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quinta-feira, 27 de junho de 2019

O que mantém as pipas no ar?


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Como um saudosista, que acumula erros e acertos na vida, poderia simplesmente afirmar que já não se pipa como antigamente, visto que os tempos e os valores são outros e principalmente as pipas já não são mais as mesmas, pois vêm agora em novo estilo. Porém, é bom que se diga, que se o amor pelo ato de pipar for o mesmo, não há tempo, espaço ou lembranças pelo que não deu certo quando pipávamos no passado, que confundam a cabeça e o coração de quem enxerga numa pipa a continuidade do desejo pessoal de voar rumo ao infinito de nossas emoções e realizações.

No universo do ato pipar, o espírito de liberdade aflora quando sente que há uma perfeita sinergia entre um ser com uma pipa na mão, o clima necessário para fazê-la subir, o tempo de construção da relação de identidade e a pipa no ar, que vai desafiando o universo em busca da linha do horizonte.

Ontem eu sonhei pipando e acordei com uma vontade imensa de fazer isso de verdade e logo hoje que amanheceu um céu lindo e um sol de encher os olhos de quem não gosta de dias nublados.

Observando os dias de hoje, é possível afirmar que pipar está fora de moda? Ou só pipa quem é apaixonado pelo ato de viver e usa o ato de pipar para colorir o universo? Dá para pipar sozinho? Que graça tem nisso? Seja como for, pipar rompeu o tempo passado chegando ao presente, mesmo que de forma tímida diante de tantas brincadeiras tecnológicas à disposição de quem pipava, porém ainda se mantém vivo e com energia suficiente para seguir futuro afora, com as rabiolas desembaraçadas, sem cerol nas linhas e desafiando a lógica de que só se pipa em dias ensolarados.

Pipar com classe e com estilo exige planejamento para a elaboração de uma ação presente, que é a construção da pipa e para uma ação futura que é pô-la no ar, entendendo o futuro como qualquer segundo depois do agora, até o infinito de nossas existências ou enquanto vida tivermos. Essa necessidade organizativa só existe para quem já tomou a decisão de pipar, fazendo planos no presente em busca do melhor futuro que vier e criando perspectivas para que essa gostosa brincadeira possa ter o melhor resultado possível, sempre tendo em mente o respeito e o carinho por quem estiver junto pipando e o amor incondicional pelo ato de pipar.

A decisão de escrever mais uma vez sobre esse tema veio pelo simples fato das pipas continuarem no ar, desafiando as adversidades e as histórias mal ou bem resolvidas de quem pipa. Algo que exige atenção, carinho e muita dedicação para mantê-las sempre lá, sobretudo paciência, pois se o vento estiver contra não há como fazer subir uma pipa ou fazê-la permanecer no ar.

Diante do exposto, vem uma importante pergunta: o que é pipar? Ao buscar uma resposta sensata, estaremos indo de encontro ao mundo físico onde pipa, linha e carretel formam os ingredientes necessários, porém junte-se a isso o prazer, os desafios constantes, a imaginação que voa junto e os desejos de realizações contidos quando se pipa. Pipar é arte, é fantasia, é uma doce brincadeira, é ação concreta e junto com isso a busca incontida de que tudo seja como um dia viemos a sonhar.

Uma séria brincadeira que nos leva em imaginação muito mais longe do que nossas limitações alcançam e impõem. Pipar não é apenas o evento de soltar pipas, mas um conjunto de fatores que nos levam ao exercício de pipar, onde um amplo conhecimento do ambiente se torna essencial.

Pipar para algumas pessoas é apenas um eterno passatempo, ou mais uma brincadeira em busca de prazer, mas pensando bem, pipar exige de cada pessoa que nela esteja envolvida, atenção, carinho, apego, coragem pelos desafios, determinação em busca de seus objetivos e principalmente saber onde se quer chegar pipando. Pipar não é competição de ganha ou perde, mas um ato de pura beleza e leveza, onde quem estiver envolvido sacie sua vontade, mas esteja preparado para o próximo ato.

Tem vezes que o vento não ajuda ou chega uma ventania indesejada. Em outras as rabiolas embolam e ainda em outras chega alguém e leva nossa pipa embora. Porém, quando menos se espera algo de extraordinário acontece. Parece até que a natureza conspira para que tudo ocorra em perfeita sintonia entre quem quer pipar, o ar, o sol e principalmente o firmamento que dá um colorido especial com as pipas, lado a lado riscando o céu.

Lembro-me bem que já fazia muito tempo que eu não pipava e num daqueles dias de pura distração dei de cara com uma linda pipa que caiu ao meu lado e não tive dúvidas em levar aquela joia rara para o meu universo. Alguns ventos e ventanias após, uma noite estrelada e um longo sonho, tomei a decisão de que na manhã seguinte, caso estivesse sol, eu após anos, voltaria a pipar. E assim foi...

