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quarta-feira, 30 de junho de 2021

A quem serve as estruturas verticais de poder?

 

Estruturas Verticais de Poder são formas de relacionamentos, aonde as decisões vêm sempre de cima para baixo, seguindo uma hierarquia de comando, constituída nem sempre de forma consensual e democrática, onde quem tem mais poder, seja pelo econômico, por mandato ou na hierarquia das direções acaba impondo as regras. Esse é um fenômeno recorrente em praticamente todas as instituições e organismos.

A meu ver duas coisas no universo político andam em descompasso com o modelo de estrutura de participação que defendemos, além de encará-las como um processo excludente em qualquer organismo ou estrutura de poder.

Uma delas comentada no post anterior versa sobre que enxerga a base como “massa”, por ser desrespeitoso, nivelar por baixo e seguir o mantra instituído pela direita de que a massa só serve para experiências de exploração e para servir ao poder. Algo essencial para a manutenção do poder vertical.

A outra é a estrutura vertical de poder construída no seio dos organismos, instituições, partidos e na maioria de qualquer coletivo, onde o andar de baixo na pirâmide hierárquica não participa das conversas com o andar de cima e muito menos das decisões principais. Só chega o que seus representantes, imbuídos muitas vezes por questões emocionais ou política-ideológica querem e podem passar. Isso interfere diretamente num processo de integração, retarda o crescimento de criticidade, além de não contribuir para o crescimento intelectual de quem compõe o grupo, que serão quando muito, tarefeiros e tarefeiras de uma ação de comando ou de uma atividade qualquer.

Ao participar de um organismo ou entidade, subtende-se que todos e todas que integram tenham interesse e/ou necessidade de discutir para onde, com quem e como se caminha, além da discussão das táticas de atuação em tempo. Quando a coisa chega pronta ou não chega, fica presa na esfera superior, a base desse organismo ou entidade também é tratada como “massa” e “massa” não pensa e nem age.

Não estou me referindo a uma regra do tipo de um centralismo democrático, que normalmente é algo construído de forma coletiva e que é acatado por todos e por todas a partir de acordos, pois sabem de suas tarefas e importância no grupo e sim de praticas que vivenciamos nos organismos e entidades, onde as decisões não são informadas ou socializadas e os encaminhamentos chegam a doses homeopáticas, o que a meu ver nada agrega, apenas interferem no comportamento geral de seus e de suas participantes.

Estruturar um projeto participativo e popular a várias mãos, sem enxergar o popular apena como “massa”, a ser usada na hora do bolo, que tenha conteúdo suficiente para dar conta das diversas carências e necessidades da sociedade e também valorizando as pessoas, cada uma com seu potencial interior e de experiência de vida, além de valorizar as pessoas através de tarefas programadas, para que as mesmas não se sintam menores numa escala de valores existente nas estruturas de poder, quem sabe seja a maior tarefa de um ou uma representante do povo, que defende a construção da luta de forma coletiva, seja num cargo público, na direção partidária ou de uma instituição.

O que fazer diante dessa cultura vertical? Quais seriam as possíveis saídas?

Creio que mexer num processo cultural não é nada fácil, pois as estruturas de poder já estão montadas a partir de velhos métodos. Fazem da representatividade pessol algo comum e natural, como se fato fosse. Porém, se defendemos a participação como eixo de uma causa coletiva e defendemos o crescimento das pessoas através da formação, faz-se necessário mexermos nas estruturas, socializarmos os processos, criarmos juntos e juntas em grupos de trabalho e descermos às bases em busca de contribuições. Imagino ser esse o caminho de quem se apresenta como liderança. 

Porém se nada for feito, quem sabe um dia, cheguemos ao que um pensamento da década de 80 dizia: “Acima os de baixo e abaixo os de cima”!

Bem vindos e bem vindas ao mundo das discussões na essência e pela base.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


sexta-feira, 18 de junho de 2021

Da Teoria de Massas à Pedagogia da Escuta um longo caminho...

 

Há uma visão de mundo que vamos construindo a partir das nossas vivências, nutridas por valores momentâneos ou princípios construídos ao longo da vida com as nossas crenças, pensamento crítico ou posições ideológicas. Quem não sabe ouvir, não sabe dialogar. Apenas impõe sua forma de pensar e agir.

