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quinta-feira, 18 de julho de 2019

O que há nas curvas de um rio?

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Há algum tempo venho escrevendo sobre o cotidiano da vida e a partir de um campo de introspecção, buscando também atender meus diversos momentos e minhas inquietudes naturais. Seguindo essa linha e buscando um roteiro que prenda a atenção de quem lê, o desafio de hoje é construir uma narrativa sobre o ato de viver, usando algumas figuras de linguagem bem conhecidas.

Apesar do frio, acordei pensando nos banhos de rio que tomava no sítio onde nasci nos arredores da cidade de Belo Jardim, PE, junto com meus primos. Uma doce lembrança de momentos que não voltam mais, mas continuam tão vivos em minha mente, que parece que foi ontem.

Ao pensar em um rio, penso também em suas curvas, onde se escondem o que a correnteza não teve condições de levar e só depois de uma forte chuva para que ele volte ao seu curso natural. Lembrando que em tempos de tempestades as águas agitadas do rio leva tudo o que encontra pela frente. Assim também é em nossas vidas. As vezes temos a sensação de estarmos presos nas curvas que a vida dá e precisando de uma mudança radical ou de um grande incentivo para que novamente possamos seguir de forma natural na caminhada da nossa existência. Porém, se a tempestade for longa, precisaremos de muito mais para que a vida volte ao normal.

Em tempos de crises os problemas tendem a aumentar e nossa visão de solução encurta, pois as vezes é o imediatismo que comanda as decisões e isso nos deixa em alerta permanente, pois é sinal que não conseguimos organizar nossas demandas em o que é necessário, importante e urgente e tudo passa a ser urgente. O que fazer em situações como essa? Creio que o melhor caminho seja avaliar o que passou, reforçar o presente e mirar no futuro, a partir de uma Plano de Ação.

Como é impossível voltar no tempo para reviver seus momentos, vou mudando meu pensamento para uma cidadezinha florida de nome Urbano Santos no Maranhão, onde passa um rio ainda sem poluição e que nos deliciamos nele após um curso da Fundação Perseu Abramo e depois do lazer no rio almoçamos num restaurante construído à beira de um Igarapé, vendo os peixes ao nosso lado. Uma extrema beleza que me alimenta em pensamento até hoje. Um passado mais recente, que me permite voltar num futuro próximo e reviver mais um dia de sol com os pés numa água cristalina.

Usando a figura de linguagem de um rio, imagino a vida como um rio que deságua no oceano da nossa existência e leva com ele tudo que construímos, fragmentos do que não fizemos ou ainda as vitórias e derrotas ocasionadas pelas nossas escolhas. Um percurso finito, porém de uma beleza sem igual para quem sabe viver e quem faz da vida um cenário perfeito para compor nossas histórias.

Caro destino calma aí. Primeiro vamos arrumar cuidadosamente as malas e depois estudamos o caminho e que rio vamos navegar. Nasci no Bitury, andei pelo São Francisco, sonhei no Tapajos e velejei por horas a fio pelo Amazonas até Cametá, Gurupá e Almerim. Um mar d'Água capaz de afogar qualquer mágoa e nos trazer perspectivas para os sonhos futuros. Quem sabe o brinde especial tenha sido o arco iris que me esperava ao chegar em Santarém ou ainda uma leve garoa nas serras baianas que me fez lembrar de São Paulo da garoa. Como esquecer do que me guardava e aguardava uma periferia do país? Encontrei por lá o que não procurava e me fiz sujeito da história.

Estou numa época de balanço de vida. De ouvir muitas vezes a música do meu sambista predileto Paulinho da Viola e sua inconfundível música “Foi um Rio que passou em minha vida”. Uma viagem percorrendo o passado, vivendo intensamente o presente e sonhando em enxergar um futuro com as cores da esperança, das conquistas pessoais e coletivas e do amor incondicional pela vida, que se desenha em cada manhã que se inicia nos dando boas vindas ao dia que virá.