O que mantém as pipas no ar é a magia do momento. É um clima bom e um vento favorável. É o amor pelo ato de pipar, além da disposição e vontade de quem pipa, de querer continuar com essa gostosa brincadeira, pulando os obstáculos, vencendo os desafios e enfrentando as adversidades que possam ocorrer, principalmente a partir da crença de que o melhor clima e horizonte para as pipas continuarem no ar, ainda estão por vir.

Que a minha vontade de pipar nunca cesse, pois ela é a certeza de que existe dentro de mim um coração que pulsa acelerado só de lembrar que sempre é tempo de uma gostosa brincadeira que nos faça lembrar que a vida segue e que podemos aproveitá-la brincando só pelo prazer de viver.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

domingo, 16 de junho de 2019

A verdade existe? De que verdade estamos falando?


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A existência de um espaço livre para minhas andanças filosóficas e existenciais, se tornou ao longo do tempo um refúgio, um encontro, uma busca e principalmente um voar com as asas da liberdade para escrever o que gosto. Escrever um texto é como esculpir uma figura humana num rochedo. Vamos encontrando seu formato e sua feição durante o processo de criação. Um texto só faz sentido se for capaz de envolver os sonhos e as fantasias de quem lê e ganhar esse leitor ou leitora para os próximos capítulos.

O desafio pessoal de hoje, ao me situar no contexto da vida e na convivência com pessoas que pensam próximos ao que penso e outras tão longe da minha natureza, é divagar e abstrair sobre ao que chamamos de “verdade”, passeando por alguns de seus formatos e interpretações e buscando apoio na filosofia. Algo desafiante e complexo.

Há pouco tempo participei como convidado de uma oficina num grupo filosófico de São Bernardo do Campo, onde o tema principal era a discussão do Livro: “A Morte da Verdade”, da escritora norte-americana (de origem japonesa) Michiko Kakutani, jornalista e escritora, crítica de literatura do “New York Times” por longo tempo.

Em regras gerais, o livro traz as diversas inquietações sobre a vitória de Donald Trump, como foi arquitetada essa vitória e os bastidores da política americana da atualidade. Algo que sai do espectro da democracia e caminha a passos largos rumo ao fascismo. Vale ressaltar que estamos falando de alguém integrada ao sistema, porém incomodada com todas as alterações que a vitória de Trump proporcionou para a visão de democracia que tem, principalmente da democracia representativa, onde Trump não lhe representa.

De fato é um assunto pra lá de inquietante, pois segundo a autora, existe um universo novo repleto de teoria da conspiração, mudanças culturais preocupantes que intervém no mundo científico e caminham pelo mundo acadêmico, destruindo os avanços em prol da humanidade e cada vez mais fortalecendo o mundo material (a serviço do império).

Não por acaso, vivemos essa dura realidade aqui também no Brasil. A eleição do presidente atual foi moldada com os mesmos ingredientes que a de Trump. Uma indústria do que se chama de fake news invadiu tanto a eleição de lá como a de cá. O objetivo principal de ambos, lembrando que se aproximam muito um do outro em termos de visão de mundo, a meu ver, era dizer que a verdade morreu e uma nova verdade estava nascendo com um tom verde-amarelo e um pato laranja comandando o espetáculo.

Perante a filosofia, verdade se estabelece a partir de um conjunto de valores, advindos das nossas crenças, vivências e princípios e passando necessariamente pelo universo ético e moral de uma sociedade, a partir das diversas visões de verdade que cada indivíduo vai encontrando e construindo. Somado a tudo isso, a ideologia vai formando o percurso das nossas caminhadas a partir das nossas verdades, com quem vamos e o que pretendemos como resultado final em termos de qualidade de vida. Além disso, a incômoda verdade tida como oficial, que transita governos afora e vai criando um caldo de cultura, sem nenhuma consistência política por falta de entendimento da maioria do povo.

Enquanto o relativismo moral traz a visão e os conceitos da verdade de determinado grupo social, que a meu ver foi o grande embate nas últimas eleições, o dogmatismo tem a pretensão de mostrar a verdade como algo absoluto, embora seja pra lá de complexo entrar nessa discussão, pois se partirmos, por exemplo, das religiões, que cada um ou uma tem a sua, voltamos novamente ao relativismo moral, a partir das influências dos diversos grupos religiosos, que foi a tônica principal nas últimas eleições por aqui.

Ao buscar o conceito de verdade em alguns pensadores, nos deparamos com uma grande diversidade de interpretações e teses sobre o assunto, da afirmação à negação. Longe de querer me enveredar sobre as diversas linhas filosóficas sobre o assunto, mas apenas de trazer algumas impressões como apoio geral ao texto.

Para Platão a verdade precisa sempre ser buscada, pelo fato de não ser algo concreto e muito menos palpável. Segundo ele aplicava-se primeiro ao objeto, ou ao sujeito e depois ao que se propunha a ser.

Enquanto para Sartre (Jean Paul Sartre – 1905-1980), a verdade está na essência do indivíduo, pois é resultado dos valores de uma sociedade, Nietzsche (Friedrich – 1844 – 1900), ao fazer duras críticas ao pensamento clássico, afirma que a verdade não existe.

