Imagem: www.redebrasilatual.com.br
Acompanho a educação pública do estado
de São Paulo há um bom tempo, inclusive tendo lecionado em vários momentos. Não
é de hoje que o objetivo principal do governo do PSDB é sucatear o ensino
público com o intuito dos pais que podem transferir seus filhos para as escolas
privadas e os que não podem ver seus filhos desistindo de estudar ou terminando
seus estudos de forma extremamente precária, sem saber ler e muito menos
escrever.
A coisa se torna mais séria em sala de
aula, pois o professorado se divide em dois grupos muito distintos. De um lado um
grupo predestinado, que mesmo sem a menor condição de lecionar, com baixos
salários, sem alimentação, sem verbas para infraestrutura e com salas superlotadas,
se dedicam ao máximo para tornarem os limões em limonada e convivem
harmoniosamente com os alunos e alunas. Do outro, um grupo de professores e
professoras, que comungam com o pensamento neoliberal dos dirigentes. Tratam os
alunos como bandos, assediando-os moralmente independente da idade, dão
péssimas aulas e torna a vida nas escolas um confronto diário de pura
sobrevivência.
Sem contar essa parte que já é de pura
exclusão, vem essa tal reforma atual, que segundo a revista Brasil Atual, tem
endereço certo. Querem privatizar a gestão das escolas, através das OSs –
Organizações Sociais. Na verdade uma empresa disfarçada de ONG, como já ocorre
na saúde. Esse método já aconteceu em Pernambuco, quando Jarbas Vasconcelos era
o governador e o tucano Mendonça Filho (infelizmente da minha cidade natal), era
seu vice. Um desastre sem precedentes. Ou seja, uma escola pública com gestão
privada. Essa coisa é uma copia de um método ultrapassado americano, denominado
Escola Charter.
Essa saga privatista já está ocorrendo
em vários estados, como Paraná, Goiás, Pará, Espírito Santo e agora em São
Paulo. Um método que visa em primeiro plano fechar escolas, demitir professores
e enxugar o que for possível, no sentido de baratear o custo para as OSs, na
busca de mais lucros e divisão dessa bolada, contra a sorte de meninos e
meninas, que por serem filhos de pobres, a única alternativa é entregar ao
destino a sorte deles e delas.
No plano de São Paulo estava aprovado
por decreto o fechamento de 94 escolas, o fechamento de 3000 salas de aula e a
transferência de milhares de jovens, que entre outros problemas, separaria
filhos de uma mesma família, além de ser um amontoado de alunos e alunas, sem
infraestrutura, sem tecnologia, sem funcionários e sem gente preparada para
algo tão complexo. Um verdadeiro depósito de gente que segundo eles aceitariam
tudo sem ao menos reclamar.
Porém, na calada da noite o galo
cantou e surgiu do nada uma firme nação jovem para enfrentar o “monstro da
lagoa”, como na música de Chico Buarque que deu origem ao primeiro protesto com
alunos da Escola Antonio Viana na periferia de Guarulhos (https://www.youtube.com/watch?v=T7MUd11laTI).
Quem podia imaginar que alunos e
alunas tão desprestigiados, tão abandonados pela sociedade elitista e tão
discriminados, inclusive por um grupo de professores e dirigentes,
imaginando-se com pouca autoestima, pudessem surgir de forma assustadoramente organizada
e fazerem um enfrentamento político nas escolas ocupadas e nas ruas, capaz de
fazer o governador tucano revogar temporariamente o maldito decreto e cair o
Secretário de Educação? Nem o mais renomado sociólogo ou ainda antropólogo
podia prever um cenário como esse.
Com lemas como: Ocupar para Educar e
Aqui não tem Arrego, os meninos e meninas de São Paulo iam ocupando escolas e
fazendo protestos diários reprimidos pela polícia.
Como dizia um amigo meu do movimento
de habitação de São Bernardo do Campo, foi um Momento Lindo. Lutaram com a
alma. Buscaram forças para acamparem dentro das escolas, onde em vários
momentos a única coisa que tinha como alimento era miojo e leite com chocolate.
Ocuparam sem reclamar. Com regras claras e sem destruir nada do que
encontraram. No meio disso tudo, alguns professores, alguns pais, alguns vizinhos,
colaboradores e várias entidades lhe deram apoio, tanto material, emocional e
de atividades, como aulas de diversas modalidades e resistiram sem titubear.
Uma revolução anarquista que balançou
os galhos do Tucanistão Paulista. Um protesto para ficar na história, com
recado bem claro para: professores, dirigentes e principalmente o governo
tucano. A partir desse momento nem as escolas serão as mesmas e muito menos
esse meninos e meninas que durante quase um mês fizeram milhares de pessoas que
se acham lideranças, que acham que sabem tudo e os políticos de carreira,
refletirem que de agora em diante quem manda no pedaço é quem tem uma causa
para lutar.
A vergonhosa repressão policial deixou
claro que tem cor e partido. Se forem os black blocs arrebentando tudo ou ainda
as manifestações de coxinhas aloprados contra o governo Dilma tem passe livre,
inclusive da mídia golpista. Agora se forem professores e alunos lutando por
seus direitos, os policiais se comportam como verdadeiras bestas-feras fardadas
e vão batendo e arrebentando o que encontram pela frente. Uma triste realidade
policial que mata milhares de jovens negros e da periferia todos os anos, como
se fosse uma grande limpeza encomendada pela elite branca da Casa Grande.
Que o governo tucano entenda de uma
vez por todas, que a sociedade de bem estará atenta para que esses meninos e
meninas não sejam usados por quem quer que seja, que sua luta não seja
partidarizada ou ainda contra qualquer tipo de repressão que possa vir, como por
exemplo, expulsões, transferências compulsórias ou outro tipo de manobra.
Que a luta de São Paulo possa servir
de exemplo para outros estados que estão nas garras tucanas ou ainda de outros
estados que são governados por também gestores que querem destruir o ensino
público para meninos e meninas de baixa renda.
Quando tudo parecia perdido, surge do
centro da terra uma força jovem incrível, capaz de contagiar todos aqueles e
aquelas que lutam por uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.
Uma verdadeira aula de cidadania para quem achava que a luz da esperança já
tinha se apagado.
Ousar vencer. O caminho de quem luta
pela liberdade.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br
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