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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

As diversas crises de 2016

Como avaliar 2016? O que esperar de 2017? Um ano que presenciamos angustiados um dos maiores retrocessos que a história do Brasil já passou. De uma só vez o povo pobre e trabalhador perdeu sua representante eleita, seus direitos trabalhistas e o congelamento por vinte anos do investimento em Saúde, Educação e Assistência Social. Porém, como as Políticas Públicas são integradas, essas medidas afetarão em cascata, praticamente todo o universo público e principalmente a população que mais precisa.
O golpe em curso trouxe para a pauta nacional uma nova modalidade de divergência, acompanhada por um ódio de classe, plantado e disseminado pela mídia golpista. Não está se falando de divergência política partidária, mesmo sob a compreensão de que nos dias de hoje está difícil caracterizar um partido, sua matriz ideológica e seus reais interesses, mas de um enfrentamento que invadiu as ruas do país, sob o pretexto de caça aos petistas.
Por outro lado, há algo no ar além dos aviões de carreira, como dizia o Barão de Itararé. O que leva alguns indivíduos e indivíduas a abandonarem seus partidos de origem, após terem desfrutado a parte boa desses, sob o pretexto de que não foram ouvidos, notados ou ainda não reconhecidos como a última “bolacha do pacote” e que só eles e elas poderão salvar a humanidade nas próximas eleições? Como podemos chamar esse fenômeno em moda principalmente no PT? Oportunismo? Traidores da causa? Profissionais da política? 
Sei lá, me vem à cabeça inúmeros adjetivos, porém se faz necessário esclarecer que não me refiro de quem sai do PT para o PSOL, PCO, PSTU ou mesmo o PC do B, além dos que defendem a luta armada e pretendem, quem sabe, fundar o PLUA - Partido da Luta Armada, mas de pessoas que migram na calada da noite em busca de cargos ou de projeção política, as vezes às custas da miserabilidade da sociedade. 
O que se presenciou desde o início do ano foi uma enxurrada de barbaridades acontecerem, a começar pela destruição do Projeto de Participação Social proposto pela Presidenta Dilma, destruído pela maioria do Congresso Nacional que tem lado, cor, partido e principalmente dinheiro público desviado para financiar as mudanças que a elite vai determinando como essenciais.
Na sequência veio a construção do cenário do golpe. Algo milimetricamente pensado, muito bem articulado e elaborado a partir de argumentos convincentes voltados ao público jovem e para uma nação alienada que bailou em busca de vingança, não contra seus possíveis algozes ou contra a corrupção, mas pela possibilidade de extermínio do PT, de Lula e de Dilma, com a falsa ilusão de uma luta contra a corrupção e de que toda banalidade política, nasceu na era dos governos petistas.
Vale lembrar que só existem políticos corrutos em evidência porque uma enorme parte da sociedade também é corrupta e se coloca sempre a venda para quem pagar mais ou em troca de privilégios futuros.
Além dessas e outras desgraças impostas pelo governo golpista e seus aliados, para fechar o ano aí vem à aprovação da PEC da Morte, mudanças nas leis trabalhistas que enterrarão de vez a CLT e a tal Reforma da Previdência, que levará a Previdência ao seu fim. Uma grande parte de quem vive de salário, vai morrer bem antes de se aposentar. Um plano diabólico para o fim de direitos, conquistados com muita luta ao longo de mais de cem anos. 
Porém uma coisa não pode ser esquecida, que é a capitulação de grande parte da esquerda e o enorme vacilo dos governos de Lula e Dilma, que poderiam ter feito as reformas necessárias quando tudo parecia favorável. Claro que também poderia ter sido um fiasco, porém não foi tentado fazer e isso deixa um vazio entre o que não foi feito e o que está sendo feito agora à revelia de nossos interesses políticos, econômicos e principalmente sociais.
Para 2017 grandes pontos de interrogação: O que aconteceu com os movimentos sociais e com as entidades de classe? Que tipo de reação ainda poderá ser feita a partir do completo caos político? Que tipo de ser a sociedade moderna produziu nas últimas décadas? Como juntar os cacos sem um projeto político definido? Cadê as lideranças políticas e comunitárias, por onde andam? Como conviver com a República de Mandatos, que quer determinar o jogo, intervir nas instâncias partidárias e anular as possíveis lideranças?
O ano que se inicia nos fará conviver com uma sociedade moralmente abatida, individualizada em termos de interesses políticos e econômicos e principalmente infectada com a grave doença do analfabetismo político, que leva à alienação, ao apoio do fundamentalismo religioso, ao preconceito, a toda forma de discriminação e a venerar cegamente os inimigos políticos de classe, que almejam uma raça pura, sem negros, índios, homo afetivos, nordestinos e principalmente pobres. Talvez seja a hora de recomeçar do zero rumo ao resgate de nossas dignidades. Caminhar com a parte sadia da juventude que luta por seus direitos e principalmente por ideais.
Para não dizer que não falei das flores, a única coisa preciosa que se tem para comemorar no dia 31 de dezembro à meia noite é a vida. O fato de estarmos vivos já é a certeza de que o mundo ainda não acabou e, portanto enquanto houver vida haverá esperança e sonhos de mudanças.
Além do mais, não existe militância sem sonhos, assim como militantes que não ouse sonhar em busca de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Que em 2017 possamos unir os sonhadores e sonhadoras em busca da terra prometida.
Paulo Freire certa vez nos disse: “Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanha pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina”.

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

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