Quero
iniciar esse post afirmando com plena convicção de que todo militante de uma
causa é por princípio um sonhador e no decorrer de suas vidas vão tecendo seus
sonhos ao fazerem novas pessoas também sonharem. É com esse sentimento que
encerro meu trabalho na Fundação Perseu Abramo por esse ano, com a certeza de
que de alguma forma, o trabalho colaborou para que muitas pessoas voltassem a
sonhar e colocassem seus sonhos a serviços também de uma causa.
Ao
lembrar-me dos 37 encontros em cidades sedes, realizados em 2013 e 2014 com os
Cursos: Plano de Governo e Ações para Governar e Empreendedorismo Social e
Economia Solidária da Fundação Perseu Abramo, as primeiras coisas que me vem à
cabeça é que é impossível transformar a sociedade, cometendo os mesmos erros e
desvios de conduta que os maus gestores cometeram e cometem e deles se
alimentam, pois além de banalizar a máquina pública como uma terra de ninguém e
a política como uma coisa somente para políticos de carreira, o ato de governar
torna-se uma desagradável e cara brincadeira para a população. No entanto
diante de velhos vícios e práticas muitas vezes desprezíveis, milhares de
sonhadores e sonhadoras desafiam a lógica do poder vertical e constroem
pequenas mudanças que fazem e farão grandes diferenças no futuro, pois por
baixo de cada uma dessas mudanças existe um alicerce chamado participação
popular.
Acredito
que foi com esse intuito que na gestão do companheiro Marcio Pochmann, frente à
Fundação Perseu Abramo, foi criado a Área do Conhecimento, composta pelo
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas e pelos Cursos de Mestrado,
Pós-Graduação, Difusão do Conhecimento e pelo Programa de Capacitação
Continuada em Gestão Pública nas prefeituras onde o PT está presente, com o
principal objetivo de fortalecer o Modo Petista de Governar, Legislar e se
relacionar com a sociedade.
Através
do conhecimento, velhos padrões de governança vão sendo questionados e
enfrentados, ao mesmo tempo em que se inicia um trabalho rumo a governância (entendida
neste contexto, como o desafio de governar a várias mãos). Podemos até afirmar
que de alguma forma está ocorrendo uma intervenção nesse emaranhado de códigos
que é o poder, no sentido de desvendá-los e o mais importante é que isso
possibilita atuar nas raízes dos problemas, que antes de serem de ordem
política são culturais e de egos. O grande desafio na consolidação da mudança
vem do fato de tornar uma política pública numa política de governo, onde a
população se aproprie, como é o caso do Programa Bolsa Família, por exemplo.
A
velha forma de fazer política no Brasil agoniza, ao perder completamente seus
créditos, seja pela falta de interesse da população, que ouve, lê ou assiste
todos os dias que política é uma coisa ruim e que todos os políticos são
ladrões, pregados pelo PIG – Partido da Imprensa Golpista; seja pelo
distanciamento provocado pela maioria dos gestores, independente do cargo que ocupam
que querem a população bem longe para não atrapalhar seus escusos interesses;
seja pela cultura mercantilista de como os parceiros de um governo se juntam para
disputar uma eleição, onde o escambo fala mais alto; ou ainda pela banalização por
muitos gestores no trato com o dinheiro público, que escoa pelo ralo da
corrupção e resulta na péssima qualidade dos serviços prestados para a
população.
Essas
práticas fazem com que cada vez mais a população se afaste do que é político e
aposte todas as fichas em pessoas ao invés de projetos, além de escolher seus
representantes pelo rótulo e não pelo conteúdo. Logo, a política que deveria
ser um meio para mudanças importantes na qualidade de vida da população, passa
a ser um grande negócio e uma porta sempre aberta para os aproveitadores de
plantão.
É
importante não generalizar, pois no meio de tudo isso, valorosos homens e
mulheres, se esforçam para fazerem um bom trabalho, mesmo sem conhecimentos
técnicos e vão fazendo o que tem que ser feito. Alguns desses conseguem e não
divulgam e outros às vezes não fazem por falta de condições objetivas, mas como
estão próximos da população, através de um modelo de gestão participativo,
minimizam os problemas e criam novos canais participativos de convivência.
