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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Como votou uma grande parte da população: o voto pelo voto, o ódio pelo ódio e consciência política zero



A partir dos resultados em nível nacional das eleições ocorridas no último dia 5, principalmente no que se refere à composição da Câmara Federal, não tenho a menor dúvida de afirmar que o Brasil deu um gigantesco passo para trás ou ainda um mergulho num futuro de aventuras, onde nem imaginamos onde tudo isso possa chegar. 

Com a alegação de que esquerda e direita não mais existem, o que é uma tremenda mentira e a de que todo político é ladrão, para que a população continue a odiar a política e os políticos, portando em quem votar está de bom tamanho, brasileiros e brasileiras elegeram uma das piores e mais conservadoras bancadas nacionais de Deputados e Senadores.

Desde a “bancada da bala”, composta por defensores da pena de morte, herdeiros da ditadura militar e de justiceiros, passando pela bancada da intolerância religiosa, encabeçada pelo Pastor Feliciano de São Paulo, aquele mesmo que lançou o Projeto de Lei da “Cura Gay”, apoiado por Malafaia um pastor que incentiva a violência generalizada aos homo afetivos, até chegarmos ao voto de Russomano e Tiririca como os mais votados do Brasil.

Só para termos uma ideia, quase metade da nova Câmara será formada por milionários, ou seja, por 248 deputados que têm patrimônios superiores a um milhão de reais, apenas os bens declarados, fora o que estão em nome de “laranjas” e de familiares. Isso significa 48% dos 513 deputados quem compõem o Congresso. Os números cresceram ao longo do tempo e os milionários pertencem à vários partidos, conforme os dados abaixo:



Segundo a reportagem do Portal G1, o eleito mais rico para a próxima legislatura é o deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR). O industrial declara possuir R$ 108,6 milhões. Entre os bens estão quotas de várias empresas em seu nome.


Ainda segundo a reportagem, no total, os parlamentares declaram um patrimônio de R$ 1,2 bilhão – o que representa uma média de R$ 2,4 milhões para cada um. A reportagem aponta ainda um dado no mínimo curioso ou mentiroso. Há quem diga não ter bem nenhum: são 11 políticos que declaram patrimônio “zero” ao TSE.

Ao vermos por Estado, o Estado de São Paulo puxa a fila com 32 deputados milionários, seguido por Minas com 26, Rio de Janeiro com 22, Bahia 20 e Pernambuco com 18. Não por acaso, São Paulo e Minas são os dois maiores colégios eleitorais do PSDB. A reportagem revela ainda que só o Estado do Amapá não terá deputado milionário eleito nessas eleições.

Apesar de 38,6% serem de deputados que nunca exerceram o cargo, pode-se afirmar que essa será uma das composições mais conservadores da história, com mais de 300 deputados que representam interesses muito particulares além dos partidos, como fundamentalistas religiosos, os megas empresários, o agronegócio e muitos outros lobies. 

O mais incrível é que a maioria deles foi eleita com centenas de milhares de votos exatamente dos setores humildes da sociedade, que serão enganados pois irão votar contra todos os direitos sociais conquistados ou ainda aos direitos trabalhistas existentes desde a década de 40.

Prova disso é a proposta de Marina de apoiar o decreto que abre geral para que as empresas de todos os seguimentos poderem terceirizar e quarterizar  à vontade, o que precariza o trabalho formal das categorias e a votação de uma lei que anulará o Decreto da Presidenta Dilma que cria a Política Nacional de Participação Social. O Decreto em questão pode ser acompanhado no endereço: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Decreto/D8243.htm.

Para se ter ideia da importância, a Política Nacional prevê a criação dos Conselhos Populares, em cada cidade, dando direito aos cidadãos e cidadãs de participarem ativamente da formulação, fiscalização e controle social das Políticas Públicas apresentadas pelos Executivos e Legislativos dos municípios, estados e da União.

A falsa alegação é a de que esse Decreto tira a autonomia dos eleitos, sejam vereadores, deputados ou senadores, como se a maioria desses representasse o povo e não seus escusos interesses. Quem tem medo do povo organizado é porque bom sujeito não é.

