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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

De que lado você está?



O dia 31 de março de 1964 ficou marcado na minha memória como o dia em que ouvi um estrondoso tiro de canhão e o som daquele tiro ainda hoje está presente na minha memória. Uma criança de apenas dez anos de idade assustada pela voz da ditadura.

Por certo esse tiro isso não ocorreu, mas o terrorismo plantado através do rádio, que era o único veículo de comunicação da época presente na vida dos brasileiros, foi de extrema eficiência. A voz de Ranieri Mazzilli, então Presidente da Câmara de Deputados, anunciando que João Goulart tinha abandonado a Nação e que o cargo de Presidente da República estava vago, era a dose certa para espalhar o medo e iniciar o terrorismo, tudo em nome da luta contra o comunismo e da restauração da ordem. 

Sem querer descrever a história, que se encontra em detalhes em alguns livros e hoje através das redes sociais e da internet, vale lembrar que tudo isso ocorreu após a renúncia de Jânio Quadros, que morreu dizendo que “forças ocultas” lhe fizeram renunciar, aonde uma das possibilidades desse fato vem da Loja P2 da maçonaria e João Goulart como seu vice assume o cargo e faz uma das maiores reformas que o pais já realizara, finalizando com a decretação da Reforma Agrária e a nacionalização das refinarias estrangeiras de petróleo.

Os medos da época? As posições de Jango consideradas de esquerda, que planejava Reformas de Base, que visavam reduzir as desigualdades econômicas e sociais. Com isso, a elite econômica da época temia que tais medidas afetasse seu poder econômico e assim faziam de tudo para enfraquecer o Presidente Jango, com o pressuposto de era comunista, principalmente após sua visita à China, exatamente como dizem que o projeto de Dilma é bolivariano.

Quem dominava o Congresso Nacional da época? Os representantes da elite. Esse foi o cenário do golpe militar que durou mais de 20 anos e assassinou quase 500 pessoas, declaradas de acordo com a Comissão Nacional da Verdade, fora as mortes ainda hoje não esclarecidas, como por exemplo, as 1049 ossadas descobertas numa vala comum do cemitério de Perus quando Erundina era Prefeita de São Paulo, com muitas crianças entre elas, que não só não foram identificadas, como também não fazem parte das estatísticas oficiais. Um verdadeiro tempo de trevas.

A sustentação do golpe se deu, não só pela força sanguinária dos militares, mas principalmente com a conivência de grande parte da população, a começar pela sua Marcha da Família com Deus pela Liberdade, apoio dos meios de comunicação, como o Jornal Folha de São Paulo que emprestava carros para o transporte de presos políticos para os porões da ditadura ou ainda a FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, que financiou a Operação Oban, um dos braços econômicos da ditadura.

Pela descrição e por infinitas situações não descritas nesse pequeno texto, o trabalho da Comissão Nacional da Verdade foi extraordinário e corajoso, pois não só revela os monstros como pede punição aos mesmos. Não pode ser esquecido que no meio de tudo isso, 210 pessoas foram simplesmente deletadas da sociedade. Os militares assassinaram e sumiram com os corpos, tal qual a descrição em detalhes feita por George Orwel no seu livro e filme “1984”. 

Qualquer semelhança com os ocorridos nos dias atuais, desde as manifestações de junho do ano passado, passando pelos reacionários direitosos que apoiaram Marina e Aécio nas últimas eleições, chegando aos nazifascistas que vão à Paulista pedir a volta do golpe militar e a queda da Presidenta Dilma, não é mera coincidência. Faz parte dos instrumentos de dominação econômica, que alimenta o poder e engorda a velha e a nova elite brasileira, responsáveis por toda discriminação e desigualdades econômicas e sociais existentes.

Ao fazer esse breve relato fico imaginando se temos solução para esses fatos históricos e respondo que sim. Porém, apenas quando a sociedade brasileira se organizar e enfrentar de dentro para fora quem as explora, a começar por cada cidadão e cidadã que se coloca como líder, mas que agem como verdadeiros ditadores e que têm que ser combatidos.

Num país capitalista ou ainda numa ditadura para mantê-lo, como o que ocorreu na América Latina, os aliados do sistema são os mesmos, justamente para não perderem a hegemonia e nos dias atuais com uma dose diabólica, pois até o discurso da esquerda foi sequestrado. Enquanto isso ocorre e é reforçado nos editoriais diários do PIG, a população desinformada e alienada através do conteúdo ideológico, nega a intervenção e se aliam por ação ou por omissão.

Na atualidade, o que está em jogo, como bem disse o Lula em determinada ocasião do processo eleitoral, não é apenas a eleição de Dilma versus Aécio e sim um projeto que de alguma forma liberta o país das amarras internacionais e inclui a população menos favorecida, versus um projeto da volta ao poder dos aliados do sistema internacional neoliberal, onde o grande compromisso é a manutenção da hegemonia elitista. Falo isso, mesmo sabendo que pouca coisa será mudada no sistema capitalista, mas a possibilidade de restaurar um Estado de Bem Estar Social, que pelo menos se responsabilize com os desvalidos do próprio sistema, enquanto se prepara a sociedade para um enfrentamento na raiz do problema.

A partir desse cenário político ideológico, a maior importância do momento está voltada para uma grande Reforma Política, que comece por cada cidadão ou cidadã que se propõe a ser um representante da população. É necessário discutir quem deve financiar uma campanha política e de onde virão os recursos que hoje são privados, mas também qual a importância de ser um eleito. Ou seja, que se pergunte a quem pertencem os mandatos, qual o papel da população, qual o papel dos meios de comunicação, que mesmo sendo uma concessão pública, servem apenas ao sistema e principalmente o que se quer quando se chega ao tal do poder, onde a maioria dos eleitos e das eleitas serve a eles mesmos e não à população.

