Fiz
questão de escrever sobre esse incômodo assunto, vários dias após o processo
eleitoral que deu a vitória a Dilma Rousseff e ao escrever não sei se faço apenas pela
questão ideológica ou por uma reação emocional, tamanha as loucuras praticadas
e ocorridas no processo eleitoral e após as eleições.
Qualquer
pessoa com mais de quarenta anos, viveu nem que seja em parte, o terror dos
anos de ditadura militar e também qualquer pessoa com o mínimo de bom senso,
mesmo que não seja ou ainda nem tenha sido um militante político, sabe que quem
defende ditaduras é contra o povo e, portanto faz mal à sociedade, seja essa
ditadura de direita ou de esquerda.
É
inacreditável o que estamos vivendo no Brasil da atualidade, assim como é inaceitável,
sob qualquer aspecto que em pleno século vinte e um, sob o pretexto da
democracia vista sob a ótica do vale tudo, loucos, fundamentalistas,
homofóbicos, racistas, fascistas e tantos outros paranoicos juntos, defendam um
golpe militar e o enterro da democracia que tanto custou aos militantes
brasileiros e da América Latina.
Em
vários países latinos americanos, milhares de pessoas foram presas, torturadas,
inclusive a nossa Presidenta e inúmeras delas mortas pelas mãos dos monstros
que serviram à ditadura. Monstros esses, que se constituem na prática, pais
dessa raça que está nas ruas de forma enlouquecida. Aqui mesmo no Brasil, muitos
dos que lutaram contra a ditadura, depois de torturados e mortos, foram jogados
aos peixes ou enterrados de forma clandestina e até hoje suas famílias estão à procura dos corpos. Além disso, muitas
crianças que seus pais foram assassinados foram extraviadas para outros países
e muitas delas sequer sabem sua história.
Só
para se ter uma ideia do que estou falando, no governo da Prefeita Luiza
Erundina, foram encontrados mais de mil corpos enterrados em valas no cemitério
de Perus e até hoje essas ossadas recolhidas esperam por uma laudo que as
identifiquem. Essas pessoas assassinadas, inclusive muitas crianças, jamais
serão identificadas, pois seus algozes vivem e estão espalhados por várias partes
do país e seus herdeiros encorajados pela impunidade, saem às ruas pedindo a
volta de quem os produziu.
Os
monstros revelados nesse processo eleitoral, que pensávamos estarem mortos e enterrados,
junto com quem eles assassinaram, surgem como zumbis como se tivessem saído
daqueles filmes que falam das doenças de guerra desenvolvidas em laboratórios,
aterrorizando passado, presente e futuro das pessoas que lutaram e lutam por
liberdade e justiça, em busca de uma sociedade justa, fraterna e igual para
todos e todas. Como se fossem clones, esses monstros vão se reproduzindo sem
alma, sem vida e sem futuro, alimentados apenas pelo ódio e pela vontade de ter
uma sociedade de raça pura, tal qual defendia Adolfo Hitler no passado sombrio
da segunda Guerra Mundial.
Eles
agem como aquelas revistas golpistas que ficam na sala de espera dos consultórios
médicos. Simplesmente vão vomitando informações contraditórias, mesmo que nada
saibam sobre o assunto, apenas apostando na confusão mental do eleitor e da
população desinformada. Falam de intervenção militar, de golpe e de recontagem
de votos, desacreditando do resultado das eleições, apenas e tão somente porque
perderam. Nada falam da estranha vitória do tucano governador aqui em São Paulo
no primeiro turno, assim como da falta de água que o candidato deles, recusando
a ajuda do governo federal produziu.
Onde
estava esse povo? O que de fato eles defendem? Como conviver harmoniosamente
com eles, como se nada tivesse acontecido, após as eleições? O que deve ser
feito para que voltem às tocas ou aos seus caldeirões? Isso é o que se pode
chamar de democracia?