Tirar Dilma do governo e colocar Aécio com o apoio de Marina e de outras forças conservadoras, significa entre outras coisas, uma mudança de projeto significativa, com cada vez mais o encurtamento do Estado (Nação) nas suas funções sociais e a entrega completa do destino do povo brasileiro ao projeto neoliberal, onde o deus mercado será prioridade frente às necessidades da população.

É por isso que eles chamam o investimento em politicas sociais de gasto, assim como a aposentadoria como uma pensão para vagabundos. A prioridade deles é que os bancos e as empresas cada vez tenham mais lucros, que é justo na forma deles pensarem, porém isso não pode custar para milhares de brasileiros e brasileiras, a fome, a miséria, a pobreza, o desemprego e o investimento em tudo que é privado, como a educação e saúde, com o falso argumento de que tudo que é do governo é coisa do mal e tudo que é privado é um paraíso.

É por isso que eles não querem participação social, conselhos que discutam o papel da velha mídia (Rádios, TVs, Jornais e Revistas), assim como conscientização por parte da população de seus direitos e com isso poderem falar, transmitir e escrever tudo que querem, além de aprovar as leis que darão cada vez mais mordomia a elite brasileira em detrimento do sofrimento de milhares de pessoas. Usam para isso a mentira, a desinformação, os Malafaias e Felicianos da vida, além da impunidade, onde somente um partido paga o preço, enquanto os amigos dos amigos podem tudo.

Estamos diante de uma encruzilhada. Por um lado defendemos a ampla democracia, que em tese amplia os direitos da população, inclusive para tirar uma Presidenta que é vista pelo mundo como uma estadista que interviu na fome e criou inúmeras opções de crescimento da população, como o Minha Casa Minha Vida, Pronatec, Mais Médicos, Bolsas de Estudo para a população negra e os mais pobres, crescimento na economia com 20 milhões de pessoas empregadas com carteira assinada, entre tantos outros projetos e por outro estamos assistindo um discurso e uma prática homofóbica, machista, racista e discriminatória crescer aos nossos olhos e ainda com o apoio das instituições comandadas por falsos líderes.

O que fazer? Agir e reagir defendendo exatamente o que temos para defender. Expondo à população como foi o passado, o que aconteceu no Brasil nos últimos doze anos e lutando contra o ódio, a partir da solidariedade, união da militância e principalmente afirmando que só o bem pode vencer o mal e que a volta ao passado das trevas nos levará a um atraso de décadas como o Estado de São Pauloestá passando e pagará muito caro no futuro.

Só a reeleição de Dilma poderá garantir com que tudo que foi conquistado até o momento não escoe ralo abaixo e os incrédulos tenham que pagar com a dor, quando poderiam aprender por amor.

Antonio Lopes Cordeiro
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br

sábado, 4 de outubro de 2014

Carta aos amigos indecisos



Caros Amigos e Amigas

Amanhã será a festa da democracia transformada em eleições. Trata-se de um direito constitucional conquistado com muita luta, prisões, torturas e mortes, causadas por aqueles que queriam o Brasil só para eles. Só para a elite. O poder econômico e o poder militar decidiram por mais de 20 anos, a partir de um golpe, o que eles queriam para o Brasil e o povo ou assistia sem fazer nada ou era barbaramente perseguido.

É natural que grande parte da população ainda esteja indecisa em quem vai votar ou ainda se vale a pena votar. Primeiro porque infelizmente não se aprende na escola o direito de cidadania, assim como a importância da democracia e segundo pelo fato do massacre midiático ser violento. Todos os dias rádios, tvs jornais e revistas ligadas à velha mídia, entram casa a dentro da população e  a faz entender que tudo que é estatal é ruim, que a política não presta ou ainda que todos os políticos são ladrões.

É importante notar que o PT é o partido mais amado e odiado, na mesma proporção, pelo simples fato de ter intervido num processo que durou 502 anos. Elegemos o primeiro operário por duas vezes e vamos reeleger a primeira mulher como Presidenta. Não é algo simples para a direita raivosa e os que odeiam povo entenderem. Além disso, o PT é o único que tem bandeiras históricas em defesa do povo humilde e por todos aqueles que não voz na sociedade. Não é por acaso que a Presidenta Dilma criou um decreto rumo a uma Política Nacional de Participação Social. Ou seja, ter a população na discussão e defesa de qualquer política pública.

