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sexta-feira, 5 de junho de 2015

A omissão dos setores progressistas e o avanço dos setores reacionários

Para um leigo em termos de leitura política da sociedade, a impressão que se dá é que estamos diante do caos, não só em termos de violência, mas principalmente em termos de política e políticos, pois o senso comum é de que todos roubam e, portanto vota-se em qualquer um. Ou ainda que todas as corrupções brasileiras nasceram e prosperaram com o Partido dos Trabalhadores, enquanto os demais setores pousam de camaleão.

No entanto, trata-se de algo tão bem elaborado pela mídia, pela elite econômica e os demais setores conservadores e reacionários, que o bem passa pelo mal e o mal descansa em berço esplêndido. Assim foi no processo que culminou com a ditadura militar em 1964, no processo de implantação do neoliberalismo com Collor e com FHC, no Referendo sobre o desarmamento e agora estamos assistindo os argumentos sobre a terceirização, sobre a redução da maioridade penal, sobre o Sistema Único de Saúde e tantas outras maldades contra os trabalhadores e os setores mais frágeis da sociedade. Tudo isso em nome do que eles chamam de desenvolvimento. Algo que beneficia apenas um pequeno setor.

Também para um leigo, a impressão que se tem é que tudo isso que está ocorrendo são coisas tupiniquins. Ou seja, coisas de um país visto por eles como atrasado chamado Brasil. Bom mesmo é nos EUA. Bom mesmo é na Europa.

Ao ler a entrevista do jornalista francês Jack Dion, tem-se a nítida impressão de que estamos ouvindo alguém da esquerda brasileira fazendo uma avaliação de conjuntura do Brasil e internacional, tamanha é a semelhança dos fatos e do método adotado pelos setores conservadores e reacionários, no sentido de anular qualquer reação dos setores progressistas.

Ao fazer essa constatação, chega-se também à conclusão de que o ataque da direita aos direitos trabalhistas e às forças progressistas é algo orquestrado aqui no Brasil e no mundo e só está ocorrendo devido ao recuo sistemático da esquerda, dos movimentos sociais e principalmente do movimento sindical.

Dion explica o que chamou de “prolofobia” deixando claro que há por parte desses setores reacionários um desprezo pelo povo orquestrado pelas castas dominantes, tal qual ocorre aqui no Brasil e legitimado pela imprensa conservadora e golpista.

“A palavra “povo” dá medo nas elites, sejam quais forem. A prova é que o povo, no sentido mais amplo, desapareceu de todas as esferas de poder, das instâncias políticas, do mundo do trabalho e da mídia. Nessas diferentes estruturas, ele ou é ignorado ou é desprezado ou as duas coisas ao mesmo tempo”. 

Em outro trecho de sua entrevista Dion fala de como o Partido Socialista francês se adaptou ao poder e na pratica virou um partido socialdemocrata, onde qualquer semelhança com alguns partidos no Brasil não é mera coincidência.

Em 1981, o Partido Socialista francês propunha “mudar a vida”. Depois, tornou-se um partido socialdemocrata clássico, um gestor do sistema que se permite impor contrarreformas que até mesmo um governo de direita teria dificuldade de levar a cabo pelo voto dos deputados. E tudo isso sob o pretexto de que é preciso se adaptar às exigências do mercado, em nome do realismo, do pragmatismo, e porque não há alternativas... Ora, não há nenhuma fatalidade que faça com que as nações e os povos tenham de capitular diante do mercado, ou seja, os bancos e o poder da finança que dominam o planeta. É preciso ter coragem política e vontade de resistir e de buscar alternativas, tomando as medidas necessárias para fazê-los recuar.

Dion deixa claro ainda que as reformas no sistema capitalista não provocam ruptura no sistema e sim o alimenta, mesmo que essas reformas, em tese, resultem em algumas melhorias, porém a conta sempre será paga pelos trabalhadores e pelos setores mais frágeis da sociedade.    

“Hoje, tudo que chamam de ‘reformas’ constitui de fato um conjunto de recuos sucessivos em matéria de direitos sociais, de proteção aos assalariados, com privilégios para os poderosos e prerrogativas ampliadas para o grande patronato. Isso provoca no povo uma rejeição de qualquer ideia de ’reforma’, pois ele pressente que em nome dessa palavra mágica vão lhe pedir novos sacrifícios”.

Dion finaliza afirmando que um país que não ouve seu povo é um país que está morrendo e que ilustra a famosa tirada de Brecht, quando expressou com humor a necessidade de mudar de povo se ele se mostrasse rebelde.

A impressão que se dá é que enquanto alguns setores da esquerda e outros que deveriam representar os trabalhadores e os movimentos sociais batem cabeça na disputa por pequenos poderes a direita se organiza no Brasil e em várias partes do mundo e marcham para a destruição das conquistas de mais de cem anos de luta.

A mídia conservadora esconde o que lhe convém e potencializa o que enfraquece as forças progressistas, numa clara demonstração que tem lado. Enquanto isso, a confusão estabelecida na cabeça das pessoas menos informada faz com que os trabalhadores votem no patronato e o patronato desmonte tudo que foi conquistado em termos de direitos trabalhistas.

Qual a solução para tudo isso? Imagino que só uma aliança popular poderá salvar a boa política e as conquistas dos trabalhadores. Porém, para uma mudança mais profunda, só com o enfrentamento organizado rumo a uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. 

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@gmail.com

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