Segundo a FAO, órgão da ONU –
Organização das Nações Unidas que trata do combate à fome e a pobreza no
planeta e organismos ambientais e sociais, 80% de toda produção mundial é consumida
por apenas 20% da população residentes nos países mais ricos, sendo que os 20%
que sobram são pulverizados para 80% da população mundial (algo em torno de 5,6
bilhões de pessoas), residentes nos países mais pobres. Essa trágica realidade
explica o alarmante crescimento dos índices de desigualdades sociais em várias
partes do planeta. Apenas os EUA com 4,5% da população mundial consomem 40% de
todos os recursos disponíveis. Esse é um dos principais fatores da fome
mundial.
Ao fazermos uma avaliação
setorizada, chegamos à conclusão de que a fome na África se constitui numa
grande vergonha internacional, pois ao longo do tempo serviu de celeiro de
escravos para muitos países, inclusive o Brasil e todos eles acumulam uma
dívida moral, econômica e social histórica, que bem poderia ser paga através de
ajuda humanitária e investimento no desenvolvimento econômico e social.
Porém, há algo muito cruel nas
Américas, mais precisamente no Haiti, o país mais pobre das Américas, que foi
devastado por um terremoto que matou mais de 250 mil haitianos há cinco anos.
Um documentário recente mostra que a qualidade de vida da população pouco mudou.
Continua faltando comida e água potável, sem falar em diversos outros gêneros
alimentícios. O que mais surpreende é que enquanto muitos são dizimados pela
fome e sede, inclusive crianças, numa parte de Porto Príncipe, um grupo de
pessoas abastadas fingem que o problema não é com eles e esbanjam o que falta
para a maioria da população. Uma população que não tem o direito de viver e
sonhar uma vida melhor. São cidadãos e cidadãs sem nenhuma perspectiva de vida.
É de arrepiar que mesmo diante da fome e da sede, as pessoas ainda encontram
motivos para sorrir.
O que isso tem a ver com o dia
a dia no Brasil, ou ainda com aquelas criaturas que desfilaram na Av. Paulista
e em várias partes do país, xingando a Presidenta Dilma de puta, pedindo a
volta ao poder dos militares que torturam e assassinaram centenas de pessoas e
pedindo impeachment? Tem muito mais a ver do que se possa imaginar. Trata-se da
mesma ganância, do mesmo desprezo à população pobre e principalmente do ódio de
ter que dividir os bancos das universidades públicas com alguém que nasceu para
servi-los e não para competir com eles no campo profissional.
Puxando essa discussão para o
lado da devastação dos ecossistemas, segundo Stephen Pacala, que é ecologista
da Universidade Princeton, 500 milhões de pessoas mais ricas do mundo (algo em
torno de 7% da população mundial) são atualmente responsáveis por 50% das
emissões globais de dióxido de carbono, enquanto os 3 bilhões mais pobres são
responsáveis por apenas 6%. Ou seja, o deus mercado e a elite mundial são os
grandes responsáveis pela devastação do planeta e quem paga a conta na prática
são os que nada têm a ver com isso. O resultado disso é que o bem mais precioso
da humanidade que é a água está acabando e o que se vê não são investimento
voltados à população mais pobre e sim a grande articulação nos bastidores para
sua privatização. No Estado de São Paulo essa articulação se dá entre o governo
do estado e a Nestlé.
Aqui no Brasil a coisa não é
diferente. Em nome do instinto consumidor e predatório, das mordomias criadas a
partir do suor de quem trabalha duro e do engodo do modelo de desenvolvimento
excludente, a classe média conservadora e a elite branca e reacionária se
posicionam contra todos os programas sociais, contra as cotas, contra o
Programa Mais Médicos que vai onde a maioria dos jalecos brancos financiados
com dinheiro público jamais irá, deixando claro que no Brasil que eles criaram
por mais de 500 anos não há espaço para convivência com os pobres, com os
negros, com os índios e demais segmentos discriminados da sociedade, além de
que se depender deles jamais os setores menos favorecidos da sociedade terão os
mesmos direitos que sempre tiveram.
Esse é o real motivo dos que
estão nas ruas vestindo amarelo e verde. Não é a corrupção, pois a grande
maioria desse segmento sonega impostos e compram facilidades e sim o medo do
crescimento econômico que possibilite a população de baixa renda, comer,
vestir, morar em casa própria, ter seus filhos estudando nas melhores
universidades e principalmente que desfrute de produtos e serviços até então a
eles proibidos. Alguns chamam esse contexto de choradeira. Eu prefiro chamar de
revelação que leve essa população ao enfrentamento necessário, no sentido de
não voltar ao passado de trevas.
Trata-se de um conflito
econômico-social de ordem política-ideológica, alimentado pelos meios de
comunicação que tem partido e candidatos e pelo discurso nazi social que
confunde a maioria da população, chegando ao absurdo de ganharem adeptos para
um golpe de estado via impeachment da primeira mulher a ser eleita e reeleita
no país. O medo deles aumenta na medida em que enxergam a possibilidade da
volta de Lula como Presidente e para “sangrar” a Presidenta Dilma, vendem a
ideia de que o Brasil está novamente quebrado, como diziam em 2002. Pode até
estar, porém os governos Lula e Dilma não deixaram que a população mais pobre
pagasse a conta, como era comum no passado.
Em regras gerais não há
diferença alguma se a fome, a sede, a discriminação ou o processo de
desigualdades com atitudes golpistas acontecem na África, no Haiti, no Brasil
ou em qualquer parte do mundo, pois a origem é a mesma. De um lado a exploração
capitalista selvagem é mundial e de outro a luta dos seres humanos por
sobrevivência, por liberdade e pela dignidade humana em busca de melhores
condições de vida é e será igual em qualquer parte do planeta e torna-se a
grande causa da militância que luta por uma sociedade justa, fraterna e igual
para todos e todas. Quem come e bebe o desnecessário rouba do estômago dos
pobres.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com
tonicordeiro1608@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentário sobre o Post