O que é a felicidade? De que se compõe a felicidade? E se olhássemos a felicidade como um rio? Águas que se renovam com momentos de renovação. Quem sabe a felicidade esteja onde nossos pensamentos estiverem? Ao falar nisso, penso numa frase que li certa vez de Danielle Gomes: “Se você encontrar o rio da felicidade, se afogue nele”. Entendendo o se afogar como um ato de curtir ao extremo o encontro com a felicidade. Ser feliz é um estado de espírito e manter a felicidade um exercício permanente, que requer antes de tudo habilidade e muita sabedoria.

Para quem navega pelas águas dos rios da vida pode-se considerar um ser em permanente viagem. Uma junção de certezas e incertezas, de ser ou não ser, mas em curso com os momentos que a vida proporciona. Um pingo de amor em peitos que pulsam por querer muito mais. Viver é isso!

Somos as vezes o ponto de luz para quem nos acha e em outras procuramos essa luz e não a encontramos. Porém o que nos faz caminhar é descobrir que podemos ser a saga de estarmos vários passos à frente de quem se entrega à vida e não consegue enxergar o amanhã. Que venha o amanhã, pois o que tínhamos de fazer para que desse certo fizemos hoje até o pôr do sol.

Bom mesmo é viver pensando que a vida seja aquela viagem de rio sem curvas, feita em dias de sol e à luz do dia, onde as belas paisagens da natureza se misturam aos nossos pensamentos e juntos nos dá a certeza de que a vida existe e o melhor ainda está por vir.

Rio abaixo sou rima. Rio acima poesia. Rio afora sou o conto inacabado à procura de quem venha e me faça companhia e escreva junto comigo um capítulo a quatro mãos da minha história de vida.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Ontem eu acordei pensando no amanhã

Em busca de mais uma temática que chamasse a atenção de quem lê, me deparei com um título sugestivo, que de alguma forma me permite dialogar sobre a Linha do Tempo entre o Ontem e o Hoje, pensando no Amanhã. Um percurso de vida que nos coloca à prova em várias situações. Particularmente tenho tentado entender como as pessoas enxergam essa transição do tempo (Passado, Presente e Futuro) e como se organizam para o próximo passo, muitas vezes sem sonhos e sem nenhum Plano de Ação.

Pessoalmente sinto que nesse momento da vida me encontro nas reticências que criei. No ponto de convergência entre o ser e o não ser. Quem sabe sobrevoando uma área da minha existência que não tinha o menor conhecimento, em busca de referenciais, de algumas convicções e principalmente de motivação que me faça subir a colina da vida em busca de novos ares, revendo alguns valores e buscando segurança para as minhas decisões para o amanhã. O amanhã é incerto? Será muito mais se eu não o planejar.

Alguns autores partem do princípio de que tudo acontece a partir do agora, do hoje, ou seja, do presente que é onde se vive intensamente, que o passado não se muda e que o futuro é o que ainda virá de forma incerta, o que é um fato. Porém, indo para uma discussão mais profunda e pensando como alguém de planejamento, entendo que o hoje (presente) é o resultado do que foi planejado e realizado ou não no ontem (passado) e só terá um amanhã (futuro) perto do que se espera, caso se esteja ainda nessa dimensão, se houver um planejamento mínimo para as ações do amanhã a partir do hoje.

Nesse contexto, sonhos e fantasias emolduram nossas mentes e na nossa imaginação podemos ser o que queremos ser, mas na prática só com muita ousadia. Porém, se não ousarmos avançar a vida vai subtraindo os dias que temos e acabamos no ontem. Não existe futuro para quem ancora sua vida no hoje. O futuro se encontra no jogo da vida.

Porque negar a sedução pelo futuro? Porque viver só o hoje? Porque não projetar sonhos e fantasias que se misturem ao hoje para colorir um cenário incerto, mas desejável?

