Mais uma vez enveredo na escrita para falar de esperança.
Um termo saliente, que caminha com os humanos, ora como a energia da certeza e ora
como um pretexto para a espera.
Esperancei no texto “Um brinde a esperança”, buscando suas melhores afirmações e desta
vez busco contextualizar se o ato de esperançar vem como a esperança da crença
ou como a espera da incerteza. Duas linhas tênues, quase imperceptíveis da
esperança que nascem juntas, porém com conotações completamente diferentes em
termos de comportamento humano. Quem esperança persevera e quem espera aposta
no acaso.
O filósofo
Mário Sergio Cortella dialoga com essa dualidade ao afirmar que uma coisa é ter
esperança do verbo esperar e a outra, bem diferente, é ter esperança do verbo
esperançar, pois esperança do verbo esperar é apenas espera e esperança do
verbo esperançar é juntar fé com determinação, vencer obstáculos e a ação de caminhar
rumo ao que se almeja para o amanhã.
Esperança por definição é almejar, sonhar, buscar, agir e assim esperança
busca contorno para se tornar o contrário de espera, pois enquanto esperança do
verbo esperançar é vida em movimento, esperança do verbo esperar é passividade.
Enquanto esperança é ação, espera é solidão.
Tu já pensaste nisso? Já parasse
para pensar se tua esperança não é daquelas que só espera o que almejas, mas nada
fazes para que aconteça?
Se fôssemos analisar do ponto de vista de uma
causa, esperança do verbo esperançar poderia ser uma caminhada junto com a missão,
monitorando os contratempos e ao mesmo tempo se deleitando com os resultados
positivos. Enquanto isso esperança do verbo esperar, provavelmente faria com
que o tempo fosse senhor da razão e os obstáculos justificassem a falta de
conquistas.
Ao
navegar pelo Rio Tapajós a caminho de Itaituba no Pará e de volta à Santarém,
observando a paisagem, onde parte dela se encontra destruída pela ganância
humana, tive a oportunidade de refletir sobre missão e causa e cheguei à
conclusão que assim como a esperança é confundida com espera, a missão é
confundida com a desobrigação de viver, como se nascêssemos para o nada ou
ainda sem nenhuma razão que pudesse dar sentido à causa.
Ás
vezes nos distraímos com a vida e esquecemos de dar consistência a tudo que
produzimos, ou ainda nos esquecemos de dar importância a nós mesmos e com isso passamos
a esperar que as coisas aconteçam, ao invés de agirmos para que ocorram. Isso além
de ser um vício cultural, para quem luta por uma causa acaba também se tornando
um desvio político, pelo menos para quem se propõe a lutar uma por uma nova
sociedade e não se prepara para isso.
Porém,
do ponto de vista da nossa existência o que é mesmo a esperança? Será que sabemos
esperançar? Será que as nossas crenças são maiores que as nossas desilusões? Onde
buscamos entendimento que corrijam nossos comportamentos de descrença por falta
de confiança própria?
Esperança
do verbo esperar é jogar com o futuro. É simplesmente se adaptar aos problemas
da vida e porque não dizer fugir do problema central, que às vezes está a um
palmo da nossa compreensão. Enquanto isso, esperança do verbo esperançar é vida
que surge, caminhos que se abrem, veredas como alternativas para encurtar caminhos.
Esperançar é antes de tudo crer na vida e na possibilidade de se refazer sempre.
Minha
esperança vem da certeza da luta concreta aprendida à duras penas e busca
consistência nas ruas junto com as pessoas mais necessitadas, irmanadas em
busca dos sonhos perdidos. Vem dos sonhos de mudar a sociedade rumo a uma
sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Vem do sorriso aberto das
pequenas conquistas e da esperança que o melhor ainda está por vir.
Tenho
o sentimento que um menino ou uma menina provavelmente tem esperança de ser
tudo na vida, o adulto tem esperança que a vida prospere e as pessoas idosas
tem esperança que seus ensinamentos e experiências de vida sirvam de exemplo,
pelo menos para os seus.
Esperança
a meu ver nasce da decisão de querer mudar, da certeza que podemos ser o que quisermos
ser, na medida em que vamos conquistando confiança e aprimorando a plenitude de
nossa missão. Esperança é chama que se renova, antes que nossa disposição e crença
cedam para a desilusão.
Espero
esperança que possamos esperançar juntos, que dialoguemos com as diversas vozes
que tenta nos desviar do caminho que traçamos juntos.
A
esperança sozinha é como uma nuvem passageira. Junto com o otimismo e a
disposição de lutar se transforma na energia necessária para a construção de um
novo amanhã. É preciso agir com a esperança, antes que ela vire espera.
Finalizo buscando Fernando Pessoa que escreveu: “Agir,
eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que
for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de
palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem
ali?”.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em
Gestão Pública e Social
Belíssimo texto!! Camarada você escreve divinamente bem. Ao ver mergulhar em temas tão relevantes como esperança,saudades e tantos outros nos conduz a instintos primitivos da humanidade como a inveja. Mais a Inveja Boa,a eutrapélia que é uma virtude que nos provoca estímulos bons em busca de conquistas. Camarada sua escrita poética nos lembra Milan kudera em a insustentável leveza do ser.
ResponderExcluirUm belo texto. Profundo, motivador e conservando a ação transformadora. Em tempos de tantos desafios, há que se esperançar. Textos como esses nos inspiram na nossa jornada de luta diária. Parabéns companheiro Toni.
ResponderExcluirToni nos brinda com mais uma reflexão profunda que nos faz compreender que esperar é um ato passivo, de apenas aguardar, enquanto esperançar exige do sujeito uma atitude, um agir concreto em busca do que se almeja.
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