Por outro lado, Foucault (Michel Foucault – 1926-1984) afirmava que para algo seja considerado como verdade, necessita ser livre, sem vínculo a uma institucionalização, caso contrário será manipulado e gerará constrangimentos e formas de comportamentos.

Pondo um pouco mais de lenha na fogueira do que estamos discutindo, uma pergunta que não quer calar: O amor é uma verdade absoluta? Caso seja, como podemos conceituar se esse amor não for correspondido? Continua sendo?

Uma das coisas que me fez ter vontade de escrever sobre um assunto tão complexo, foi imaginar como lidamos com as nossas verdades. Até que ponto não tentamos impô-la diante das nossas contradições? Como enfrentamos a verdade alheia, muitas vezes fantasiada de conhecimentos, mas que em muitos casos não passa de pura arrogância?

Apenas como reflexão, quero crer que se as nossas verdades estiverem repletas de sonhos, de vontades infinitas de servir e ter a solidariedade como ideologia maior, versamos sobre a verdade a partir de um universo plural, defendendo que os de baixo tenham vez e o enfrentando os de cima, todas as vezes que se apoiarem na base da pirâmide para tirarem proveito. Essa é a verdade de quem busca o bem comum.

Que minha verdade possa soar na vida de quem eu quero bem apenas como algo a ser pensado e não imposto e que ao longo da caminhada possa vir a se tornar uma só verdade e quem sabe ao praticá-la, possamos juntos considerá-la uma verdade absoluta.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


terça-feira, 4 de junho de 2019

O silêncio é um vazio ou um refúgio?


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O ato de escrever para mim nos dias de hoje representa um pulsar das minhas inquietações, uma viagem ao universo da minha existência e minha melhor terapia. Um diálogo com meu outro eu, que de vez enquanto sentamos para conversar.

Por várias razões particulares fiquei alguns dias ausente do Blog e nesse retorno, com base em algumas inquietudes e depois de conversar com algumas pessoas sobre o assunto, resolvi escrever sobre o silêncio e seus efeitos, principalmente pelo fato da maioria das pessoas lidarem tão bem com ele e eu normalmente me sentir sempre incomodado.

Como definir o silencio? De que silêncio estamos falando? O silêncio é um vazio interior que acaba escoando para a vida ou um refúgio em busca de reflexão?

Como um ser incompleto, já citei em outros textos, que não gosto de dias nublados e carrancudos, do barulho incômodo do silêncio e tampouco da escuridão. São ambientes e sensações que me fazem retroagir ao invés de avançar. Nasci para a lida e para viver a vida, mesmo com encontros e desencontros, mas não para a solidão e todos eles me fazem pensar em momentos solitários.

Qurm sabe o incômodo da escuridão esteja ligada às diversas formas de medo que vivi em minha infância e o do silêncio a tudo que não consegui conquistar até o momento em minha vida...

Do ponto de vista das relações humanas, creio que o convívio com o silêncio esteja ligado a personalidade de cada pessoa, pois ao mesmo tempo que para algumas pessoas representa apenas um refúgio  para se recompor, como algo até romântico, para outras pode significar uma ação ou reação, uma forma punitiva por alguma razão ou mesmo não ter interesse de ampliar a relação com outra pessoa. Nesse caso o silêncio fere.

Pessoalmente encaro o silencio sob dois pontos de vista. Primeiro que quando não me sinto confortável ou à vontade, ou ainda acuado em determinadas situações, minha primeira reação é entrar em profundo silêncio em busca de como agir e a segunda é ficar incomodadíssimo quando sinto que o silêncio é uma resposta ou uma punição à minha forma de pensar e agir. Nesse caso ajo e reajo por me sentir sujeito da ação silenciosa.

No geral o silêncio vai muito além da ausência de palavras, podendo significar um sim ou um não, uma indiferença ou um cuidado para não machucar. Em alguns momentos arrogância e em outros humildade no trato com a adversidade.

Em outras situações o silêncio pode significar ódio ou amor. Sentimentos tão próximos e parentes do carinho e do desprezo, onde uma luta permanente interior acaba revelando quem somos, com quem convivemos e o que estamos construindo para o futuro.

Seja o que for, o silêncio acaba sendo o texto e o contexto de um enredo, que se bem trabalhado poderia representar o antídoto para as divagações que a vida nos oferece, mas em geral se transforma numa fuga do que poderia ser.

Em regras gerais, o silêncio pode ser tudo que quisermos que ele seja. Saudade, remorso, reflexão, punição, fuga, ou um momento de andar pela nossa existência em busca de entender com quem convivemos. Enfim, o silêncio expressa o que a mente busca e o coração sente, assim como pode ser uma reação das nossas relações mal resolvidas ou daquelas que precisamos calar para entender o que o futuro nos oferece.

Silencie quando necessário, mas nunca use o silencio como uma arma para afetar a consciência alheia, pois nunca se sabe o que pode ocorrer, quando o sol se por e chegar o raiar de um novo dia.


Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social