Israel
Gonçalves
Enquanto
os partidos ficam discutindo a reforma entre si, tentando manter seus
privilégios, o governo federal aproveita seu poder de veto para ajeitar seus
desejos, mais urgentes, de aumentar sua base dentro do Congresso Nacional, já
que de cada dez aliados, três votam contra Dilma, conforme reportagem da Folha
de S. Paulo (29/3/15). Nesta perspectiva, o governo federal demonstra sua
angústia ao vetar e assim alterar o texto que foi aprovado pelo parlamento que permitiria
fusão de novos partidos, após cinco anos de sua criação. Isto porque o governo
atua com base no seu momento de crise ao permitir as fusões partidárias de
agremiações recém-criadas sem vínculo com a sociedade civil. A medida do
governo deveria ser feita para aprimoramento do Estado, ao longo do tempo e do
sistema político, não permitindo fusões partidárias de cunho oportunista e
deixando mais rígidas as regras para migrações de políticos para outras
legendas. Porém, o Executivo nacional atua na contramão destas medidas ao
promover a criação do Partido Liberal, que, se criado, fundir-se-á com o PSD,
aumentando assim a base governista no Congresso e, consequentemente, reduzindo
o número de seus opositores. Em vez de resolver a crise de credibilidade da
presidente da República, os "articuladores" do governo utilizam-se da
"canetada" para solucionar o problema que foi criado por eles mesmos
ao não apoiar para a Presidência da Câmara dos Deputados o atual presidente,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Esta
reforma que está em pauta no Congresso também é parcial. Ela é feita para
acomodar os grandes partidos, e não para radicalizar a estrutura do sistema
político. Talvez, por isso, os parlamentares não queiram tocar nesta reforma,
no Poder Judiciário, na sua morosidade e corporativismo, pois mesmo com o Novo
Código Civil aprovado, o parlamento poderia atuar para aprimorar a estrutura do
judiciário brasileiro. Algumas ideias são criar e aperfeiçoar as Corregedorias
do Judiciário, manter conselhos externos para fiscalizar e acompanhar o Poder
Judiciário. Outra questão é a redução dos mandatos dos ministros que são
escolhidos para o Supremo Tribunal Federal. Atualmente, os ministros podem
ficar no cargo até os 70 anos, sendo que, em alguns países, há um período de
quatro anos e o servidor público não pode ser reconduzido ao cargo. O que é
pior, esses itens não estão em debate no Congresso e nem na sociedade civil.
A
atual configuração da reforma mantém a sobreposição do Executivo em relação ao
Legislativo e não mexe no Poder Judiciário. Quando há alguma mudança sensata,
via parlamento, o Poder Executivo interfere para garantir a chamada
governabilidade e, neste caso, não contribui com o fortalecimento do sistema
político brasileiro.
Israel
Gonçalves é cientista político, professor universitário e autor do livro: O
Brasil na missão de paz no Haiti. Editora: Nova Edições Acadêmicas (2014).
E-mail:
educa_isra@yahoo.com.br
Novamente um ótimo texto para o debate! Daniele Chinellato
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