Quando fico algum tempo sem escrever no blog entro
num processo de introspecção. Porque o blog na prática funciona como se fosse
um canal de informação, reflexão e principalmente em muitos casos também de desabafo.
Nesse processo introspectivo escolhi falar sobre
duas concepções: a lealdade e a fidelidade, tendo a nítida impressão que muita
gente, além de não saber a diferença entre ambas, também não as pratica.
Certa vez ouvi de uma pessoa que trabalhava comigo que
a lealdade era muito maior que a fidelidade. Uma frase de grande efeito que me
levou a pensar sobre o assunto por muito tempo, não só porque me incomodou ao ouvi-la,
mas principalmente pela abrangência que ela representa e pelo dilema
estabelecido: ser fiel ou ser leal?
Num primeiro momento, sem pensar, houve na minha
cabeça certa rejeição. Dizia eu: “Claro que não”. “A fidelidade é antes de tudo
uma necessidade em qualquer relação completando minha forma de pensar”. Porém
por outro lado, me vinha à cabeça que a lealdade era uma escolha e, portanto um
pacto estabelecido a partir de princípios e a fidelidade algo cobrado pela
própria sociedade, ou ainda por muitos casais que se juntam e se largam na
mesma proporção, apesar de jurarem fidelidade um ao outro. Talvez por isso
pareça um compromisso tão distante.
Na busca de respostas encontro que a fidelidade se
aproxima de um valor moral, onde em muitos casos as pessoas são fieis apenas
para compor um cenário e a lealdade é uma virtude. Uma escolha pessoal. Algo
que nasce da maturidade do ser humano, aliado aos sonhos e a toda perspectiva
de vida e que serve para realçar, não apenas as situações amorosas, mas
qualquer pacto estabelecido.
No site “significados”, a palavra lealdade é tida
como um sinônimo de fidelidade, dedicação e sinceridade e tem origem no termo legalis,
que em latim remete para o conceito de lei. Inicialmente esta palavra designava
alguém em quem era possível confiar e que cumpria as suas obrigações legais, ou
seja, alguém que não falha com os seus compromissos, demonstrando
responsabilidade, honestidade, retidão, honra e decência. Parece algo muito
distante de muitos políticos de carreira e vários profissionais que estão à
venda para quem pagar mais.
Alguns autores afirmam que a
fidelidade faz parte da lealdade e, portanto, seria amplamente possível ser
fiel e não leal, a partir do pressuposto de que a fidelidade às vezes chega a
ser imposta para que uma determinada relação se estabeleça, enquanto a lealdade
representa a maturidade emocional e imprescindível na moldagem de uma liderança
e da relação com seu universo.
É importante ressaltar que ambos os conceitos não
representa apenas compromissos com os sentimentos amorosos que uma pessoa possa
nutrir pela outra, mas com sentimentos humanos na mais ampla relação em
qualquer situação onde duas ou mais pessoas estejam envolvidas.
A sociedade consumista atual serve como exemplo do
desencontro humano. Há uma fragilidade tão absurda nas relações, em todos os
níveis, que imagino haver uma negação, seja da fidelidade e com certeza da
lealdade, como se não houvesse uma causa, nem mesmo que justificasse o prazer
pela vida.
Essa fragilidade leva a sociedade a diversas
crises, onde uma das mais relevantes é sem dúvida a crise de identidade. Uma
sociedade a procura de lideranças políticas e sociais e principalmente a
procura da razão da existência da maioria das pessoas. As pessoas que estão
nesse formato não conseguem interagir de forma autônoma, nem com o presente,
porque não participam de nenhuma atividade política ou social e muito menos com
um projeto de vida que modifique a qualidade de vida no futuro.
Com isso, inúmeras perguntas poderão vir à cabeça: Em
quem devem confiar se todos os dias são inundados por péssimas notícias, mesmo
que fantasiosas ou mentirosas? Como saber que a relação que se estabelece no
dia a dia é segura? Em quem votar se não participam e são comandadas por uma
imprensa tendenciosa? Como saber quem está mentindo e usando seu poder de
persuasão, se todos se apresentam como salvadores da pátria? Como fazer
escolhas seguras que os levem a se aproximarem de seus sonhos? São inúmeras
perguntas que transitam na cabeça de quem não tem uma causa para lutar e,
portanto se torna presa fácil para os aproveitadores de plantão.
Para muita gente, não tem a menor importância se há
de fato diferenças significativas entre o ato de ser fiel ou ser leal,
principalmente porque ao conviver com uma cultura de interesses e muitos desses
totalmente escusos, o mais importante é a luta pela sobrevivência.
É aí que entra a nossa tarefa. A tarefa de quem
veio ao mundo a trabalho. Um mundo de quem luta por uma causa tão nobre que é
maior que qualquer partido ou religião. A causa da criação de uma sociedade
justa, fraterna e igual para todos e todas, independente quem nela habitará. O
importante é sabermos que nessa relação as pessoas que nunca tiveram vez serão
as protagonistas de uma nova forma de sobrevivência.
Sonho? Utopia? Algo impossível? Não sei. Sei apenas
que um ser humano sem ter com que sonhar não vive, apenas transita por uma
sociedade de desiguais.
Com certeza na sociedade que queremos a lealdade
será de fato muito mais significativa que a fidelidade, pois nascerá da crença
de uma nova forma de convivência humana.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com
tonicordeiro1608@gmail.com
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