Se
já não bastassem os malucos candidatos do primeiro turno, o mais incrível foi
ver que um a um foram se juntando e assumindo a candidatura tucana e formando um
verdadeiro “circo dos horrores”. Fico imaginando que o pior ainda poderia ter
ocorrido, caso o candidato tucano viesse a ser o presidente, pois iríamos ver
muitos deles como ministros e ministras ou colaboradores de um governo entreguista,
neoliberal e, sobretudo sem moral, visto que o então senador candidato tem mais
de quarenta graves denúncias pessoais sobre seus ombros, além da intensão de
compor um governo com quem quebrou o Brasil três vezes e deu um golpe na
poupança do povo brasileiro.
É
obvio que como pesquisador, nem devo e não estou generalizando, afirmando que
todos que apoiaram o candidato tucano, sejam do mal ou que sejam também
defensores de uma raça pura branca, de elite e principalmente sem negros,
índios, homossexuais ou pobres, mas o próprio fato deles compactuarem com todos
esses segmentos e com as barbaridades denunciadas e várias delas comprovadas do
candidato e não reagirem contra, os coloca numa situação delicada e cumplices com
todas elas. Se não fazem parte do “circo dos horrores”, se não são golpistas,
se não são fascistas que denunciem também como estamos fazendo, do contrário
entrarão para história como integrantes de mais um triste capítulo, onde uma
eleição democrática, em nome do ódio corre o risco de ser descaracterizada.
Agora
tem uma coisa: depois dessas eleições não me venham mais com esse papo de que no
Brasil da atualidade não existe mais luta de classe e que esquerda e direita não
existem mais, pois se não existiam, que é uma mentira, pois sempre existiu, o
processo eleitoral trouxe tudo à tona novamente e aquele papo de modernidade
construído à base de choque de gestão austera nada mais é do que uma baita
enganação para que o povo humilde acredite que elegeram seus representantes. O
Brasil só é respeitado no mundo hoje porque um trabalhador e uma mulher, a
partir de convicções forjadas a várias mãos romperam com a cultura da Casa
Grande e deram voz à Senzala.
Ao
analisar uma das pesquisas mais ou menos confiável nesse processo eleitoral,
ficou bem claro que as pessoas com melhores rendas e recursos acumulados votaram
no tucano e quem tinha menos posse e melhorou de vida nos últimos anos votou na
candidata petista. A contradição esteve com o bloco do meio, aquele setor que a
mídia chama de nova classe média e nós chamamos de nova classe trabalhadora.
Não tinham nada e agora tem emprego com carteira assinada, filhos na faculdade
com cotas, casa própria e tantos outros benefícios. Aí a dúvida: seguem os
ricos porque é chique ou seguem o pessoal de baixa renda de onde vieram? Esse
na verdade sempre foi, é e será o grande dilema da classe média. Imita quem nunca
foram e fingem que sempre tiveram. Isso na prática se constitui em mais um
preconceito. Há uma crise de identidade permanente nesse setor, pois não
consegue determinar quem de fato é.
Todos
esses fatores caracterizaram as eleições de 2014 como uma eleição atípica,
principalmente pelo papel desenvolvido pela militância das ruas e das redes com
um papel fundamental, para o bem e para o mal. Foi um verdadeiro campo de
batalhas. Por mais fria que parecesse ser as redes sociais, compostas na
maioria por amigos virtuais, onde em muitos casos nem se sabe exatamente quem são,
a identidade ideológica ou ainda a paixão do momento nos aproximou. De um lado
robôs e paranoicos pregando “Fora Dilma”, sem nenhuma convicção do porque ou
ainda porque “cargas d´água” estavam apoiando um candidato tão contraditório e
do outro lado, ruas e redes na mesma sintonia formavam a Onda Vermelha, uma
onda direta dos corações.
