Passado
o sufoco da campanha, o nervosismo do medo de perder as eleições justamente
para o setor que privatizou o país e só cuidou da elite e a euforia de mais uma
vitória, chegou a hora de fazer minimamente uma breve análise desse processo
eleitoral e o que poderão ser os próximos passos para os que militam por uma causa
política e social.
Os
resultados dessas eleições, se não forem bem digeridos como uma alimentação
necessária da democracia e não como a última opção democrática, pode nos levar
a interpretações e práticas pra lá de absurdas, ou ainda sem a menor
racionalidade.
É
claro que como um nordestino que se preza e tem vergonha na cara, também estou com
a “faca nos dentes” devido ao desrespeito, racismo e tamanho preconceito
cultuado por fundamentalistas e alienados tanto da elite como da população
pobre que quer imitar a elite. Como petista, não consigo entender como uma
grande parte da população não consegue entender que melhorou de vida, quando
antes nenhum trabalhador podia financiar uma casa pela Caixa Econômica, ter um
filho numa faculdade e muito menos viajar de avião, entre tantos outros avanços
que o país teve.
Faço
parte de um dos milhares de famílias que foram obrigadas a deixar sua terra
natal e vir para São Paulo em busca de sobrevivência, por pura falta de opção e
de políticas públicas econômicas e sociais. Assim como também outros milhares
de crianças nordestinas e pobres, sofri muito na minha infância em São Bernardo
do Campo, também por preconceito. Porém, a partir do momento em que comecei a
participar das Comunidades Eclesiais de Base, da vida sindical e posteriormente
da vida partidária no Partido dos Trabalhadores, descobri que a questão não era
geográfica e sim de ordem política-ideológica, pois os pobres do sul não são
diferentes dos pobres do norte e nordeste e tampouco o racismo daqui seja
diferente de qualquer parte do mundo.
Hoje
considero São Paulo parte da minha vida e outras partes do Brasil como parte da
vida de todos os brasileiros. O ódio, preconceito, racismo, homofobia e tantos
outros comportamentos desprezíveis usados nessa campanha, fazem parte da reação
daqueles e daquelas que sempre tiveram e não suportam dividir ou ainda dos que
não tem e acham que quem estar tirando deles é a classe de baixa renda. Tudo
isso impulsionados pela falta de solidariedade. Muito desses ou dessas que
estão nesse time, fazem maldades de segunda a sábado e no domingo rezam, oram e
fazem benevolências como voluntárias, como se a verdadeira missão da vida fosse
isso. A vida em comunhão requer muito mais. Essas pessoas agem como se tivessem
ainda na Casa Grande em oposição à Senzala que resolveu dar seu grito de
liberdade.
É
nesse cenário que nascem todas as desavenças. É dessa forma de pensar que nasce
a arrogância e a discriminação e é por onde brota principalmente a raiz da
corrupção. Muitas dessas pessoas que bradam por justiça, acham normal corromper
um servidor para que o mesmo retire do sistema de uma prefeitura seu nome evitando
uma multa de trânsito, por exemplo. Ou ainda, se empresário, “molhe” a mão de
um servidor para que sua empresa possa ganhar uma concorrência. Isso para eles
não é corrupção e sim uma necessidade de sobrevivência. A Presidenta Dilma
interrompeu esse ciclo quando sancionou a Lei 12.846/14, chamada de Lei
Anticorrupção, que pune corrupto e corruptor.
Vendo
e assistindo esse “circo dos horrores”, sem exercer minha prática usuária de pensar,
minha vontade inicial é pegar a música de Ivanildo Vila Nova, que por sinal é
parente da minha esposa, “Nordeste Independente” e começar uma luta no país
pela divisão do nordeste, exatamente como está na letra da música.
É
claro que se trata de uma atitude tão insana como a deles que de fato propõem essa
divisão, principalmente porque sabemos que a questão é político-ideológica e esse
mesmo preconceito existe em todas as partes do Brasil e do mundo. Os fundamentalistas
que militaram nessa campanha e espalharam o terror não é azar só nosso, pois milhares
deles também existem em várias partes do mundo. São agentes da luta de classe.
Lutam para ter um país só deles: sem negros, sem homossexuais, sem os índios
que expropriaram suas terras, sem gente que pensa e, sobretudo sem pobres com
direitos, pois os sem direitos eles querem para fazer o trabalho pesado e menos
qualificado, além de muitos que ainda os querem como escravos. Não aceitaram
até agora a Lei Áurea.
A
militância política nos faz caminhar e a luta por uma sociedade justa, fraterna
e igual para todos e todas nos une. Precisamos em nome de um projeto maior
termos muita calma nessa hora de provocação e lembrar que quem perdeu foram
eles. O projeto que defendemos tem mais quatro anos para ser aprimorado e
internamente temos tempo para ajustar o partido de acordo com os anseios das
ruas e da onda vermelha.
Tenho
plena confiança que o Brasil não está dividido e sim contaminado pelo ódio e
pela intolerância. Muitos dos que votaram contra Dilma são pessoas de bem e
foram enganadas pelo terrorismo político exercido nos últimos doze anos pela
mídia golpista, pelo fato de não terem nenhuma informação e beberem da fonte
dos algozes que promoveram a ditadura no passado e privatizaram o país na era
FHC e levaram o dinheiro para bem longe, como está escrito nos Livros: “A
Privataria Tucana” e “Brasil Privatizado”. Esse público que foi usado por eles não
é para ser desprezado e muito menos combatido e sim conscientizado.
Portanto,
se faz necessário que ampliemos os canais de comunicação, que levemos à
população o que foi feito, o que está sendo feito e como ela, a população,
poderá participar da formulação, implantação e controle de todas as políticas
públicas de seu município e assim passar a ser sujeito de sua própria história.