Não dá mais para que os partidos se mantenham como uma República de Mandatos, onde todos os cargos partidários são determinados pela cúpula ou ainda pelos eleitos. No meio de tudo isso, como respeitar um indivíduo ou uma indivídua que trata os filiados de um partido ou os associados de uma organização como “garrafinhas” e em nome delas negociam seus destinos? Infelizmente no modelo atual são essas figuras que ocupam os espaços de poder e sobrevivem a partir do tráfico de influências. As pessoas que não possuem as tais “garrafinhas”, sequer são convidadas para o grupo que toma decisões.

Para aprofundar a crise, como respeitar alguém que se diz dono de uma ONG ou de uma OSCIP, com a desculpa de que são benevolentes pela justiça social? Essas mesmas pessoas se estivessem à frente de uma cooperativa ou de uma entidade sindical, por exemplo, também se sentiriam donas e anulariam qualquer possibilidade da base intervir. Afinal, o tal “terceiro setor”, nasceu apenas para dar manutenção ao “Estado Mínimo” e substituir o Estado em suas funções sociais, conforme afirma Paulo Nogueira Batista em seu livro “O Consenso de Washington”.

O processo eleitoral de 2014, apesar de sinistro, pois revelou os monstros que estavam nas tocas e suas verdadeiras intenções, foi rico em detalhes e nos expôs as cicatrizes do poder. Estamos e continuaremos divididos, pois assim é o sistema. De um lado que se satisfaz com a discriminação de toda ordem, com o machismo e principalmente com as desigualdades econômicas e sociais, pois sempre precisaram da população carente para servi-los e de outro quem dá a vida, se necessário for, como ocorreu nas ditaduras brasileiras e da América Latina, em prol da liberdade e do combate a todo tipo de injustiça.

Por fim, a grande pergunta que temos que fazer para muitas pessoas que conhecemos e outras que consideramos companheiros e companheiras, mas enxergamos visivelmente seus desvios, é: DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ?

Se a pessoa responde que também se indigna com as injustiças cometidas e está disposta a enfrentá-las a partir de um projeto coletivo, estamos juntos. Porém se a resposta for de que a única saída é a de se aliar às forças sinistras, mesmo que seja um pouqunho, pelo bem da sociedade, além dessa pessoa está mentindo, pois na verdade está aliada ao sistema, está traindo as convicções de quem sempre colocou a vida em jogo para defender a população menos favorecida. Nesse caso jamais estaremos juntos.      

Não há outra forma de conhecer uma pessoa do que dar a ela o que sonha. A partir de então cada pessoa vai formatando seu projeto de vida. Devemos apenas lembrar o que a minha mãe sempre afirma: “Diz com quem andas que direi quem te és”. Na po

Quero encerrar com uma afirmação: “Ou a sociedade de bem reage de forma organizada a essa onda de neoconservarodismo ou corremos o risco de voltarmos ao dia 31 de março de 1964 e tudo em nome da ordem o do progresso”. Os atores são os mesmos e os motivos também.

Além disso, um militante de uma causa quando saí dessa vida a única coisa que deixa é a sua história e como já sabemos, não podemos mover uma linha do passado, mas podemos reescrevê-lo hoje e amanhã, fazendo com que no futuro possamos também reescrever a história do Brasil. 

Antonio Lopes Cordeiro
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br

3 comentários:

  1. Num momento como esse no país, a única coisa que não podemos é assistir de braços cruzados.

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    1. De que lado você está?, essa pergunta exige reflexão da própria condição atual. De um lado temos a elite que vê seu "status quo" ameaçado e de outro, um sentimento oposto querendo espaço (e conquistando), querendo se manter de maneira sólida.
      Nesta situação devemos analisar a própria ideologia capitalista e como ela se reproduz...nos países desenvolvidos de uma maneira e em outros, como o nosso de outra.
      A realidade do capitalismo internacional é o lucro, aqui...a qualquer custo.
      A liberdade almejada e reprimida em 1964 acreditava que um governo democrático não fazia sentido sem a participação do povo...e esse mesmo povo sofreu (sofre), varias formas de dominação que o impedia (e impede), de participar e até de opinar pois a realidade que vive se apresenta de forma complexa, baseados em experiencias que foram (e são catalogadas), mantendo importante acervo que deve ser consultado, por uma pequena parcela.
      A maioria das pessoas nos grupos econômicos e sociais parecem não saber como interferir na participação politica, seguem lideres que tem coragem de se manifestar, pois desde tenra idade nas escolas de ensino básico de escolas publicas (onde a maioria da população brasileira se forma") foi tolhida de se manifestar e está sendo formada apenas para obedecer, recebendo rótulos, desestímulos para se manifestação politica e social, afastados as decisões, as vezes sobre si mesmo.
      Os detentores da vontade da participação democrática nunca estiveram assim... com a faca e o queijo nas mãos, mas agora que temos, parece que estamos nos comportando como sempre fizeram os que governaram o país antes de nós.
      Sabemos o que queremos, mas não sabemos fazer...O projeto de democracia para ser sustentável tem que ter planos de longo, médio e curto prazos (e até emergenciais como a postura de nossos representantes), e em varias frentes, sendo a questão da educação básica, especificamente a publica a mais importante delas, já que forma bases para o desenvolvimento da população brasileira, que pode fomentar a tecnologia e de outras áreas estratégicas de saber, mantendo o país na trilha do desenvolvimento.

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  2. Olá Assis. Moral da história: temos que nos organizar e ocupar os espaços, caso contrário esses malucos ocuparão e ainda com o apoio do PIG.

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