Quando eu fazia teatro, em
plena década de 80 em São Bernardo do Campo, aprendi que quando um autor
escreve um texto para uma peça, novela ou um filme, conduz a vida e a
personalidade dos personagens através da empatia. Ou seja, por aquele
sentimento que nos faz imaginar no papel do personagem, sentindo o que ele
sente e indo à sua defesa se necessário for.
Isso na verdade acontece num
campo tão subjetivo, que se torna quase imperceptível aos olhos da extrema
maioria das pessoas que assistem e ouvem a trama. Na prática é a eterna luta do
bem contra o mal, provando que ela está mais viva do que nunca.
Normalmente o recado é dado nas
entre linhas do enredo. As pessoas vão se apaixonando de tal forma por um
determinado personagem, que são capazes de irem às vias de fatos, caso sejam
contrariadas. Assim, um filme inocente, uma novela infantil ou mesmo um filme
de humor, traz no seu DNA a personalidade e a ideologia de quem o escreveu. A mensagem,
mesmo que subliminar, está voltada à manutenção do sistema, caso esse autor
seja um conservador ou em seu enfrentamento, caso seja um escritor progressista
ou de esquerda, em maior ou menor proporção.
Assim também é na política. Nem
sempre o que parece é. Nem tudo é verdade. Ou participamos, ou então tudo que
disserem pode ser verdade ou mentira. Dependendo é claro dos interesses de quem
está com a palavra.
Uma mentira contada várias
vezes acaba virando pura verdade. Assim foi com o mito de que chupar manga e
tomar leite fazia mal, com o pressuposto de afastar os escravos das únicas
coisas que tinham acesso rápido. Ou ainda o fato de que política, religião nem
futebol se discutem. Nesse caso a intensão era passar a ideia de que os três
assuntos só podem ser discutidos em sua essência, por quem é o do ramo,
justamente para afastar qualquer intruso que apareça no caminho de quem quer o
poder para ele. Vejam a resistência e a negação de Aécio e Marina em relação ao
Decreto que cria a Política Nacional de Participação Social. Dizem: “É um
projeto bolivariano”. “É uma afronta à democracia representativa”, como se essa
não estivesse em crise, quase falecendo.
Num caso mais recente, quem não
se lembra do que falavam de Lula. Diziam que ele ia tomar metade do que cada
brasileiro tinha, caso fosse eleito. Diziam que se a pessoa tivesse um
apartamento, quando ele chegasse ao poder tomaria a metade. Os menos avisados e
os que não participam do processo político do dia a dia na sociedade, não só
acreditam como entregam seus destinos a um mercador e aventureiro, tanto da
política como da fé. Esse é um dos motivos que faz com que sempre apareçam
novas igrejas com novos pastores e novos partidos com salvadores da pátria de
plantão.
Como agravante a tudo isso, assim
como a Matrix do filme, o sistema vai selecionando quem lhe interessa e
excluindo quem atravessar em seu caminho. Para isso, seus agentes se comportam
como um exército e criam instrumentos de monitoramento e ataque a quem se
comporte como uma ameaça.
Na época, para se contrapor a
tudo isso, nasce o Partido dos trabalhadores na década de 80, principalmente como
um campo político e ideológico de enfrentamento aos resquícios da ditadura, a partir
do enfrentamento por parte dos trabalhadores em greve, ao arrocho salarial e
outras mazelas impostas pelos empresários, aqueles mesmos que foram coniventes
com a ditadura militar e a repressão, patrocinadas pela Operação Oban, com
dinheiro de muitos empresários.
Tanto a criação do PT como a da
CUT – Central Única dos Trabalhadores foi encarada e ainda é, como uma afronta
ao sistema, desafiando os limites impostos, desde a Proclamação da República.
