pelos parentes, amig@s querid@s ou com quem se namora, onde apenas o que diferencia é com quem se faz sexo de forma frequente. Uma clara rejeição à velha forma de amar. Há ainda quem defina o amor como um sentimento apenas do hoje e o amanhã nem exista. Algumas pessoas mostraram dificuldade em definir o que é o amor, mesmo enxergando-o como algo que se materializa na transição entre paixão e amor. Esse grupo de pessoas afirma ser impossível continuar amando sem ser amad@.

Há quem defina a família tradicional, como “família-margarina”. Uma crítica ao patriarcado conservador, mas também com conteúdos que geram outros tipos de rejeições e discriminação. Algumas pessoas se declararam nunca terem amado ninguém ou que não acreditam mais no amor, seja por uma decepção amorosa, por mágoas passadas ou pela facilidade que é ter vários relacionamentos sem compromisso, como se fosse um presente pela liberdade de viverem sem relacionamentos fixos.

Por fim conversei com pessoas que declararam que não ouviam um “eu te amo” há muito tempo e tentavam descobrir se suas relações estavam em crise, se ainda existiam ou se nas entrelinhas silenciosas sentiam o amor presente nas atitudes de seus parceiros e parceiras.

Amar pode ser algo simples e complexo ao mesmo tempo, pois invade sem avisar, o imaginário e os corações das pessoas de varias formas e formatos. Amor pela luta. Amor do “eu me basto”, como algo a ser administrado. Amor fraterno. Amor narcisista onde a pessoa só ama a ela própria e o amor correspondido como o premio maior de um relacionamento. Acredito que o amor não seja tudo igual. Para cada situação existe uma forma própria de amar, como dizem os filósofos e psicanalistas.

Enfim, o importante mesmo é conseguir enxergar o amor como uma conjugação do verbo amar, onde a busca da sinergia seja algo frequente. Uma mistura de vontade, confiança, cumplicidade, carinho e um amor que transborde a alma. Encontrar um amor verdadeiro nunca foi uma tarefa fácil. Facil mesmo é saber como amar ao ser correspondid@.

Seja o que for, como for, onde for e com quem for, o amor verdadeiro e exclusivo por outro ser é uma forma de sentimento que ainda vai durar muito tempo para acabar, mesmo que uma parte da humanidade já esteja embrutecida. Ame-se em abundância, mas jamais se esqueça de mostrar ou dizer o quanto você ama para a pessoa que convive com você, que por certo também te ama. Qual foi a última vez que você disse à seu parceiro ou parceira "Eu te amo"?
Como dizia Paulo Freire Amar é um Ato de Coragem!

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

sábado, 23 de janeiro de 2021

De volta ao começo. Qual será o próximo passo?

 


Mensagem solta no ar como um pássaro que voa em direção ao seu abrigo, ou apenas uma mensagem subliminar que veio dar o ar da graça, do que ainda poderá ser ou não. Um texto com duplo sentido e a possibilidade de se caminhar pela estrada que der mais prazer.

Noites que se confundem com os dias, sonhos que nascem como se fossem avisos e a gostosa sensação de acordar com um suspiro dizendo que a vida existe e que podemos fazer sempre melhor no dia seguinte.

Sinto-me em viagem acompanhado por um luar e uma leve brisa que vem ao meu encontro, como se fosse um momento de paz em minhas viagens mentais. Vagamente caminho em direção do que ainda não conheço ou em alguns momentos não vejo, mas faço a caminhada por sentir o que já foi, o que é e um sonhar do ainda poderá ser. Crio e recrio o ponto de partida e construo em pensamento um ponto de chegada a ser comemorado em momentos de alegria, onde a nostalgia dê espaço a um som de vida depois de um arco-íris.

Ando descalço para um contato maior com a natureza e quem sabe para saborear um pouco de magia que a terra firme onde nós pisamos passa. Às vezes tropeço nos obstáculos da vida, vindo uma sensação de desconforto e a lembrança de que preciso exercitar algo que só me faz bem. .

Canto canções inacabadas, cantarolo o que possa fazer alguém dormir e vejo por entres frestas um sol brilhante a me esperar. Olho nos olhos do infinito buscando o que ainda não consigo entender e vejo refletida a imagem do amanhã, que teimosamente insiste em me avisar que o que não foi ainda poderá ser e o que já foi serve de texto e contexto para uma poesia ainda a ser escrita fazendo um fechamento do que aconteceu entre o acaso e o destino.