É evidente que grande parte dos políticos e dos partidos é exatamente o que falam. Desviam recursos para benefício próprio ou para o Caixa Dois de campanha, não tem projeto, não ouve a população, não respeita as instâncias representativas e de quebra aprova leis para seu grupo de apoio e não para a população mais carente. Porém, não são todos e generalizar a situação só afasta ainda mais o povo da política e de seus direitos.

O que tem que ser entendido é que apesar de tudo isso que relatei, temos muitas pessoas comprometidas eleitas e candidatas a um novo cargo. Como separar uma coisa da outra? Como não ir na onda perversa da imprensa que tem dono e candidatos?

Imagino que uma das formas seja lendo, se informando e principalmente participando das discussões futuras, cobrando do seu candidato um projeto participativo e um conselho de mandato.

Generalizar os fatos e a política é tão emburrecedor como achar que é só ir num tempo e rezar ou orar que está salvo. Fazem-se mediocridades e safadezas durante a semana e tentam se purificarem nos finais de semana. Somente a solidariedade contínua, que é a maior ideologia, pode colocar a sociedade em equilíbrio. Só o bem pode vencer o mal. Só a esperança pode vencer o ódio.

Em regras gerais, a boa política é algo muito simples que a mídia e os políticos de má fé, por razões muito particulares, fazem questão de esconder para confundir a cabeça do povo e assim afastar a possibilidade de qualquer interesse pela participação da sociedade nas decisões políticas. Basta saber que as eleições para os cargos legislativos, como Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual, são tratadas em último plano pela mídia e são essas pessoas, que uma vez eleitos, farão as principais leis que podem mudar as vidas dos eleitores para melhor ou para pior.

É importante que os mais novos saibam que antes de 2002 era impossível um jovem arrumar emprego, pois não havia. Ou ainda um jovem e negro estudar numa universidade pública, fazer um curso técnico e ter perspectiva de vida. Grande parte deles deixavam o Brasil em busca de oportunidades em outros países. 

Não havia um plano de capacitação técnica como o Pronatec que já formou mais de 8 milhões de jovens. Havia inclusive um Decreto Federal criado pelo FHC, proibindo o Brasil de construir Escolas Técnicas. Além disso, os jovens pobres não podiam sonhar com algo melhor para suas vidas, pois não tinham condições de pagar as faculdades particulares e não tinha um sistema de bolsas como tem hoje para a população mais pobre. É notório que esses jovens aproveitam as portas abertas e rendem muito mais do que aqueles que tudo cai do seu para eles.

É inegável que a Brasil é outro. Ao invés de dívida com o FMI é ele quem deve ao Brasil. Ao invés de empréstimos solicitados agora o Brasil tem um Fundo Soberano. Ao invés de desemprego estamos agora no pleno emprego. Ao invés de aluguel e favela agora a população pobre tem casa própria. A população pobre agora tem também mais médicos para lhes assistir. São por essas e por inúmeras outras coisas acontecidas que além de votar 13 de ponta a ponta peço sua atenção. Amanhã ou avançamos com Dilma para um futuro ainda melhor ou mergulhamos no passado novamente dos tempos de FHC e Collor. Lembre-se que André Lera Rezende, um dos mentores do golpe na poupança apoia Marina e todos os tucanos de FHC estão com Aécio.

O meu voto de amanhã não será só em pessoas e sim no projeto que elas representam. Projeto esse que em pouco mais de dez anos mudou a cara do nosso país, tirando-o do estado servil frente aos americanos e o mundo, pagando a dívida externa e fazendo com que milhares de pessoas possam trabalhar com carteira assinada, ter seus filhos estudando com bolsas, inclusive no exterior, morando numa casa própria, sendo atendida por um médico mesmo na periferia, trabalhando no campo e sendo assistido e centenas de outros benefícios, como é o caso da transparência no governo, onde é possível saber onde o dinheiro da população esta sendo aplicado. Para isso basta entrar no Portal Transparência Brasil.

É por tudo isso que votarei 13 de ponta a ponta, destacando Dilma, Padilha e Suplicy e voto assim porque não quero um Brasil só para mim.

