Numa
breve análise das manifestações ocorridas no mês de agosto desse ano, chega-se
à conclusão que do ponto de vista do exercício pleno da democracia, não há nada
do que reclamar. Afinal, esquerda e direita defendem, em tese, a ideia de o
povo protestar pelos seus direitos, porém é nítido que a direita só faz isso
quando lhe interessa, pois não consta em seu DNA a participação como
instrumento democrático.
O
que se percebe é que a direita encontrou no vácuo deixado pela esquerda
brasileira e pelos próprios movimentos sociais, que se distanciou do povo e das
ruas há muito tempo, uma forma de intervenção no Estado Democrático de Direito,
em nome da falsa defesa da liberdade de expressão e combate à corrupção. Não é
o governo que está perdido, que na verdade está equivocado na sua política
econômica e sim o Congresso Nacional que está à deriva. Entregue às forças
reacionárias eleitas pela população que se omite ao não participar da vida
política do país e entrar na onda golpista da mídia pertencente a apenas seis
famílias abastadas.
Quem
disse que é democrático pedir golpe, volta à ditadura ou a morte da Presidenta
e do Ex-Presidente? Isso está mais para a banalização do processo democrático,
do que o direito das pessoas fazerem o que quer ou ainda dizer o que pensa. O
exercício democrático implica, em primeiro lugar, em respeitar os direitos
constitucionais de Participação e de Controle Social das Políticas Públicas pela
população. Muita gente que esteve nas ruas no último dia 16, nem imagina o que
é isso ou tem seus agentes nos poderes Executivo e Legislativo, que
desrespeitam diuturnamente esses direitos e como resultado disso elegem
verdadeiros inimigos públicos.
Muito
pior que isso, vem do fato de pessoas que foram eleitas nos dois poderes
justamente, através dos partidos ditos de esquerda, para “bater de frente” com esse
velho método viciado e quando chegam lá capitulam e traem suas promessas de
campanha. Ou fazem o jongo para se manterem na ativa ou ainda não respeitam as
bases, governando e legislando de gabinetes virando as costas para a população.
Há
algum tempo num curso em Cajamar, surgiu um interessante debate em torno de
algumas perguntas, como: Quando se chega à Presidência da República, ao governo
de um Estado ou mesmo no governo de um município, chegou-se ao poder ou apenas
aos governos? Caso o entendimento seja de que chegou apenas aos governos, qual
seria um próximo passo? A discussão teve como texto e contexto a compreensão de
que num país capitalista, apesar dos governos serem parte integrante do
processo de poder, como o velho Marx afirmava, quem determina é o econômico.
Caso
alguém tem dúvidas disso é só observar o que esta ocorrendo na atualidade. Uma
crise econômica, a partir do reflexo da crise mundial; alguns erros do governo
em sua equipe econômica; da escolha de método ao governar voltado
principalmente para a população mais carente do país e garantir os projetos
sociais e o medo de Lula voltar a governar em 2018, levou a elite brasileira
reacionária e seus asseclas a saírem dos armários e ocupar as ruas pedindo
golpe, volta à ditadura e morte aos governantes. Fatos como esse só mostram que
o Brasil regrediu em termos de consciência crítica e principalmente em termos
de organização popular suficiente para garantir o que foi conquistado à duras
penas nos últimos anos e que a direita sabiamente sequestrou até o discurso
criado pela esquerda.
Sem
essa de dizer que a luta é contra a corrupção. O famigerado “Caixa Dois”, que
garante campanhas milionárias bota todo mundo no mesmo “saco de gatos”. Se a
direita de fato estivesse tão comprometida, teria aprovado o Projeto de Participação
Social e principalmente votado contra o financiamento privado de campanha.
Do
ponto de vista de um leigo, é de fácil interpretação dizer que o PT chegou ao
poder, pois comanda o país por quatro vezes seguidas. Isso dá uma impressão de
controle absoluto, assim como para a oposição e para certo número de pessoas
desinformadas e comandadas pela imprensa elitizada e golpista, que todas as
mazelas atuais da sociedade saíram da cabeça da Presidenta Dilma e do Partido
dos Trabalhadores e o que aconteceu de bom já passou e, portanto tem que ser
esquecido.
Tivemos
recentemente dois tipos de manifestação no cenário nacional a do dia 16 e a do
dia 20 de agosto vigente. Ambas contra a corrupção, porém com diferentes
aspectos abordados que vale a pena serem comentados.
A manifestação
do dia 16 comandada pela direita raivosa que não consegue admitir a derrota nas
últimas eleições, pela elite da Casa Grande que até hoje não aceita a Lei Áurea
e pela mídia tendenciosa e partidária, que lutou com todas as armas que tinha
para impedir que o Ex-Presidente Lula fosse eleito e reeleito e principalmente
que a Presidenta Dilma fosse sua sucessora e reeleita, tinha como endereço
certo o desgaste do governo federal e do PT, com medo das eleições futuras,
principalmente a de 2018.
Palavras
de ordem e cartazes como: “Cunha é Corrupto, mas está do nosso lado”, “Pena que
Dilma não foi enforcada no DOI CODI”, “Volta à Ditadura” e tantas outras
barbaridades, só mostra como é a cabeça de um reacionário, ou seja, completamente
vazia. Bem podiam ter protestado por outra forma de governar, pelos seus
direitos que em tese foram obstruídos com os pobres ocupando o lugar e outros
componentes ideológicos e de classe, mas o que se viu foi a pura banalidade de
quem não admite os negros e os pobres em geral estudando em escolas públicas, o
filho ou a filha do pedreiro sendo doutor, pessoas morando em casa própria, médicos
cubanos fazendo o que os brasileiros se negam a fazer e tantos outros
benefícios que jamais tiveram acesso.
Em
contrapartida a manifestação do dia 20, com a mídia boicotando e a PM mentindo,
mostrou milhares de pessoas em 24 estados pertencentes aos movimentos sociais,
ainda como protagonistas de um cenário que pedia apenas pelo exercício da
democracia. Críticas sim ao governo federal por sua equipe econômica, montada
pra agradar o deus mercado, mas contra qualquer tipo de golpe que coloque em
risco o Estado Democrático de Direito. Aí reside a grande diferença do que se
chama de democracia. Um lado lhe feriu, enquanto o outro lhe potencializou.
Em
continuando com esse estado de ódio permanente fundamentalista, que já custou à
vida de muitos brasileiros inocentes, está em risco até as próximas eleições,
pois ambos os lados irão defender o que pensam e não hesitarão quanto aos
métodos. Por outro lado, vale perguntar de que lado estará a justiça e a
polícia? Prendem apenas de um lado, matam sem distinção e mentem na contagem de
pessoas aumentando os da direita e encolhendo os da esquerda. O que será de nós
militantes de uma causa?
A
partir desse cenário, onde pode estar à resposta para esse estado de barbárie?
Na organização popular, em cobrar os governantes e legisladores que se elegeram
para essa tarefa e capitulam, na formação continuada de quadros, na aliança
popular para a defesa do que já foi conquistado e principalmente no diálogo
permanente com as forças de esquerda, que ao invés de discutirem ideias ficam
na disputa de pequenos poderes.
Só
uma aliança popular poderá salvar a boa política.
Antonio
Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br
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