Fecho os olhos e caminho em direção aos meus desejos e ao que mais quero. Lembro-me da noite anterior, do amanhecer, do jardim repleto de flores, do sonho interrompido pelo acordar, de várias borboletas coloridas voando em círculo e que além do sol que me aquece, logo virá o cair da tarde com toda sua ternura e uma noite estrelada onde tudo pode acontecer.

Refaço caminhos, conto história para por meu ego em dia e lembro-me do café com chantilly, do teatro em tarde de mimo, da movimentação noturna e de uma fada madrinha que veio me avisar que o amanhã é logo ali depois do hoje.

Faço planos do que ainda não sei, mas do que gostaria de ser. Escrevo contos para revelar a minha alma. Vou enfrentando os fantasmas do dia a dia e vou degustando devagar os momentos em fantasia que a vida por merecimento ou por descuido vai me ofertando todos os dias e não me esqueço de agradecer.

De onde poderão vir às convicções contidas em meus sonhos? Quem sabe das mudinhas do amanhã que plantei em meio a várias orquídeas como companhia, imaginando que tenham crescido e possam embelezar o jardim que todos os dias construo em meus pensamentos. A vida na verdade é uma grande fantasia onde cabem todos os sentimentos e é o coração que vai determinando o que fica e o que servirá apenas como ótimas lembranças.

Que o começo não seja o fim do que é, tampouco o rompimento de algo que ainda nem aconteceu, mas que seja o encontro de todos os momentos, na construção de um amanhã, regado por músicas, colorido por várias flores e encantado por uma fada que fará com que nossos corações batam mais forte.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social



terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Formação e Organização como início de conversa...

 

Para um bom entendimento tecnopolítico, que possibilite uma análise mais criteriosa do momento político e social, assim como para a criação de estratégias para possíveis enfrentamentos, se faz necessário saber fazer uma boa Avaliação de Conjuntura. Além disso, uma pesquisa científica e um bom diagnóstico local poderão ser essenciais para a tomada de decisões mais próximas da realidade.

Temos o mundo nas redes, mas pouco, sabemos utilizá-las como instrumentos de informação e de preparação organizada para os enfrentamentos das lutas do dia a dia. Vivemos conectados dia e noite, mas em grande parte só nas relações pessoais, Como se vivêssemos num mundo paralelo. Falta buscarmos nas redes seu papel político de trabalho integrado em rede que a direita sabe utilizar tão bem.

Enquanto vida em grupo online, as redes prestam um grande serviço, embora repetitivo, pois se é verdade que apenas mandar notícias pode não levar a nenhuma situação prática que intervenha diretamente no processo político atual, por outro, é um ato de militância política informar o que está ocorrendo em primeira mão, além que diante da pandemia, em pleno crescimento, não dá para sairmos às ruas a qualquer hora, achando que vamos consertar o caos que vivemos ou ainda festejarmos o que vier pela frente, pois numa dessa a pandemia pode nos levar para onde não queremos ir tão cedo, ou ainda levarmos o vírus a tira colo para outras pessoas, o que é muito mais grave.

Entender o cenário atual não é para amador@s. É uma luta diária contra um sistema excludente que existe para apenas um terço da população. Outro terço imita quem tem e serve de manutenção ao primeiro e o outro terço nada tem. Além disso, há uma guerra política, de todas as matrizes ideológicas, pela disputa de pequenos poderes em nome da população. Uma parte da esquerda de caso com a direita. Uma baleia golpista no caminho, um monte de golpistas usando a fé, como mercado de trocas e assim caminhamos rumo a 2022.

Escrevendo isso me lembrei de algo que falei a um “capataz” enlouquecido na Prefeitura de Hortolândia, que se achava em pleno poder delegado e que tinha se revelado o monstro que era ao lidar com as pessoas que trabalhavam no setor. Chamei a criatura e disse: “Para você pensar em casa: O poder é como um saquinho de algodão doce colorido. Logo acabará sua festa”. Seis meses depois ele me procura, quase chorando, e me diz que tinha entendido o meu recado, pois estava sem poder algum e sem o “canto da sereia” que o deixara inebriado. Como dizia Carlos Matus “O teu poder é emprestado pelo povo”.

O que podemos fazer? Aprofundarmos o conhecimento político é um caminho. Organizarmos Fóruns Populares Participativos é outro, além de lutarmos por transparência nos espaços políticos que participamos, inclusive nas instituições, organismos e nos partidos e suas tendências, onde apenas quem comanda sabe do que acontece e nos passa somente o que podemos saber. Defendo a ideia que compor junto significa: avaliar, discutir, planejar e construir os referenciais de enfrentamento juntos e juntas, pois o que foi combinado nunca foi caro, mas o que não é, tem um preço impagável pelo resto da vida.