Quando você entrar na cabine de votação lembre-se apenas que seu voto de amanhã será um cheque em branco assinado para quem você está delegando como seu representante.

Boa sorte e nos encontraremos nas ruas comemorando a vitória.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br

domingo, 28 de setembro de 2014

A paixão da militância por uma causa além da vida partidária



Militância e Causa são duas palavras infelizmente totalmente desconhecidas pelo grande público. Tanto o povão, aquele educado pela vida global, principalmente através das novelas ou mesmo grande parte da juventude atual, agem por impulso ou ainda pela pura emoção, com total desconhecimento do processo histórico, político, econômico e social do País.

O que é ter uma causa? Qual sua importância? Você tem uma causa para lutar?

Vamos começar essa conversa afirmando, que no nosso caso que nos consideramos alinhados a construção de uma sociedade justa, fraterna e igual para todas e todas, que uma causa está intimamente ligada à concepção ideológica de quem a representa. Na verdade em regras gerais, uma causa está ligada à manutenção ou ao enfrentamento ao sistema. No primeiro caso podemos ser cúmplices por ação ou omissão e no segundo somos considerados subversivos e sofremos com a cólera dos “coxinhas”, da direita raivosa e principalmente do PIG – Partido da Imprensa Golpista, que tem seis donos e lado que não é o nosso.

A importância de se ter uma causa, vem primeiro da importância de ser ter um projeto da própria vida e segundo do fato desse projeto ser focado para a solução dos problemas econômicos e sociais, onde o ato de servir seja o principal elemento.

Como todos sabem me tornei em agosto último um sexagenário, aprendendo com o passado, analisando e participando do presente de forma ativa e de olhos bem atentos para o futuro, que será o que a maioria formatar. 

Certa vez ouvi numa palestra, que a única coisa que deixamos ao sair dessa vida é uma história de vida. Isso nunca mais me saiu da cabeça e algumas perguntas se tornaram frequentes no meu dia a dia a partir dessa constatação, tais como: Como poderia definir a minha história? Mudaria algo que ocorreu? O que falta para completar? Dá para definir as melhores e as piores ocorrências?

No dia do aniversário, por alguns instantes fiquei pensando como explicar para um(a) jovem que não tem nenhum projeto de vida, o significado de uma data como essa. Meu primeiro ato foi agradecer a Deus pela vida. Agradeci também por tudo que já fiz e principalmente por ter descoberto ao longo desses sessenta anos, o quanto é maravilhoso servir. Servir como um ato espontâneo de puro humanismo, como um valor absoluto e como parte do meu projeto de vida. Ou seja, servir apenas pelo prazer de servir.

O ato de servir é tão forte, que mesmo uma pessoa com atitudes suspeitas contra nós no nosso dia a dia, tremerá na base ao oferecemos ajuda. Provavelmente por um instante ela ficará sem chão, pois jamais imaginará que você à sua frente está lhe oferecendo um ombro amigo ou ainda uma proposta de solução para alguns de seus problemas. Servir e agradecer. Agradecer e servir. Simples assim.

Outra análise ficou por conta da minha vida política e social. Fiquei a pensar que apesar de estar há mais de 30 anos, ou seja, mais da metade da minha vida filiado a um partido, que é amado e odiado na mesma proporção, fui descobrindo aos poucos o quanto é importante ter uma causa que mova nossas vidas. Algo que valha a pena viver. Causa essa, que em sua essência seja muito maior do que o próprio partido onde estamos filiados. Em última análise, faria tudo novamente, apenas com pequenas alterações.

Fico pensando também que a luta pela liberdade e pela igualdade deveria ser o ponto de partida para qualquer manifestação humana, uma vez que a solidariedade deveria ser a maior das ideologias. Que sociedade pode ser reinventada se não tiver o ser humano como centro de todas as ações? 

Infelizmente a maioria da população não tem uma causa para lutar e muito menos para viver. Várias razões intencionais afastaram e afastam essas pessoas do ato de pensar e assim também não conseguem nem sonhar por uma vida melhor, logo não tem um projeto de vida definido. Falta-lhes propósito de vida. Agem simplesmente como na música de Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar, vida leva eu”. Isso faz das pessoas mais frágeis presas fáceis para os oportunistas de plantão, seja na política, nas religiões ou em qualquer situação onde apenas um fala e os demais tem apenas que balançar a cabeça dizendo sim.

