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quinta-feira, 29 de julho de 2021

UTOPIA DO PÓS PANDEMIA

 

Imagem disponível em:
https://conexaoplaneta.com.br/blog/papa-francisco-puxa-a-orelha-de-ministros-das-financas-de-diversos-paises-em-encontro-sobre-mudancas-climaticas-no-vaticano/


Tempos difíceis vivemos
De incerteza e desalento
A morte ronda o caminho
Deixando a dor ao relento

Muitos irmãos já se foram
Nem pudemos nos despedir
Deixando só o vazio
Da saudade a nos ferir

Mas insistimos em crer
Que essa fase está no fim
E logo nova primavera
Florirá nosso jardim

E a vida será retomada
Mais fortes então seremos
Para honrar os que partiram
Novo mundo nós faremos

Unidos num só projeto
De paz e transformação
Da destruição da natureza
Para sua contemplação

Da exploração do trabalho
Para justiça e proteção
E juntos promoveremos
Vida nova a nossa nação!


Autoria: Arlete Rogoginski


quarta-feira, 28 de julho de 2021

Em tempos de desapego amar é revolucionário...

 


Imagem Disponivel em:
https://blog.cancaonova.com/metanoia/modernidade-liquida-entenda-o-conceito-e-aprofunde-se-no-assunto/

Ontem fui dormir cedo se comparado com as noites acordado até alta madrugada procurando o sono, mas em tempo para sonhar e deixar a minha imaginação criar o cenário e fazer o que não consigo dar conta acordado.Uma viagem pela fantasia em terras do Bem Virá.

Era uma manhãzinha de sol num vale florido em meio a duas montanhas. Uma delas representava a fala e os gestos e a outra o silêncio. Enquanto a fala tentava ser ouvida e entenida de todas as formas, o silêncio apenas escutava e ignorava, fazendo de conta que não era com ele. Mostrando que sabia dizer tudo o que queria sem nenhuma palavra ou um gesto. Bastava saber traduzir. 

Um cenário épico em meio há dias nublados e frios, onde o que mais gostaríamos era comermos pipocas quentinhas assistindo um bom filme, bem acompanhad@s.

O inusitado no sonho era um grande acontecimento que estava para ocorrer. Um duelo entre o Amor e o Desapego, simbolizando uma luta universal existente na natureza humana. Quando os seres humanos, por alguma razão, deixam de acreditar no amor, recorrem ao desapego e para a alternância de casos.

Para o duelo, o Desapego viria acompanhado da Mente, que vagava em suas lembranças passadas e o Amor trazia o Coração como aliado, que pulsava cada vez mais forte quando era correspondido. O vale estava agitado. A batalha prometia.

Dias e luas se passaram e o duelo foi marcado para quando o verão chegasse. Seria numa tarde de sol em plena luz do conhecimento. Como preparação, o Amor queria a selva para curtir, acompanhado por duendes e querubins, enquanto compunha uma ode em versos de amor e o Desapego um frevo ou um batuque nas planícies em orvalho, acompanhado por toda trupe que surfa de onda em onda, sem compromissos de amar.

Para aplacar a expectativa e ver se entrava na estória, o Tempo criou uma casinha branca no alto da colina, de frente para o por do sol e com um jardim florido, onde poderiam passar o verão em dias de sol e noites estreladas. Porém com um aviso: “Nada de se estranharem". Isso estava longe de acontecer, pois a única coisa que estava em disputa era se o amor ainda existia ou se o desapego o substituíra. 

Mente e Coração resolveram intervir, pois quando estão em sintonia um vai guiando o outro para as ações futuras. Decidiram que o duelo seria uma batalha poética, com o Tempo - Senhor da Razão, para mediar o evento. Quem tivesse mais capacidade de envolvimento seria o grande vencedor.

De repente eu me virei na cama e acordei antes do duelo acontecer. Querendo mais. Querendo saber quem iria vencer. Buscando respostas nas curvas dos rios, cheguei à conclusão de que a vida na "modernidade líquida" é isso ou um tanto disso.

Já dizia Bauman: “Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”. Quem sabe seja isso que faz com que as relações se construam e se desfaçam da forma mais natural possivel, pois não existem mais para durar... 
Em outro trecho de sua obra ele afirma que escolheu chamar de “modernidade líquida”, a crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a incerteza a única certeza.

