Para um leigo em termos de
leitura política da sociedade, a impressão que se dá é que estamos diante do
caos, não só em termos de violência, mas principalmente em termos de política e
políticos, pois o senso comum é de que todos roubam e, portanto vota-se em
qualquer um. Ou ainda que todas as corrupções brasileiras nasceram e prosperaram
com o Partido dos Trabalhadores, enquanto os demais setores pousam de camaleão.
No entanto, trata-se de algo
tão bem elaborado pela mídia, pela elite econômica e os demais setores conservadores
e reacionários, que o bem passa pelo mal e o mal descansa em berço esplêndido.
Assim foi no processo que culminou com a ditadura militar em 1964, no processo de
implantação do neoliberalismo com Collor e com FHC, no Referendo sobre o
desarmamento e agora estamos assistindo os argumentos sobre a terceirização,
sobre a redução da maioridade penal, sobre o Sistema Único de Saúde e tantas
outras maldades contra os trabalhadores e os setores mais frágeis da sociedade.
Tudo isso em nome do que eles chamam de desenvolvimento. Algo que beneficia
apenas um pequeno setor.
Também para um leigo, a
impressão que se tem é que tudo isso que está ocorrendo são coisas tupiniquins.
Ou seja, coisas de um país visto por eles como atrasado chamado Brasil. Bom
mesmo é nos EUA. Bom mesmo é na Europa.
Ao ler a entrevista do
jornalista francês Jack Dion, tem-se a nítida impressão de que estamos ouvindo
alguém da esquerda brasileira fazendo uma avaliação de conjuntura do Brasil e internacional,
tamanha é a semelhança dos fatos e do método adotado pelos setores
conservadores e reacionários, no sentido de anular qualquer reação dos setores
progressistas.
Ao fazer essa constatação,
chega-se também à conclusão de que o ataque da direita aos direitos
trabalhistas e às forças progressistas é algo orquestrado aqui no Brasil e no
mundo e só está ocorrendo devido ao recuo sistemático da esquerda, dos
movimentos sociais e principalmente do movimento sindical.
Dion explica o que chamou de
“prolofobia” deixando claro que há por parte desses setores reacionários um
desprezo pelo povo orquestrado pelas castas dominantes, tal qual ocorre aqui no
Brasil e legitimado pela imprensa conservadora e golpista.
“A palavra “povo” dá
medo nas elites, sejam quais forem. A prova é que o povo, no sentido mais
amplo, desapareceu de todas as esferas de poder, das instâncias políticas, do
mundo do trabalho e da mídia. Nessas diferentes estruturas, ele ou é ignorado
ou é desprezado ou as duas coisas ao mesmo tempo”.
Em outro trecho de sua entrevista Dion fala de como o Partido
Socialista francês se adaptou ao poder e na pratica virou um partido socialdemocrata,
onde qualquer semelhança com alguns partidos no Brasil não é mera coincidência.
Em
1981, o Partido Socialista francês propunha “mudar a vida”. Depois, tornou-se
um partido socialdemocrata clássico, um gestor do sistema que se permite impor
contrarreformas que até mesmo um governo de direita teria dificuldade de levar
a cabo pelo voto dos deputados. E tudo isso sob o pretexto de que é preciso se
adaptar às exigências do mercado, em nome do realismo, do pragmatismo, e porque
não há alternativas... Ora, não há nenhuma
fatalidade que faça com que as nações e os povos tenham de capitular diante do
mercado, ou seja, os bancos e o poder da finança que dominam o planeta. É
preciso ter coragem política e vontade de resistir e de buscar alternativas,
tomando as medidas necessárias para fazê-los recuar.
Dion deixa claro ainda que as
reformas no sistema capitalista não provocam ruptura no sistema e sim o
alimenta, mesmo que essas reformas, em tese, resultem em algumas melhorias, porém
a conta sempre será paga pelos trabalhadores e pelos setores mais frágeis da
sociedade.
“Hoje,
tudo que chamam de ‘reformas’ constitui de fato um conjunto de recuos
sucessivos em matéria de direitos sociais, de proteção aos assalariados, com
privilégios para os poderosos e prerrogativas ampliadas para o grande
patronato. Isso provoca no povo uma rejeição de qualquer ideia de ’reforma’,
pois ele pressente que em nome dessa palavra mágica vão lhe pedir novos
sacrifícios”.
Dion finaliza afirmando que um
país que não
ouve seu povo é um país que está morrendo e que ilustra a famosa tirada de
Brecht, quando expressou com humor a necessidade de mudar de povo se ele se
mostrasse rebelde.
A impressão que se dá é que enquanto
alguns setores da esquerda e outros que deveriam representar os trabalhadores e
os movimentos sociais batem cabeça na disputa por pequenos poderes a direita se
organiza no Brasil e em várias partes do mundo e marcham para a destruição das
conquistas de mais de cem anos de luta.
A mídia conservadora esconde o
que lhe convém e potencializa o que enfraquece as forças progressistas, numa
clara demonstração que tem lado. Enquanto isso, a confusão estabelecida na
cabeça das pessoas menos informada faz com que os trabalhadores votem no
patronato e o patronato desmonte tudo que foi conquistado em termos de direitos
trabalhistas.
Qual a solução para tudo isso? Imagino que só uma aliança popular
poderá salvar a boa política e as conquistas dos trabalhadores. Porém, para uma
mudança mais profunda, só com o enfrentamento organizado rumo a uma sociedade
justa, fraterna e igual para todos e todas.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@gmail.com
Carlos não recebi o comentário.
ResponderExcluirTente novamente.