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sábado, 4 de abril de 2015

O que a fome mundial tem a ver com o desfile de ódio do dia 15 de março

Segundo a FAO, órgão da ONU – Organização das Nações Unidas que trata do combate à fome e a pobreza no planeta e organismos ambientais e sociais, 80% de toda produção mundial é consumida por apenas 20% da população residentes nos países mais ricos, sendo que os 20% que sobram são pulverizados para 80% da população mundial (algo em torno de 5,6 bilhões de pessoas), residentes nos países mais pobres. Essa trágica realidade explica o alarmante crescimento dos índices de desigualdades sociais em várias partes do planeta. Apenas os EUA com 4,5% da população mundial consomem 40% de todos os recursos disponíveis. Esse é um dos principais fatores da fome mundial.

Ao fazermos uma avaliação setorizada, chegamos à conclusão de que a fome na África se constitui numa grande vergonha internacional, pois ao longo do tempo serviu de celeiro de escravos para muitos países, inclusive o Brasil e todos eles acumulam uma dívida moral, econômica e social histórica, que bem poderia ser paga através de ajuda humanitária e investimento no desenvolvimento econômico e social.

Porém, há algo muito cruel nas Américas, mais precisamente no Haiti, o país mais pobre das Américas, que foi devastado por um terremoto que matou mais de 250 mil haitianos há cinco anos. Um documentário recente mostra que a qualidade de vida da população pouco mudou. Continua faltando comida e água potável, sem falar em diversos outros gêneros alimentícios. O que mais surpreende é que enquanto muitos são dizimados pela fome e sede, inclusive crianças, numa parte de Porto Príncipe, um grupo de pessoas abastadas fingem que o problema não é com eles e esbanjam o que falta para a maioria da população. Uma população que não tem o direito de viver e sonhar uma vida melhor. São cidadãos e cidadãs sem nenhuma perspectiva de vida. É de arrepiar que mesmo diante da fome e da sede, as pessoas ainda encontram motivos para sorrir.

O que isso tem a ver com o dia a dia no Brasil, ou ainda com aquelas criaturas que desfilaram na Av. Paulista e em várias partes do país, xingando a Presidenta Dilma de puta, pedindo a volta ao poder dos militares que torturam e assassinaram centenas de pessoas e pedindo impeachment? Tem muito mais a ver do que se possa imaginar. Trata-se da mesma ganância, do mesmo desprezo à população pobre e principalmente do ódio de ter que dividir os bancos das universidades públicas com alguém que nasceu para servi-los e não para competir com eles no campo profissional.

Puxando essa discussão para o lado da devastação dos ecossistemas, segundo Stephen Pacala, que é ecologista da Universidade Princeton, 500 milhões de pessoas mais ricas do mundo (algo em torno de 7% da população mundial) são atualmente responsáveis por 50% das emissões globais de dióxido de carbono, enquanto os 3 bilhões mais pobres são responsáveis por apenas 6%. Ou seja, o deus mercado e a elite mundial são os grandes responsáveis pela devastação do planeta e quem paga a conta na prática são os que nada têm a ver com isso. O resultado disso é que o bem mais precioso da humanidade que é a água está acabando e o que se vê não são investimento voltados à população mais pobre e sim a grande articulação nos bastidores para sua privatização. No Estado de São Paulo essa articulação se dá entre o governo do estado e a Nestlé.

Aqui no Brasil a coisa não é diferente. Em nome do instinto consumidor e predatório, das mordomias criadas a partir do suor de quem trabalha duro e do engodo do modelo de desenvolvimento excludente, a classe média conservadora e a elite branca e reacionária se posicionam contra todos os programas sociais, contra as cotas, contra o Programa Mais Médicos que vai onde a maioria dos jalecos brancos financiados com dinheiro público jamais irá, deixando claro que no Brasil que eles criaram por mais de 500 anos não há espaço para convivência com os pobres, com os negros, com os índios e demais segmentos discriminados da sociedade, além de que se depender deles jamais os setores menos favorecidos da sociedade terão os mesmos direitos que sempre tiveram.

Esse é o real motivo dos que estão nas ruas vestindo amarelo e verde. Não é a corrupção, pois a grande maioria desse segmento sonega impostos e compram facilidades e sim o medo do crescimento econômico que possibilite a população de baixa renda, comer, vestir, morar em casa própria, ter seus filhos estudando nas melhores universidades e principalmente que desfrute de produtos e serviços até então a eles proibidos. Alguns chamam esse contexto de choradeira. Eu prefiro chamar de revelação que leve essa população ao enfrentamento necessário, no sentido de não voltar ao passado de trevas.

Trata-se de um conflito econômico-social de ordem política-ideológica, alimentado pelos meios de comunicação que tem partido e candidatos e pelo discurso nazi social que confunde a maioria da população, chegando ao absurdo de ganharem adeptos para um golpe de estado via impeachment da primeira mulher a ser eleita e reeleita no país. O medo deles aumenta na medida em que enxergam a possibilidade da volta de Lula como Presidente e para “sangrar” a Presidenta Dilma, vendem a ideia de que o Brasil está novamente quebrado, como diziam em 2002. Pode até estar, porém os governos Lula e Dilma não deixaram que a população mais pobre pagasse a conta, como era comum no passado.

Em regras gerais não há diferença alguma se a fome, a sede, a discriminação ou o processo de desigualdades com atitudes golpistas acontecem na África, no Haiti, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, pois a origem é a mesma. De um lado a exploração capitalista selvagem é mundial e de outro a luta dos seres humanos por sobrevivência, por liberdade e pela dignidade humana em busca de melhores condições de vida é e será igual em qualquer parte do planeta e torna-se a grande causa da militância que luta por uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Quem come e bebe o desnecessário rouba do estômago dos pobres.

O sentido quase feudal de apropriação é idêntico onde exista a fome. A saga por consumo atinge números altíssimos e o deus mercado marca a hora do juízo final. A única esperança é que mais dia, menos dia o morro desça ao asfalto e quando essa hora chegar será feito o acerto de contas.

Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com

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