Esse sonho atípico me levou a uma profunda reflexão sobre o Amor. Numa "sociedade líquida" que habitamos, quem sabe tenhamos que recorrer ao Vinicius em seu Soneto da Fidelidade, para entendermos que tempo é esse que vivemos, quando afirma: 
“E assim quando mais tarde me procure quem sabe a morte, angústia de quem vive, quem sabe a solidão, fim de quem ama, eu possa lhe dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”.

Diante dessa complexa forma de viver e de compartilhar sentimentos ou momentos, suspeito, que quando o amor é verdadeiro não há espaço para duelo, porque o amor é vital. Porém, se por acaso ou destino o duelo for necessário, a vitória do amor será cantada em prosas e versos por luas e luas a fio.

De fato! Amar em tempos de desapego é antes de tudo, um ato revolucionário. Quem amar verá!

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


                                                                              


sexta-feira, 23 de julho de 2021

Dizem os contos que podemos ser o que quisermos ser. Será...?

 

Quem somos de fato diante de uma sociedade de valores tão vis? Quem sabe sejamos o resultado das nossas escolhas, das nossas crenças e principalmente do que defendemos como modelo de vida e sociedade e com isso nos vão excluindo. No entanto, isso nos define e nos loga ao mundo das utopias, rumo a uma sociedade que não nasça do espólio de quem tem, mas que seja resultado da luta que travamos para que todos e todas possam também ter o que sonham desde crianças. Somos a resistência viva que pulsa nos corações utópicos.

Do outro lado do nosso mundo imaginário, uma sociedade pálida, sem cor, sem brilho e principalmente sem amor ou em desamor, onde os guetos tecnológicos substituem as brincadeiras de rodas, de pião, de bolas de gude, de pipas no ar e a construção de pequenos sonhos que se criavam num leve pensar do que seríamos quando crescesse.

Uma sociedade perdida nos desencontros amorosos, descartados em muitos casos com o risco de virar “casais margarina”. Algo que se aproxime do velho patriarcado. Sedenta apenas por prazer, como se só o prazer, desse conta da solidão, das incompleitudes humanas e das humaneidades ou humanescencias (como diz Mia Couto), que os seres humanos normais necessitam e se fundem quando Almam juntos.

Uma sociedade que nos mede pelas contas bancárias, pelo tipo e valor do carro que temos, pelos iphones versus os pobres celulares e por tantos outros equipamentos e bens de ultima geração, que só uma pequena parte tem direito a ter. Uma sociedade loucamente consumista que gira apenas para no máximo um terço da humanidade. As demais pessoas procuram a felicidade à sua maneira. Ao seu modo.

Nós pobres mortais do mundo real, às vezes sonhamos apenas em ser o último pensamento da noite e o primeiro do dia na vida de alguém e com o que gostaríamos de ser que ainda não somos, mas que um dia poderemos ser. Isso nos faz não desistirmos nunca.

Diante das nossas emoções, dizem as fadas e os duendes de plantão, que podemos ser o que quisermos ser, no micro universo que idealizamos ao sonhar com duas almas se encontrando para vadiar em noites estreladas ou numa estradinha qualquer de uma floresta encantada, que pintamos em nossas imaginações. Chamam isso de amor. Eu prefiro me metamorfosear sempre a ser aquela velha opinião formada sobre tudo... Por isso continuo em sonho... 

Ontem eu me lembrei que eu já fui tudo. Já fui nada e hoje me procuro para saber quem eu sou. Apenas sei que trago na bagagem anos de experiências e de vivências humanas e reais. Luto diariamente contra a dolorida discriminação de quem acha que não tenho mais idade para ser e sonho com uma casinha pintada de branco, com uma rede na varanda e uma noite estrelada, onde eu possa cantarolar o que o meu coração pedir, pois quem vai estar ao meu lado vai cantar comigo até o raiar do dia.

Que sejamos o que for possível ser e onde as nossas imaginações nos levar, mas bom mesmo é se formos liberdade de asas que voam nos pensamentos de alguém, que nos recebe em manhãs, tardes ou noites, porque o pulsar do coração não se limita ao tempo e pede sempre companhia para compor um conto que sirva para o futuro.

Quem sabe sejamos flores que nasceram por destino ou acaso, sem avisar, num lugar que seria quase impossível germinar. Reguem-nos que seremos jardim!

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em gestao Social


quinta-feira, 15 de julho de 2021

O que é a velhice? A velhice te assusta?