Precisamos também criar uma Política Nacional de Comunicação que regre a
informação, ou ainda que em nome de uma falsa liberdade, uma revista, um
jornal, uma rádio ou ainda um canal de televisão, seja impedido por lei de
praticar crimes eleitorais e terrorismo, seja contra que partido for, como foi
o caso de todos os jornais, dos canais de televisão, dos rádios e das revistas,
que fizeram terrorismo o tempo todo e praticaram crime eleitoral na véspera das
eleições, com o nítido propósito de prejudicar a candidata Dilma. Ou seja,
planta-se um factoide e depois quem se sentir prejudicado que corra atrás.
Em
resumo, existe de um lado um projeto sustentado por mais de 500 anos no Brasil,
de puro feudalismo, onde os coronéis, latifundiários e os capitalistas
selvagens mandaram e desmandaram apoiados pelas forças econômicas de dentro e
de fora do país e de outro um projeto que ousou eleger um trabalhador que mudou
o país, inclusive pagando a histórica dívida externa, herdada desde a
Proclamação da Independência e uma mulher num país extremamente machista, onde
se assassina uma delas a cada hora e meia e uma agredida a cada quinze minutos.
Esse é, portanto o texto, contexto e o enredo principal das eleições de 2014.
Como
a Presidenta Dilma respondeu ontem ao apresentador global: a instabilidade
nasce através da ilação irresponsável, da mentira e do terrorismo praticado sem
que a vítima tenha o direito de defesa.
Quem
veio ao mundo a passeio, como dizia Carlito Maia, ou votou por votar ou ainda
pior, votou de forma alienada induzida por algum líder fundamentalista ou
conduzida pela mídia golpista e por mais dificuldade que tenha de traduzir o
que quero dizer, está na hora de ler, buscar informações, votar em quem tem um projeto
participativo e, sobretudo se indignar em ser usado. Nenhum padre, nenhum
pastor, nenhum apresentador poderá ser dono do futuro de ninguém.
Toda
pessoa que não se informa, não lê e muito menos participa do mundo que o rodeia
ou da vida política e social, acaba se tornando um alvo fácil para os
aproveitadores de plantão, ou ainda uma pessoa alienada, onde a divergência sem
fundamentação vira mera obsessão, como estamos acompanhando estarrecidos nas
redes sociais.
Termino dizendo que foi uma das
mais complicadas eleições que participei. Neoliberais, fundamentalistas e
neossocialistas juntos, sob o domínio do ódio contra o PT, Lula e
principalmente contra a candidata Dilma e como donos absolutos da verdade, simplesmente
ditaram em quem votar.
Só para se ter uma ideia em
quem a população votou no primeiro
turno, dos 513 deputados eleitos, 247 deputados fazem parte da bancada
milionária, com patrimônio individual de mais de dois milhões de reais cada. Além
disso, tem a bancada da bala, formada por gente que primeiro atira e depois
pergunta quem era, a bancada dos malafaias e felicianos, a bancada do
agronegócio, a dos que lutam contra a reforma agrária, a dos que querem a
redução do Salário Mínimo, a dos que defendem a redução das leis trabalhistas e
tantas outras coisas contra o que se conquistou em mais de cem anos. Pergunta
que não quer calar: quem senão a população mais carente votou nesses
indivíduos? Será que votaram conscientes?
O
mais trágico é que tudo que foi feito foi em nome da democracia, como se tudo
fosse normal. Desde xingar a mãe dos petistas e nordestinos, até pregar a construção
de um muro dividindo de Minas Gerais acima e Minas abaixo. Tudo na maior
naturalidade. É certo que muitos deles serão processados por muitos crimes, mas
até que isso ocorra chegaremos ao próximo pleito.
É
bom que se diga que democracia nem de longe é isso que ocorreu nessas eleições,
além de que a tal da democracia representativa está em seu leito de morte. Ou
se alia à democracia participativa, para que os escolhidos tenham base ou todos
são e serão “garrafinhas” a serem trocadas por votos.
Como
somos militantes de uma causa, maior até do que o partido que defendemos,
entramos de cabeça na briga. Defendemos nossos companheiros e companheiras,
defendemos nossa candidata, contra argumentamos quando foi possível e
radicalizamos quando necessário. Creio que a militância virtual teve um papel
fundamental e a militância das ruas foi imprescindível. O resultado não seria o
mesmo se não houvesse a Onda Vermelha nas ruas e nas redes.
Porém,
além disso, temos que nos ater em algo maior: nossa organização, nossa disciplina
partidária e nossa forma de responder a esse ódio e ajudar a nossa Presidenta
governar esse país. Para cada ódio oferecemos um convite para um curso de
conscientização política. Assim, na próxima eleição, mesmo que votando na
direita ou na extrema direita, terão a oportunidade de não se comportarem como
analfabetos políticos com bem dizia Brecht.
Logo
de cara duas tarefas importantes: ajudar a Presidenta na implantação da
Política Nacional de Participação Social e na realização do Plebiscito pela
Reforma Política no país. A partir de então, em cada espaço do país haverá um Fórum
Popular onde o presente e o futuro estarão sendo debatidos.
Que
Deus nos dê sabedoria para que possamos nas próximas eleições estarmos muito
mais organizados e conscientes do que estivemos em 2014.
Viva
a Democracia!
Viva
a Onda Vermelha!
Viva
Dilma Rousseff!
A primeira mulher eleita e reeleita Presidenta do Brasil.
A primeira mulher eleita e reeleita Presidenta do Brasil.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br
Coordenador do Programa de Capacitação em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br
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