A democracia é uma
das principais bandeiras de luta da sociedade brasileira. E a construção de uma
sociedade realmente democrática só se realiza se houver liberdade de expressão
para o conjunto da sociedade, o que pressupõe a garantia do direito à
comunicação. Nesse sentido, o Brasil precisa enfrentar o desafio de atualizar
os instrumentos de regulação democrática dos meios de comunicação (a percepção contemporânea de que os meios de
comunicação são instituições centrais para os regimes democráticos garantiu a
esses meios, por parte dos Estados Nacionais, um conjunto de direitos especiais
que têm sua mais importante expressão no direito à liberdade
de imprensa.
Por outro lado, esse mesmo reconhecimento e o fato de serem definidos como
direitos especiais levaram os Estados Nacionais a estabelecerem um conjunto de
regras que ressaltam os deveres da mídia em relação às nossas democracias). Assim, os movimentos populares precisam se
mobilizar, nas ruas e redes, para exigir que o governo cumpra o seu compromisso
de fazer abertamente esse debate com a sociedade.
Principalmente, neste
momento em que o povo brasileiro e suas instituições democráticas enfrentam uma
conjuntura política e econômica adversa, mais do que nunca, é necessário levantar
a bandeira da regulação, para que se tenha mais diversidade e pluralidade de
vozes na mídia.
Descontente com a derrota
nas eleições presidenciais, a direita brasileira sai às ruas defendendo a
quebra da legalidade democrática. Nessa conjuntura, a mídia privada manipula a
informação, distorce os fatos, cria crises, esconde temas e criminaliza
movimentos sociais progressistas. O principal disseminador desse discurso é a
Rede Globo de Televisão que completa meio século em abril dando provas da sua falta
de compromisso com o interesse público e com a democracia.
O Congresso Nacional,
extremamente conservador, tem sinalizado que a pauta da direita (redução de
direitos trabalhistas, sociais, redução da maioridade penal, revogação do
estatuto do desarmamento, dentre outros) dará a tônica da atividade legislativa.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, afirmou que qualquer
projeto de regulação dos meios de comunicação só será encaminhado para votação
por cima do seu cadáver. Neste mesmo sentido, o Poder Judiciário continua
agindo de forma seletiva e parcial, refratário à agenda da democratização da
comunicação.
A Presidenta Dilma
Rousseff – que só se reelegeu porque assumiu o compromisso de adotar políticas
que aprofundassem direitos sociais e democráticos – dá sinais contraditórios de
que essa agenda será aplicada. Em vez dar continuidade a uma política econômica
que promova o crescimento econômico com inclusão
social, proteja o emprego e a renda, preserve e amplie os direitos dos/as
trabalhadores/as, adota uma política incoerente com o projeto que os trabalhadores
apoiaram e que foi vitorioso nas eleições, que levar o país à recessão, penalizar
a classe trabalhadora com o desemprego, a retirada de direitos, a precarização
das relações de trabalho e a regressão de políticas públicas. Em vez de
penalizar a classe trabalhadora, as medidas de ajuste deveriam penalizar os
setores mais ricos da sociedade que concentram renda e poder sonegando impostos
e se beneficiando de uma política tributária regressiva.
Neste contexto, é necessário
unir e mobilizar os movimentos sociais para barrar a direita e pressionar o
governo, exigindo o cumprimento dos compromissos firmados. Agenda como a
Reforma Política com o fim do financiamento empresarial das campanhas; a
taxação de grandes fortunas; a defesa da Petrobrás; o combate às
terceirizações; contra a redução da maioridade penal; em defesa dos direitos
dos indígenas; do meio ambiente; contra o extermínio da juventude negra; pela
reforma agrária e urbana; pelos 10% do PIB para a educação e a defesa do SUS,
precisam ser defendidas pelo conjunto dos movimentos sociais. A luta é por Mais Democracia e Mais
Direitos!
No âmbito da
comunicação, os desafios são ainda maiores, já que nos últimos 12 anos o
governo não enfrentou essa agenda de forma estruturante. Importantes conquistas
como criação da EBC, a aprovação das leis de Acesso à Informação, regulação da
TV por Assinatura (Seac) e o Marco Civil da Internet, só foram possíveis em
função da pressão popular. No restante, o sistema permanece praticamente
inalterado, caracterizado por uma forte concentração econômica e ausência de
diversidade e pluralidade.
A Presidenta Dilma
Rousseff e o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, têm dado declarações
públicas de que a agenda da regulação dos meios de comunicação será colocada
neste mandato. É preciso cobrar que esse discurso seja transformado em
prática. Por outro lado, o setor empresarial segue firme para impedir que esse
debate aconteça. Continua usando a mesma e velha manobra de distorcer essa
discussão, tachando qualquer tipo de regulação como censura.
Portanto, é
indispensável ampliar a mobilização e pressão da sociedade para destravar esta
agenda. Desde a 1ª Conferência Nacional de Comunicação, a sociedade
brasileira tem ampliado a base social e consolidado propostas para um novo
marco regulatório das comunicações. A principal delas é o Projeto de Lei de Iniciativa
Popular da Mídia Democrática, que em 33 artigos delineia um novo
cenário para a comunicação no país. Inspirada nos tratados internacionais já
ratificados pelo Brasil e em experiências regulatórias de países como França,
Inglaterra, Estados Unidos, Portugal, Espanha e outros, a Lei da Mídia
Democrática propõe mecanismos de implementação dos dispositivos
constitucionais.
Logo, a coleta de
assinaturas para a Lei da Mídia Democrática e a divulgação de seu conteúdo para
setores mais amplos da sociedade devem ser intensificados. Além disso, é preciso
avançar também em outras demandas, como o fortalecimento do sistema público de
comunicação; o fim da criminalização das rádios comunitárias e da mídia popular
e alternativa (do campo e da cidade), com a criação de mecanismos para
incentivar e fomentar a sua valorização; a universalização da Banda Larga; a
garantia do respeito ao Marco Civil da Internet; a implantação dos Canais da
Cidadania; a criação dos Conselhos de Comunicação nas três esferas da
Federação; a defesa da Classificação Indicativa; o respeito aos direitos
humanos nos meios de comunicação; a defesa do direito de resposta; o fim das
concessões para os políticos; o combate ao arrendamento e transferência ilegal
das outorgas; a democratização da distribuição das verbas publicitárias;
mecanismos de incentivo à produção regional e independente; o fortalecimento de
políticas para a promoção da diversidade cultural e informativa (pontos de
cultura e pontos de mídia livre) e de educação para a mídia; a defesa do
software livre. Enfim, um conjunto de medidas urgentes que desde já podem
ampliar o Direito à Comunicação e a verdadeira Liberdade de Expressão para
todos e todas em nosso país.
Ricardo Costa Gonçalves
Professor da Rede Estadual de Ensino do Maranhão
Ex-secretário de Educação do Município de Pedreiras
Militante do Partido dos Trabalhadores
Mestrando em Estado e Políticas Públicas pela FPA.
Ex-secretário de Educação do Município de Pedreiras
Militante do Partido dos Trabalhadores
Mestrando em Estado e Políticas Públicas pela FPA.
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