 

Imgem Disponivel em: 
https://www.facebook.com/323678117812485/photos/a.323688127811484/323688134478150/

Vivemos numa sociedade machista, racista, homofóbica, seletiva e desrespeitosa, que olha seus idosos de forma preconceituosa, acreditando e fazendo-os acreditar que são pessoas improdutivas e inúteis. Nem mesmo os Planos Governo apontam Políticas Públicas para as pessoas idosas. 

Qualquer termo que configure esse setor, numa sociedade capitalista que enxerga o ser humano como mercadoria não condiz com o respeito necessário. Terceira Idade, Feliz Idade, Melhor Idade e tantas outras, são apenas rótulos que determinam quem não faz mais parte do mercado de consumo. Algo que vai do trabalho ao lazer. Do mundo exterior ao familiar.

A idade vai chegando sem notarmos. Quando vemos o tempo passou. Vamos sentindo aos poucos suas marcas e selecionados por quem tem menos idade onde podemos estar ou onde não nos cabe mais. Do ponto de vista de algumas pessoas, onde tiver um grupo de pessoas jovens, pessoas do dobro de suas idades ou mais não podem frequentar ou se misturar. Eu já senti esse preconceito e sei o tamanho da dor. Nessas horas passa um filme pela nossa mente. 

Ser velho ou velha numa sociedade viciada é conviver com a experiência que acumulamos e não sabermos onde poderá ser útil, mediante a uma radical mudança sistêmica de valores e de novos modelos de vidas descartáveis hoje em curso. Algo tão superficial que nos põe à prova, até mesmo em alguns momentos em reuniões da nossa linha de pensamento e isso nos leva a uma profunda reflexão. Às vezes nesses casos só nos resta o silêncio.

Existe uma necessidade de provarmos todos os dias que estamos vivos (as), ativos e ainda sonhando com o amanhã e com os nossos desejos, que nada há de secretos. É a audácia de queremos ainda tocar o coração de alguém que imaginamos nos enxergar com a alma. É uma caminhada teimosa contra a tirania dos sutis ou explícitos preconceitos, que segrega a humanidade em classes econômicas ou de conhecimentos, através de todo tipo de aparências que imaginam ser imortais, onde o TER vale muito mais que o SER.

É sorrirmos quando tudo nos leva ao Jardim do Éden e chorarmos em silêncio quando alguém nos lembra de que os nossos limites vão além da linha do horizonte.

Porém, do outro lado do universo há um céu azul nos convidando a pipar. É preciso que ocupemos sem licença o mundo que ajudamos a criar, enfrentando a discriminação e os preconceitos, cantando para alguém que nos queira ouvir, lutando de mãos dadas pelos nossos direitos e, sobretudo lembrando que vida e morte são irmãs gêmeas de acordo com as nossas crenças e mesmo o dinheiro ou a aparência corporal não evita a morte, mas enquanto o coração pulsar há esperanças de uma vida melhor e uma história a contar.

Que valorizemos e sejamos sempre gratos (as) a quem nos respeita e por quem caminha conosco, mesmo nos momentos de pura chatice ou de mudança de humor. Que procuremos colorir com as cores do universo o tempo que nos for concedido futuro afora.

Ousar viver bem na velhice é antes de tudo um ato revolucionário, uma guerra contra o sistema excludente e desigual e principalmente um ato de amor pela vida.

Amanhã quando acordarmos, vamos celebrar mais um dia de vida rumo ao futuro, mesmo que seja do infinito enquanto dure. Que seja uma manhã de sol onde possamos tomar café, mesmo em pensamento, com quem amamos e quem sabe façamos até bolinhos de chuva...

O que vou ser ou como estarei daqui a dez anos? O que o destino me reservar e a nossa luta tiver alcance. Vou continuar celebrando com as pessoas que amo e com aquelas que por descuido ou por escolha ou ainda por destino ou acaso, também me escolherem para amar.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Mente e Coração...

 

Imagem disponivel em: 
https://professorrafaelporcari.com/2021/03/12/os-problemas-da-mente-nascem-no-coracao/


Mente e Coração


Uma conexão perfeita quando estão em sintonia.

Um lembrar. Um esquecer - Um ser. Um querer ser.

Duas faces de uma mesma moeda girando em círculos...

Somos passageiros da nave da vida em busca de um cenário que nos ponha em evidencia e impressione quem gostaríamos de fazer morada em seus pensamentos.