Estamos atravessando um período escasso de lideranças. A principal missão de um líder de verdade é investir em seus liderados para que esses venham a lhe substituir no futuro, sem a menor preocupação de barrá-los ou ainda de se mostrar mais inteligente do que eles. Esse aspecto coloca em xeque a representatividade cega, seja em que espaço for, principalmente num processo eleitoral. Só pode ser considerado um representante de verdade, ou ainda um líder, aquele ou aquela que for escolhido de forma consciente e defensor de um projeto construído a várias mãos.

A extrema maioria dos políticos brasileiros quer o povo bem distante de suas decisões e para isso necessitam que a população odeie a política e os políticos, pois como o voto é obrigatório e apostam na ignorância política, pois saberão que daqui a dois ou mesmo quatro anos, muita água passou por debaixo das pontes e a mídia junto com a propaganda trará tudo novamente como se fossem as águas de um grande rio chamado democracia. Apesar de tudo isso, não deixa de ser bela a festa da democracia nas eleições.

A partir desse contexto confuso se faz necessário ajudar as pessoas mais simples a sonhar e fazê-las acreditar, que mais vale um voto consciente, mesmo que seja num candidato que vai perder, do que votar porque o pastor está mandando ou para não perder seu voto, com aquela velha história de que temos que levar vantagem em tudo. É bom que se entenda que em muitos casos, ganhar é perder e perder é ganhar.

Só será possível caminharmos para uma mudança efetiva na sociedade, quando cada brasileiro e cada brasileira tiver uma causa que faça valer sua própria vida.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O que chamam de poder quando se chega a um governo nada mais é do que a manutenção do sistema

Já dizia o velho Marx que num País capitalista o que determina é o econômico. Alguém duvida disso? É só acompanhar atentamente as entrelinhas do poder, que perceberá que o que se movimenta é apenas o grau de inclinação da pirâmide, mais fechada ou mais aberta, porém ela sempre estará lá. A pirâmide é a figura que revela a existência do sistema capitalista.

Ontem quando voltava de viagem de mais um curso de Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo no Estado do Pará, vim conversando com um pequeno empresário do ramo de modas, todo feliz, pois acabara de chegar de Milão, onde tinha ido à passeio, além de participar de uma feira do seu segmento.

Foi uma conversa amistosa, pois estava mais para observar do que fazer defesas enfáticas do que acredito, pois nesses casos é como bater em ferro frio.

Ao me perguntar no que trabalhava e eu expor que trabalhava ministrando cursos nas prefeituras administradas pelo Partido dos Trabalhadores, a primeira coisa que me falou é que não gostava de política e que ia votar em branco por não acreditar em ninguém que era candidato, pois todos eram ladrões. Até ai, fiquei pensando, dos males o menor, só faltava ele dizer que ia votar na Marina por defender a autonomia do Banco Central ou ainda em Aécio porque trazia a mordomia da privataria para alguns privilegiados, como era no passado.

Na viagem que fizemos de São Paulo a Campinas, ele começou a se posicionar contra o Programa Bolsa Família, que na sua visão sustenta vagabundos, principalmente pelo fato de brasileiros de baixa renda não gostar de trabalhar, pelo fato de dar o peixe e não ensinar a pescar e ainda que o Bolsa Família sustenta esse povo com o dinheiro público. Para esse argumento ele exemplificou alguns países da Europa, que não dá o peixe e sim ensina a pescar.

Ele defendeu tudo isso, mesmo eu dizendo que não se trata de doação e sim transferência de renda, que o principal objetivo do Programa é que a pessoa venha a devolver o cartão em função da melhoria de vida, pois todos os programas sociais tem início por esse público e que 100% da responsabilidade do gerenciamento do Programa é de responsabilidade dos prefeitos e prefeitas e mesmo que muitos desses usem o Programa como moeda de troca, não dá para generalizar, além de visar à inclusão dessas pessoas novamente na sociedade.