Pelo
conteúdo ideológico contigo no processo eleitoral e pelo ódio disseminado,
alguns amigos foram perdidos, talvez sem volta, pois não dá para ser chamado de
“petralha”, “ladrões”, “bandidos”, “corruptos” e outros adjetivos sem reagir. Da
minha parte nesse louco processo eleitoral, só consegui respeitar minimamente quem
eu sabia que estava votando nos adversários por convicção, mesmo sabendo que
somos de dois mundos completamente diferentes, até mesmo porque lutamos pela
democracia. Porém, quem banalizou o momento, enfrentei com veemência quem
destilava o ódio e atuei como um militante de uma nobre causa, na defesa de
tudo que foi construído nos últimos doze anos, em favor da população mais
necessitada e atuei assim porque não penso só em mim.
Sabemos
se tratar de uma luta ideológica, mas a extrema maioria da população não. Sabemos
o que está em jogo, mas eles nem sonham. Sabíamos em detalhes a diferença dos
dois projetos, mas grande parte da população foi e está sendo induzida por
falsos pastores, por falsos religiosos e aproveitadores de plantão, além da mídia golpista pertencente a seis família abastadas, que defenderam e defendem todos aqueles que se colocam contra a participação social e a organização popular.
O
Estado é laico, mas as igrejas e seus ditos líderes não. Em tese, não teria
nenhum problema se fossem abertas as oportunidades para todos os candidatos
apresentarem suas propostas, mas não dá para aceitar, padres e pastores do tipo
malafaias e lucianos, pregar que Aécio é do bem e Dilma é do mal, além de pregarem
ódio homofóbico coletivo. Iremos reagir cada vez que isso vier a acontecer.
Cheguei a ouvir de muitos alienados, que quem vota em Dilma ou vai para o
inferno como pregava alguns falsos pastores ou ainda que serão excomungados
pelo Papa. Santa ignorância! Que baita lavagem cerebral!
Porém,
que fique claro, que apesar de todas essas loucuras, podemos afirmar que foi
uma eleição didática do ponto de vista político. Capaz de deixar claro, não só
a diferença ideológica entre os dois projetos em disputa, mas principalmente
por revelar o que pensam os apoiadores de cada lado, o que são capazes de fazer
e o tamanho do ódio e preconceito escondidos até agora e que graças às ruas e
as redes sociais foram desnudados.
Aprendi
mais do nunca que ser petista é de um lado ser xingado por homofóbicos,
racistas, fascistas, fundamentalistas, preconceituosos e aqueles que odeiam
negros, homosexuais, índios, nordestinos e principalmente os pobres, mas de
outro ser amado por milhões de militantes que lutam por um país justo, fraterno
e igual para todos e todas, sem a necessidade de perguntar a raça, a cor, a
religião ou o time que torce. Os que vieram ao mundo para mudá-lo.
Enfim!
Ser petista é surfar na Onda Vermelha, mesmo sem saber nadar, pois sabemos que
no meio desse oceano chamado sociedade, milhares de olhos estarão atentos e
milhares de mãos estarão sempre prontas para a solidariedade.
Que
a liberdade seja plena. Que a democracia perdure e consiga sair das campanhas e
invadir as ruas da cidade, dando voz e vez ao povo.
Que venha o Plebiscito por amplas Reformas Políticas e que venham os Conselhos Populares para dar voz a quem sempre delegou sem saber o que.
A luta por mais direitos sempre será bem vinda, porém as manifestações golpistas jamais terão nosso apoio.
Que venha o Plebiscito por amplas Reformas Políticas e que venham os Conselhos Populares para dar voz a quem sempre delegou sem saber o que.
A luta por mais direitos sempre será bem vinda, porém as manifestações golpistas jamais terão nosso apoio.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão PúblicaFundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br
Toni. Muito obrigado por tirar um peso das costas. Sou Garanhuns e morei muitos anos em sampa e você descreveu toda uma vida que vivi. Sai de sampa pq ja não aguentava a falta de respeito. Educação. Solidariedade e amor ao nosso NORDESTE. LAMENTAVEL E AO MESMO TEMPO OPORTUNO AS ELEICOES. PQ MOSTRARAM MUITOS QUE ERAM DISFARCADOS.
