Israel Gonçalves
Está em debate, no Senado Federal brasileiro, a forma de financiamento de campanhas eleitorais. Até o momento, há três possibilidades: a primeira é deixar tudo como está, ou seja, com fundo partidário, com doações de dinheiro de pessoas físicas e/ou empresariais. Atualmente, as empresas podem doar para vários partidos e podem ter contratos firmados com a União. A segunda proposta, encabeçada pelo PMDB, é a do financiamento misto, isto é, continua com o fundo partidário e com doações de pessoas físicas e de empresários, porém, pela via privada, a empresa não poderá doar para mais de um partido político e não poderá ter contratos com o setor público. Já o PT busca o financiamento exclusivamente público das campanhas.
No entanto, há um consenso, a forma que o processo de financiamento de
campanha que se apresenta já está saturado. Principalmente em relação às
doações do setor privado. As grandes empresas doam para vários partidos milhões
de reais e conseguem, assim, eleger seus representantes. Nesta dinâmica, a maior
parte dos eleitores está em desvantagem. Do outro lado, o financiamento
exclusivamente público não é garantia de aprimoramento do processo eleitoral e
não afasta a corrupção. O PT defende que o financiamento público é uma forma
mais fácil de controlar o dinheiro destinado aos partidos.
Acredito ser difícil defender a tese de que o financiamento público
exclusivo seja o melhor por ser o mais fácil de fiscalizar. Como exemplo,
pode-se analisar o fundo partidário que, em 2014, destinou aos partidos políticos
R$ 289,6 milhões. Ressalta-se que no dia 17/3, ao aprovar o Orçamento Geral da
União, uma emenda aumenta em quase 200% esta verba, ou seja, se sancionado pela
presidente Dilma, o valor chegará R$ 867,6 milhões já para este ano.
Todos os 32 partidos que têm registro no TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) recebem 5% do total do fundo. Os outros 95% do fundo são
distribuídos de forma proporcional aos partidos, conforme os votos que foram
conquistados por estes na última eleição para a Câmara dos Deputados. Fica
evidente que uma reforma do financiamento de campanha, utilizando apenas o
fundo partidário, prejudicaria os partidos pequenos, pois estes têm uma menor
ou nenhuma representação na Câmara.
Caso a reforma do financiamento público exclusivo seja aprovada e se
mantenha o valor de R$ 867,6 milhões, e sugerindo uma hipótese que este valor
seja então distribuído para todos os partidos, teríamos cerca de R$ 27,11
milhões para cada partido, ou seja, R$ 2,25 milhões ao mês. Fica uma questão:
como o cidadão comum fiscaliza esse volume de dinheiro destinado aos 32
partidos? Desta forma, a proposta de financiamento público exclusivo de
campanha torna-se inviável.
Israel Gonçalves é cientista político, professor universitário e autor
do livro: O Brasil na missão de paz no Haiti. Editora: Nova Edições Acadêmicas
(2014).
E-mail: educa_isra@yahoo.com.br
Ótima série de artigos sobre a reforma política! Parabéns!!
ResponderExcluir