Inicio a caminhada por um tema tão complexo, expondo minhas inquietudes ao imaginar a base de um mandato, seja de que cargo for, de um partido ou mesmo da sociedade como “massa”, pois na minha estreita visão isso tanto caracteriza estes setores da sociedade como algo que pode ser usado para qualquer fim, dar sustentação ao que  vem de cima da base na pirâmide social ou ainda nos distancia de apostarmos em formação e organização como métodos para uma possível mudança de sociedade e de valores.

Enquanto a formação liberta e a organização mostra os caminhos de enfrentamento, o senso comum de massas aliena, aprisiona e torna grande parte da sociedade em presa fácil para qualquer situação.

Ao falar de “massas”, como comportamento ou como um fenômeno humano poderia caminhar por várias linhas de estudo e análise, desde a Psicologia das Multidões de Gustave Le Bon, à Teoria de Freud do Comportamento de Massas, que afirma que quando uma pessoa se torna parte de uma multidão, sua mente inconsciente é liberta e entre outras variáveis de comportamento ele tende a seguir o líder carismático da massa.

Le Bon compreendia que a psicologia da multidão era necessária para uma compreensão adequada da história e da natureza humana, quando afirma:

Em certas horas da história, meia dúzia de homens pode constituir uma multidão psicológica, ao passo que centenas de indivíduos reunidos acidentalmente podem não constituí-la. Por outro lado, um povo inteiro, sem que haja aglomeração visível, às vezes torna-se multidão sobre ação desta ou daquela influência. (GUSTAVE LE BON, p. 30).

Porém, no sentido de buscar sustentação para minhas inquietudes, usarei o conceito de dois autores da comunicação, que conceituam “massa”:

Massa: grande grupo de indivíduos compreendido sempre pela base do menor coeficiente de organização, interação, produção enunciativa consciente e coesão possível, ou seja, pela menor quantidade de pontos comuns identificáveis entre os indivíduos do grupo, o que confere ao “objeto” representado pelo termo um caráter indistinto, uma falta de clareza que acaba sendo sua principal característica. (VILALBA, 2006, p. 119).

Massa. O termo descreve um vasto, mas amorfo conjunto de indivíduos com comportamentos semelhantes, sob influência externa, e que são vistos pelos seus possíveis manipuladores como desprovidos de identidade própria, formas de organização ou de poder, autonomia, integridade ou determinação pessoal. Representa uma visão da audiência dos media [sic]. (MCQUAIL, 2003, p.506).

Ao caracterizarmos, aceitarmos ou concordarmos de que é necessário um coletivo de massas para tocarmos o projeto que defendemos, comungamos dos mesmos ideais do pensamento estratégico da direita de que o povo só serve para cumprir determinados ritos ou tarefas pré-determinadas e servir a quem mais lhe seduziu.

Além disso, pensando estrategicamente no processo eleitoral, cabe uma pergunta: você que será candidato ou candidata a um cargo público, tem base eleitoral organizada ou apenas eleitores e eleitoras? Dessa resposta podemos concluir quem é representante de um projeto coletivo desenvolvido a várias mãos ou da velha forma falida de representatividade, onde não importa que acordo foi feito ou com quem anda, pois o importante é a vitória eleitoral.

Precisamos ter a coragem de romper com mais essa engenharia do sistema, que interfere diretamente no processo de mudança da sociedade que temos para a sociedade queremos, intervindo nos setores caracterizados como “massas”, oferecendo formação com base na realidade local, ajudando no processo de organização coletiva e escolhendo alguém para votar que respeite o projeto construído a várias mãos ou que saia dele e não em alguém que se acha tão importante e sabido ou sabida, a ponto de se considerar insubstituível.

Caso o que escrevo faça sentido para você, bem vindo e bem vinda à desconstrução das massas de manobras e a construção de novos arranjos coletivos rumo a uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
tEstatístico e pesquisador em Gestão Social

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. 165 p.

LE BOM, Gustave. Psicologia das Multidões. Tradução de Ivone Moura Delraux. Título original PSYCHOLOGIE DES FOULES © Presses Universitaires de France, 1895 © Edições Roger Delraux, 198O, para a língua portuguesa. Disponível em: https://filosoficabiblioteca.files.wordpress.com/2016/03/le-bon-gustave-psicologia-das-multidc3b5es.pdf. Acesso em 17 de junho de 2021.

MCQUAIL, D. Teoria da Comunicação de Massas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

VILALBA, R. Teoria da Comunicação: conceitos básicos. São Paulo: Ática, 2006.