Fiquei
pensando o que escrever como o último post de 2017. Algo que expressasse minhas
preocupações em relação ao desmonte nacional, provocado pelos golpistas de
plantão, mostrasse que só a organização popular e o enfrentamento organizado ao
golpe serão capazes de salvar o pouco que restou das conquistas históricas do
século passado, mas também, como humanista, trabalhasse uma dose de otimismo,
que ninguém é de ferro.
Foi
um ano para se aprender e para sofrer. Assistimos incrédulos e inertes instituições brasileiras serem dizimadas uma
a uma, impulsionadas pelo mercantilismo espúrio que tomou conta da política
nacional. Escândalos de toda ordem vieram à tona, provando que o sistema
político nacional está bichado, dominado e à venda. Quem tem mais leva. Pouco
restou dos três poderes e quase nada da tal democracia representativa.
Politiqueiros
e políticos profissionais de plantão agiram como piratas do mar de lama que transformaram
o país e como larápios de casebres roubando dos pobres seus últimos pães. Criaram
novas formas de rapinagem e se deliciaram com as farras e as montanhas de
dinheiro público, que só não há para garantir a Previdência dos assalariados, nem
para um aumento digno do salário mínimo, por exemplo, mas sobra quando a pegada
é à compra de deputados e senadores que votem a favor do desmonte nacional, ou
ainda para lotar os cofres dos bancos internacionais em contas pessoais privadas.
Quem
vai pagar essa conta? Lula que é o candidato que se não condenarem ganha as
eleições e o povo trabalhador é claro! Tá tudo dominado!
Na
ordem do dia está reconstrução da casa-grande com grandes muralhas e construir
a maior senzala que esse país já viu. Uma senzala que não tem cor. Tem apenas
ódio de classe. Uma espécie de primeiro passo para um e extermínio em massa,
visto que já está em curso, com a matança de jovens negros e pessoas da
periferia. Uma verdadeira limpeza racial e econômica.
Em
resumo, o ano de 2017 foi um ano de trevas. Roubaram a luz. O golpe em curso
levou com ele a esperança de milhares de pessoas, como também centenas de
conquistas alcançadas nos últimos cem anos. Só isso já bastava, para fechar o sinistro
ciclo, porém em 2018 o governo golpista quer destroçar a Previdência. Desfigurar
um direito fundamental de quem trabalha tudo em nome de um desenvolvimento, que
nada tem de humano, ditado pelo Banco Mundial, pelo FMI e pelo capital
internacional. Um pacto entre o deus mercado e o demônio imperialista. Algo que
nem com muita água benta se exorciza. A não ser com organização e muita luta.
Desde a primeira greve organizada em 1907, que paralisou a cidade de São
Paulo, passando pela primeira greve geral ocorrida em 1917, até os dias de
hoje, nada foi doado para trabalhadores e trabalhadoras e sim conquistado com
muito luta, mortes e também traições. O medo que ronda o país é que o que se
reivindicava em 1907, tais como: jornada de oito
horas diárias de trabalho, direito a férias, proibição do trabalho infantil,
proibição do trabalho noturno para as mulheres, aposentadoria e assistência
médica hospitalar, esteja tão atual após a fatídica reforma trabalhista, que seja
a única pauta novamente a ser reivindicada numa próxima empreitada organizada,
quando a classe trabalhadora acordar. Porém, pode ser e deve ser tarde
demais...
A primeira vitória da
rapinagem foi acabar com CLT, que era um sonho deles antigo. A CLT foi jogada
no lixo com as 117 mudanças ocorridas, a tal ponto das empresas agora trocarem
de funcionários, contratando-os, por favor, com o tal “Contrato Intermitente”.
Um verdadeiro desrespeito à própria Constituição Federal. O resultado disso?
Mais da metade da classe trabalhadora já se encontra na informalidade e o 1% mais rico do Brasil ficando com 27% da renda
nacional e os 10% mais ricos, com 55%. É a volta da pirâmide econômica em
grande estilo. É a morte do que eles chamavam de “Nova classe média” e a
Professora Marilena Chauí chamava de "Nova classe trabalhadora”. Viveu-se
uma doce ilusão.
Em regras gerais, ou trabalhadores e trabalhadoras se
unem e lutam ou serão dizimados. Ou se organizam ou nem mesmo sindicatos terão
mais.
Uma dose de otimismo...
Para escrever alguma coisa otimista tenho que recorrer
a Paulo Freire, que tive a honra de conhecer e materializar uma de suas teorias
na Prefeitura de Artur Nogueira, quando era Secretário de Planejamento, quando
criamos o Grupo Gestor de Integração e Planejamento e usamos a Teoria do
Carrossel.
Paulo era um sonhador por convicção e viajava em sua
utopia de empoderar a sociedade, de dar voz a quem não tinha e afirmar que o
conhecimento transformava as pessoas e as fazia voltar a sonhar.
Usando Paulo Freire foi nessa linha que conduzi 38
cursos pela Fundação Perseu Abramo nesse ano, em 12 estados, com o principal
objetivo de ensinar e aprender. Dar e receber. Subverter as pessoas afirmando
que elas podem transformar suas próprias realidades, na medida em que
entenderem que sozinhas nada são, mas juntas poderão transformar a sociedade,
rumo a uma sociedade justa, fraterna e igualitária para todos e todas.
Termino citando uma das falas de Paulo Freire, onde
mostra sua inquietação para sair de sua utopia rumo a práticas a ela coerentes.
“Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me
adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho
ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas
falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes. (Paulo
Freire)”.
Um 2018 de muitas conquistas!
Antonio Lopes
Cordeiro (Toni)
Pesquisador em
Gestão Pública e Social
Camarada....perfeito o texto, um belo resgate da história da luta dos trabalhadores nestas terras tupiniquins. Simples e objetivo.
ResponderExcluirTermino parafraseando Drummond...Desejo que seus (nossos) desejos se realizem...há braços.
Caro amigo Toni, temos que continuar na luta, essa direita reacionária que tomou o poder através de um golpe deverá ser derrotada no ano de 2.018 de uma forma ou de outra. Para voce espero um excelente 2.018.
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