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domingo, 6 de dezembro de 2015

A grande lição dos Meninos e Meninas de São Paulo

Imagem: www.redebrasilatual.com.br

Acompanho a educação pública do estado de São Paulo há um bom tempo, inclusive tendo lecionado em vários momentos. Não é de hoje que o objetivo principal do governo do PSDB é sucatear o ensino público com o intuito dos pais que podem transferir seus filhos para as escolas privadas e os que não podem ver seus filhos desistindo de estudar ou terminando seus estudos de forma extremamente precária, sem saber ler e muito menos escrever.

A coisa se torna mais séria em sala de aula, pois o professorado se divide em dois grupos muito distintos. De um lado um grupo predestinado, que mesmo sem a menor condição de lecionar, com baixos salários, sem alimentação, sem verbas para infraestrutura e com salas superlotadas, se dedicam ao máximo para tornarem os limões em limonada e convivem harmoniosamente com os alunos e alunas. Do outro, um grupo de professores e professoras, que comungam com o pensamento neoliberal dos dirigentes. Tratam os alunos como bandos, assediando-os moralmente independente da idade, dão péssimas aulas e torna a vida nas escolas um confronto diário de pura sobrevivência.

Sem contar essa parte que já é de pura exclusão, vem essa tal reforma atual, que segundo a revista Brasil Atual, tem endereço certo. Querem privatizar a gestão das escolas, através das OSs – Organizações Sociais. Na verdade uma empresa disfarçada de ONG, como já ocorre na saúde. Esse método já aconteceu em Pernambuco, quando Jarbas Vasconcelos era o governador e o tucano Mendonça Filho (infelizmente da minha cidade natal), era seu vice. Um desastre sem precedentes. Ou seja, uma escola pública com gestão privada. Essa coisa é uma copia de um método ultrapassado americano, denominado Escola Charter.

Essa saga privatista já está ocorrendo em vários estados, como Paraná, Goiás, Pará, Espírito Santo e agora em São Paulo. Um método que visa em primeiro plano fechar escolas, demitir professores e enxugar o que for possível, no sentido de baratear o custo para as OSs, na busca de mais lucros e divisão dessa bolada, contra a sorte de meninos e meninas, que por serem filhos de pobres, a única alternativa é entregar ao destino a sorte deles e delas.

No plano de São Paulo estava aprovado por decreto o fechamento de 94 escolas, o fechamento de 3000 salas de aula e a transferência de milhares de jovens, que entre outros problemas, separaria filhos de uma mesma família, além de ser um amontoado de alunos e alunas, sem infraestrutura, sem tecnologia, sem funcionários e sem gente preparada para algo tão complexo. Um verdadeiro depósito de gente que segundo eles aceitariam tudo sem ao menos reclamar.

Porém, na calada da noite o galo cantou e surgiu do nada uma firme nação jovem para enfrentar o “monstro da lagoa”, como na música de Chico Buarque que deu origem ao primeiro protesto com alunos da Escola Antonio Viana na periferia de Guarulhos (https://www.youtube.com/watch?v=T7MUd11laTI).

Quem podia imaginar que alunos e alunas tão desprestigiados, tão abandonados pela sociedade elitista e tão discriminados, inclusive por um grupo de professores e dirigentes, imaginando-se com pouca autoestima, pudessem surgir de forma assustadoramente organizada e fazerem um enfrentamento político nas escolas ocupadas e nas ruas, capaz de fazer o governador tucano revogar temporariamente o maldito decreto e cair o Secretário de Educação? Nem o mais renomado sociólogo ou ainda antropólogo podia prever um cenário como esse.

Com lemas como: Ocupar para Educar e Aqui não tem Arrego, os meninos e meninas de São Paulo iam ocupando escolas e fazendo protestos diários reprimidos pela polícia.

Como dizia um amigo meu do movimento de habitação de São Bernardo do Campo, foi um Momento Lindo. Lutaram com a alma. Buscaram forças para acamparem dentro das escolas, onde em vários momentos a única coisa que tinha como alimento era miojo e leite com chocolate. Ocuparam sem reclamar. Com regras claras e sem destruir nada do que encontraram. No meio disso tudo, alguns professores, alguns pais, alguns vizinhos, colaboradores e várias entidades lhe deram apoio, tanto material, emocional e de atividades, como aulas de diversas modalidades e resistiram sem titubear.  

Uma revolução anarquista que balançou os galhos do Tucanistão Paulista. Um protesto para ficar na história, com recado bem claro para: professores, dirigentes e principalmente o governo tucano. A partir desse momento nem as escolas serão as mesmas e muito menos esse meninos e meninas que durante quase um mês fizeram milhares de pessoas que se acham lideranças, que acham que sabem tudo e os políticos de carreira, refletirem que de agora em diante quem manda no pedaço é quem tem uma causa para lutar.

A vergonhosa repressão policial deixou claro que tem cor e partido. Se forem os black blocs arrebentando tudo ou ainda as manifestações de coxinhas aloprados contra o governo Dilma tem passe livre, inclusive da mídia golpista. Agora se forem professores e alunos lutando por seus direitos, os policiais se comportam como verdadeiras bestas-feras fardadas e vão batendo e arrebentando o que encontram pela frente. Uma triste realidade policial que mata milhares de jovens negros e da periferia todos os anos, como se fosse uma grande limpeza encomendada pela elite branca da Casa Grande.

Que o governo tucano entenda de uma vez por todas, que a sociedade de bem estará atenta para que esses meninos e meninas não sejam usados por quem quer que seja, que sua luta não seja partidarizada ou ainda contra qualquer tipo de repressão que possa vir, como por exemplo, expulsões, transferências compulsórias ou outro tipo de manobra.

Que a luta de São Paulo possa servir de exemplo para outros estados que estão nas garras tucanas ou ainda de outros estados que são governados por também gestores que querem destruir o ensino público para meninos e meninas de baixa renda.

Quando tudo parecia perdido, surge do centro da terra uma força jovem incrível, capaz de contagiar todos aqueles e aquelas que lutam por uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Uma verdadeira aula de cidadania para quem achava que a luz da esperança já tinha se apagado.

Ousar vencer. O caminho de quem luta pela liberdade.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br

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