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domingo, 26 de março de 2017

Do Consenso de Washington à volta ao Brasil colônia

Você consegue fazer uma avaliação de conjuntura? Porque nos dias de hoje só os intelectuais se mostram aptos para essa tarefa? O que houve de tão estranho nessa mudança de concepção, visto que no passado, qualquer pessoa bem informada conseguia fazer uma avaliação com propriedade?

Comecemos essa conversa afirmando que qualquer avaliação de conjuntura que se preze nos dias de hoje tem que focar duas questões. A primeira em caracterizar a situação do Brasil como uma extensão da crise capitalista mundial, iniciada há alguns anos e vivendo seu ápice nos últimos três e a segunda o avanço da extrema direita em várias partes do mundo, caracterizada pelo nacionalismo e em alguns países pelo avanço ou retomada do neoliberalismo, mais especificamente em alguns países latino-americanos. Em ambos os casos com forte influência do fundamentalismo religioso, da maçonaria e instituições extremistas. Enquanto a democracia participativa e direta é atacada a representativa enganosa toma conta do cenário.

Há evidências de que esse fenômeno ocorreu e ocorre principalmente pelo vácuo deixado pela esquerda e pelos movimentos organizados. Ambos os setores recuaram ao longo do tempo e isso foi o suficiente para o avanço das forças conservadoras. Perderam o tempo de reação conjunta. 

O Brasil vive tempos mais sombrios do que nos tempos de FHC e isso representa a retomada do Consenso de Washington. 

Para quem não acompanhou a escalada neoliberal no Brasil, se faz necessário alguns esclarecimentos e leitura do livro “O Consenso de Washington” de Paulo Nogueira Batista, disponível em: http://www.consultapopular.org.br/sites/default/files/consenso%20de%20washington.pdf. Nele, o autor fala qual era o papel do Collor, FHC e principalmente da mídia no processo de implantação do neoliberalismo no Brasil.

O Consenso de Washington foi o nome dado a uma reunião ocorrida no final do ano de 1989 em Washington, que em tese, visava propalar a conduta econômica neoliberal com a intenção de combater as crises e misérias dos países subdesenvolvidos, sobretudo os da América Latina. Sua elaboração ficou a cargo do economista norte-americano John Williamson. Porém, a verdadeira intenção era planejar a implantação do neoliberalismo na América Latina e no Caribe, comandada pelos Estados Unidos.

As ideias defendidas por Williamson serviram de base do neoliberalismo nos países subdesenvolvidos, uma vez que depois do Consenso de Washington, os EUA e, posteriormente, o FMI adotaram as medidas recomendadas como obrigatórias para fornecer ajuda aos países em crises e negociar suas dívidas externas.

As principais recomendações do Consenso eram: Reforma Fiscal, Política de Privatizações em tudo que fosse estatal e Redução Fiscal do Estado (Redução de gastos com corte em massa de funcionários). Caso os países se recusassem a cumprir essas normas, encontrariam dificuldades de receberem investimentos externos e ajuda internacional por parte dos EUA e do FMI.

Qualquer semelhança com o momento atual não é mera coincidência e sim faz parte dos acordos e compromissos da direita golpista com os magnatas da terra do Tio San. Tentaram com Collor, mas o mesmo os traiu e por isso foi impitimado. O neoliberalismo se consolidou com FHC, que acabou fazendo muito mais do que seus superiores esperavam dele, porém essa saga foi bruscamente interrompida com a eleição de Lula e na sequência com sua reeleição e a de Dilma. Isso foi demais para os protagonistas neoliberais.

O impeachment de Dilma foi a resposta. Não dava mais para eles aceitarem mais um governo fora dos planos do Consenso. Dilma tinha que cair de qualquer jeito, para que fosse retomada a escalada de abandono do Welfare State (Estado de Bem Estar Social), a verticalização política e econômica e a volta da clássica da pirâmide social que tem um valor real, principalmente no mundo econômico, sem contar a necessidade do retorno do Exército Industrial de Reserva (que é o contingente de desempregados que serve de base para os arrochos salariais, a precarização do trabalho e as mudanças de regras, como é o caso das reformas em pauta pelos golpistas). 

A partir desse cenário, o que mais me impressiona é a completa falta de interesse de uma grande parte da sociedade pela política e mais ainda de algumas pessoas que se mostram como lideranças populares, no entanto apenas usam a política como trampolim para seus interesses. Algumas características comuns entre elas: descartam a formação política, ignoram a importância da organização popular e se digladiam entre si pela direção partidária ou de qualquer instância ou organismo, deixando claro que o que importa é o poder a qualquer custo. Ou se tem capacidade de intervenção pela base, ou qualquer tipo de ação sem popularizá-la se torna apenas meras conveniências dos agentes poder.

Avaliar uma conjuntura significa entre outras coisas, traduzir os códigos do poder, sob o ponto de vista ideológico, o que faz com que, mesmo num partido como o PT, composto por diversas linhas de pensamento, tenha diversas leituras para as possíveis saídas ou enfrentamentos a essa crise e ao golpe. Uma avaliação precisa da conjuntura é o ponto de partida para a organização da sociedade para seus enfrentamentos necessários.

Com base nisso, se faz necessário o entendimento, de que só se constrói uma unidade de luta contra o mesmo mal se a causa for a mesma, independente das leituras que se façam para o texto e o contexto do que se está lutando e contra quem. Os diversos cenários e os atores envolvidos são de fato os principais personagens, mas o que importa mesmo é o resultado final dessa luta e quem serão os beneficiados. Mudar uma sociedade para entregá-la a setores sectários, mesmo que de esquerda, é jogar novamente a população nas mãos de seus algozes. Se o lema é para o povo e pelo povo, se não for com ele próprio de nada servirá qualquer mudança que seja.

A luta constante de quem tem uma causa como referência de vida é ser escudo e servir de proteção contra todos e todas que se aproveitam das diversas situações para ludibriar, enganar, usar e fazer de massa de manobra, as pessoas com menor poder econômico, e desprovidas de compreensão política para saber quem e quem.

Sejamos prudentes no trato com as nossas pessoas, principalmente por sabermos que cada pessoa tem um tempo de amadurecimento e de compreensão de vida. Muitas delas morrem sem descobrir qual era sua missão e é esse o principal papel de uma liderança política. Ajudar essas pessoas a voltarem a sonhar e encontrarem a razão de suas existências.

A vida nos oferece situações para os ajustes necessários no ritmo de vida, mas quando não observamos, seja por descuido ou mesmo por desleixo, a vida nos impõe as regras e às vezes quando vemos já é tarde demais.

Abraço Fraterno a Todos e Todas
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)

Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social