Quem sabe o segredo esteja na mistura das cores ou na dimensão da paisagem que queremos nos abrigar e que nos faz caminhar sem cansar, mesmo em dias de chuva.

Amanhã vou à busca de tinta de várias cores para colorir meu cenário da vida...


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social 

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Quando chegar o verão as flores da primavera ainda estarão presentes...

Imagem Disponivel em:
 https://www.facebook.com/jjardimdaalma/photos/a.100716844652880/111648973559667/?type=1&theater

Um dia me perguntaram se eu me sinto um poeta. Respondi: “Quem me dera!”. Considero-me apenas alguém que gosta de escrever e escreve para satisfazer a alma e aplacar determinados sentimentos que transitam pelos meus momentos. Escrevo para minha história de vida e para quem caminha comigo.

Em dias frios, nublados e de puro silêncio, ao fugir da introspecção, recorro à escrita como uma terapia necessária, buscando uma conexão entre a vida real do dia a dia e os meus sonhos e fantasias que vou construindo noite adentro. Uma viagem no carrossel do tempo ao meu mundo interior, saindo da realidade presente ao cenário que gostaria de viver quando o verão chegar. Quem sabe o sonho mesmo seja florir o jardim da alma para alguém especial visitar.

Quem curte plantas, seja num quintal ou mesmo num vaso, sabe que da raiz à flor há uma longa caminhada comandada pelo tempo e pelo carinho que temos com o que plantamos. Assim são as plantas e assim são as pessoas. Quem não cultiva o jardim da alma não é capaz de cultivar nem mesmo uma flor. Quem não enxerga a beleza numa planta e não sente sua forma de comunicação em cada mudança ou em cada toque, como entender a metamorfose que gerou uma borboleta?

Lá atrás havia uma casinha no alto rodeada de vegetação, um terreiro de terra batida, cheiro de relva misturada com a de terra molhada, banho de chuva e de rio, fogão de lenha, milho no quintal e uma avó carinhosa a me fazer cafuné, mas dura também quando alguém mexia em suas bolachas e biscoitos. Quem pensava em felicidade? A felicidade era o que se vivia no dia a dia e só depois de velho descobrimos essas pequenas coisas que ficam grudadas na alma.

Depois vieram as figurinhas, bolas de gude, pipas em dias de sol, disputa de corrida com carrinho de rolimã e brincadeiras de rua em noites enluaradas. Uma infância pobre financeiramente, mas rica em aprendizado e em como enfrentar as discriminações da pobreza e por ser nordestino num bairro burguês de São Bernardo do Campo, além de aprender que pessoas com depressão precisam mesmo é de carinho e não de palpites que só machucam.

Creio que tenha sido nesse momento que a minha consciência crítica foi despertada e aprendi que luta de classe começa bem cedo pela dignidade humana. Isso me levou à Teologia da Libertação, há anos de luta habitacional e em inúmeras passeatas com milhares de pessoas para inundar de gente a Igreja Matriz, o Paço Municipal, Estádio da Vila Euclides e Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, juntos na luta trabalhista e contra a ditadura militar. Dessa luta surgiu uma moradia nascida num mutirão habitacional com 200 famílias.

Quem sabe essa vivência tenha me ajudado a enxergar as diversas formas de amar. Amor pela vida. Amor pela luta e pela causa. Amor fraterno e solidário. Amor pelos amigos e pelas amigas que são para sempre e em especial o amor exclusivo que sentimos por alguém que faz o coração bater mais forte, onde sexo se torna complemento e não a razão principal para manter alguém ao nosso lado. Ao entendermos isso entendemos também o que nos leva a optar por alguém para caminharmos juntos rumo ao futuro do infinito enquanto dure.

Como um recado ao futuro, vou plantando com a esperança de ver crescer, florir e dar frutos, com o compromisso de regar todos os dias, adubar a terra e cuidar para que as ervas daminhas não tome conta, com o desejo de quando o verão chegar encontrar um quintal florido como um brinde da primavera, com borboletas e até alguns pássaros dando vida ao jardim da alma.

