Como avaliar 2016? O que esperar de 2017? Um ano que presenciamos
angustiados um dos maiores retrocessos que a história do Brasil já passou. De
uma só vez o povo pobre e trabalhador perdeu sua representante eleita, seus
direitos trabalhistas e o congelamento por vinte anos do investimento em Saúde,
Educação e Assistência Social. Porém, como as Políticas Públicas são
integradas, essas medidas afetarão em cascata, praticamente todo o universo
público e principalmente a população que mais precisa.
O golpe em curso trouxe para a pauta nacional uma nova modalidade de
divergência, acompanhada por um ódio de classe, plantado e disseminado pela
mídia golpista. Não está se falando de divergência política partidária, mesmo
sob a compreensão de que nos dias de hoje está difícil caracterizar um partido,
sua matriz ideológica e seus reais interesses, mas de um enfrentamento que
invadiu as ruas do país, sob o pretexto de caça aos petistas.
Por outro lado, há algo no ar além dos aviões de carreira, como dizia o
Barão de Itararé. O que leva alguns indivíduos e indivíduas a abandonarem seus
partidos de origem, após terem desfrutado a parte boa desses, sob o
pretexto de que não foram ouvidos, notados ou ainda não reconhecidos
como a última “bolacha do pacote” e que só eles e elas poderão salvar a
humanidade nas próximas eleições? Como podemos chamar esse fenômeno em moda
principalmente no PT? Oportunismo? Traidores da causa? Profissionais da
política?
Sei lá, me vem à cabeça inúmeros adjetivos, porém se faz necessário
esclarecer que não me refiro de quem sai do PT para o PSOL, PCO, PSTU ou mesmo
o PC do B, além dos que defendem a luta armada e pretendem, quem sabe, fundar o
PLUA - Partido da Luta Armada, mas de pessoas que migram na calada da noite em
busca de cargos ou de projeção política, as vezes às custas da miserabilidade
da sociedade.
O que se presenciou desde o início do ano foi uma enxurrada de
barbaridades acontecerem, a começar pela destruição do Projeto de Participação
Social proposto pela Presidenta Dilma, destruído pela maioria do Congresso
Nacional que tem lado, cor, partido e principalmente dinheiro público desviado
para financiar as mudanças que a elite vai determinando como essenciais.
Na sequência veio a construção do cenário do golpe. Algo
milimetricamente pensado, muito bem articulado e elaborado a partir de
argumentos convincentes voltados ao público jovem e para uma nação alienada que
bailou em busca de vingança, não contra seus possíveis algozes ou contra a
corrupção, mas pela possibilidade de extermínio do PT, de Lula e de Dilma, com
a falsa ilusão de uma luta contra a corrupção e de que toda banalidade
política, nasceu na era dos governos petistas.
Vale lembrar que só existem políticos corrutos em evidência porque uma
enorme parte da sociedade também é corrupta e se coloca sempre a venda para
quem pagar mais ou em troca de privilégios futuros.
Além dessas e outras desgraças impostas pelo governo golpista e seus
aliados, para fechar o ano aí vem à aprovação da PEC da Morte, mudanças nas
leis trabalhistas que enterrarão de vez a CLT e a tal Reforma da Previdência,
que levará a Previdência ao seu fim. Uma grande parte de quem vive de salário,
vai morrer bem antes de se aposentar. Um plano diabólico para o fim de
direitos, conquistados com muita luta ao longo de mais de cem anos.
Porém uma coisa não pode ser esquecida, que é a capitulação de grande
parte da esquerda e o enorme vacilo dos governos de Lula e Dilma, que poderiam
ter feito as reformas necessárias quando tudo parecia favorável. Claro que
também poderia ter sido um fiasco, porém não foi tentado fazer e isso deixa um
vazio entre o que não foi feito e o que está sendo feito agora à revelia de
nossos interesses políticos, econômicos e principalmente sociais.
Para 2017 grandes pontos de interrogação: O que aconteceu com os
movimentos sociais e com as entidades de classe? Que tipo de reação ainda
poderá ser feita a partir do completo caos político? Que tipo de ser a
sociedade moderna produziu nas últimas décadas? Como juntar os cacos sem um
projeto político definido? Cadê as lideranças políticas e comunitárias, por
onde andam? Como conviver com a República de Mandatos, que quer determinar o
jogo, intervir nas instâncias partidárias e anular as possíveis lideranças?
O ano que se inicia nos fará conviver com uma sociedade moralmente
abatida, individualizada em termos de interesses políticos e econômicos e
principalmente infectada com a grave doença do analfabetismo político, que leva
à alienação, ao apoio do fundamentalismo religioso, ao preconceito, a toda
forma de discriminação e a venerar cegamente os inimigos políticos de classe,
que almejam uma raça pura, sem negros, índios, homo afetivos, nordestinos e
principalmente pobres. Talvez seja a hora de recomeçar do zero rumo ao resgate
de nossas dignidades. Caminhar com a parte sadia da juventude que luta por seus
direitos e principalmente por ideais.
Para não dizer que não falei das flores, a única coisa preciosa que se
tem para comemorar no dia 31 de dezembro à meia noite é a vida. O fato de
estarmos vivos já é a certeza de que o mundo ainda não acabou e, portanto
enquanto houver vida haverá esperança e sonhos de mudanças.
Além do mais, não existe militância sem sonhos, assim como militantes que
não ouse sonhar em busca de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e
todas. Que em 2017 possamos unir os sonhadores e sonhadoras em busca da terra
prometida.
Paulo Freire certa vez nos disse: “Ai daqueles que pararem com
sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai
daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanha pelo profundo
engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de
exploração e de rotina”.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com
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