Quero acreditar que
esse seja um dos assuntos do momento, onde o PT e seus militantes são
perseguidos, não pelos seus erros, mas principalmente pelos seus acertos e algumas pessoas o abandonam. A
casa grande treme só de imaginar que Lula poderá voltar em 2018. Em minha
opinião esse foi um dos motivos do golpe atual.
Não tenho a
pretensão de julgar ninguém, até porque cada um ou cada uma deva ter uma perfeita
explicação para isso, mas apenas como militante de uma causa e grande parte
dela forjada na militância petista, tentar analisar o que faz uma pessoa trocar
de partido se não for por altíssimos interesses.
Temos acompanhado nos
últimos tempos muita gente que acreditávamos ser petistas de coração abandonar o
partido quando o partido mais precisava, visando apenas disputar as eleições municipais
que virão. É um processo democrático mudar de partido? Sim, pois mesmo a
surrada democracia aponta para isso. Porém o que leva a essa mudança? Quais os
interesses por trás do cenário? É possível mudar para um partido de direita e
levar o petismo consigo?
Ao conversar com
essas pessoas, por alguns momentos até ficamos solidários, tamanha é a
justificativa e argumentos usados. “Ah o presidente do partido me abandonou”. “Nunca
fui ouvido”. “Nesse novo partido tenho a liberdade que buscava”. Enfim, uma
coletânea de motivos, que alguns deles de fato podem ser verdade, mas a
pergunta que fica é: ao se indignar você não usou os instrumentos e as
instâncias do partido para se contrapor a sua indignação?
As saídas do
partido se apresentam como se fossem estratégias de poder, reafirmação de
caráter ou o argumento que não permitem ser chamados de “petralhas”, que é o termo pejorativo forjado pelo PIG, como se ao se esconder
da Estrela Vermelha ou escondê-la perante a sociedade, a pessoa ficasse mais
acreditada ou que não faz parte da ideia de partido construído pelo PIG a
partir de seus interesses.
Trata-se na verdade
de negar a importância partidária ou ainda de homologar a negação do Estado de
Direito e da Democracia como valores que garantem o exercício da cidadania.
Nada tem a ver com os argumentos principais da fuga partidária. Lembra-me a
frase da Dona Florinda: "Não se misture com essa gentalha" e ao
fugirem estarão livres da maldição da imprensa golpista e próximos da sociedade
branca, seletiva e discriminatória.
Por outro lado, se
entendermos o petismo como algo maior, como uma prática e que possa ser maior que o próprio partido, pois resgata a construção coletiva, os valores universais de mudanças efetivas da
sociedade, rumo a uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas, podemos
até entender, enxergando que as pessoas saíram
do PT porque o partido escolheu um caminho diferente do que pensavam e defendiam
como comportamento político perante a uma sociedade capitalista, oportunista e
de profunda desigualdade.
Isso implicaria necessariamente na busca
por essas pessoas por partidos mais à esquerda que, mesmo com problemas, a nova
sigla daria conta de ancorar tais pensamentos e práticas e, portanto não
estariam traindo o que pretensamente defendem, mas se alojarem em partidos golpistas e se
abraçarem com golpistas de plantão, apenas deixam claros os interesses em jogo,
além de representar uma tremenda traição das convicções políticas que as
pessoas diziam ter.
O que defendo nada tem a ver com quem usa ou usou o partido para se promover, se tornar eleito vitalício ou ainda desrespeitar a militância como pessoas, tratando-as como as famigeradas “garrafinhas”, que podem ser trocadas por novas oportunidades por quem delas se aproveitam. Esses ou essas têm que ser punidos rigorosamente.
Ser petista no meu
entendimento é fazer uma escolha. É optar por um caminho onde a opção pela luta
dos mais pobres e a defesa intransigente de direitos conquistados se faça presente,
custe o que custar. Isso na verdade tem que se transformar na militância de uma
causa. Ser petista para mim é ter a opção de divergir, construir, desconstruir
se necessário for e, sobretudo reaprender com a vida e com a militância de uma
causa. Por isso defendo o direito de tendências, porque um partido democrático
não pode ter um único pensamento, muito menos um proprietário. Quem nunca ouviu
que fulano comprou a sigla tal e ciclano aquela outra? O PT não mudou. Quem mudou foram algumas pessoas petistas.
Quero realçar que essa minha inquietação serve também para comportamentos internos do partido. Quantos candidatos do PT ao legislativo e executivo estarão defendendo um mandato ou um governo de fato participativo a partir dos Fóruns Temáticos, dos Conselhos de Mandato, da participação contínua da sociedade e respeito ao funcionalismo público ou ainda aos setores organizados da sociedade que lutam por direitos?
Não se trata de censurar
quem saiu do partido e sim de buscar uma reflexão que me faça entender a “dança
das cadeiras partidárias”, como elemento além do processo democrático. Em minha
opinião quem muda de partido como se muda de camisa, apenas para se dar bem,
não tem e nunca terá um projeto coletivo e sim interesses pessoais, construídos
a partir do entendimento de que a pessoa é a própria estrela e nasceu para
isso. O que nos consola é saber que serão julgados pela história.
Acredito que a verdadeira história se constrói nas entrelinhas da vida e na possibilidade de mudanças pessoais, se necessário for, assim como tenho a plena convicção de que o petismo e o PT ainda irão contribuir muito para fortalecer as instâncias democráticas e dar voz a sociedade que luta contra as injustiças e a exclusão social.
Prefiro essa velha
estrela amarrotada e xingada por míseras coxinhas alopradas, porém com uma
história de luta pelas causas mais nobres da sociedade, do que alguns partidos
que me promovam financeiramente ou profissionalmente, mas que carregam em seus
DNAs o sangue derramado de quem lutou por justiça e liberdade.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública Social
Tonicordeiro1608@gmail.com
Parabéns pela clareza e fluência do texto. Digno daqueles que entendem a necessidade da manutenção e expansão do processo de formação política dentro do PT.
ResponderExcluirObrigado Sergio.
ExcluirQuando escrevemos com o coração e o sentimento pleno da causa que defendemos, tudo converge para que as pessoas compreendam o que escrevemos. Como bem dizia Paulo Freire, nossa mensagem só faz sentido de as pessoas conseguirem se apropriar dela.
Olá Sergio. Ou acabamos com essa lenda de que alguém sai da legenda por interesses, mas continua com o petismo ou o PT se torna uma legenda de aluguel.
ResponderExcluirTexto muito bom.Neste momento difícil que os petistas estão vivendo é linitivo para todos nós. Principalmente para candidatos, como eu,que em determinados momentos temos que enfrentar as forças antagônicas e raivosas.
ResponderExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirTexto muito bom.Neste momento difícil que os petistas estão vivendo é linitivo para todos nós. Principalmente para candidatos, como eu,que em determinados momentos temos que enfrentar as forças antagônicas e raivosas.
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