ResponderExcluirQuero agradecer e pedi permissão para compartilhar. Deus abençoe .
Olá Kenedy
ExcluirSou de Belo Jardim e já sofri muito por essas bandas.
Porém hoje, podemos caminhar de cabeça erguida. Apesar de alguns nordestinos terem se androgenado, muitos mantém a tradição e são leais companheiros das causas que comungamos.
A vida continua e como falei, a questão não pe geográfica e sim de órdem política e social. Na nossa terra também temos os chamados "coxinhas" e também os racistas.
A "guerra" que se estabeleceu é midiática, os com mais de 40 viveram a ditadura...porém uns nem perceberam, pois faltou esclarecimento do que estava ocorrendo...e não foram poucos....para esses basta lembrar com saudosismos de como ganhávamos dinheiro na época...o desenvolvimentismo eufórico...não sabiam de onde vinha o dinheiro que financiava o "progresso", que tinha um financiador...o FMI que alienou o parque industrial e suas vertentes, tornando a massa trabalhadora e empresarial brasileira dependente de decisões financeiras externas, mesmo sem saber...não podiam (e parece ainda não poder) participar das decisões politicas econômicas, sociais, educacionais...o representante politico já era tratado como coronel...mandatário...e parece permanecer essa tradição, enraizada nos costumes, na forma da troca de favores, do levar vantagem por que é amigo do amigo do politico, do rouba mas faz... Enfim...ainda hoje os quarentões não levam muito a sério isso de novas tecnologias...salvo se tiver poder aquisitivo e conseguir pagar para se esquivar de tantos vírus que circulam na rede pegando os desavisados causando graves transtornos...de uma internet cara, de tantos programas e aparelhos piratas, que não possuem nenhuma garantia...da comunicação que ainda é seletiva, que por isso custa muito caro. Teríamos que nos preparar para a época do fogo, da comunicação presencial num mundo que se apresenta táo pequeno, mas que falta tempo para uma reunião...A comunicação via internet custou muito caro para a elite...os militantes que conseguiram se manter na campanha virtual, apesar de minoria em relação a mídia golpista, conseguiram se organizar de uma forma mágica, corajosa e apaixonada convencendo a maioria dos eleitores, se fortaleceram de forma aguerrida, e derrotaram o dragão do mal, pelo menos por enquanto...apesar do numero de "curtidas" e membros que possuíam e possuem em suas comunidades e paginas reacionárias que parecem crescer a cada dia...
ResponderExcluirNão temos outra alternativa se não voltarmos às bases, agora mais fortalecidos, pois não temos dúvida, e ai daquele que não acreditar no poder de convencimento dos canais virtuais. Esses mesmos canais precisam se ampliar, na velocidade que pede esse tempo, no desenvolvimento de estratégias que estimule a participação do povo, do trabalhador individual até os grupos sociais organizados, da sociedade empresarial,aos grupos de bairro e lideranças de rua, passando pelas centrais sindicais e todos os orgãos dos trabalhadores. O PT precisa inovar neste novo tempo, perceber essa mudança...estimular a participação popular e para isso só precisa de uma coisa...defender os interesses e os direitos do povo brasileiro. E isso.
Cada vez que decidimos comentar sobre as eleições de 2014 surgem novas visões do submundo da oposição à Dilma.
ResponderExcluirOlá Assis.
ExcluirProvidencial seu comentário. É exatamente isso que penso.
Nada mudará se o povo não estiver à frente.
Temos que implantar urgentemente a Política de Participação Social.
No curso iremos falar da criação dos Fóruns e aí ficará mais fácil o entendimento de por onde começamos.
Fiquei muto contente com a repercussão desse texto.
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