Minha grande pergunta do momento é o porque de uma parte da população viver apenas no presente, como se a vida fosse eterna, presa ao passado e negando a existência do amanhã. Uma situação bem cômoda para quem a vive, pois evita que se façam planos, que se criem perspectivas futuras e principalmente se faça um planejamento de vida.

Além disso, a tese da vida presente é algo muito interessante, pois não se pauta por compromissos futuros, simplifica possíveis atropelos e evita também sentimentos de dor ou ansiedade por algo que não se projetou. Uma visão simplista que transforma quem pensa e age assim em seres sem sonhos. Quem sabe seja por essa falta de sonhos que a sociedade atual vive uma de suas maiores crises de identidade. O bem e o mal convivendo lado a lado e produzindo o imediatismo e as compensações pessoais, tragando a possibilidade das pessoas entenderem qual é a missão enquanto vida.

Na radicalidade dos fatos, as grandes batalhas, as revoluções ou as revoltas populares e até os golpes, todas elas e eles são e foram projetados e planejados no ontem, vividos no hoje, com metas claras para o amanhã e com a necessidade de avaliações futuras.

A utopia é um estado de espírito que nos remete ao futuro. Nesse sentido, me chamou a atenção um texto de Sonia Terezinha Felipe: “O conceito de utopia na proposta Paulofreireana”, que faz uma viagem no universo sonhador de Paulo Freire e nos traz várias reflexões, entre elas essa a seguir:

No sentido não pejorativo de fantasia, a utopia é uma construção mental que apresenta um mundo diferente onde se efetiva a felicidade humana. Tem um caráter de "antecipação" que as vezes chega a ser realizada não completamente, outras vezes não se realiza nem parcialmente. Fantasiar é criar um sistema de pensamentos que estão mais além da realidade e a sobrepassam. Existe um vácuo, porém, entre esta construção mental que vai além da realidade e a tentativa de instaurar a mudança pensada”.

Quem sabe esse vácuo que a autora se refere não esteja nas dispersões, nas viagens mentais sem assumi-las, na falta de compromisso para assumir as mudanças ou ainda projetar algo sem planejar. Sonho e fantasias fazem parte do universo humano, porém um sonho, diferente da fantasia, tem metas envolvidas, cenários diversos e o compromisso de se chegar bem perto do que se planejou. É claro que a vida não nos dá certeza de nada, mas temos o livre arbítrio das escolhas dos caminhos a seguir e são esses caminhos e essas escolhas que acabam refletindo o que pensamos e como agimos ou não. Futuro é sonhar em viver. É andar de mãos dadas hoje sem medo do amanhã.

A vida é uma passagem. Uma vereda que vai se estreitando ao longo do tempo. Alegrias e tristezas vivem a se confrontarem. Amores e desamores contam nossas histórias. Portas entreabertas que necessitamos fechar. Valores irreais e tentações circundam a imaginação de quem não se prende a nada e acha que isso é ser livre. Enfim, quem somos? Somos o que achamos ser ou alguém com vontade de ser o que já foi?

Sonhar é viver e viver é sonhar. Vida que te quero vida. Vida que se constrói a cada dia. Vida que nos possibilita errar e aprender, cair e levantar, com a esperança de que o amanhã poderá ser diferente a partir da nossa percepção de aprender, crescer e mudar.
Ontem eu brinquei de ser artista, de ser cantor e até de ser poeta. Como faltaram pernas e talento para continuar a viagem rumo às realizações pretendidas, fiquei quietinho no meu canto e hoje brinco de ser escritor e sujeito da história.

Quem sabe amanhã eu possa brincar de ser um sábio, onde ao cair da noite eu possa deitar em meu travesseiro e sonhar com um mundo onde caiba todos os desejos possíveis de pessoas que transformam o amor numa entidade divina, capaz de iluminar os caminhos de quem não consegue partilhar e nem compartilhar esse sentimento que tem poder de transformar o mundo. Salve todas as formas de Amar!

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social