Por sua vez, Lula como a maior
liderança do PT, carregou nos ombros o ódio dos reacionários de plantão e seu
governo aprovado por mais de 80% da população, despertou a ira daqueles que
querem um país com raça pura, sem negros, sem homossexuais, sem a mulher no
poder, sem índios e principalmente sem a participação da sociedade organizada
na formulação das políticas públicas e sem controle social. Ou seja, um país entregue
a sorte a aos interesses internacionais e da grande elite brasileira, que na
prática é bancada pela mais valia dos trabalhadores e trabalhadoras.
O ódio nasce da disputa de
classe, pela ascensão da população mais frágil, pelos trabalhadores que agora
têm carteiras assinadas, quando no passado eram manipulados pelo exército
industrial de reserva (contingente de desempregados que ajuda o mercado a botar
medo nos que estão trabalhando), pelas vagas através das cotas nas
universidades públicas sequestradas pela elite, pelo PROUNI que possibilita vagas
nas universidades particulares, pelo médicos do Mais Médicos que agora tratam
da periferia e principalmente pela liberdade dada ao país, ao pagar o FMI, ao
fazer um Fundo Soberano e pela abertura do mercado em diversos países, saindo
da “barra da saia” dos EUA.
É esse o ódio que mata mais de
20 mil jovens negros por ano, que mata uma mulher a cada duas horas e que leva
para a cadeia milhares de jovens excluídos pela sociedade e que num processo de
ação e reação, são cooptados pelo crime organizado, treinados nas cadeias, que
mais parece um campo de concentração, sem nenhuma política de recuperação e
depois devolvidos novamente para o mundo da violência. Assim, sem políticas de
recuperação, de nada adianta a redução penal, pois os bandidos após isso
estarão aliciando os jovens de 14 e 15 anos e novamente estarão pedindo para
reduzir para 13 anos.
O ódio contra o PT, contra Lula
e contra Dilma, nasce diariamente nas entrelinhas dos jornais, das revistas,
das rádios e principalmente da TVs abertas, pertencentes a seis famílias
abastadas. Trata-se de um culto à elite branca e principalmente aos latifundiários,
banqueiros e ao capital internacional, que resistem e refutam um país para
todos e todas. Esse segmento depositou todas suas fichas em seus candidatos
Marina e Aécio
O colunista Carlos Eduardo
Martins da Carta Capital em seu artigo - “O
que está por trás de Marina Silva: candidatura e programa de governo” escreve:
O
programa de Marina atribui aos EUA e a União Europeia o poder de estabelecer
balizamentos incontornáveis para os fluxos mundiais de comércio e capitais,
sobretudo, com a criação da Parceria Transatlântica em Comércio e Investimento.
Neste contexto propõe nos inscrever no âmbito da Aliança do Pacífico, rebaixar
o estatuto do Mercosul para que o Brasil estabeleça tratados de forma
bilateral.
Neste
momento, Dilma Rousseff, representa não a revolução a um país socialista, mas a
única possibilidade de colocar a serviço da população, principalmente a mais
necessitada, os serviços nacionais de um pais capitalista de Bem Estar Social, que possibilitem a inclusão e o crescimento
econômico e intelectual de um segmento que sempre foi marginalizado. De forma
contraditória, justamente a candidata de um Partido dito socialista, ao invés
de oferecer o caminho para uma revolução conceitual, entrega de vez o país ao
capital e as forças internacionais. Trata-se de uma traição às suas convicções,
desde Chico Mendes, passando por sua trajetória como Ministra do Governo Lula e
principalmente pela sua vida, que agora nem mesmo ela sabe quem ela é.
Só
há um caminho contra o retrocesso: lutar com todas as armas que temos para que os
candidatos neoliberais, Aécio e Marina, não destruam o que levou 514 anos para
ser construído e depois ajudar a Presidenta Dilma a consolidar a participação,
através de um Plano Nacional de Participação Nacional, que deverá ser levados
aos estados e municípios brasileiros.
À
luta, pois é que o que nos resta nesse maluco processo eleitoral de 2014.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br
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