É
fundamental ressaltar ainda que há pouco mais de dez anos, não existia nenhum
curso de gestão pública no Brasil. Apenas de políticas públicas, pois é muito
mais fácil discutir políticas do que gestão, pois essa requer que se discuta
também o modelo político-ideológico que a formatou e a mantém.
O conteúdo
que formatamos para o curso de gestão “Plano de Governo e Ações para Governar”
da Fundação Perseu Abramo leva os participantes a um longo debate sobre gestão
e sobre o papel dos gestores e começa questionando a quem pertencem os
mandatos. Normalmente a resposta encontrada é surpreendente, pois mesmo os
participantes detectando que constitucionalmente pertence ao povo e pelo
arranjo político também aos partidos da base aliada, em muitos casos chegam à
conclusão de pertencem aos próprios gestores. Isso faz com que na prática haja
um deslocamento de poder, que fica concentrado nas mãos de alguns iluminados,
que acabam repetindo a velha máxima que alguns nascem para fazer e outros
apenas para elegê-los.
Em
outro momento do curso, a pergunta é se os gestores estão preparados para
governar com a população, ou ainda se a população está preparada para atuar
junto com o governo, desde que seja convidada. Em regras gerais os
participantes respondem que não para as duas e também chegam à conclusão que em
muitos governos, a forma mercantilista escolhida pelo grupo que governa, desde o
processo de alianças, passando pela ampliação da base de apoio nas Câmaras
Municipais, aliada a cultura do poder verticalizado, onde se elege um semideus
para governar, impedem a integração de governo e torna cada parte da gestão
pública numa nova prefeitura e, portanto em “caixinhas de poder” quase
intransponíveis. Infelizmente esses fenômenos ocorrem na maioria dos municípios
brasileiros. De quebra, por falta de planejamento, tudo passa a ser urgente.
Só há
integração de governo quando os gestores se comprometem com o resultado final
desse governo, ou seja, com o Plano Estratégico e só há participação reeducando
a população para se apropriar de seus direitos.
Duas
experiências, dentre outras poderiam ser citadas como exitosas, tanto no
processo de participação como principalmente de integração de governo. A
primeira na cidade de Artur Nogueira na gestão do Prefeito Marcelo Capelini,
com a criação do Grupo Gestor de Integração e Planejamento e a segunda em
Osasco na gestão do Prefeito Emídio de Souza com a criação da Sala de Gestão e
Planejamento. Ambas as experiências são apresentadas no decorrer do curso e os
participantes discutem se as gestões das suas cidades estão preparadas para
experiências como essas.
Vale
ressaltar que o curso não entra na discussão se os gestores presentes,
principalmente os que encabeçam o processo, querem que a população de fato
participe da formulação e do controle das políticas públicas, pois além de ser
constrangedor, caso o prefeito ou a prefeita, ou ainda os secretários e
secretárias caminhassem noutra direção. Até porque, seria inadmissível que uma
prefeitura governada por um gestor do Partido dos Trabalhadores, negasse o
direito de participação e de controle social, principalmente aos movimentos
sociais organizados, principalmente porque o partido lutou muito para que esses
direitos saíssem do papel institucional e virassem direitos indissolúveis. A
Presidenta Dilma em seu Plano de Governo coloca a Participação Social a partir
dos Conselhos de Base, como uma estrutura determinante na consolidação da
democracia e das políticas de direitos.
Outra
pergunta debatida no curso é um questionamento se o ato de governar é um meio
para as mudanças efetivas necessárias na sociedade ou um fim em si mesmo. A
maioria dos participantes chega à conclusão de que deveria ser um meio, sendo
que para isso seria necessário que os gestores transformassem o seu dia a dia
diante da máquina pública e na relação com a sociedade num ato de militância
permanente, principalmente para não se deixassem seduzir pelo “canto da
sereia”. Ou seja, muito dinheiro fácil a ser administrado e muito
desconhecimento de controle por quem mais necessita. Essa é a combinação
perfeita para o que Paulo Freire chamava do que é diabólico na política, onde o
que é simbólico e necessário para a população, se não tiver participação
cidadã, corre o risco de desaparecer ao longo do tempo, ficando apenas no
visual da construção daquela tão sonhada ponte.
