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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

O que é viver por uma causa?

"Luta & Vida Pela Vida"
Ricelle Miranda - Cartunista - Brasília/DF
Criadora da tirinha @monologosconjuntos

Hoje senti vontade de sair um pouquinho da linha das metáforas da vida, que tem sido minha dinâmica nos últimos tempos e voltar um pouco à linha original do blog, que era trazer algumas temáticas para reflexão e a partir delas envolver o maior número de pessoas possíveis em busca de novas reflexões e cumplicidade no enredo tratado. A temática de hoje versará sobre a “Causa”.

O que é uma Causa? O que a alimenta? O que a Causa tem a ver com a missão de vida que cada ser humano traz em seu destino?

Em busca de algum alento diante da grave situação política que estamos vivendo na atualidade, onde a verdade, da forma que a entendemos morreu para muita gente, trago como reflexão alguns referenciais do que seja “Viver por uma Causa”. Algo que pauta as ações, de sonhadores e sonhadoras, no processo de enfrentamento aos desmandos do momento; contra a saga da Casa Grande que pretende aniquilar de vez a Senzala Brasil e nos encoraja para o enfrentamento ao sistema, rumo à construção de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Uma utopia que nos move e que nos faz cultivamos vários sonhos com a possibilidade de um novo amanhã.

Como parte da minha revolta como ser político a tudo que estamos vivendo, usarei nesse texto o termo “Viver por uma causa” em vez de “militar por uma causa”, onde militar poderia ser confundido como algo derivado do militarismo e portanto não faz parte do meu ideário. Não somos soldados a serviço de uma causa e sim pessoas politizadas e organizadas em busca da construção de uma nova sociedade, contra qualquer tipo de injustiça e no resgate da cidadania sequestrada.

Sempre quando penso em formação ou atuação política, penso antes em buscar compreensão do que seja defender e viver por uma causa. Algo que se constitui muito mais abrangente do que atuar por um partido ou por um segmento da sociedade. A meu ver, uma causa poderia ser explicada como sendo um conjunto de valores que define a forma de relação com determinados setores da sociedade e os enfrentamentos ao que se diverge de forma ideológica, alinhado aos princípios que adotamos como regra de conduta em nossa forma de pensar e agir durante nossas vidas. Ficou complexo?

Uma causa representa ainda o alinhamento político-ideológico de quem a defende, que vai se constituindo em sua trajetória de vida e que poderá se caracterizar na razão da existência de quem faz essa opção. No caso de quem luta à esquerda, uma causa é um caso de amor coletivo, onde o que se deseja é a vitória das diversas lutas organizadas pelos direitos básicos, respeito pelas diferenças existentes e principalmente a conquista do que se move em direção à base da pirâmide econômica, no sentido de elevar economicamente as pessoas que são jogadas nessa direção. Assim sendo, não se concilia com quem explora ou com quem defende quem explora a classe trabalhadora.

Com o passar do tempo e a participação em diversas frentes no enfrentamento aos desmandos dos representantes do sistema, fica mais claro entender o que levou milhares de pessoas a doarem suas vidas pelas causas que defendiam e pelos sonhos da criação de uma nova sociedade onde a qualidade de vida para todos e todas fosse algo natural ao invés da luta pela sobrevivência e os direitos individuais constitucionais respeitados. São pessoas que morreram para defender a democracia, a liberdade, a qualidade de vida e a justiça soberana para todos e todas.

Como uma forma de provocação e de levantar a percepção dos participantes dos cursos que faço a abertura em várias partes do país, pergunto sempre se a causa que defendem ou a luta que estão envolvidos vale a própria vida e concluo dizendo: “Caso não valha tem que ser melhor avaliado”, pois o momento político se caracteriza como uma verdadeira guerra pela destruição completa dos direitos, principalmente das pessoas mais necessitadas e sobretudo das que pensam e agem entendendo para onde estamos caminhando. Essas estão sendo perseguidas, banidas e assassinadas.

Do ponto de vista pessoal, tenho uma tese de que viver por uma causa é fazer tudo que a vida nos oferece por amor. É amar de forma incondicional a vida. É brincar de viver, sendo leal com quem nos segue e acreditar no humanismo que nos move, porém isso não nos limita de enfrentarmos os agentes do caos e seus seguidores e seguidoras, que por convicção, alienação ou mesmo por completa ignorância, se aliam a quem usa o poder em benefício próprio e transformam num verdadeiro inferno a vida de milhões de pessoas que passam fome e todos os tipos de necessidades.

Quem sabe o ato de sair do individual para o coletivo, como apontou um dos grupos da Associação de Construção Comunitária Novo Horizonte de São Bernardo do Campo, ao discutir e procurar uma resposta para a metáfora criada por Paulo Freire no final da década de 80, ao responder a minha pergunta, de como tirar o melhor proveito da luta encampada pela nossa entidade por habitação, seja o caminho para a transformação necessária rumo a tão sonhada sociedade a ser criada.

Ao buscar uma finalização para esse texto, se faz necessário que eu diga que a causa que me move ha muito tempo, não foi plantada por alguém por qualquer interesse e sim nasceu das sementes vindas comigo das sertanias da vida como imigrante da cidade de Belo Jardim - PE, regada pela chuva e o frio insistente de São Bernardo do Campo onde viemos parar e cultivada com os enfrentamentos desde cedo contra a discriminação por ser nordestino, pobre e de família muito humilde. Aprendi na prática o que é luta de classe e quem são os agentes da Matrix.

Paulo Freire terminou a nossa conversa que tivemos em 1989 me dizendo: “O que move o ser humano são seus sonhos e o que alimenta esses sonhos é a utopia de sabermos que viemos ao mundo para servir e que podemos exercitar isso na medida em que essa utopia se torna a nossa missão de vida.”. Depois daquela conversa nunca mais fui o mesmo e transformei essa utopia na razão da minha existência.

Aqui estou destino. Faça hoje de mim instrumento das melhores notícias que possam colorir o amanhã e que minha disposição de luta por uma vida digna para todos e todas seja minha eterna companheira junto com as pessoas que quero bem.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


Salve Ricelle Miranda a nova parceira do Blog Gestão Pública Social.

domingo, 11 de agosto de 2019

Do que será feito o amanhã?

Andrelândia, uma cidadezinha do interior de Minas foi a responsável por uma grata surpresa no final da aula Inaugural de mais um curso da Fundação Perseu Abramo, e, me brindou com algo surpreendente. No encerramento Maria Luísa, uma psicoterapeuta que participava do curso, deu um depoimento que me deixou emocionado. Disse-me doces palavras, elogiando como conduzi a minha fala, a qual abordava alguns aspectos dessa difícil conjuntura, além de apresentar o curso e o sistema usado pela Fundação.

Entre outras coisas, Maria Luísa me disse: que eu consegui transitar pelos diversos momentos dessa dura realidade que vivemos, expondo nossas tarefas de forma clara, sem perder a ternura, que ela se sentia privilegiada por estar ali e ouvir tudo que falei. Um dos momentos mais lindos que tive nesse trabalho da Fundação Perseu Abramo.

Depois de um abraço carinhosos agradeci aquele mimo e lhe disse que ela tinha sido responsável por eu ter ganho o dia, a semana e o mês. Viver é isso! Fazer com emoção o que acreditamos de fato e viver cada momento, como se não houvesse o amanhã.

O que isso tem a ver com o tema do post? Depois de viver essa emoção, passei a acordar disposto, a pintar um amanhã com cores alegres para que meu hoje possa enfrentar as diversas curvas que a vida dá, muitas delas sem aviso prévio, criando novos caminhos que permitam a vida fluir de forma mais objetiva e prazerosa. É muito bom ser notado e melhor ainda ser valorizado.

Gosto de escrever sobre a Linha do Tempo. Brincar com o que há de possibilidades. Farei algumas incursões sobre o amanhã. Algo inesperado, mas também muito esperado. Como será o amanhã? Do que será feito o amanhã? O que queremos do amanhã?

Do ponto de vista da humanidade, o amanhã é apenas uma aposta; porém como ficaria o hoje sem os sonhos do amanhã? Como preencheríamos nossas divagações diárias, se não tivéssemos a coragem de sonhar, mesmo sabendo que muitos sonhos são apenas fantasias e provavelmente nunca acontecerão?

O amanhã, ao mesmo tempo em que é algo incerto por não termos controle algum sobre ele, pode ser algo tão possível de acontecer, desde que estejamos ainda por aqui e nossa relação com o futuro esteja focada no que deu certo até hoje, com alguns cuidados com o que tomou outro caminho na vida e viver o melhor hoje que pudermos construir. Para isso às vezes só necessitamos pegar na mão de alguém que queira estar conosco e seguirmos juntos em frente sem medo de ser feliz. A partir desse contexto, o presente passa a ter outro significado.

Para quem se encontra preso - ou presa - na bolha do tempo, seja no passado ou no presente, o amanhã nem existe. Em seu lugar há uma negação constante dos possíveis passos futuros, que na prática, vão evitando compromissos para o amanhã. Pensar no futuro requer sonhos, fantasias, utopias e vontade de fazer o melhor hoje que puder para quando o amanhã chegar ter flor e poesia para colorir a travessia que o tempo permitir.

Para aliviar a incerteza, repetimos o mantra: “Amanhã será um novo dia”. Com certeza será. Porém, uma das dúvidas que paira no ar é saber como estaremos nele e ter fé para que estejamos. É obvio que não há certeza alguma do que possa ocorrer amanhã, porém se fizermos nossa parte pensando de forma positiva o que queremos que aconteça e um mínimo de planejamento mental, as coisas irão acontecendo naturalmente e quando menos se espera, o que sonhamos para o amanhã estará prestes a acontecer.

Faço parte de uma geração de sonhadores e sonhadoras que ousaram desafiar o presente e o passado sombrios da época e lutamos com as armas que tínhamos, por um amanhã numa sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas, e, continuamos a sonhar e a lutar. Essa sociedade foi construída? Ainda não, e, pode ser que nunca seja. Porém isso não nos rouba os sonhos de acreditar que amanhã será um novo dia e tudo poderá acontecer. É essa utopia que alimenta nossas missões e nos faz caminhar, principalmente quando descobrimos que dedicar-se a uma causa é um ato de amor.

Sinto uma grande parte da população conduzida apenas pelo racional, gerando e praticando várias situações sem amor algum, ou por puro instinto ou por provocação e negação a um sentimento tão nobre, que aos poucos se esvai para esse setor da sociedade. Ao pensarmos nisso temos a impressão que o romantismo da vida está em plena crise, porém para uma grande parte da sociedade o romantismo nunca morrerá. Seja o que for, temos muito a fazer para que não morra a esperança de um amanhã, onde as palavras de ordem, para qualquer situação sejam: “Amar porque amar vale a pena”.

Quem sabe o amanhã seja gotas de orvalho que surgirão nas caminhadas da vida e nelas, dependendo da situação, vamos saboreando o visual da natureza, as ladeiras e uma réstia de sol que desponta no alto das nossas imaginações.

Uma coisa é certa. Só saberemos o sabor do amanhã se tivermos a sorte para desafiarmos o tempo e com ele semearmos o que nos faz feliz, que é única forma de nos sentirmos humanos novamente, e, apostarmos que o melhor será quando descobrirmos que a vida só faz sentido, quando tudo que fizermos o amor estiver presente.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social