Não. Não se deixe enganar pelas aparências. Nem
tudo que reluz é ouro, diria o outro. O resultado foi apertado, entretanto, a
vitória de Dilma Rousseff foi maiúscula em face de circunstâncias conjunturais
terrivelmente contrárias à candidata do PT. Vamos entender
As manifestações de junho 2013 derrubaram a
popularidade de governadores e da presidente. No mês de maio do mesmo ano Dilma
contava com aprovação de 60% e venceria segundo as pesquisas em primeiro turno
tranquilamente. Com o advento dos protestos, com aparições constantes da
presidente para se explicar para um emaranhado que não protestava
necessariamente contra ela, num país onde presidente colhe louro e tempestades
mesmo sem ter mérito e culpas, a popularidade da presidente caiu pelas tabelas.
Depois, aos poucos, voltou aos prumos e fez água novamente devido ao clima
negativo pré-Copa do Mundo.
O principal pólo opositor ao governo petista é
representado por três ou quatro veículos de comunicação tradicionais de três ou
quatro famílias tradicionais. E esses três ou quatro veículos de comunicação
tradicionais dessas três ou quatro famílias tradicionais desconstroem Dilma
Rousseff desde 2010 quando a mesma era tratada como poste. Os líderes do PSDB e
da oposição, pautados por esta prensa, repetiram o mantra por quatro anos,
perderam duas vezes seguidas para o poste, merecem ser chamados de quê?
A prensa opositora conseguiu penetrar não só a tal
"classe média branca", mas o senso-comum de pessoas de todas as
classes com a veneta de que Dilma e o PT são patrocinadores de roubalheira. O
processo do mensalão (prática, na política, mais usual que bom dia pelas
manhãs) e o caso Petrobrás (com tucanos envolvidos até a tampa) foram
devidamente instrumentalizados para atingir o PT. Durante a eleição, a revista Veja
surfou em informações desencontradas do tal "Petrolão" para pautar
Aécio Neves e Marina Silva. Com o barco de Aécio à deriva a três dias da
votação, a revista adiantou a edição de sábado para sexta com a seguinte capa:
"Lula e Dilma sabiam de tudo". O tudo era ilação. O TSE
concedeu direito de resposta ao PT. Tarde demais. O estrago já estava feito.
A entrada de Marina Silva na disputa depois da
tragédia com Eduardo Campos anunciara dias difíceis para petistas e tucanos. Marina
Silva tinha o capital político de 2010 e ocupava o espaço de terceira via.
Aécio Neves entrou em queda livre e bateu a casa dos 14 pontos. O mineiro se
viu isolado e fadado a pagar o maior mico tucano da história. As pesquisas
apontaram Marina Silva empatada com Dilma no primeiro turno e à frente da
petista no segundo. Tragédia anunciada.
A candidata do PSB se desfez de convicções de
esquerda que fizeram dela a patrona da esperança e rendeu-se ao ruralismo e ao
conservadorismo pentecostal. Fatal. A candidata enrolada num novelo de
incoerências e nos fios de cabelo implantados de Silas Malafaia virou saco de
pancada das esquerdas. Marina Silva colaborou com a desconstrução imposta pelo
PT contra sua candidatura. Caiu. Dilma cresceu um tiquinho e Aécio Neves
recuperou os votos perdidos para Marina e o patamar tucano de eleições
anteriores, com isso, o mineiro alcançou o segundo turno com o bico encostado
na nuca de Dilma Rousseff.
O empate técnico persistiu nas duas primeiras
semanas de segundo turno. Com a avaliação positiva da presidente Dilma em
crescimento, o PT virou o jogo na semana derradeira. A propaganda do PT vendeu
bem os ganhos reais dos brasileiros nos anos de petismo e procurou assustar o
povo com o fantasma do neoliberalismo ao qual tucanos ainda se agarram. Lula
entrou em campo e como sempre fez a diferença. O PT venceu nas plagas mineiras
onde a maioria disse NÃO ao PSDB ao dar a Fernando Pimentel a vitória em
primeiro turno e vitória a Dilma nos dois turnos. Vencer em Minas foi o gol de
placa decisivo.
Aécio Neves obteve o melhor resultado da oposição
desde 2002. Resultado esperado face ao processo de desconstrução sofrido pela
presidente desde 2010 e ao clima mudancista turbinado pela mídia por mais de
dois anos, com direito a agigantamento do fantasma da inflação e terrorismo do
mercado especulativo. Mais: o tucano perdeu com regalias que seus colegas de
partido não tiveram em 2002, 2006 e 2010. Aécio foi derrotado com apoio do
candidato da terceira via no segundo turno, com a economia em baixa e com
aliados a pularem do navio de Dilma para o seu. E pior: Aécio perdeu em casa.
Reitero: nem tudo que reluz é ouro.
É importante frisar os desacertos da condução
política do governo Dilma. O caráter centralizador da presidente jogou PTB e fatias
importantes do PMDB e do PR no colo da oposição e isso custou deserções em
palanques regionais que turbinaram a votação de Aécio Neves. O tempo também foi
inimigo do PT. Os doze anos no poder geraram fraturas na frente de esquerda e
levaram o PSB a concorrer à presidência da República, a rivalidade criada com
Marina Silva durante o processo eleitoral jogou a maior parte dos
"socialistas" no colo do tucano. Os canais de diálogo do governo com
empresariado e movimentos sociais também falharam.
Em suma, Aécio Neves contou com as melhores
condições que um candidato de oposição teve desde 2002, não venceu. Dilma
enfrentou suas limitações de comunicação e o amplo contexto negativo já
descrito, por isso sua vitória foi maiúscula. Os desafios do governo para os
próximos quatro anos também são gigantescos. Mas isso é assunto pra depois.
André Henrique
Cientista Político e Jornalista
Cientista Político e Jornalista
Caro André
ResponderExcluirSeu texto reflete bem o que significou a vitória da Presidenta Dilma. Ganhou essas eleições da mídia golpista pertencente a seis famílias abastadas da elite brasileira e que tem lado e candidato (Aécio Neves) e de toda oposição, que na verdade enxergava nas figuras de Marina e Aécio, a volta ao passado de trevas e a possibilidade de uma sociedade de raça pura: branca, sem índios, sem homosexuais e principalmente sem pobres.
Do ponto de vita do governo, o grande problema no meu entendimento foi não ter apoiado o Movimento Nacional de Radiodifusão Comunitária, que seria um canal popular importante nesse momento onde a mídia burguesa está se posicionando e parte dela apoiando os movimentos golpistas.
Quanto ao termo, a chamo de PRESIDENTA, principalmente porque foi um pedido dela para se contrapor ao enorme machismo na sociedade, independente de ser o grafia correta ou não, que na verdade é.
Agradeço mais um texto e o blog sempre estará à sua disposição.
Abraço