Outra discussão apaixonada que defendeu foi sobre as questões trabalhistas, onde ele expôs ser contra o FGTS, Seguro Desemprego, Salário Família e principalmente INSS. Ele defende que tudo isso poderia ser entregue nas mãos dos trabalhadores e cada um fazer o que bem entender com isso. Dizia ele: Quer se aposentar no futuro? Pague a conta. A única coisa que ele concordou foi de ter um salário mensal e férias. Os demais benefícios e direitos, em sua visão, são invenções do mundo do trabalho que vieram para prejudicar a vida do empresariado.

Outra questão por ele levantada é sobre a carga tributária, onde em sua opinião um Imposto Único seria a solução (o que concordei com ele), assim como que não deveria ter funcionários públicos. Ele defende a ideia de que as prefeituras e os estados deveriam gerar seus próprios recursos e contratar empresas para os serviços. Ou seja, um Brasil privatizado. Esse na verdade é o sonho de pequenos, médios e grandes empresários. Acabar com todos os direitos trabalhistas e de quebra exterminar através da fome, os pobres que atravessarem seus caminhos. Ele até chegou a brincar dizendo que algumas doenças são fabricadas em laboratório, mas que não deixava de ser necessário, pois num futuro próximo não teria mundo para todos. Disse-lhe apenas que para esse tipo de caso, Fidel resolveria com el paredon.

Minha contra argumentação foi a de que é certo que a corrupção é de fato um dos principais males da atualidade, porém, para que a coisa possa ter o mínimo de senso de justiça, tanto corrupto como corruptor tem que sofrer as devidas punições e isso só não ocorre devido aos desvios do próprio sistema. Expus a ele que a sonegação representa na atualidade três vezes mais do que a corrupção, além de informar sobre a Lei Anticorrupção, porém ele me disse que isso só ocorria porque os empresários são obrigados a fazer, tanto devido à pressão que sofrem pelas questões trabalhistas, como também pela enorme carga tributária presente em todos os produtos e atividades.

Vale ressaltar que tais argumentos vieram de um pequeno empresário, que age com os mesmos equívocos da classe média querendo imitar os da classe acima. Fico imaginando o que pensa o grande empresário, aquele mesmo que na ditadura financiava a matança e a tortura de quem enfrentasse o sistema e a ditadura.

É por tudo isso que relatei e por outros fatores presentes na relação entre governantes e governados, ou ainda entre o capital e trabalho, que tenho afirmado nos meus encontros com os gestores das prefeituras, que num País de economia capitalista, não há como ter um Estado fraco, pois caso contrário é o mercado que vai determinar as regras. Quanto mais desemprego mais autonomia do mercado, quanto mais sonegação mais lucro e quanto menos Estado mais ingerência do mercado nas questões do Estado. Isso não quer dizer que a carga tributária seja injusta, porém se isso fosse revertido para a população em termos de qualidade de vida, não haveria um problema maior.

Um exemplo bem interessante vem do tal do terceiro setor, que se instalou no Brasil em decorrência do encurtamento do Estado, em virtude da onda de privatização, ocorrida no governo Collor e FHC. Ou seja, para agir em substituição do Estado em suas funções sociais. Além disso, tinha outro propósito, substituir o militante pelo voluntário, que apenas segue as normas das ONGs sem nenhum questionamento. Alguns desses fazem todo tipo de maldade durante a semana e nos finais fazem benevolência, como uma catarse em suas vidas.

Um dos grandes problemas que vivemos no setor público é que inúmeros governantes se apoderam dos recursos, ou em benefício pessoal ou ainda para seu “caixa dois”, visando sua reeleição ou sua sucessão, através de indicado seu.

Numa de suas palestras, Mário Sergio Cortela afirma: “Todo poder que ao invés de servir se serve é um poder que não serve”.

Há um enorme equívoco em achar que chegar a um governo se chega ao poder e mais ainda que quando se chega aos governos, se repete, em nome da desculpa de que a população não quer participar do processo, todos os vícios que a velha política paternalista sempre fez.

Na minha visão não há desculpas, assim como não há perdão para esses desvios. Quem usa a máquina pública para seu bel prazer, teria que ser exemplarmente punido, seja de que partido for. Porém o que se ver é a impunidade ou a parcialidade da justiça, o que faz com que a impunidade reine tranquilamente do País.


A única coisa que o pessoal que pensa assim não consegue entender é que o poder é emprestado pelo povo.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br