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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

De onde nasce o ódio ao PT, Lula e Dilma?

Quando eu fazia teatro, em plena década de 80 em São Bernardo do Campo, aprendi que quando um autor escreve um texto para uma peça, novela ou um filme, conduz a vida e a personalidade dos personagens através da empatia. Ou seja, por aquele sentimento que nos faz imaginar no papel do personagem, sentindo o que ele sente e indo à sua defesa se necessário for.  

Isso na verdade acontece num campo tão subjetivo, que se torna quase imperceptível aos olhos da extrema maioria das pessoas que assistem e ouvem a trama. Na prática é a eterna luta do bem contra o mal, provando que ela está mais viva do que nunca.

Normalmente o recado é dado nas entre linhas do enredo. As pessoas vão se apaixonando de tal forma por um determinado personagem, que são capazes de irem às vias de fatos, caso sejam contrariadas. Assim, um filme inocente, uma novela infantil ou mesmo um filme de humor, traz no seu DNA a personalidade e a ideologia de quem o escreveu. A mensagem, mesmo que subliminar, está voltada à manutenção do sistema, caso esse autor seja um conservador ou em seu enfrentamento, caso seja um escritor progressista ou de esquerda, em maior ou menor proporção.

Assim também é na política. Nem sempre o que parece é. Nem tudo é verdade. Ou participamos, ou então tudo que disserem pode ser verdade ou mentira. Dependendo é claro dos interesses de quem está com a palavra.

Uma mentira contada várias vezes acaba virando pura verdade. Assim foi com o mito de que chupar manga e tomar leite fazia mal, com o pressuposto de afastar os escravos das únicas coisas que tinham acesso rápido. Ou ainda o fato de que política, religião nem futebol se discutem. Nesse caso a intensão era passar a ideia de que os três assuntos só podem ser discutidos em sua essência, por quem é o do ramo, justamente para afastar qualquer intruso que apareça no caminho de quem quer o poder para ele. Vejam a resistência e a negação de Aécio e Marina em relação ao Decreto que cria a Política Nacional de Participação Social. Dizem: “É um projeto bolivariano”. “É uma afronta à democracia representativa”, como se essa não estivesse em crise, quase falecendo.

Num caso mais recente, quem não se lembra do que falavam de Lula. Diziam que ele ia tomar metade do que cada brasileiro tinha, caso fosse eleito. Diziam que se a pessoa tivesse um apartamento, quando ele chegasse ao poder tomaria a metade. Os menos avisados e os que não participam do processo político do dia a dia na sociedade, não só acreditam como entregam seus destinos a um mercador e aventureiro, tanto da política como da fé. Esse é um dos motivos que faz com que sempre apareçam novas igrejas com novos pastores e novos partidos com salvadores da pátria de plantão.

Como agravante a tudo isso, assim como a Matrix do filme, o sistema vai selecionando quem lhe interessa e excluindo quem atravessar em seu caminho. Para isso, seus agentes se comportam como um exército e criam instrumentos de monitoramento e ataque a quem se comporte como uma ameaça.

Na época, para se contrapor a tudo isso, nasce o Partido dos trabalhadores na década de 80, principalmente como um campo político e ideológico de enfrentamento aos resquícios da ditadura, a partir do enfrentamento por parte dos trabalhadores em greve, ao arrocho salarial e outras mazelas impostas pelos empresários, aqueles mesmos que foram coniventes com a ditadura militar e a repressão, patrocinadas pela Operação Oban, com dinheiro de muitos empresários.

Tanto a criação do PT como a da CUT – Central Única dos Trabalhadores foi encarada e ainda é, como uma afronta ao sistema, desafiando os limites impostos, desde a Proclamação da República.

Por sua vez, Lula como a maior liderança do PT, carregou nos ombros o ódio dos reacionários de plantão e seu governo aprovado por mais de 80% da população, despertou a ira daqueles que querem um país com raça pura, sem negros, sem homossexuais, sem a mulher no poder, sem índios e principalmente sem a participação da sociedade organizada na formulação das políticas públicas e sem controle social. Ou seja, um país entregue a sorte a aos interesses internacionais e da grande elite brasileira, que na prática é bancada pela mais valia dos trabalhadores e trabalhadoras.

O ódio nasce da disputa de classe, pela ascensão da população mais frágil, pelos trabalhadores que agora têm carteiras assinadas, quando no passado eram manipulados pelo exército industrial de reserva (contingente de desempregados que ajuda o mercado a botar medo nos que estão trabalhando), pelas vagas através das cotas nas universidades públicas sequestradas pela elite, pelo PROUNI que possibilita vagas nas universidades particulares, pelo médicos do Mais Médicos que agora tratam da periferia e principalmente pela liberdade dada ao país, ao pagar o FMI, ao fazer um Fundo Soberano e pela abertura do mercado em diversos países, saindo da “barra da saia” dos EUA.

É esse o ódio que mata mais de 20 mil jovens negros por ano, que mata uma mulher a cada duas horas e que leva para a cadeia milhares de jovens excluídos pela sociedade e que num processo de ação e reação, são cooptados pelo crime organizado, treinados nas cadeias, que mais parece um campo de concentração, sem nenhuma política de recuperação e depois devolvidos novamente para o mundo da violência. Assim, sem políticas de recuperação, de nada adianta a redução penal, pois os bandidos após isso estarão aliciando os jovens de 14 e 15 anos e novamente estarão pedindo para reduzir para 13 anos.

O ódio contra o PT, contra Lula e contra Dilma, nasce diariamente nas entrelinhas dos jornais, das revistas, das rádios e principalmente da TVs abertas, pertencentes a seis famílias abastadas. Trata-se de um culto à elite branca e principalmente aos latifundiários, banqueiros e ao capital internacional, que resistem e refutam um país para todos e todas. Esse segmento depositou todas suas fichas em seus candidatos Marina e Aécio


Neste momento, Dilma Rousseff, representa não a revolução a um país socialista, mas a única possibilidade de colocar a serviço da população, principalmente a mais necessitada, os serviços nacionais de um pais capitalista de Bem Estar Social,  que possibilitem a inclusão e o crescimento econômico e intelectual de um segmento que sempre foi marginalizado. De forma contraditória, justamente a candidata de um Partido dito socialista, ao invés de oferecer o caminho para uma revolução conceitual, entrega de vez o país ao capital e as forças internacionais. Trata-se de uma traição às suas convicções, desde Chico Mendes, passando por sua trajetória como Ministra do Governo Lula e principalmente pela sua vida, que agora nem mesmo ela sabe quem ela é.

Só há um caminho contra o retrocesso: lutar com todas as armas que temos para que os candidatos neoliberais, Aécio e Marina, não destruam o que levou 514 anos para ser construído e depois ajudar a Presidenta Dilma a consolidar a participação, através de um Plano Nacional de Participação Nacional, que deverá ser levados aos estados e municípios brasileiros.

À luta, pois é que o que nos resta nesse maluco processo eleitoral de 2014.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)

Pesquisador em Gestão Pública e Social

Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br

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