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terça-feira, 28 de outubro de 2014

O Brasil está de fato dividido?



Passado o sufoco da campanha, o nervosismo do medo de perder as eleições justamente para o setor que privatizou o país e só cuidou da elite e a euforia de mais uma vitória, chegou a hora de fazer minimamente uma breve análise desse processo eleitoral e o que poderão ser os próximos passos para os que militam por uma causa política e social.

Os resultados dessas eleições, se não forem bem digeridos como uma alimentação necessária da democracia e não como a última opção democrática, pode nos levar a interpretações e práticas pra lá de absurdas, ou ainda sem a menor racionalidade.


É claro que como um nordestino que se preza e tem vergonha na cara, também estou com a “faca nos dentes” devido ao desrespeito, racismo e tamanho preconceito cultuado por fundamentalistas e alienados tanto da elite como da população pobre que quer imitar a elite. Como petista, não consigo entender como uma grande parte da população não consegue entender que melhorou de vida, quando antes nenhum trabalhador podia financiar uma casa pela Caixa Econômica, ter um filho numa faculdade e muito menos viajar de avião, entre tantos outros avanços que o país teve.

Faço parte de um dos milhares de famílias que foram obrigadas a deixar sua terra natal e vir para São Paulo em busca de sobrevivência, por pura falta de opção e de políticas públicas econômicas e sociais. Assim como também outros milhares de crianças nordestinas e pobres, sofri muito na minha infância em São Bernardo do Campo, também por preconceito. Porém, a partir do momento em que comecei a participar das Comunidades Eclesiais de Base, da vida sindical e posteriormente da vida partidária no Partido dos Trabalhadores, descobri que a questão não era geográfica e sim de ordem política-ideológica, pois os pobres do sul não são diferentes dos pobres do norte e nordeste e tampouco o racismo daqui seja diferente de qualquer parte do mundo.

Hoje considero São Paulo parte da minha vida e outras partes do Brasil como parte da vida de todos os brasileiros. O ódio, preconceito, racismo, homofobia e tantos outros comportamentos desprezíveis usados nessa campanha, fazem parte da reação daqueles e daquelas que sempre tiveram e não suportam dividir ou ainda dos que não tem e acham que quem estar tirando deles é a classe de baixa renda. Tudo isso impulsionados pela falta de solidariedade. Muito desses ou dessas que estão nesse time, fazem maldades de segunda a sábado e no domingo rezam, oram e fazem benevolências como voluntárias, como se a verdadeira missão da vida fosse isso. A vida em comunhão requer muito mais. Essas pessoas agem como se tivessem ainda na Casa Grande em oposição à Senzala que resolveu dar seu grito de liberdade.

É nesse cenário que nascem todas as desavenças. É dessa forma de pensar que nasce a arrogância e a discriminação e é por onde brota principalmente a raiz da corrupção. Muitas dessas pessoas que bradam por justiça, acham normal corromper um servidor para que o mesmo retire do sistema de uma prefeitura seu nome evitando uma multa de trânsito, por exemplo. Ou ainda, se empresário, “molhe” a mão de um servidor para que sua empresa possa ganhar uma concorrência. Isso para eles não é corrupção e sim uma necessidade de sobrevivência. A Presidenta Dilma interrompeu esse ciclo quando sancionou a Lei 12.846/14, chamada de Lei Anticorrupção, que pune corrupto e corruptor.

Vendo e assistindo esse “circo dos horrores”, sem exercer minha prática usuária de pensar, minha vontade inicial é pegar a música de Ivanildo Vila Nova, que por sinal é parente da minha esposa, “Nordeste Independente” e começar uma luta no país pela divisão do nordeste, exatamente como está na letra da música.

É claro que se trata de uma atitude tão insana como a deles que de fato propõem essa divisão, principalmente porque sabemos que a questão é político-ideológica e esse mesmo preconceito existe em todas as partes do Brasil e do mundo. Os fundamentalistas que militaram nessa campanha e espalharam o terror não é azar só nosso, pois milhares deles também existem em várias partes do mundo. São agentes da luta de classe. Lutam para ter um país só deles: sem negros, sem homossexuais, sem os índios que expropriaram suas terras, sem gente que pensa e, sobretudo sem pobres com direitos, pois os sem direitos eles querem para fazer o trabalho pesado e menos qualificado, além de muitos que ainda os querem como escravos. Não aceitaram até agora a Lei Áurea.

A militância política nos faz caminhar e a luta por uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas nos une. Precisamos em nome de um projeto maior termos muita calma nessa hora de provocação e lembrar que quem perdeu foram eles. O projeto que defendemos tem mais quatro anos para ser aprimorado e internamente temos tempo para ajustar o partido de acordo com os anseios das ruas e da onda vermelha.

Tenho plena confiança que o Brasil não está dividido e sim contaminado pelo ódio e pela intolerância. Muitos dos que votaram contra Dilma são pessoas de bem e foram enganadas pelo terrorismo político exercido nos últimos doze anos pela mídia golpista, pelo fato de não terem nenhuma informação e beberem da fonte dos algozes que promoveram a ditadura no passado e privatizaram o país na era FHC e levaram o dinheiro para bem longe, como está escrito nos Livros: “A Privataria Tucana” e “Brasil Privatizado”. Esse público que foi usado por eles não é para ser desprezado e muito menos combatido e sim conscientizado.

