Quando
ocorreu o fatídico golpe militar de 64 eu tinha apenas nove anos de idade e
lembro apenas do som de um tiro de canhão, transmitido pelo rádio. Algo que não
sabia explicar, porém a sensação que tinha era de muito medo.
Os
anos se passaram e meu primeiro contato com a ditadura veio na militância política,
iniciada na minha cidade de Belo Jardim-PE, a partir da intervenção do Padre
Reginaldo, que acabou largando a batina e casando com uma colega de trabalho. Reginaldo
nos passava que o pior da ditadura são seus instrumentos, como a AI-5, a LSN
(Lei de Segurança Nacional), o SNI (Sistema Nacional de Informação), assim como
os instrumentos de repressão e que por trás de várias pessoas que se diziam
lideranças locais se escondiam os delatores do SNI. Entre eles padres,
políticos de toda ordem, lideranças comunitárias infiltradas e outros vermes
que serviram à ditadura.
Quando
voltamos para São Paulo, a luta foi via CEBs (Comunidades Eclesiais de Base),
já no debate da igreja conservadora versus a Teologia da Libertação, no Teatro
Amador através da COTAESP e com o Grupo Móbile de Teatro, nas lutas estudantis,
na luta sindical e depois minha filiação no Partido dos Trabalhadores, onde
permaneço até hoje.
A
partir de então, nunca mais abandonei as lutas concretas por liberdade, justiça
e por democracia plena. Entre tantas lutas que participei destaco a luta pelas
Diretas Já, com o memorável Comício no Vale do Anhangabaú, o enfrentamento nas
lutas estudantis, as memoráveis greves do ABC de 78, 79 e 80 e a caminhada da
Igreja Matriz de São Bernardo do Campo ao Estádio da Vila Euclides no dia 1º de
maio de 1980. Fazer parte de tudo isso me faz refletir e compreender que com
certeza vim ao mundo a trabalho e não para passear pela vida, seja qual for à
dimensão que vai alienando as pessoas.
Essa
reflexão me leva ao absurdo que estamos vivemos na atualidade. Onde a mídia
partidária e golpista se coloca ao lado dos herdeiros dos tempos de trevas para
solapar todas as conquistas dos trabalhadores e das pessoas sofridas do país,
que a partir dos governos Lula e Dilma conquistaram direitos que nunca tiveram
e começam a enxerga que de uma hora para outra poderão perder tudo de uma só
vez. Ou seja, ou vão à luta ou voltarão ao passado.
A
ditadura representou uma ruptura nos sonhos. Um aborto dos pensamentos de uma
vida melhor e principalmente a morte do processo de liberdade e de justiça,
onde apenas um grupo e seus colaboradores tinham o que queriam e as demais
pessoas lhes serviam. Foram milhares de pessoas que pagaram com a morte,
torturas e a completa perseguição contra a liberdade de expressão e de
pensamentos e por direitos antes conquistados. Quem defende algo como o que
aconteceu no Brasil e em vários países da América Latina, ou vai lucrar com
isso, como é o caso dos empresários, que financiaram tantos golpes na América Latina ou serão
delatores permanentes a entregarem quem se colocar contra os privilégios da
casa-grande.
Muitos
e muitas se venderam e continuam a venda. Um processo de traição que começa às
vezes quando um político se torna profissional e seu exercício de servir à população
construída numa peça de marketing eleitoral se transforma numa profissão, ou
ainda quando alguém que nada tinha descobre como é fácil enganar e usar a
população em benefício próprio, como diversos pastores, políticos e muitas
pessoas envolvidas com o famigerado terceiro
setor, que é instrumento neoliberal de suporte às privatizações das
questões sociais do Estado.
A
única coisa boa nessa história toda é saber que milhares de pessoas que se
achavam distantes de tudo e que não sonhavam mais ou ainda que estavam
acomodadas com suas poucas conquistas, estão dando a demonstração de que estão
mais vivas do que nunca e não hesitarão em lutar por liberdade e por seus
direitos que a turma da casa-grande quer solapar.
Jovens
de todas as idades estão se alistando para as lutas e isso é certeza de que
águas novas estão brotando e o povo se amando sem parar. Há um fio de esperança
nascendo por entre as veredas deixadas pelo PIG e isso nos fortalece e nos faz
acreditar que o melhor ainda está por vir, mesmo que seja através de uma luta
concreta.
Como
dizia Brecht: “Que continuemos a nos omitir da política é tudo
o que os malfeitores da vida pública mais querem.”
NÃO HAVERÁ GOLPE. HAVERÁ
LUTA!
Antonio Lopes
Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com
Taí agora os "sovreviventes" que lideraram o Brasil por 13 anos. O explendor magnífico de robalheira mais profunda do mundo inteiro! É isso que foi a dita ditadura nos preservou! Agora parentes dos "desaparecidos" vão receber pensão pro resto da vida as nossas custas. Desaparecidos estes que entraram no rol de proteção a testemunhas entregando os seus camaradas! Não li o seu texto todo, não consigo ler ou escutar babuzeiras!
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