Alguém
tem dúvidas de que estamos vivendo no Brasil uma enorme crise política? Uma
crise principalmente de valores, onde parte da sociedade composta pela elite
econômica e a chamada classe média, comandam o circo, através de seus
representantes e de seus canais de comunicação, que prestam um enorme
desserviço, na medida em que escolheram um lado.
Trata-se
na verdade de uma estratégia da direita organizada para desconstruir de uma só
vez, mais de cem anos de conquistas trabalhistas e o que se avançou através dos
governos com um viés popular. Essa estratégia começa a vingar, na medida em que
conseguiram eleger uma das composições mais conservadoras e reacionárias do
Congresso Nacional, com o discurso de austeridade e pela moral e os bons
costumes. Deu no que deu. Um fundamentalismo capaz de confundir até mesmo um
bom leitor, desde que não participe da vida política.
Com
esse cenário que mais parece um filme de terror, vale perguntar: Quem disse que
não há mais luta de classes? Quem disse que não existe mais esquerda nem
direita? Quem disse que é uma coisa do bem fazer malvadezas com os
trabalhadores e com a população pobre de segunda a sexta e no sábado e no
domingo encher as igrejas e fazer benevolência? Quem disse que isso vai ser
para sempre? O que fazer com os políticos que governam e legislam para si, tratando
o povo como suas “garrafinhas”?
O
Brasil mostrado pela mídia e comandado pelo PSDB e pelos demais partidos
direitosos, mostra um país homo fóbico, racista e reacionário, que cultiva o
ódio e constrói o pensamento de ultradireita. Já vimos esse filme antes, que
resultou em vinte anos de ditadura, prisões, torturas e mortes.
Esse
ano de 2015 a meu ver foi até o momento um ano atípico, tanto no mundo da
política, como principalmente no dia a dia da sociedade, pois estamos na
eminência de ver no mundo da política o que já se vê há muito tempo com as
torcidas organizadas. Uns matam os outros, pelo simples fato de serem de
torcidas rivais. Esse ódio disseminado pela mídia e pelos partidos direitosos,
visa à mesma coisa. Querem um país só deles.
Porém,
o epicentro da crise é a corrupção, não só dos corruptos de plantão, existentes
em todas as esferas públicas, mas principalmente quem os financiam. O mundo
empresarial tem grande parte da culpa, pois em troca de benefícios, pagam
propinas e financiam as campanhas de seus agentes. Ninguém investe numa
campanha política se não tiver nada em troca. Esse é o lema capitalista.
O
resultado disso é a descrença total no sistema político e consequentemente nos
políticos que acham que essa é a regra geral. Esse processo gerou milhares de
legisladores e governantes que governam para si ou para seus grupos de apoio e
mantém a população bem longe de qualquer decisão, ou porque acham que foram
eleitos para isso ou ainda por estarem de “rabos presos” com o sistema e seus
financiadores.
O
processo de corrupção sempre existiu, seja para os bolsos de alguns políticos e
gestores, ou ainda para a manutenção do chamado “Caixa Dois”, que abastecem as
campanhas milionárias, porém a grande novidade no momento é que nunca se
prendeu tanto como agora, embora a Justiça os solte. Esse é real motivo da
insistência de se aprovar o financiamento privado de campanha. Quando não se
tem nenhum link com a sociedade, a única solução é muito dinheiro para um bom
marketing político que venda o que não presta como a melhor solução.
Vale
ressaltar que foi no governo Lula e Dilma que a Polícia Federal começou a
prender gente de todas as matrizes, que não se engaveta mais os processos, como
era feito no governo FHC e que foram criados instrumentos importantes, como por
exemplo, a Lei Complementar 131/09 – Lei da Transparência e Controle Social, que
obrigou os órgãos públicos a criarem seus Portais da Transparência, a Lei
12527/11 – Lei de Acesso à Informação, que garante acesso por parte da
sociedade a qualquer documento público sem necessidade de um advogado e da
Justiça e a Lei 12846/13 – Lei Anticorrupção, inaugurada com a prisão dos
empreiteiros na Operação Lava a Jato, onde corruptos e corruptores são tratados
da mesma forma.
Não
tenho duvidas que um governante ou um legislador que se elege com a impressão
de que é um iluminado e nasceu para isso, não serve para nada. Esse é o tipo de
político que não ouve a população, não respeita os setores organizados e
principalmente usa sua influência para tirar proveito da situação. Ou seja,
quem não tem lastro, ou ainda base participativa, não representa ninguém e essa
é a maior crise que vive a Democracia Representativa.
A boa
política só se faz com gestores e legisladores que respeitam a sociedade organizada,
que governam e legislam através dos Fóruns Permanentes dos diversos setores, com
os Conselhos Populares, com Orçamento ou PPA participativos, com os Governos
Itinerantes e outros instrumentos e principalmente que governam e legislam nas
ruas em contato direto com a população e não nos gabinetes com as inúmeras
reuniões sempre secretas.
A
sociedade necessita urgente de uma nova forma de governar, onde cada vez mais a
figura do político de carreira seja substituída por lideranças nascidas e
geridas nos setores organizados da sociedade.
Aviso
aos navegantes das “canoas furadas”: Um dia o morro vai descer ao asfalto e
tomar o que lhes foi negado ou subtraído.
Antonio
Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br
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