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domingo, 10 de setembro de 2017

O que existe do outro lado da ponte?


Do ponto de vista conceitual, é possível afirmar que uma ponte é qualquer estrutura que liga duas partes, interrompidas por algum obstáculo.

Do ponto de vista político e mirando na tragédia política brasileira da atualidade, se torna muito fácil analisar a “ponte” do ponto de vista do cenário político. O tal projeto “Ponte para o Futuro”, chamado pelo PMDB de projeto da modernidade e materializado pelo golpista traidor-mor, não passa de uma pinguela de material deteriorado, separando a população de um poço repleto de maldades e rodeado de vampiros sedentos por sangue humano. 

Uma ponte que levou o Brasil independente do FMI e com Fundo Soberano de reserva, de volta ao subterrâneo das trevas passadas e do ponto de vista trabalhista de volta ao início do século XX. Uma passagem rápida ao universo neoliberal e a submissão completa da classe trabalhadora ao capital.

Que fique claro, que o tal projeto foi formatado durante o primeiro governo Dilma e lançado oficialmente no encontro extraordinário que o PMDB fez, antes mesmo das últimas eleições e deixando explicito já na época, que se tratava de um projeto neoliberal, entreguista e chegando a ser pior do ponto de vista da submissão ao capital internacional, até mesmo se comparado com o do PSDB e equivalente em vários aspectos ao da Marina-Itaú.

O que é inacreditável vem do fato de não ter acontecido um rompimento político de governo naquele momento, principalmente com o PMDB. Ao contrário. O vampiro novamente foi convidado a continuar como vice da Dilma e poucos dias depois das eleições, chefiou, com total apoio do o PSDB e aliados, o golpe em curso. Um folhetim de quinta categoria do ponto de vista do enredo, bem conhecido, mas de uma sutileza maldosa fantástica, que fez o Brasil voltar em sua história há quase um século. O país que do ponto de vista do desenvolvimento econômico estava na transição da Teoria Y para a Z, volta de vez para a Teoria X, num processo quase de escravidão absoluta do ponto de vista trabalhista e enterra todos os avanços do início do século XXI.

Um fator se destaca entre tantos outros. O golpe só se viabilizou e continua a se viabilizar, seguindo seu curso natural, principalmente devido a fragilidade política que a esquerda se encontra, além do vácuo deixado pelos movimentos sociais e sindicais, ocasionando o fortalecimento da direita e o surgimento da extrema direita organizada, que resultou na eleição de dois terços do Congresso Nacional como seus representantes.

Como explicar, por exemplo, que o patronato elegeu 75% de seus representantes em função dos trabalhadores e mesmo assim, uma grande parte dessa parca representatividade trabalhista seja representada pelas centrais sindicais que apoiaram o golpe?  Por isso a força da direita de exterminar direitos e impor derrotas uma atrás da outra.

Quero crer que essa “coisa” implantada na marra, em conluio com mais da metade do Congresso e conivência com parte do judiciário, tem o real propósito de servir de passagem de toda elite brasileira para uma nova casa-grande. Algo moderno e depois disso implodir a ponte para que a senzala Brasil não ouse, por um longo tempo, atravessá-la novamente. É a volta do passado a ameaçar o futuro. É a volta da pirâmide econômica como reza o Consenso de Washington.

Aprendi com a vida que cada crise tem lá suas experiências a serem tiradas e essa que envolve o Partido dos Trabalhadores não é diferente. Há de se aprender com os erros. Punir quem tem que ser punido e usou o partido para se beneficiar. Fazer uma autocrítica pública e nacional dos erros cometidos por essas pessoas e fazer uma defesa intransigente de todos e todas do partido que estão, injustamente sendo perseguidos.

Ao usarmos a figura da ponte como metáfora, podemos analisá-la a partir das nossas interpretações da própria vida. Nesse caso a ponte pode ligar o passado ao presente, o interior do nosso ser ao mundo real, ou ainda servir de contexto para falarmos do futuro. A ponte visa uma passagem. Um caminhar para seu outro lado e quem sabe uma mudança circunstancial em nossas vidas.

Que a única ponte que tenhamos que atravessar seja a que nos leva a uma mudança da sociedade atual, para uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. 

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

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