Além
de outros questionamentos durante seu percurso, o curso aprofunda o debate com
a indagação de que sociedade temos e que sociedade queremos. Uma ampla reflexão
entre o presente e o futuro. Entre os valores reais e os subjetivos, evitando
que o “ter” passe a ter mais importância do que o “ser” e a necessidade da
construção de uma sociedade inclusiva, justa, fraterna e igual para todos e
todas esteja à frente de todas as políticas públicas e as ações de um governo. Esse
tipo de análise ajuda bastante na formatação de um planejamento futuro do
município, desenhando cenários de como a cidade deveria ser nos próximos dez ou
vinte anos, além de comprometer os gestores frente à população.
Em
regras gerais, o curso é uma viagem no universo da máquina pública e no ato de
governar. Nesse momento do curso os participantes chegam à conclusão de que ao
tornar o ato de governar um meio para uma possível transformação na sociedade, descobrem
também que para isso ocorra terão que lutar contra uma sociedade de plenos
interesses, contra toda forma de discriminação, contra quem usa a máquina
pública para se beneficiar ou para beneficiar sua próxima campanha eleitoral e
principalmente contra o desconhecimento do jogo político, que produz os
semideuses e os chefes de plantão como seus verdadeiros guardiões e afasta a
população dos seus direitos e de entender minimamente sobre a política e sobre o
papel dos políticos.
O
impressionante é que tudo ocorre em nome da democracia. Potencializando-se a
democracia representativa e obviamente fugindo da democracia participativa e
direta. Desse universo vêm os avisos: “A população não está preparada para a
participação”. “O povo votou em nós para que fôssemos seus legítimos
representantes”. Assim, a participação fica apenas nas audiências públicas às 9
horas de uma manhã qualquer.
Ao levar os cursos a 37 cidades sedes, nas cinco regiões do país em 12 estados, atingindo um público presente de 176 prefeituras e quase 1600 gestores, técnicos, servidores, conselheiros, vereadores, militantes políticos e lideranças comunitárias, chego à conclusão de que uma revolução silenciosa está em curso. Mesmo com o fato de muitos prefeitos e prefeitas não participarem e às vezes nem mesmo todos os secretários e secretárias, a base do governo participa que é quem de fato põe a mão na massa e para esses o curso fará uma grande diferença, hoje, amanhã e sempre. Isso está expresso nas mais de 1500 avaliações, com um profundo agradecimento.
No ano que se aproxima terá muito mais. O desafio agora é levar esse trabalho aos 26 estados brasileiros e fazer com que a Vereda chamada Esperança que leva as pessoas aos seus sonhos de possuírem uma vida digna, principalmente aos cidadãos e cidadãs que mais precisam, passe a ser o único caminho trilhado por homens e mulheres que governam, legislam ou se envolvem em atividades políticas e sociais em nome do Partido dos Trabalhadores.
Como
dizia Paulo Freire, o que move a vida de um militante é a utopia de mudar
radicalmente essa sociedade injusta juntando-se a companheiros e companheiras
que transformam suas lutas do dia a dia no grande projeto de suas vidas.
Acreditem
– o melhor ainda está por vir.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br
Caro Toni,
ResponderExcluircomento sua publicação numa data tão especial como hoje, 25 de dezembro, Natal. Uma data que representa o nascimento e a renovação para um novo período, ou seja, como tem sido seu trabalho.
Faço algumas considerações, primeiro, parabenizo você pela coerência e disposição.
Percebo que os trabalhos desenvolvidos pela Fundação Perseu Abramo tem gerado avanços no sentido de estimular a participação, inclusão, colocando a população no centro do debate político e propondo a mesma que seja protagonista das ações governamentais.
Além da qualidade desta empreitada, soma-se sua capilaridade que a cada dia chega a um número maior de mentes e corações espalhados por todo território de nosso Brasil.
Que esta semente germine mais e mais, gere frutos positivos para eleitores e eleitos. Pois este é o modelo que defendemos e queremos.
Que 2015 traga novos desafios, oportunidades, inclusões e mais participações!
Caro Bruno
ResponderExcluirAgradeço sua palavras. Elas me entusiasmam,
Encaro esse trabalho como um grande presente e o trato como esse presente ganho de alguém que gostamos muito.
Sou um otimista por convicção e tenho certeza que daqui há anos esses assuntos ainda estarão sendo discutidos e quem sabe implantados.
O futuro nos espera de braços abertos.
Obrigado.
Estamos juntos camarada!!
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