Portanto, se faz necessário que ampliemos os canais de comunicação, que levemos à população o que foi feito, o que está sendo feito e como ela, a população, poderá participar da formulação, implantação e controle de todas as políticas públicas de seu município e assim passar a ser sujeito de sua própria história. Precisamos também criar uma Política Nacional de Comunicação que regre a informação, ou ainda que em nome de uma falsa liberdade, uma revista, um jornal, uma rádio ou ainda um canal de televisão, seja impedido por lei de praticar crimes eleitorais e terrorismo, seja contra que partido for, como foi o caso de todos os jornais, dos canais de televisão, dos rádios e das revistas, que fizeram terrorismo o tempo todo e praticaram crime eleitoral na véspera das eleições, com o nítido propósito de prejudicar a candidata Dilma. Ou seja, planta-se um factoide e depois quem se sentir prejudicado que corra atrás.

Em resumo, existe de um lado um projeto sustentado por mais de 500 anos no Brasil, de puro feudalismo, onde os coronéis, latifundiários e os capitalistas selvagens mandaram e desmandaram apoiados pelas forças econômicas de dentro e de fora do país e de outro um projeto que ousou eleger um trabalhador que mudou o país, inclusive pagando a histórica dívida externa, herdada desde a Proclamação da Independência e uma mulher num país extremamente machista, onde se assassina uma delas a cada hora e meia e uma agredida a cada quinze minutos. Esse é, portanto o texto, contexto e o enredo principal das eleições de 2014.

Como a Presidenta Dilma respondeu ontem ao apresentador global: a instabilidade nasce através da ilação irresponsável, da mentira e do terrorismo praticado sem que a vítima tenha o direito de defesa.

Quem veio ao mundo a passeio, como dizia Carlito Maia, ou votou por votar ou ainda pior, votou de forma alienada induzida por algum líder fundamentalista ou conduzida pela mídia golpista e por mais dificuldade que tenha de traduzir o que quero dizer, está na hora de ler, buscar informações, votar em quem tem um projeto participativo e, sobretudo se indignar em ser usado. Nenhum padre, nenhum pastor, nenhum apresentador poderá ser dono do futuro de ninguém.

Toda pessoa que não se informa, não lê e muito menos participa do mundo que o rodeia ou da vida política e social, acaba se tornando um alvo fácil para os aproveitadores de plantão, ou ainda uma pessoa alienada, onde a divergência sem fundamentação vira mera obsessão, como estamos acompanhando estarrecidos nas redes sociais.

Termino dizendo que foi uma das mais complicadas eleições que participei. Neoliberais, fundamentalistas e neossocialistas juntos, sob o domínio do ódio contra o PT, Lula e principalmente contra a candidata Dilma e como donos absolutos da verdade, simplesmente ditaram em quem votar. 

Só para se ter uma ideia em quem  a população votou no primeiro turno, dos 513 deputados eleitos, 247 deputados fazem parte da bancada milionária, com patrimônio individual de mais de dois milhões de reais cada. Além disso, tem a bancada da bala, formada por gente que primeiro atira e depois pergunta quem era, a bancada dos malafaias e felicianos, a bancada do agronegócio, a dos que lutam contra a reforma agrária, a dos que querem a redução do Salário Mínimo, a dos que defendem a redução das leis trabalhistas e tantas outras coisas contra o que se conquistou em mais de cem anos. Pergunta que não quer calar: quem senão a população mais carente votou nesses indivíduos? Será que votaram conscientes? 

O mais trágico é que tudo que foi feito foi em nome da democracia, como se tudo fosse normal. Desde xingar a mãe dos petistas e nordestinos, até pregar a construção de um muro dividindo de Minas Gerais acima e Minas abaixo. Tudo na maior naturalidade. É certo que muitos deles serão processados por muitos crimes, mas até que isso ocorra chegaremos ao próximo pleito.

É bom que se diga que democracia nem de longe é isso que ocorreu nessas eleições, além de que a tal da democracia representativa está em seu leito de morte. Ou se alia à democracia participativa, para que os escolhidos tenham base ou todos são e serão “garrafinhas” a serem trocadas por votos.

Como somos militantes de uma causa, maior até do que o partido que defendemos, entramos de cabeça na briga. Defendemos nossos companheiros e companheiras, defendemos nossa candidata, contra argumentamos quando foi possível e radicalizamos quando necessário. Creio que a militância virtual teve um papel fundamental e a militância das ruas foi imprescindível. O resultado não seria o mesmo se não houvesse a Onda Vermelha nas ruas e nas redes.

Porém, além disso, temos que nos ater em algo maior: nossa organização, nossa disciplina partidária e nossa forma de responder a esse ódio e ajudar a nossa Presidenta governar esse país. Para cada ódio oferecemos um convite para um curso de conscientização política. Assim, na próxima eleição, mesmo que votando na direita ou na extrema direita, terão a oportunidade de não se comportarem como analfabetos políticos com bem dizia Brecht.

Logo de cara duas tarefas importantes: ajudar a Presidenta na implantação da Política Nacional de Participação Social e na realização do Plebiscito pela Reforma Política no país. A partir de então, em cada espaço do país haverá um Fórum Popular onde o presente e o futuro estarão sendo debatidos.

Que Deus nos dê sabedoria para que possamos nas próximas eleições estarmos muito mais organizados e conscientes do que estivemos em 2014.

Viva a Democracia!
Viva a Onda Vermelha!
Viva Dilma Rousseff!
A primeira mulher eleita e reeleita Presidenta do Brasil.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br
 





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