É inegável que estamos no caos de ladeira abaixo em alta velocidade. A dúvida é como resistir de forma organizada, com pessoas que saibam o que estão fazendo e não mudarão de lado ou abandonarão a luta em troca de um cargo.  

Creio que a construção de um projeto de organização popular com seus organismos e a formação política continuada voltada a que sociedade temos e a que sociedade queremos, seja um dos caminhos mais viáveis, assim como planejarmos ações que promovam a cidadania, intervenha nos bolsões de miséria e esteja na ala de frente contra todo tipo de discriminação e desigualdade, seja o ponto central para caminharmos rumo ao sonho de uma nova sociedade. Um projeto a várias mãos nutrido pelas nossas utopias e mantido pelos sonhos de pessoas que vieram ao mundo para servir.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

sábado, 16 de janeiro de 2021

As tempestades internas que habitam em nós...

 


De vez enquanto eu necessito fazer algumas viagens mentais pelo interior da minha existência. Como uma longa caminhada pelas veredas da vida. Uma forma de eu ir ajustando contas com a minha consciência, fazendo um balanço das minhas ações e pensamentos e trabalhando a realidade existente, com a preocupação de não perder o foco das necessidades eminentes e principalmente imaginar o que serei no futuro e com quem poderei contar.

Ontem fiz algo inédito para o meu dia a dia. Junto com outras pessoas, fizemos uma trilha de três horas e meia por mata fechada e em pleno contato com a natureza. Procurei falar pouco durante o percurso, pois o que eu queria mesmo era saborear o cheiro de mato verde e das folhas secas que pisávamos ao percorrer a trilha. Além disso, queria refletir sobre a vida, sobre a minha existência e sobre tantas coisas que estou vivenciando. O que é real ou fantasia. O que conseguirei fazer em termos de oficio sem por minha dignidade em jogo. Enfim... Muitas coisas... O bom é saber que nada acontece por acaso.

Cada obstáculo que ia encontrado pelo caminho era como se fosse algo dentro de mim que tenho que criar, recriar ou enfrentar diante de tantas decisões a tomar e poder em breve saborear o que plantei e que vou colhendo lentamente em dias de sol de muita luz ou mesmo em dias de tempestades. Cada detalhe da mata e seus segredos vinham como uma nova possibilidade. Como algo novo. Como um encontro com a natureza e com sua resistência em sobreviver.

Essas inquietudes cotidianas me levam a alguns pensamentos: Quem de fato somos? O que há dentro de nós que vale a pena ser duplicado? O que precisamos mudar para nos aproximar do que sonhamos? Qual será o próximo capítulo da nossa vida a ser escrito para a nossa história? Quem fará parte dela? Que caminhos trilharmos para que a viagem continue sendo prazerosa?

Em busca de respostas chego à conclusão de que vivemos de momentos. Somos momentos. Vivemos tentando entender o próximo passo, como uma busca constante e também buscando entender o que cada pessoa que se aproxima de nós busca de fato ou o que buscamos junto com elas ao ser permitido como uma ação compartilhada. Vivemos em pleno diálogo com os outros “eu” que habitam dentro de nós, em busca do equilíbrio e procurando entender e mediar as reações de cada um deles em seus diversos momentos.

Em resumo, somos o que somos. Somos a extensão dos nossos pensamentos. Somos o que plantamos. Somos o resultado das nossas escolhas. Somos vida nova para muita gente e apenas lembranças para outras. Somos luzes no caminho de algumas pessoas e o pensamento vivo que pulsa em alguém que nos adota como uma flor que nasce em seu coração. Assim é a vida. Requer antes de tudo uma profunda observação para entendermos as nossas reações.

Hoje não tenho dúvidas que vir ao mundo para servir é uma grande prova de amor. Algo épico que se materializa nas pequenas ações que vamos realizando, que de alguma forma enfrente o caos, sirva de alento para o momento que passamos, além de trabalhar a esperança como elemento vivo de um mundo utópico onde não haja exploradores e nem explorados.

Assim caminhamos. Ocupando terrenos não habitados, plantando junto com sonhadores e sonhadoras, sonhos que nos servem como alimentos e nos alimentando do que as pessoas céticas chamam de “doces ilusões”, mas para nós, sonhadoras e sonhadores, é a prova viva das nossas existências.

Que consigamos vencer as tempestades internas que habitam em nós e possamos juntos e juntas apreciarmos o arco íris que por certo virá dar o ar da graça quando a tempestade passar e chegarmos à “terra prometida”.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social