Por definição, solidão pode
ser a falta de companhia
ocasionada por decisão pessoal ou por contingência de uma situação provocada,
que ocasiona entre outras coisas isolamento, carência e um profundo vazio, mas
também pode ser a falta de contato com a própria essência. Algo que transcende a
angústia de estar sozinho e deságua num determinado momento na vida das
pessoas.
Porém, a pretensão deste
post é apenas chamar a atenção para novos tipos de solidão, como por exemplo, a solidão
vivida em meio á multidão, ou ainda a solidão de não ter objetivo de vida e nem
perspectiva de como será o futuro. Uma solidão que caminha com a própria vida.
Com um pouco de atenção se
percebe que uma grande parte da população brasileira se encontra em solidão. Ou
seja, apesar de rodeados e rodeadas de outros seres humanos, não interagem e não
dialogam sobre suas existências, apenas transitam em pequenos papos ou flertes
que se perde no tempo e nada fica de concreto.
Por ser um sentimento decorrente,
a solidão pode ocorrer não só pelas questões sentimentais ligadas ao amor ou
falta dele, mas também se revelar num ambiente de trabalho, por exemplo, ou em
qualquer outro setor de convivência humana. Há algo mais cruel do que a discriminação
explicita ou dissimulada, que provoca um estado de carência e que leva à solidão?
Ou ainda, pessoas do seu ambiente de trabalho que ao cruzar contigo desvia o
olhar para nem cumprimentar?
Partindo desse cenário vêm outras
perguntas: Será preciso estar solitário para que se reflita sobre a vida? Será necessária
uma dose de tristeza para que se atenha sobre a realidade interior? A
introspecção provocada por uma solidão nos leva à reflexão, ou apenas expõe nossas
fragilidades?
No Samba da Benção, Vinicius
de Morais afirma que para se fazer um samba com beleza é preciso um bocado de
tristeza, senão, não se faz um samba não. Ou seja, nesse caso a tristeza leva os
compositores a dialogarem ora com ela mesma, ora com a esperança e quase sempre com o
desamor.
A solidão é um tema complexo,
pois envolve origens diversas e caminhos muitos diferentes de se lidar com a situação.
Para uns solidão é uma doença, para outros uma necessidade rumo à reflexão e
para muitas pessoas uma angustia constante que pode levar a um estado
depressivo e à várias doenças físicas ou mentais.
Ao se fazer uma breve análise
do modernismo atual, ou seja, da era do conhecimento, observa-se as redes
sociais bombando, milhares de pessoas interagindo dia e noite sobre diversos
assuntos, dos mais sérios aos mais banais, porém a maioria das pessoas permanece
só. A interação na web por si só não dá conta de superar a solidão. A busca por
tudo e nada ao mesmo tempo nas redes só faz aumentar o estado de solidão. Seres
humanos precisam de um projeto de vida, que faça valer suas próprias vidas.
Vivemos na era de novas formas de solidão. Existem na sociedade uma pressa sem igual e uma busca incessante por não se sabe o quê e a resposta de tudo isso pode ser uma
insatisfação individual ou coletiva que começa nas redes e pode terminar num
ponto qualquer da cidade ou do campo e muitas vezes em diferentes formas de violência.
Nesse caso podemos chegar à conclusão que a solidão pode se transformar numa doença
social.
ONGs britânicas chegaram à
conclusão através de pesquisa, que a solidão é uma “assassina invisível”, mata
aos poucos, principalmente as pessoas idosas. Segundo essas organizações, um em
cada dez idosos britânicos sofre de solidão intensa, que desencadeia vários
problemas, como o Alzheimer.
Partindo desse pressuposto,
há evidências de que uma possível cura para a solidão pode estar no processo de
interações que busquem o prazer, se referindo ao prazer aqui como algo que
eleve a pessoa, que a mesma se sinta contemplada com o que estiver fazendo e
principalmente que seja algo que fortaleça o ego e aponte para missões futuras.
Ou seja, algo que mantenha as pessoas ocupadas em atividades que as façam
felizes.
É até possível que algumas pessoas necessitem de uma dose de tristeza e solidão contida, para fazer fluir
ideias de forma poética, como na samba do Vinicius. Porém, há sempre um grau de risco numa
situação como essa. O que fazer se virar uma crise?
Clarice Lispector expressou em vários momentos suas inquietações sobre a solidão. Certa vez ela afirmou: “Sim, minha força está
na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias
soltas, pois eu também sou o escuro da noite”. Uma frase poética, mas que expressa que uma vez em solidão só resta enfrentá-la. Como não se pode intervir no passado para que situações desagradáveis não aconteçam, só nos resta mirar na vida que virá.
Fecho essa pequena incursão sobre a solidão com duas frases. Uma do
Augusto Cury, que faz um alerta diferenciando a solidão provocada por fatores
externos, da solidão que veio e ficou como um abandono do ser: “Quando somos abandonados pelo mundo, a
solidão é superável; quando somos abandonados por nós mesmos, a solidão é quase
incurável”.
A outra de Vinicius de Morais, afirmando que mesmo um amor inacabado ou
às vezes inexistente vale mais que a solidão: “Não há mal pior que a descrença, mesmo o amor que não compensa é
melhor que a solidão”.
No mais, quem nunca viveu
uma solidão, ou pelo menos momentos de solidão? Trato minha parcela de vida solitária tentando
entender meu presente, frutos de desencontros passados e focando na minha
missão enquanto vida. Lutar por uma causa humanista, sob qualquer situação, que possibilite as pessoas voltarem a sonhar e deixar para a história minha contribuição.
Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social
tonicordeiro1608@gmail.com
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