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domingo, 29 de março de 2020

O caos como ponto de partida para um novo amanhã


Facebook frases, Porque o amanha e incerto tudo pode acontecer ...
E de repente muita gente que não tinha tempo nem mesmo para um bom dia virtual, descobriu de forma forçada que agora tem todo do mundo e não sabe o que fazer com tanto tempo, pois se encontra em completo confinamento humano provocado por essa pandemia. Quero a minha liberdade de ir e vir de volta com total segurança como nos velhos tempos de um mês atrás...

Parece inacreditável que em pleno século XXI foi necessário se chegar ao caos para duas situações bem distintas. Parte da população se encontra totalmente alienada e entregue a sorte guiada por falsos líderes políticos e religiosos e parte dela veio a descobrir que tudo que foi feito foi muito pouco diante do que ocorre na atualidade e o pior é não saber o que vai ocorrer amanhã. O começo, o meio e o fim dependem da tempestade cessar, a água baixar e a solidariedade servir de consolo para tantas perdas humanas que ainda virão.

Nem nas cabeças mais nobres e privilegiadas de quem é da elite política, seja da esquerda ou da direita, previa-se que um vírus pudesse parar o mundo, que girava a 360 graus, sempre com a preocupação, do ponto de vista capitalista, de manter a pirâmide econômica e social cada vez mais alinhada, se preservando a distância segura entre ricos e pobres e a esquerda preocupada com a disputa de pequenos poderes e não com um projeto que a unificasse e mostrasse uma saída viável, principalmente no Brasil, diante desse governo fascista e neoliberal, que se apossou do hiato deixado com a ilusão do poder.

Por outro lado há projetos sérios em discussão, mas ficam restritos a pequenos grupos de pessoas privilegiadas, seja nas rodas de conversas privadas, trancadas a sete chaves ou confinadas nas redes sociais trocando mensagens. Não há sintonia com as bases, tanto da sociedade, dos partidos e até dos mandatos. A população fica rodopiando à sorte como se estivesse num grande carrossel. Esse a meu ver é o maior desafio da atualidade. Convencer a população que ainda é possível mudar. Falar a linguagem do povo e organizar a sociedade excluída para descer ao asfalto em busca de seus direitos.

A pergunta que não quer calar é: o que fazer diante de uma situação como essa que ninguém se planejou? Ou ainda: o que restará para ser administrado, visto que até as próximas eleições estão comprometidas com a atual crise?

Como pesquisador diria que nesse momento não tem muito a ser feito de forma racional e prática pela questão dessa pandemia, que ainda não se sabe avaliar sua dimensão. Porém, é possível se planejar, criar uma frente de esquerda e de pessoas sensatas que consigam dialogar internamente e com os principais setores atingidos pela crise e se preparar para o que ainda virá.

O momento é de mudanças profundas na forma de pensar e agir. Além de mudanças de atitudes por parte da militância política. Os agrupamentos, partidos de esquerda e as tendências, se fazem necessário estarem mais acessíveis, pois muitos e muitas agem como se fossem seitas. Totalmente fechadas para o mundo além de suas fronteiras. Será que já possuem quadros suficientes? Desaprenderam de trabalhar formas de cooptação? Muita gente continua em off por falta de opção, de uma conversa ou ainda de um convite.

Costumo dizer que tem dois caminhos para quem veio ao mundo com o propósito de lutar por uma causa. O primeiro é se alinhar a quem manda ou determina do ponto de vista das decisões políticas ou na ausência dessa condição ou possibilidade, lutar para que sua história de vida seja a mais convidativa possível para outras gerações. Algo que ao mesmo tempo seduza pela ordem coletiva e trabalhe os sonhos de quem com ela se identificar.

Que possamos estar juntos no amanhã para darmos o próximo passo.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social

terça-feira, 3 de março de 2020

Por onde anda José?

Dizem que José partiu para uma longa viagem sem volta, mas acho mesmo que ele deu uma fugida para ver se acordava Nazaré, pois achava que ela estava dormindo lá no quarto em que os dois ficavam e depois disso foram caminhar juntos rumo ao infinito, brincando no caminho de contar estrelas.

José foi um sonhador. Um trabalhador. Um homem durão, que às vezes nem ligava de não agradar seja quem fosse, mas fazia questão de ser gentil e carinhoso e de exigir tratamento nobre a alguém que abandonou suas raízes e enfrentou até uma forte depressão só para estar ao seu lado e daria sua vida, se necessitasse só para vê-lo feliz. Alguém que sempre o mimou por amor.

José foi um negociante incansável enquanto teve forças e viveu buscando em várias frentes de trabalho e negócios, os melhores resultados, para que pudéssemos ter na simplicidade da vida o básico para se viver com dignidade. Sonhava em voltar à nossa terra natal, mas as desigualdades não permitiram.

José não conseguiu realizar seu sonho de repousar para sempre em seu berço de origem, mas realizou sonhos que muita gente ainda hoje tem dificuldade de realizar. Uma luta constante de alguém que nunca desistiu de lutar.

José me deu a honra de estar comigo em várias caminhadas nas inúmeras passeatas em 1978, 79 e 80, nos encontros do Estádio da Vila Euclides e Paço Municipal de São Bernardo do Campo, além dos enfrentamentos que tivemos no caminho entre o Paço Municipal e o Sindicato dos Metalúrgicos.

Saiba José que isso contribuiu para uma caminhada com dignidade e uma razão de viver com convicção de que a luta nunca acaba. Algo que nunca me arrependi e faria tudo novamente com você ao meu lado nas manhãs de domingo, só para participarmos, ouvimos, assistirmos e aprendermos novamente e quem sabe até chorarmos do que foi um dia e que não volta mais.

José um inquieto nordestino que lutou contra uma doença degenerativa até o dia que se sentiu só. Em alguns momentos foi incompreendido, em tantos outros, questionado e enfrentado, mas sua única razão nos últimos tempos era dar qualidade de vida a sua parceira eterna por mais de setenta anos.

José resolveu partir logo cedo naquela manhã de segunda feira, depois de sofrer mais de um mês de saudade e solidão e passar por vários dissabores. Foi de braços dados com sua amada viverem juntos em outra dimensão. Entregou-se por amor por ter perdido a razão de viver. Egoísmo ou loucura? Que nada! José e Nazaré viveram dentro do possível e dentro de suas limitações e formas de ser, uma das mais belas histórias de amor.

José acalma tua alma. O momento do encontro chegou. Tua partida é hoje comemorada por alguém de estatura baixa, de óculos e cabelos brancos que veio te buscar, como afirmou teu vizinho de quarto. É o momento de vocês continuarem juntos para a eternidade e nós filhos, netas, bisnetos, amigos e amigas só temos a agradecer o tempo que você ficou conosco e o carinho que dedicou a Nazaré e a nós também, principalmente em teus últimos momentos de vida, onde a fragilidade se confundia com o que havia em teu coração.

Siga em paz José. Siga a estrela e se incorpore à constelação, que de cá onde estamos cultivaremos com respeito tua história de vida, tua honestidade e tua luta e determinação em defender quem amava. Honraremos teu nome e viveremos nos dias futuros muito dos teus ensinamentos.

José Lopes Cordeiro - Presente!
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social