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sábado, 1 de outubro de 2016

O que esperar dessas eleições municipais?

O exercício democrático nos oferece amanhã mais um capítulo das eleições municipais, em meio a uma das maiores crises políticas da história do país. Uma crise que tem como objetivos: conter o avanço democrático dos últimos doze anos, estancar as conquistas trabalhistas e intervir diretamente nas conquistas sociais, terceirizando as funções sociais do Estado.

Além disso, ressurge como grande cenário político ideológico a retomada do projeto neoliberal interrompido pelos governos de Lula e Dilma. Isso inclui entre outros retrocessos, a volta do FMI, a venda do que restou de patrimônio nacional, a gestão do petróleo pelas estatais americanas e a introdução de empresas multinacionais da construção civil, a partir da quebra das nacionais com o evento da lava jato. Algo bem parecido com o que está ocorrendo no Iraque, após o assassinato de Saddam Hussein.

Trata-se na verdade de mais uma estratégia do capitalismo mundial, que ocorre em vários países, mas com prioridade para os países da América Latina.

Nem se discute a importância das eleições, pois muita gente foi presa e torturada e muitos deram a vida para que tivéssemos a oportunidade de votar, após o golpe militar de 64 que durou mais de vinte anos. Porém, algumas perguntas se fazem necessárias: O que de fato uma eleição como essa, num momento tão crítico politicamente falando, trará de resultados concretos para a realização dos sonhos de milhares de brasileiros e de brasileiras? Que país sobrou após o golpe que derrubou a Presidenta Dilma? O que será da esquerda brasileira, que a meu ver parou no tempo? Como organizar o enfrentamento a essa nova modalidade de golpe?

Na busca de algumas respostas sem paixão, se faz necessário primeiro entender o enredo do processo político atual no país. O golpe foi alimentado sob o pretexto do combate à corrupção e pelo deus mercado entender que precisava derrubar Dilma, mesmo que isso gerasse um prejuízo incalculável para algumas de suas empresas, visando especialmente às eleições de 2018 e barrando qualquer possibilidade de uma possível volta de Lula como Presidente.

Num processo kamikaze, ao mesmo tempo em que a mídia golpista, junto com a elite devassa negava a importância da boa política e do voto, na medida em que afirmavam que todos os políticos roubam e que a política é uma coisa ruim, recorreram ao Congresso Nacional bizarro eleito pelo desprezo à política e derruba-se a presidenta eleita democraticamente por mais de 54 milhões de eleitores. Fato consumado por 61 elementos, onde a maioria deles tem problemas com a justiça.

Para piorar a situação, alguns partidos de origem progressista e parte dos integrantes de alguns partidos de esquerda, cederam à tentação de virarem partidos de resultados ou partidos eleitorais e profissionais da política, não investindo em formação política, não estimulando o surgimento de novas lideranças e abandonando o compromisso de ajudar a sociedade a se organizar em busca de seus direitos. Com isso perderam a identidade e a credibilidade. Viraram organizações idênticas que lutam apenas por pequenos poderes, resultados favoráveis e vagas nos espaços públicos em troca de apoio e mandatos. Surge assim uma nova personagem, a República de Mandatos. Algo que se apresenta maior do que as próprias direções partidárias.

Do ponto de vista dos eleitos, a impressão que se tem é que a maioria deles e delas, nos 5570 municípios, seja para o executivo ou legislativo, governam e legislam para si ou para o grupo que os apoia e os financia e não para e com a população. Governam e legislam de costas para o povo, principalmente para os que mais precisam. Nem a maioria dos eleitos do campo progressista ou de esquerda, se submete a governar a partir de Fóruns Temáticos Permanentes e legislar a partir de Conselhos de Mandatos.

Apenas a título de ilustração, certa vez numa palestra para membros da gestão pública de uma prefeitura de médio porte, com secretários, diretores, gerentes e apoiadores, além de lideranças comunitárias, inclusive com o prefeito presente, perguntei a cada secretário se sabia em detalhes os projetos de seus colegas e o que cada projeto tinha em comum e para minha surpresa a resposta, quase unânime, foi a de que não sabiam. Ninguém sabia o que estava acontecendo na secretaria ao lado da sua. No meio a falta de planejamento e organização, temas como esse não vão para as pautas das reuniões do secretariado. Em geral se administra o caos e assim tudo vira urgência.

Para complicar ainda mais perguntei também quem conhecia em detalhes o Plano de Governo, se tinham participado do processo de formulação, ou ainda quem já tinha visto pelo menos um exemplar do Plano. Para todas as perguntas, por incrível que pareça foi também não. Isso mostra que o Plano de Governo, para muitos gestores é apenas um papel e não um compromisso que devia ser atualizado a cada encontro com a população.
Outro fator preponderante vem do fato das alianças serem mercantilistas e não programáticas, o que faz com que cada secretaria vire uma prefeitura independente, por falta de transversalidade e integração de governo.

O que isso tem a ver com o resultado do processo eleitoral que se aproxima? No meu entendimento muito, pois é nesse desencontro que a politica se desenvolve, com ou sem nenhuma participação da população.

Essa breve análise de fatos nos revela que infelizmente para uma enorme quantidade de políticos, o importante é ganhar. Não importa como e muito menos com quem. A única forma de tentar intervir nesse processo viciado da velha política eleitoreira será uma ampla e participativa Reforma Política, que consiga dar voz a sociedade e discuta a representação a partir da participação.

Com esse clima golpista e a falta de compreensão de grande parte da sociedade, a impressão que tenho é que o campo democrático sairá ainda menor e o que nos resta é organizar a população para cobrar seus direitos e mostrar aos funcionários públicos de carreira que ou eles lutam com dignidade ou perderão o emprego em breve, pois a intensão da trupe governista golpista é terceirizar e privatizar o que for possível e dê tempo.

Infelizmente não dá para cobrar consciência política num processo onde o coração fala mais alto que a razão.

A única coisa que me alegra é saber que a luta mal começou e o embate revelou que nasceram novos e vigorosos personagens que estão prontos para um grande conflito em defesa da dignidade humana.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Tonicordeiro1608@gmail.com

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