Bem vindos e bem vindas poetas e poetisas que vão me inspirando a escrever pensando naquela fada madrinha que esteve no meu sonho ontem à noite.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social




 

quarta-feira, 7 de julho de 2021

CPI da Covid escancara importância da estabilidade no serviço público

 “Vários são os exemplos de servidores estáveis que trouxeram à tona, casos de corrupção, como o delegado da Polícia Federal que denunciou o ex-ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, por esquema de venda ilegal de madeira. Também graças à garantia do emprego, vários servidores notificaram e multaram autoridades, entre elas o próprio presidente da República, pela flagrante infração do não uso da máscara em municípios cujo uso é obrigatório em locais públicos, neste período de pandemia”

Arlete Rogoginski*

Foto: Joka Madruga

O recente depoimento do servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, à CPI da Covid, instaurado no Senado Federal, que denunciou ter sofridos pressões de seus superiores, com conhecimento do presidente da República, segundo o deputado Luis Miranda, para liberar a importação da vacina indiana Covaxin, por um preço muito mais alto do que as outras vacinas adquiridas pelo Brasil, num latente escândalo de corrupção que envolve também o líder do governo, o parlamentar Ricardo Barros (PP PR), expõe, de maneira incontroversa a toda sociedade, a importância da estabilidade do servidor público.

A negociação denunciada, que continuará a ser investigada, levou o governo a empenhar R$ 1,6 bilhão para a compra de 20 milhões de doses do imunizante, em torno de US$ 15 (R$ 80,70) por dose, enquanto rejeitava a proposta da Pfizer com valor em torno de US$ 10 a dose, e da Coronavac, R$ 58,20,e perdíamos em nosso país, neste período de negociação, quase 100.000 vidas para a Covid-19.

Nossa legislação impõe ao servidor público uma série de deveres como requisitos para o bom desempenho de seus encargos e regular funcionamento dos serviços públicos. A Lei de Improbidade Administrativa, de caráter nacional, proíbe qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às leis e às instituições.

O dever de obediência impõe ao servidor o acatamento às ordens legais de seus superiores e sua fiel execução, devendo se recusar a praticar qualquer ato ilegal, sem medo de perder o seu emprego.

Já o dever de eficiência, decorre do inciso LXXVIII do art. 5º da CF, acrescentado pela EC 45/2004. Outros deveres são comumente especificados nos estatutos, códigos, normas e regulamentos próprios de cada poder e órgãos, procurando adequar a conduta do servidor, para melhor atender os fins da administração pública.

Toda essa legislação não existe por acaso. Cuidar da coisa pública exige dos cuidadores, todos esses requisitos para que a sociedade fique protegida de políticos que poderiam fazer uso indevido do poder para fins particulares, eleitoreiros, econômicos e, ainda, aprofundar e facilitar a corrupção em órgãos públicos.

O servidor público adquire estabilidade após período probatório, como garantia contra a exoneração discricionária, é avaliado periodicamente, e poderá ser mandado embora por justa causa respondendo a um processo administrativo, lhe sendo garantido o contraditório e a sua defesa. Dessa forma, é possível evitar que sejam pressionados por seus superiores a favorecer propensões individuais em detrimento dos interesses coletivos.

O governo Bolsonaro, ao encaminhar ao Congresso nacional a PEC 32/2020 que prevê, entre outras coisas, o fim da estabilidade do servidor público, traz, em seu bojo, prejuízos para toda a sociedade brasileira, com o visível aparelhamento do Estado.

Vários são os exemplos de servidores estáveis que trouxeram à tona, casos de corrupção, como o delegado da Polícia Federal que denunciou o ex-ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, por esquema de venda ilegal de madeira. Também graças à garantia do emprego, vários servidores notificaram e multaram autoridades, entre elas o próprio presidente da república, pela flagrante infração do não uso da máscara em municípios cujo uso é obrigatório em locais públicos, neste período de pandemia.

Estudos apontam que o fim da estabilidade vai, seguramente, resultar, entre outros, na descontinuidade da prestação do serviço público, perda da memória técnica, dificuldade de planejamento em longo prazo, rompimento do fluxo de informações, além do estímulo ao apadrinhamento político, nepotismo e cabides de emprego, ao declarar o fim dos concursos públicos e a contratação de forma precarizada, com a transferência das atividades públicas para a iniciativa privada, que visa somente o lucro.

Por isso, todos precisam entender que defender a estabilidade do servidor público, é proteger a sociedade da corrupção e da sobreposição dos interesses particulares sobre o interesse público, e, de uma vez por todas, exigir dos parlamentares o voto contrário à proposta.

*Arlete Rogoginski – Diretora do Sindijus-PR e coordenadora-Geral da Fenajud (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados)