Como será o amanhã? Onde devemos concentrar as nossas expectativas para o amanhã? Quem estará conosco quando a primavera passar e chegar aquele frio na alma que a aparência já não dá mais conta? Tem como compor um projeto ou uma vida com alguém pensando apenas no hoje?
Diante do momento atual numa sociedade em crise de valores, que vive de resultados e de aparências de corpos e de vida, onde uma grande parte discrimina as pessoas, seja pela cor, pela idade, pela opção sexual, pela etnia, pela aparência e principalmente pela questão econômica pessoal, o amanhã passa a ser um desejo depositado numa moeda atirada na fonte da vida ou num poço da sorte. Quem viveu o ontem e não aprendeu com as diversas relações, ou quem vive o hoje sem rever suas marcas no corpo, na pele e na alma, não está preparado ou preparada para o amanhã. Lembrando que tudo que vivemos hoje amanhã será passado.
Caminhando
pelo interior da discriminação com as pessoas idosas, materializada politicamente
há alguns anos pela Christine Lagarde, na ocasião diretora do FMI, afirmando que o
mundo tinha muitos velhos e era um custo muito alto para o capitalismo e agora
chancelado pelo Ministro da Economia do genocida, ela apenas sinaliza para o
topo do iceberg existente. É uma discriminação que está no centro da sociedade,
escondida nas aparências. Algo que está presente até em várias relações amorosas.
A partir desse cenário, ponho a me perguntar: O que as pessoas que acham que serão eternamente jovens de aparência, buscam e esperam de fato para o amanhã? Que expectativas
terão? Onde guardarão seus preconceitos? Como agirão caso um dia sejam também discriminadas? Quem eles ou elas gostariam de ter aos seus lados
quando a velhice chegar? O que farão quando a aparência já não for mais o cartão de
visita para qualquer tipo de relacionamento?
Enfim, são inquietudes que nos levam a uma profunda reflexão de vida e de que sociedade temos e
que sociedade queremos. Vale lembrar que a sociedade de uma forma geral expõe o
pensamento vivo de seus habitantes e também as suas contradições.
Como
projeto de vida, o amanhã é apenas uma aposta que habita em nossas imaginações.
Algo presente em nossos sonhos diários. É uma manifestação individual, mesmo
num processo coletivo, por estarmos falando de uma fração de tempo onde não
temos o menor controle sobre ele. Dependemos da sorte para continuarmos em vida
e bem, para que as nossas expectativas tenham chance de se realizarem. Além disso, sabemos que
tudo pode mudar numa fração de segundo, para uma situação melhor ou pior.
Estamos num momento de plena contradição humana, com muita
gente perdida ou afogada em suas vaidades ou decepções. Vivemos nos guetos da vida por pensarmos diferente da maioria, sonharmos com uma nova sociedade e não aceitarmos negociar nossas dignidades. Buscamos muitas vezes em plena escuridão uma dose de bem estar para que
possamos dormir bem hoje e acordarmos amanhã com um ar de quem deu de cara com uma
expectativa realizada. Por isso o encontro de almas é tão essencial.
O
amanhã é sonho. É fantasia. É a ponte para os nossos desejos. É a busca
incontida de qualidade de vida. É um caminho a ser trilhado por amor e por amar e
também uma aposta nos encontros humanos. Por isso requer sonhos, vontades,
lealdade, transparências nas etapas, carinhos e planos discutidos passo a
passo, que contenham nossas expectativas, mesmo que não aconteçam. O amanhã é uma mistura de brincadeira de roda em noite enluarada, com
outras formas de brincar de vida na ciranda do tempo.
Antonio
Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social
Imagem disponível em:
https://fpinacia.blogspot.com/2017/01/dinamica-fonte-dos-desejos.html